A ARTE ITALIANA NA PERIFERIA
Marino Del Favero nasceu na Província de Belluno,
comuna de San Vito di Cadore, região de Veneto em 03 de março de 1864. Era de uma
família de artistas entalhadores com formação na academia veneziana como seu tio Giovanni
Battista de Lotto, com que iniciou a atividade da arte tanto de entalhe quanto
na escultura em mármore.
Região de Veneto-Itália
Província de Belluno-Cadore
Giovanni Battista de Lotto, conhecido
por Tita Minoto, era natural também da região de Veneto, comuna de São Vito di
Cadore, e tinha trabalhado por longos vinte anos com Valentino Panciera Besarel
artista na arte de entalhamento, sendo natural também da província de Belluno,
próximo a fronteira a Áustria.
Marino Del Favero havia “bebido na
fonte” de grandes artistas italianos e conhecia profundamente a técnica de
entalhe em madeira, pois permaneceu desde jovem nas oficinas de seu tio, que mais
tarde voltou para sua terra natal e Marino Del Favero empreendeu a aventura de muitos italianos
da região de Veneto e viajou para São Paulo.
Portanto quando Marino Del Favero veio para
o Brasil na diáspora italiana já trazia na “bagagem” um grande lastro de
experiência na arte de esculturas, mesmo ainda muito jovem. Muitos artesãos de muitas áreas estavam
entre muitos agricultores como atestado:
...os artesãos, toscanos e do norte da
Itália[1].
Também no artesanato a participação italiana foi consistente, sobretudo na
cidade de São Paulo, aonde suas oficinas chegaram a mais de 2000 em 1930. (Do
outro lado do Atlântico: Um século de imigração italiana no Brasil, de Angelo
Trento, p.131)
Montou Del Favero uma oficina-ateliê em
1893 na região central de São Paulo, primeiramente conjugando todo o trabalho
na Rua Barão de Itapetininga e depois fixando seu ateliê nas proximidades da paralela
do antigo endereço, a Rua 7 de Abril. O adensamento do comércio do triangulo formado
pelas ruas São Bento, Direita e 15 de Novembro fez com que houvesse uma
expansão obrigando ultrapassar os limites do Rio Anhangabaú, sendo o Viaduto do
Chá concluído em 1892, ligando os lados do vale. A cidade começava a se
modernizar e ter uma urbanização compatível com o acelerado crescimento e as fábricas
que extrapolavam os limites centrais da cidade indo para a região do Brás,
Mooca, Ipiranga, Lapa, sendo reduto dos operários imigrantes.
O trabalho era entalhado em madeira e depois marmorizado e dourado, sendo elaborados
púlpitos, retábulos, altares, sendo reconhecido como um dos
melhores escultores de arte sacra entre o final do século XIX e início do
século XX no Brasil.
Sua obra muito bem detalhada com a técnica marmorizada
confunde-se com as atuais obras produzidas em gesso, sendo que até a sonoridade
de bater levemente nas imagens de madeira e gesso, confundem-se ambas.
Foi vencedor de medalhas e premiações em exposições
nacionais e internacionais. A imagem de São Sebastião, em madeira laqueada de
tamanho natural, obteve o 1º lugar na Exposição de Arte Sacra do Rio de
Janeiro, em 1920. Depois foi encaminhada para a Igreja Matriz de São Sebastião,
de São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais.
Marino Del Favero protagonizou muitas as
obras na Oficina-Ateliê e estão espalhadas nas cidades do Estado de São Paulo e
no Sul de Minas Gerais.
Depois de criar muitas esculturas e ter trabalhado
com obras de arte sacra por meio século na capital paulista faleceu em São
Paulo em 23 de junho de 1943.
