quinta-feira, 30 de julho de 2015

Lourenço Miranda Borba e a vida social de Santo Amaro no século 20

História: PRESENTE!

Lourenço Miranda Borba vem de uma família tradicionalíssima de Santo Amaro, onde existem muitos da estirpe dos “Borbas” desde os tempos de Manoel de Borba Gato, bandeirante do século 17 e 18, em outro momento histórico com outra realidade que se enveredou pelo sertão afora, deixando raízes que se perpetuaram por Santo Amaro.

Nosso personagem Lourenço nasceu na Rua Cerqueira Cesar em 19 de novembro de 1930, “dia da Bandeira Nacional”, quando a localidade possuía autonomia administrativa como Cidade e Freguesia de Santo Amaro.

Era um município pacato, com tradições de “sertão caipira”, cantada em verso e prosa e lembrada no som da viola e muita religiosidade voltada em festejos tradicionais como a Festa do Divino, do fogo de Pentecoste, ovacionada com um Império bem formado que era conhecido até na “longínqua” capital paulista. Depois a fé ultrapassava as fronteiras santamarenses e ia “por ai afora”, como se dizia, pelas estradas empoeiradas em direção a Pirapora do Bom Jesus com as romarias de Cenerino Branco de Araujo e José Diniz.

Era bem conhecido o ex-prefeito de Santo Amaro, Isaías Branco de Araujo, tio de dona Maria Rodrigues Borba, conhecida como Maricota, a matriarca da família.
PEDRO MIRANDA BORBA

Pedro Miranda Borba foi por algum tempo “inspector geral de trânsito” de Santo Amaro, habilitando muitas pessoas locais em “condutor de automóvel” ou “condutor de carroça”, em habilidade de cocheiro ou carroceiro!
REGISTROS DAS CARTAS
Mais tarde abriu um negócio próprio no segmento de peças em couro e estava sempre na lida diária confeccionando arreios variados para as montarias da localidade, muito comum à época em ser o meio de transporte mais comum os cavalos, muares e muitas charretes, aranhas e carroças. As ferragens para adornar as várias confecções vinham da Abramo Eberle & Cia, casa tradicional que fornecia para o exército brasileiro e todas as milícias estaduais, e estava localizada em Caxias, no Rio Grande do Sul, desde 1895.

Nesta atmosfera cresciam os outros filhos do casal Pedro e Maria: Lupércio Rodrigues Borba, Rosa e Lucia Miranda Borba. Estudavam todos na Escola Paulo Eiró e em casa ajudavam na lida diária sendo que os filhos iam para a loja trabalhar com “seu” Pedro, para produzir as peças encomendadas pelos santamarenses e que eram feitas até para fora da Vila. A loja ficava na Alameda Santo Amaro, número 358 e era bem conceituada e concorrida. 

O prédio(ainda existente) foi construído no início do século 20, em 1914, e era bem localizado, que resiste ao tempo com “galhardia” de santamarense, que infelizmente vê-se seus prédios centenários serem demolidos na atualidade em nome do “progresso”.

Aos fins de semana a diversão da “rapaziada” estava voltada às atividades corriqueiras de Santo Amaro, como as “pelejas” de futebol na baixada da Avenida Padre José Maria, onde hoje fica o Terminal de ônibus e estavam os campos de várzea. 
Somado a grande paixão brasileira somava-se às andanças de bicicletas ou competições que formaram grandes ciclistas como Joaquim Mendonça Filho e Karl Czernik, que mantinha o Ciclo Club na esquina da Cerqueira Cezar com a Rua Carlos Silva Araujo, nº 448, e estava filiado a Federação Paulista de Ciclismo fundada em 1925 e onde se reuniam também muitos outros ciclistas santamarenses como Tarcísio Montanaro, cognominado de Garça, companheiro de Lupércio que competiram na “Prova Ciclística 9 de Julho”[1], evento paulistano, onde se incluía nomes como Rolando Montesi e Pietro Allegrini da equipe Alda Allegrini. 


