História: PRESENTE!
Lourenço Miranda Borba vem de uma
família tradicionalíssima de Santo Amaro, onde existem muitos da estirpe dos “Borbas” desde os
tempos de Manoel de Borba Gato, bandeirante do século 17 e 18, em outro momento
histórico com outra realidade que se enveredou pelo sertão afora, deixando
raízes que se perpetuaram por Santo Amaro.
Nosso personagem Lourenço nasceu na Rua
Cerqueira Cesar em 19 de novembro de 1930, “dia da Bandeira Nacional”, quando a
localidade possuía autonomia administrativa como Cidade e Freguesia de Santo
Amaro.
Era um município pacato, com tradições de
“sertão caipira”, cantada em verso e prosa e lembrada no som da viola e muita
religiosidade voltada em festejos tradicionais como a Festa do Divino, do fogo
de Pentecoste, ovacionada com um Império bem formado que era conhecido até na
“longínqua” capital paulista. Depois a fé ultrapassava as fronteiras
santamarenses e ia “por ai afora”, como se dizia, pelas estradas empoeiradas em
direção a Pirapora do Bom Jesus com as romarias de Cenerino Branco de Araujo e
José Diniz.
Era
bem conhecido o ex-prefeito de Santo Amaro, Isaías Branco de Araujo, tio de
dona Maria Rodrigues Borba, conhecida como Maricota, a matriarca da família.
PEDRO MIRANDA BORBA
Pedro Miranda Borba foi por algum tempo “inspector
geral de trânsito” de Santo Amaro, habilitando muitas pessoas locais em “condutor
de automóvel” ou “condutor de carroça”, em habilidade de cocheiro ou
carroceiro!
REGISTROS DAS CARTAS
Mais tarde abriu um negócio próprio no
segmento de peças em couro e estava sempre na lida diária confeccionando
arreios variados para as montarias da localidade, muito comum à época em ser o
meio de transporte mais comum os cavalos, muares e muitas charretes, aranhas e
carroças. As ferragens para adornar as várias confecções vinham da Abramo
Eberle & Cia, casa tradicional que fornecia para o exército brasileiro e
todas as milícias estaduais, e estava localizada em Caxias, no Rio Grande do
Sul, desde 1895.
Nesta atmosfera cresciam os outros
filhos do casal Pedro e Maria: Lupércio Rodrigues Borba, Rosa e Lucia Miranda
Borba. Estudavam todos na Escola Paulo Eiró e em casa ajudavam na lida diária
sendo que os filhos iam para a loja trabalhar com “seu” Pedro, para produzir as
peças encomendadas pelos santamarenses e que eram feitas até para fora da Vila.
A loja ficava na Alameda Santo Amaro, número 358 e era bem conceituada e
concorrida.
O prédio(ainda existente) foi construído no início do século 20, em 1914, e era bem
localizado, que resiste ao tempo com “galhardia” de santamarense, que infelizmente
vê-se seus prédios centenários serem demolidos na atualidade em nome do “progresso”.
Aos fins de semana a diversão da
“rapaziada” estava voltada às atividades corriqueiras de Santo Amaro, como as “pelejas”
de futebol na baixada da Avenida Padre José Maria, onde hoje fica o Terminal de
ônibus e estavam os campos de várzea.
Somado a grande paixão brasileira somava-se
às andanças de bicicletas ou competições que formaram grandes ciclistas como
Joaquim Mendonça Filho e Karl Czernik, que mantinha o Ciclo Club na esquina da
Cerqueira Cezar com a Rua Carlos Silva Araujo, nº 448, e estava filiado a Federação
Paulista de Ciclismo fundada em 1925 e onde se reuniam também muitos outros
ciclistas santamarenses como Tarcísio Montanaro, cognominado de Garça, companheiro
de Lupércio que competiram na “Prova Ciclística 9 de Julho”[1],
evento paulistano, onde se incluía nomes como Rolando Montesi e Pietro Allegrini da equipe Alda Allegrini.
