quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

MATADOURO DA LIBERDADE: Refrega de terras entre Dr. Muniz de Souza e o Conde de São Joaquim

Terras do Primeiro Matadouro Oficial de São Paulo: Questão Agraria, problema antigo!


 MAPA DE 1868: Vê-se em "AZ" localização do Matadouro idealizado por Karl Abrahan Bresser, na cabeceira do Córrego Anhangabaú, próximo a Rua Humaitá, fundo do que viria a se constituir como a Avenida 23 de Maio

O Estado de São Paulo: 13 de janeiro de 1898

Camara Municipal

Tendo pela segunda vez o elmo. sr. dr. Muniz de Souza, na qualidade de vereador e em sessões da camara municipal, aggredido a minha espôsa, chamando-me usurpador de terrenos da camara, preciso esclarecer a verdade, uma vez que o sr. dr. Muniz de Souza me agride sem ter razão de fazer.
Para que o publico se scientifique do critério que presidiu à imputação do sr. dr. Muniz de Souza, vou declarar como adquiri os terrenos que possúo entre as ruas da Liberdade, Humaytá, Santo Amaro e Jaceguay.
_ A primeira parte dos aludidos terrenos foi comprada ao Sr. Capitão Joaquim Antonio Pinheiro.

_A segunda à exma., sra. D. Maria Telles de Escobar.

_A terceira, e desta a maior de todas ellas, ao Sr. Berbardo Meyer.

_ E finalmente, a quarta, à illustradissima camara municipal conforme a escritura lavrada de 1880, no cartório do fallecido tabellião Elias Machado, declarando a vendedora ter vendido todos os terrenos do antigo matadouro que devidem com o comprador João Lopes Lebre, com a estrada de Santo Amaro, com terrenos de Francisco Antonio Pedroso, e ruas do Matadouro e Liberdade e de accôrdo com uma planta que descrimina o terreno em questão, cuja se acha na camara, por mim entregue conjunctamente com a cópia da respectiva escriptura.

Por aqui poderá o publico avaliar da procedência das imputações feitas  pelo sr. dr. Muniz de Souza.

Estando eu, portanto, habilitado em face destes documentos, a provar que só me utilisei dos terrenos que legitimamente me pertenciam, estou certo de que aquele cidadão se estivesse bem informado da verdade, de certo não formaria a meu respeito juízo tão desfavorável.

S. Paulo, 10 de janeiro de 1898

CONDE DE S. JOAQUIM


QUADRILÁTERO DE LOCALIZAÇÃO DO MATADOURO: Rua  Santo Amaro (atual Brig. Luís Antonio), Humaitá, Jaceguay (entre ambas existia a Pitanguy) e "Rua" da Liberdade

Nota: grafia do documento usada à época da edição do O Estado de São Paulo de 13 de janeiro de 1898



Liberdade “Abre as Asas Sobre Nós”

A Rua da Liberdade possuiu várias denominações ao longo de sua história. Chamou-se primitivamente Rua do Rego d'Água, em razão das nítidas “vertentenses dos campos para a cidade”. Mais tarde denominou-se Rua da Pólvora, devido ao paiol nas proximidades que alimentava com munição o quartel, caminho este que levava à Casa da Pólvora, construída em 1754, e que se localizava nas proximidades do atual Largo da Pólvora.

Por volta de 1775 foi construída uma forca nas imediações, utilizada para cumprir as penas de morte e onde muitos foram suplicados e assim ficou conhecida o nome de Rua da Forca. Também foi chamada de Rua de Cima, pela posição privilegiada de sua localização do morro acima do rio Tamanduateí de um lado e o Anhangabaú, na Itororó do outro lado, hoje a Avenida Vinte Três de Maio de fluxo intenso de veículos.

MAPA 1841: REGIÃO DA LIBERDADE

Na região havia também a Casa Paroquial onde residiu o Capelão da Catedral, membro do colegiado da administração da Sé o Cônego Leão José de Sena. Por esse motivo àquela que viria a ser a Rua da Liberdade chamou-se no início do século 19, Rua do *Cônego Leão, aparecendo como tal em referência em mapa de 1841 elaborado por Carlos Abraão Bresser (nome adotado pelo construtor de origem alemã que elaborou o primeiro matadouro e tantas outras obras pela cidade de São Paulo).

Partia a rua da Liberdade entre o Largo de São Gonçalo (igreja ainda existente) e a Igreja dos Remédios,(demolida e hoje o Fórum da João Mendes) onde fica a Praça Sete de Setembro indo deste ponto até ao Largo da Liberdade (atualmente praça). Neste local era o marco inicial da Estrada de Santos (depois Rua Vergueiro) partindo da cidade de São Paulo.

Em 1865, a via recebeu o nome de Rua da Liberdade, alterada depois para Avenida da Liberdade, pelo alargamento desta em 1952. Este nome deveu-se ao fato da existência no local do “Chafariz da Liberdade”, talvez em alusão  aos anseios paulista de liberdade.