 COMPETIÇÃO EM SANTO AMARO
PASSEIO LÚDICO

Existia ainda o Campo de Bocha aonde muitos iam se divertir no “Club de Bocha Santo Amaro” fundado por Jorge Fares um dos sócios da Calil Fares & Cia. Neste segmento o “Grêmio Unido Santo Amaro”, G.U.S.A., teve um grande representante da seleção brasileira do certame de bocha, José Geraldo Sbragia, popularmente conhecido com o cognome de “Comando”. Santo Amaro era uma efervescência esportiva onde mais tarde representou nas competições náuticas o velejador Joerg Bruder!  Muitos bailes da época eram orquestrados por artistas locais como o músico Amaro Machado que compunha o grupo de Mario Gennari Filho. 

Lourenço Miranda Borba participava desses momentos em Santo Amaro nos fins de semana com outros jovens, sendo adepto do ciclismo andava na turma do João Abóbora, Turquinho, Armando, somando com seu irmão Lupércio que os acompanhavam nas investidas na Avenida Paulista, São Paulo.

Seu Lourenço tornou-se um profissional de todo o ramo de montaria, da confeccionando em couro barrigueiras, sobrecinchas, caronas, badanas, loros, açoiteiras, rabichos, rédeas, peitorais, enfim tudo que se relacionava a este universo era de fácil manuseio e fabricação pela família Borba.

A religiosidade local concorria nas celebrações da Matriz de Santo Amaro, sendo que nas angariações das missões eram ofertadas espórtulas em nome de alguém em homenagem perpétua, em obra seráfica das santas missas, onde a família Borba tinha participação efetiva.

O jovem Lourenço casou-se com Maria Conceição Mendes, também da origem santamarense, dando continuidade na família com os filhos Fábio e Marcello Mendes Borba.
Rua Brasílio Luz  Chevrolet - taxi 1951

Nosso “santamarense da gema”, seu Lourenço, ainda trabalhou nas feiras de Santo Amaro e em 1956 enveredou-se para tornar-se “chofer de praça” no ponto antigo do Largo Treze de Maio, com a proteção de São Cristóvão, por longo tempo foi assíduo participante do meio social santamarense e exemplar representante “botina amarela” do Centro das Tradições de Santo Amaro.

“Chofer de praça”: LOURENÇO MIRANDA BORBA


Esta é uma crônica de quem participou ativamente das relações sociais da “Cidade” de Santo Amaro, e a quem muitos novos santamarenses devem reverenciar e conhecer sua historiografia, como tantos outros contemporâneos que perpetuaram a identidade local.

“Quem é, ou quem foi alguém, não o sabemos a não ser conhecendo a história da qual ele é o herói”. (Hannah Arendt)



Referências:

Oralidade: LOURENÇO MIRANDA BORBA e Rosana Manfredini

Fotos cedidas por Fabio Mendes de Borba, salvo especificação contrária.

Correio Paulistano-15 de setembro de 1942

Almanaque esportivo de 1929


Aguarda-se a crítica da crônica em nome da historiografia, para aprofundamento do tema e possíveis correções e acréscimos.




[1] PROVA CICLÍSTICA 9 DE JULHO: Instituída em 1932 pelo jornalista Cásper Líbero em homenagem à Revolução Constitucionalista foi realizada pelo jornal “A Gazeta Esportiva” a partir de 1933, com a denominação Prova Ciclística 9 de Julho. A Prova Ciclística tem realização e organização da Fundação Cásper Líbero e Gazeta Esportiva.net, com organização técnica da Federação Paulista de Ciclismo e supervisão da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC). A Fundação Cásper Líbero que detém o registro por problemas burocráticos cancelou a prova em 2012 e a Federação Paulista de Ciclismo então organizou o “Grande Prêmio São Paulo Internacional de Ciclismo”. A tradição prevalece e volta as suas origens do calendário de festividades.

sábado, 25 de julho de 2015

Joaquim Gil Pinheiro e a Doação à Prefeitura de São Paulo

Os tramites do “último desejo” e a recusa do poder

Joaquim Gil Pinheiro nasceu Portugal, em 1855 e emigrou para o Brasil no ano de 1878, onde angariou fortuna notável, como apicultor e fabricante de velas. Faleceu em Coimbra, em 28 de novembro de 1926, sendo transladado para o Brasil, onde foi depositado no Cemitério São Paulo, localizado na Rua Cardeal Arco Verde, Bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo, no Brasil.