COMPETIÇÃO EM SANTO AMARO
PASSEIO LÚDICO
Existia ainda o Campo de Bocha aonde muitos iam se divertir no
“Club de Bocha Santo Amaro” fundado por Jorge Fares um dos sócios da Calil
Fares & Cia. Neste segmento o “Grêmio Unido Santo Amaro”, G.U.S.A., teve um
grande representante da seleção brasileira do certame de bocha, José Geraldo
Sbragia, popularmente conhecido com o cognome de “Comando”. Santo Amaro era uma
efervescência esportiva onde mais tarde representou nas competições náuticas o velejador Joerg
Bruder! Muitos bailes da época eram orquestrados por
artistas locais como o músico Amaro Machado que compunha o grupo de Mario
Gennari Filho.
Lourenço Miranda Borba participava
desses momentos em Santo Amaro nos fins de semana com outros jovens, sendo
adepto do ciclismo andava na turma do João Abóbora, Turquinho, Armando, somando
com seu irmão Lupércio que os acompanhavam nas investidas na Avenida Paulista,
São Paulo.
Seu Lourenço tornou-se um profissional de
todo o ramo de montaria, da confeccionando em couro barrigueiras, sobrecinchas,
caronas, badanas, loros, açoiteiras, rabichos, rédeas, peitorais, enfim tudo
que se relacionava a este universo era de fácil manuseio e fabricação pela
família Borba.
A religiosidade local concorria nas
celebrações da Matriz de Santo Amaro, sendo que nas angariações das missões
eram ofertadas espórtulas em nome de alguém em homenagem perpétua, em obra
seráfica das santas missas, onde a família Borba tinha participação efetiva.
O jovem Lourenço casou-se com Maria
Conceição Mendes, também da origem santamarense, dando continuidade na família
com os filhos Fábio e Marcello Mendes Borba.
Rua Brasílio Luz Chevrolet - taxi 1951
Nosso “santamarense da gema”, seu
Lourenço, ainda trabalhou nas feiras de Santo Amaro e em 1956 enveredou-se para
tornar-se “chofer de praça” no ponto antigo do Largo Treze de Maio, com a proteção de São Cristóvão, por longo
tempo foi assíduo participante do meio social santamarense e exemplar representante “botina amarela” do Centro das Tradições de Santo Amaro.
“Chofer de praça”: LOURENÇO MIRANDA BORBA
Esta é uma crônica de quem participou
ativamente das relações sociais da “Cidade” de Santo Amaro, e a quem muitos
novos santamarenses devem reverenciar e conhecer sua historiografia, como
tantos outros contemporâneos que perpetuaram a identidade local.
“Quem
é, ou quem foi alguém, não o sabemos a não ser conhecendo a história da qual
ele é o herói”. (Hannah Arendt)
Referências:
Oralidade: LOURENÇO MIRANDA BORBA e Rosana Manfredini
Referências:
Oralidade: LOURENÇO MIRANDA BORBA e Rosana Manfredini
Fotos cedidas por Fabio Mendes de Borba, salvo especificação contrária.
Correio Paulistano-15 de setembro de 1942
Almanaque esportivo de 1929
Correio Paulistano-15 de setembro de 1942
Almanaque esportivo de 1929
Aguarda-se a crítica da crônica em nome da historiografia, para aprofundamento do tema e possíveis correções e acréscimos.
[1]
PROVA CICLÍSTICA 9 DE JULHO: Instituída em 1932 pelo jornalista Cásper
Líbero em homenagem à Revolução Constitucionalista foi realizada pelo jornal “A
Gazeta Esportiva” a partir de 1933, com a denominação Prova Ciclística 9 de
Julho. A Prova Ciclística tem realização e organização da Fundação
Cásper Líbero e Gazeta Esportiva.net, com organização técnica da Federação
Paulista de Ciclismo e supervisão da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC).
A Fundação Cásper Líbero que detém o registro por problemas burocráticos cancelou
a prova em 2012 e a Federação Paulista de Ciclismo então organizou o “Grande
Prêmio São Paulo Internacional de Ciclismo”. A tradição prevalece e volta as
suas origens do calendário de festividades.