*Capelão da Catedral de São Paulo, Cônego Leão José de Sena, foi um dos signatários, num total de 259 nomes, de documento a Vossa Alteza Real Dom Pedro I, datada como São Paulo em Vereação de 31 de dezembro de 1821, contrário ao pedido do Decreto das Cortes Gerais de Portugal que requeria que “V.A.R. seja recolhido em Lisboa”.




Considerações:

A mudança do matadouro para o Largo Senador Raul Cardoso, na Vila Mariana,(hoje Cinemateca) deu-se pelo fato dos detritos descerem para os baixios do Vale do Anhangabaú causando fedor insuportável no centro da cidade de São Paulo. Essa transferência somente mudou o problema para outro local, pois o uso do Córrego do Sapateiro tinha o mesmo efeito, ou seja, descartar miúdos e sangue da matança dos animais. O Córrego do Sapateiro alimenta o Lago do Ibirapuera, descendo da República do Líbano atravessando a Av. Santo Amaro, indo pela região do Itaim Bibi, onde hoje se encontra a Avenida Juscelino Kubitschek, desaguando no Rio Pinheiros!!!

Focando a Liberdade, da luta de antes,  é ela fruto do que almeja agora cada cidadão com liberdade responsável sem libertinagem do poder.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Santo Amaro Paulistano: Presente

PERTENCIMENTO E IDENTIDADE

De repente vemos Santo Amaro “presente” em muitos locais: jornais, TVs, entrevistas, trabalhos científicos. O setor imobiliário em sua desenfreada ânsia de poder financeiro anunciam grandes obras nos faróis em folhetos atrativos.

Na atualidade passam por cima da história de Santo Amaro, que tende a desaparecer definitivamente, através de prédios frios, verdadeiros pombais, quadradões e empilhadores verticalizados de gente, obras que se expandem por sobre casas horizontais onde viveram boa parte desta estrutura historiográfica que hoje tentamos registrar, embora muitas delas já estão soterradas pelas obras de demolição. 
Chamam isso progresso, mas doença também é progresso e se não combatida, mata. Combatemos o bom combate para denunciar desmandos e deste modo Santo Amaro tenta sobreviver destes escombros provocados pelo poder de controle por intenções de abarcar somente interesses de capitais, cifrões. 
                                                      TOMBAMENTO HISTÓRICO

Muitos vão chegar e não conhecem o local, e não possuem essa obrigação, nem culpa possuem desta situação descontrolada pelo “espaço vital” da cidade, mas porque muitas coisas estão desaparecendo e estranhos ao meio não possuem pertencimento nem identidade com o lugar.
PRAÇA FLORIANO PEIXOTO: "Fonte" Paulo Eiró - A Iguatinga "foi-se" para a Biblioteca Prestes Maia/SantoAmaro e o espelho d'água "secou-se"!
Ainda resta em Santo Amaro alguma coisa popular e de tradição. Um som caipira aqui, uma galinhada, um feijão tropeiro ali, tudo junto e misturado, uma reza ou romaria de Bom Jesus deslocada para dar espaço ao trânsito e...arte, que permanece nas praças de um artista santamarense, Julio Guerra, que da guerra somente tem no nome, pois, em vida a paz foi o seu contexto, mesmo na crítica manteve-se sereno, afinal a crítica é o combustível da superação de qualquer artista. Santo Amaro possui obras variadas do escultor e pintor Julio Guerra, talvez um dos bairros que mais possui várias obras dessa importância. Parece que no periférico de São Paulo é “proibido haver obras artísticas expostas”! 
Santo de casa não faz milagres

O elogio pelo fato exposto tem que haver dosagem certa e quando se torna norma constante pode ser perigoso, pela acomodação e soberba de quem o recebe! Santo Amaro tem o seu espaço, e deve receber dos administradores menos elogios e mais ótica de intervenções de melhorias, sem planilhas planejadas de controle falseadas por números frios para expor aos superiores em visitas esporádicas em palanques! Todo equipamento deve ser para uso comunitário; esse é o dever do edil e sua comitiva que tem por obrigação servir e para isso foi empossado. Deve-se ser autentico nas ações.

Exposição: “JULIO GUERRA: Lembranças de São Paulo”

O Centro Histórico Mackenzie nos apresenta um pouco desse “pequeno grande espaço” denominado Santo Amaro com as obras de “JULIO GUERRA: Lembranças de São Paulo”, que estará disponível de 29 de janeiro a 08 de março de 2013, de segunda a sexta das 9:00 às 20:00 horas e aos sábados das 10 às 17:00 horas.Local Rua Maria Antonia, 307 –prédio 1 – Higienópolis. Entrada franca

sábado, 19 de janeiro de 2013

O PAÇO, O ANFITRIÃO, O MAITRE E OS COMENSAIS.

FESTA À MODA DA CASA
A sociedade nos brinda constantemente com temas expostos nas relações do homem e o meio em que vive. Não se trata de alguma regra nova, isso acontece todos os dias, há muito tempo. É uma das que mais aparenta questões educacionais e o modelo que isso representa nas relações sociais.