Em carta testemunhável Joaquim Gil Pinheiro coloca suas intenções sobre seus bens, deixando-os à Cidade de São Paulo, desde que respeitasse determinadas conformidades, sendo tal testamento lavrado no 10º Tabelião de notas da Capital paulista.

Destas condições colocadas pelo testamento do Comendador Joaquim Gil Pinheiro, foi edificada a Lei número 3271, de 4 de março de 1929. 

As imposições do testador foram consideradas inviáveis por parte do poder municipal, que revogou a lei nº 3271, com ato nº 383, de 17 de setembro de 1932, que segue abaixo.

Ato nº 383 de 17 de setembro de 1932

Revoga a lei nº 3271, de 4 de março de 1929

O Prefeito do Município de São Paulo, usando das atribuições que lhes são conferidos por lei e, considerando que o Tribunal de Justiça de São Paulo, ao julgar os embargos nº 18.156, da Capital, em que eram partes, como embargante, a municipalidade, e como embargado, Manuel Enes Baganha, testamenteiro do falecido Comendador Joaquim Gil Pinheiro decidiu que, pelo testamento com que este falecera, ficou instituído, não um legado, mas uma fundação, para ser administrada pela prefeitura, dada a recusa da Mitra e da Santa Casa de Misericórdia.

Considerando, porém, que não convém a municipalidade suportar os encargos dessa administração, pelo que deve ser revogada a lei nº 3271, de 4 de março de 1929, elaborada na persuasão de que ela seria legatária do testador, em face do testamento;

Decreta:

Art. 1º- Fica revogada a lei nº 3271, de 4 de março de 1929, afim de que o Município se desligue inteiramente do inventário dos bens deixados pelo comendador Gil Pinheiro, bem como qualquer encargo relativo à administração da fundação instituída no testamento com que o mesmo falecera.

 Art. 2º- Revogam-se as disposições em contrário.

Prefeitura do Município de São Paulo, 17 de setembro de 1932, 378º da Fundação de São Paulo.

O Prefeito
Goffredo T. da Silva Telles

O Diretor de Expediente
Álvaro Martins Ferreira
                                                                                             

Referências:

Joaquim Gil Pinheiro, da Freguesia de Alcaide para Embu das Artes, São Paulo

Biografia de Goffredo Teixeira da Silva Telles

Biografia de Álvaro Martins Ferreira

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O Escultor Marino Del Favero e a Imagem de Nossa Senhora da Penha no Bairro Jardim São Luiz/SP

A ARTE ITALIANA NA PERIFERIA


Marino Del Favero nasceu na Província de Belluno, comuna de San Vito di Cadore, região de Veneto em 03 de março de 1864. Era de uma família de artistas entalhadores com formação na academia veneziana como seu tio Giovanni Battista de Lotto, com que iniciou a atividade da arte tanto de entalhe quanto na escultura em mármore.
Região de Veneto-Itália

Província de Belluno-Cadore


Giovanni Battista de Lotto, conhecido por Tita Minoto, era natural também da região de Veneto, comuna de São Vito di Cadore, e tinha trabalhado por longos vinte anos com Valentino Panciera Besarel artista na arte de entalhamento, sendo natural também da província de Belluno, próximo a fronteira a Áustria.

Marino Del Favero havia “bebido na fonte” de grandes artistas italianos e conhecia profundamente a técnica de entalhe em madeira, pois permaneceu desde jovem nas oficinas de seu tio, que mais tarde voltou para sua terra natal e Marino Del Favero empreendeu a aventura de muitos italianos da região de Veneto e viajou para São Paulo.

Portanto quando Marino Del Favero veio para o Brasil na diáspora italiana já trazia na “bagagem” um grande lastro de experiência na arte de esculturas, mesmo ainda muito jovem. Muitos artesãos de muitas áreas estavam entre muitos agricultores como atestado:

...os artesãos, toscanos e do norte da Itália[1]. Também no artesanato a participação italiana foi consistente, sobretudo na cidade de São Paulo, aonde suas oficinas chegaram a mais de 2000 em 1930. (Do outro lado do Atlântico: Um século de imigração italiana no Brasil, de Angelo Trento, p.131)

Montou Del Favero uma oficina-ateliê em 1893 na região central de São Paulo, primeiramente conjugando todo o trabalho na Rua Barão de Itapetininga e depois fixando seu ateliê nas proximidades da paralela do antigo endereço, a Rua 7 de Abril. O adensamento do comércio do triangulo formado pelas ruas São Bento, Direita e 15 de Novembro fez com que houvesse uma expansão obrigando ultrapassar os limites do Rio Anhangabaú, sendo o Viaduto do Chá concluído em 1892, ligando os lados do vale. A cidade começava a se modernizar e ter uma urbanização compatível com o acelerado crescimento e as fábricas que extrapolavam os limites centrais da cidade indo para a região do Brás, Mooca, Ipiranga, Lapa, sendo reduto dos operários imigrantes.

O trabalho era entalhado em madeira e depois marmorizado e dourado, sendo elaborados  púlpitos, retábulos, altares, sendo reconhecido como um dos melhores escultores de arte sacra entre o final do século XIX e início do século XX no Brasil. 

Sua obra muito bem detalhada com a técnica marmorizada confunde-se com as atuais obras produzidas em gesso, sendo que até a sonoridade de bater levemente nas imagens de madeira e gesso, confundem-se ambas.

Foi vencedor de medalhas e premiações em exposições nacionais e internacionais. A imagem de São Sebastião, em madeira laqueada de tamanho natural, obteve o 1º lugar na Exposição de Arte Sacra do Rio de Janeiro, em 1920. Depois foi encaminhada para a Igreja Matriz de São Sebastião, de São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais.

Marino Del Favero protagonizou muitas as obras na Oficina-Ateliê e estão espalhadas nas cidades do Estado de São Paulo e no Sul de Minas Gerais.

Depois de criar muitas esculturas e ter trabalhado com obras de arte sacra por meio século na capital paulista faleceu em São Paulo em 23 de junho de 1943.

A IMAGEM DE NOSSA SENHORA DA PENHA e MARINO DEL FAVERO

No terreno onde atualmente está o supermercado Extra e o Assaí na Avenida Maria Coelho Aguiar, antiga Avenida São Luiz, ficava a Capela de Nossa Senhora da Penha, sob administração da Conferência de São Vicente de Paulo, da “Parochia” de Santo Amaro, Arquidiocese de São Paulo, demolida em maio de 1973, localizada em uma pequena vila de nome Penhinha. Quando houve essa desapropriação a imagem da padroeira no local ainda denominado de Penhinha foi transferida para a Paróquia São Luiz Gonzaga, que fora constituída pelo Decreto de Criação de 21 de abril de 1960 por providência do arcebispo metropolitano Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta.


A capelinha e a paróquia estavam no território do loteamento do bairro Jardim São Luiz, que se localiza no extremo sul do município de São Paulo e foi criado de acordo pela lei nº 58 de 10 de dezembro de 1937, decreto nº 3079 de 15 de setembro de 1938. Loteamento inscrito sob nº 36, 11ª Circunscrição de Registro de Imóveis, localizado atualmente na Rua Nelson Gama de Oliveira, 235/365, na Vila Andrade, Região do Morumbi, São Paulo. Tornou-se assim o 30º subdistrito de Santo Amaro, subprefeitura de mesmo nome. Iniciava-se deste modo o loteamento pela “Sociedade Paulistana de Terrenos S/A” compreendendo uma área física relativamente pequena de 840.000 metros quadrados situada além da margem do Rio Pinheiros. Desta área total 590.000 metros quadrados foram implantados lotes de 250 a 300 metros quadrados e o restante distribuídos em arruamentos e áreas verdes reservadas para praças. Foi o supra citado bairro território da Vila de Santo Amaro que possuía autonomia administrativa de 1832 até 1935.

Quando a Paróquia foi furtada levara o jacaré que havia e jogaram nas dependências da Paróquia São Luiz Gonzaga toda quebrada. Hoje não existe mais essa peça!




A imagem de Nossa Senhora da Penha hoje faz parte do patrimônio sacro da Paróquia São Luiz Gonzaga sendo que o santo padroeiro da juventude está à esquerda de quem adentra à paróquia e a imagem de Nossa Senhora da Penha está do lado oposto, ou seja, à direita. Esta última foi obra da oficina-ateliê de Marino Del Favero, e está com a pintura original, sendo que a data da vinda da imagem esta dentro da década de 1930, conforme oralidade recolhida  de Felipe Dias Lopes, sendo seu pai Constantino Dias Lopes, natural de Lugo, Espanha, que veio para o Brasil em 1886 e  foi festeiro da Capela da Penhinha, pois era o guardião da mesma, tendo as chaves para abrí-la. Felipe Dias Lopes herdou do tio Antonio de Carrardo a arte de mondar esculturas que depois de fabricado o molde reproduzia em concreto. 