Criemos, a partir desta idéia, o que muitos até poderiam pensar em conceito de relacionamento: 

Quem chega a algum local, onde já haja pessoas,  adentrando ao recinto é quem deve cumprimentar, e, quando não conhecer todos, deve ser apresentado pelo anfitrião. Isto cabe como etiqueta da Casa em que o anfitrião representa e assim ele em nome desta deve apresentar os convivas que estão ali para participar de um evento festivo programado pelo “dono” do Paço.

A sociedade fez com que o modelo aceito é estar em trajes propícios para cada momento, mesmo que a roupa não faça o monge, este deve estar adequadamente distinto para que as portas do Paço se abram para adentrar na antessala.

O Paço por sua vez deve estar adornado com as expectativas do conviva, e isto é a alma da apresentação que advenha do Real Castelo, e ao anfitrião convém assentar os convidados na disposição que permita o recinto. Por outro lado o conviva deve aguardar esta indicação, é salutar.

A presença do anfitrião é primordial para que todos se sintam bem no Salão Principal. Respeitando o padrão do Paço o conviva adequadamente assentado passa a fazer parte do todo que estarão em “pé de igualdade” nesta disposição, sem distinção de classes. Neste momento todos são comensais igualitários na festa. Não estarão assim “medidos pela medida” da vestimenta distinguida por hierarquias.  Deste modo o jardineiro do Paço, incluído na lista deve estar no patamar de igualdade do soberano, afinal foram ambos, parte de uma lista de convivas. Ao anfitrião cabe estar atento, pois é ele o ponto chave para que tudo ocorra a contento.

Mesas coloridas postas e expostas cada qual assentado, o serviço estará a cargo dos serviçais da Casa que para isto foram contratados, adentrando deste modo ao campo do “maitre”, que deve ter em mente, auxiliado pelo anfitrião do Paço, que todos devam ser servidos igualitariamente!

Um parêntese ao anfitrião, ao maitre e comensal: 

O anfitrião é aquele que recebe os convidados em eventos organizacionais, O dono da casa com relação aos convidados que banqueteia.

O maitre é o responsável geral  em banquetes podem ou não servir as mesas,auxiliando o restante do pessoal. 

O comensal e aquele que come com outros à mesa (latim tardio commensalis, do latim cum, com + mensa, -ae, mesa)

Deve estar claro ao organizador que ele faça a festa para promover algum fato importante para o meio social, e para isso, ele deve ter espírito imparcial de ação, não dando mais importância a comitiva que segue o poder local. Isto é uma questão de bom censo, pois há agora no espaço do Paço, pessoas “inter pares”, não havendo um primeiro que o outro (Primus inter pares)!

A cozinha, em todas as casas é um lugar sagrado e a mesa faz parte da socialização familiar, logo a mesa da festa organizada também se enquadra nesta socialização. 
CARPE DIEM: "COMAMOS E BEBAMOS, PORQUE AMANHÃ MORREREMOS"-1 Coríntios 15:32. Verso atribuido ao poeta  Menandro, que viveu no século  4º antes da era cristã

Não deve o maitre cometer o deslize, de servir mais a um do que ao outro por distinção de poder, pois no caso estará comprometendo o andamento do evento, e, ainda subleva a autoridade do anfitrião de bem servir os comensais. Ocorrendo o fato, deve o anfitrião admoestar o “serviço servido” para que o mesmo não perca o controle do andamento salutar da festividade e sua estrutura, que não deve ter como foco os interesses de cargos de realeza.

 O administrador deve ter em mente que na festa ele é semelhante a qualquer comensal, e está fora do conceito do “beija a mão” do rei, pois todos, como dito, naquele instante são “inter pares”, se não ali não estariam e não fariam parte da partilha da mesa! O escudeiro vale, neste instante, tanto quanto o cavaleiro, pois é a “cousa comum” independente do ofício de cada um.

Aos comensais, depois de tudo colocado conforme manda o figurino, à moda da casa, deve  ter em mente que não esta ali para se fartar até empanturrar, repeitando cada par ao seu lado. O pecado da gula faz mal a quem a pratica, sendo ele o mais prejudicado de sua ação animalesca.

Uma questão apropriada ao momento: O  mais obeso, no conviver da festa, merece tratamento especial em relação ao menos obeso, rompendo a igualdade dos convivas?

Volta-se a figura do anfitrião dispor a boa acolhida fazendo com que cada comensal seja servido com a medida da igualdade, sem exageros a um e menos atenção ao outro!

Com licença, por favor, muito obrigado completa as relações sociais, independente do local.

Este breve relato de relações não é da maneira alguma, nem possuo nisso poder, uma crítica de diferenças das classes sociais, cada qual com seu galardão e suas joias familiares passadas por gerações.

Quando a pregação não chega ao ouvinte é culpa exclusiva do pregador! Quem tem ouvidos que ouça!

Referência:

CÍCERO. Tradução e notas de João Mendes Neto. Dos Deveres. São Paulo: Coleção Saraiva, nº 206

SCHOPENHAUER, Artur. Tradução organização e notas de Pedro Sussekind. Porto Alegre (RS):L&PM Editores,2005