No depoimento foi dito que ocorreu um incêndio na capelinha e depois de ser restaurada e “pintada toda de branco” houve por parte da irmandade a necessidade de adquirir outra imagem de Nossa Senhora da Penha para reposição, que foi comprada em São Paulo nas oficinas de Marino Del Favero que providenciou o entalhe que hoje embeleza a Paróquia São Luiz Gonzaga, sito à Rua Antonio da Mata Jr, 80, Bairro Jardim São Luiz.



Paróquia São Luiz Gonzaga: Bairro Jardim São Luiz-São Paulo

Referências:

II Seminário Internacional Patrimônio Sacro: Mosteiro de São Bento-julho de 2015: A PRESENÇA ITALIANA NA ARTE SACRA PAULISTA NA VIRADA DO SÉC. XX: A OFICINA DE ESCULTURA E ENTALHE DE MARINO DEL FAVERO - Cristiana Antunes Cavaterra

TRENTO, Angelo. Do Outro Lado do Atlântico: Um Século de Imigração Italiana no Brasil, São Paulo, Nobel 1989.

A DIÁSPORA DOS IMIGRANTES ITALIANOS: SÃO PAULO (1)





[1] A imigração italiana a partir de 1886, em São Paulo vai atingir cifras enormes, representando quase 50% da imigração total do Estado, sendo seguidos por quase 20% de espanhóis e 15% de portugueses. A meta de imigração italiana era São Paulo com a presença na fronteira do café ao longo das ferrovias Mogiana e Paulista. Ascensão social dos imigrantes que iam para as plantações de café nas fazendas eram reduzidas. São Paulo em 1872 possuía 23.243 habitantes, em 1886 possuía 44.030 habitantes, em 1890 possuía 64.934 habitantes, em 1893 possuía 130.775 habitantes, em 1900 possuía 239.820 habitantes, em 1914 possuía 400.000 habitantes, em 1920 possuía 579.033 habitantes, em 1934 possuía 1.060.120 habitantes. Essa expansão demográfica foi devido a escalada de estrangeiros imigrados. (Do outro lado do Atlântico: Um século de imigração italiana no Brasil, de Angelo Trento, p. 123)

A DIÁSPORA DOS IMIGRANTES ITALIANOS: SÃO PAULO (2)

FAZENDO A AMÉRICA

Em 1848 com o advento da "Primavera dos Povos" a Itália havia mergulhado em conflitos de reinos e não consegue se firmar como nação unificada sendo pressionada por influência da Áustria que dominava parte da região desde os tempos do Império Austro Húngaro e forçava a permanecia do absolutismo. A unificação acontece entre 1860/70 pela diplomacia e guerra sob a égide do Reino da Sardenha-Piemonte. Dois Giuseppes o Mazzini, um dos líderes, e Garibaldi, estavam interessados na unidade italiana e estão juntos pela causa republicana. Em 17 de março de 1861, foi promulgada a constituição do Reino da Itália mesmo não sendo acompanhada por Veneza, Roma e o Lácio que aderiram em 1870. Neste ano a Itália possuía cerca de 25 milhões de habitantes e permanecia basicamente agrícola e a pobreza atingia proporções alarmantes e a situação econômica e política beirava o caos. Os agricultores estavam à mercê dos latifúndios provenientes de antigos reinos nas mãos das classes dominantes e deste contexto aparece a oportunidade de imigrarem para a América. O governo imperial do Brasil decretou uma lei pela Assembléia Provincial em 30 de março de 1871 que autorizava o Governo da Província de São Paulo e emitir apólices até a quantia de 600:000$000 réis para subsidiar despesas de até 10.000$000 réis da vinda de colonos oriundos da Europa para trabalharem nas fazendas paulistas. Esse amparo monetário era liberado por uma comissão dos fundos destinados a “socorrer” os italianos que adentravam no país. Para a Itália com crises econômicas e não contornando as crises sociais como a alta taxa de desemprego, a emigração (saída) era vista como uma solução diante de possíveis convulsões sociais que poderiam ocorrer.

Fica registrado que sobre pressão dos cafeicultores e senhores de engenho não foi abolida a escravidão antes de medidas de garantias da substituição do escravo pelo imigrante! A Lei Euzébio de Queirós aprovada em 4 de setembro de 1850, tinha dificultado a vinda de mão de obra escrava para o Brasil. A lei no 601, de 18 de setembro de 1850 em seu artigo primeiro dispunha que : Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas por outro titulo que não seja o de compra. Poucos que aqui chegavam, e muito menos quem estava sob o regime de escravidão possuíam recursos para adquirir terras. (Interessante “acontecer” a promulgação das duas leis simultaneamente!)

A província de São Paulo financiou a contratação de mão-de-obra imigrante por conta própria através do lucro da produção cafeeira que tinha propiciado grande expansão econômica, sendo que as outras províncias necessitavam de investimento do erário do Império para promover a vinda de mão de obra externa.

Deste modo um compromisso entre Agentes da Emigração e Companhias de Navegação que tinham sua base em Genova, na Itália, como ponto de partida para imigrantes agenciavam a mão de obra necessária para a agricultura brasileira e a viagem atravessando o Oceano Atlântico demorava entre 30 a 40 dias, dependendo do navio vapor que fazia a travessia. Todos que chegavam a São Paulo eram embarcados do litoral na Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e esta mesma ferrovia terminada em 1867 era a mesma que embarcava a monocultura do café para a exportação através do porto de Santos.

“Far l’America”   
                
A imigração italiana a partir de 1886, em São Paulo vai atingir cifras enormes, representando quase 50% da imigração total do Estado, sendo seguidos por quase 20% de espanhóis e 15% de portugueses. A meta de imigração italiana era São Paulo com a presença na fronteira do café ao longo das ferrovias Mogiana e Paulista. Ascensão social dos imigrantes que iam para as plantações de café nas fazendas eram reduzidas. São Paulo em 1872 possuía 23.243 habitantes, em 1886 possuía 44.030 habitantes, em 1890 possuía 64.934 habitantes, em 1893 possuía 130.775 habitantes, em 1900 possuía 239.820 habitantes, em 1914 possuía 400.000 habitantes, em 1920 possuía 579.033 habitantes, em 1934 possuía 1.060.120 habitantes. Essa expansão demográfica foi devido a escalada de estrangeiros imigrados. (Do outro lado do Atlântico: Um século de imigração italiana no Brasil, de Angelo Trento, p. 123)

Os italianos inseriam em todas as camadas de trabalho dentro dos quais estavam barbeiros, sapateiros, alfaiates, cocheiros, carregadores, cavadores, pedreiros, canteiros, marmoristas, marceneiros, ferreiros, caldeireiros. Em 1894 dos 400 lixeiros de São Paulo eram italianos. Na industrialização tardia, muitos postos foram preenchidos por mão de obra proveniente de um proletariado proveniente da Itália e representava o maior contingente da classe operária em São Paulo.  Na construção civil no início da década de 1910 os pedreiros representavam 4/5 da força de trabalho deste setor. Na indústria têxtil a metade de tecelões eram italianos. A unificação da Itália e da Alemanha faz aparecer mais tarde um totalitarismo que vai eclodir com guerras entre potencias bélicas, diminuindo o fluxo imigratório até o final  da primeira guerra e sendo reativado no entre guerras e no término do segundo conflito bélico com a rendição da Alemanha, Itália e Japão que curiosamente vão fornecer grandes levas imigratórias antes e depois das guerras mundiais.


Referências:

HEFLINGER Jr, José Eduardo. LEVY, Paulo Masuti. E os Italianos Chegaram. Limeira, São Paulo: Unigráfica, 2010

TRENTO, Angelo. Do Outro Lado do Atlântico: Um Século de Imigração Italiana no Brasil, São Paulo, Nobel 1989.


A DIÁSPORA DOS IMIGRANTES ITALIANOS: SÃO PAULO (1)

FAMÍLIA FATORELLI: de São Carlos para Taquaritinga/Catanduva e depois à cidade de São Paulo

http://carlosfatorelli27013.blogspot.com.br/2014/02/familia-fatorelli-de-sao-carlos-para.html