A IMAGEM DE NOSSA SENHORA DA PENHA e MARINO
DEL FAVERO
No terreno
onde atualmente está o supermercado Extra e o Assaí na Avenida Maria Coelho
Aguiar, antiga Avenida São Luiz, ficava a Capela de Nossa Senhora da Penha, sob
administração da Conferência de São Vicente de Paulo, da “Parochia” de Santo
Amaro, Arquidiocese de São Paulo, demolida em maio de 1973, localizada em uma pequena
vila de nome Penhinha. Quando houve essa desapropriação a imagem da padroeira
no local ainda denominado de Penhinha foi transferida para a Paróquia São Luiz Gonzaga, que fora constituída pelo Decreto de
Criação de 21 de abril de 1960 por providência do arcebispo metropolitano Dom
Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta.
A capelinha e a
paróquia estavam no território do loteamento do
bairro Jardim São Luiz, que se localiza
no extremo sul do município de São Paulo e foi criado de acordo pela lei nº 58
de 10 de dezembro de 1937, decreto nº 3079 de 15 de setembro de 1938.
Loteamento inscrito sob nº 36, 11ª Circunscrição de Registro de Imóveis,
localizado atualmente na Rua Nelson Gama de Oliveira, 235/365, na Vila Andrade,
Região do Morumbi, São Paulo. Tornou-se assim o 30º subdistrito de Santo Amaro,
subprefeitura de mesmo nome. Iniciava-se
deste modo o loteamento pela “Sociedade Paulistana de Terrenos S/A”
compreendendo uma área física relativamente pequena de 840.000 metros quadrados
situada além da margem do Rio Pinheiros. Desta área total 590.000 metros
quadrados foram implantados lotes de 250 a 300 metros quadrados e o restante
distribuídos em arruamentos e áreas verdes reservadas para praças. Foi o supra
citado bairro território da Vila de Santo Amaro que possuía autonomia
administrativa de 1832 até 1935.
Quando a Paróquia foi furtada levara o jacaré que havia e jogaram nas dependências da Paróquia São Luiz Gonzaga toda quebrada. Hoje não existe mais essa peça!
A imagem de Nossa Senhora da Penha hoje faz parte do patrimônio
sacro da Paróquia São Luiz Gonzaga sendo que o santo padroeiro da juventude está
à esquerda de quem adentra à paróquia e a imagem de Nossa Senhora da Penha está
do lado oposto, ou seja, à direita. Esta última foi obra da oficina-ateliê de
Marino Del Favero, e está com a pintura original, sendo que a data da vinda da
imagem esta dentro da década de 1930, conforme oralidade recolhida de Felipe
Dias Lopes, sendo seu pai Constantino Dias Lopes, natural de Lugo, Espanha,
que veio para o Brasil em 1886 e foi festeiro da Capela da Penhinha, pois era o
guardião da mesma, tendo as chaves para abrí-la. Felipe Dias Lopes herdou do
tio Antonio de Carrardo a arte de mondar esculturas que depois de fabricado o
molde reproduzia em concreto.
No depoimento foi dito que ocorreu um incêndio na
capelinha e depois de ser restaurada e “pintada toda de branco” houve por parte
da irmandade a necessidade de adquirir outra imagem de Nossa Senhora da Penha para
reposição, que foi comprada em São Paulo nas oficinas de Marino Del Favero que
providenciou o entalhe que hoje embeleza a Paróquia São Luiz Gonzaga, sito à
Rua Antonio da Mata Jr, 80, Bairro Jardim São Luiz.
Paróquia São Luiz Gonzaga: Bairro Jardim São Luiz-São Paulo
Referências:
II Seminário Internacional Patrimônio
Sacro: Mosteiro de São Bento-julho de 2015: A PRESENÇA ITALIANA NA ARTE SACRA PAULISTA NA VIRADA
DO SÉC. XX: A OFICINA DE ESCULTURA E ENTALHE DE
MARINO DEL FAVERO -
Cristiana Antunes Cavaterra
TRENTO,
Angelo. Do Outro Lado do Atlântico: Um Século de Imigração Italiana no Brasil,
São Paulo, Nobel 1989.
A DIÁSPORA DOS
IMIGRANTES ITALIANOS: SÃO PAULO (1)
[1]
A imigração italiana a partir de 1886,
em São Paulo vai atingir cifras enormes, representando quase 50% da imigração
total do Estado, sendo seguidos por quase 20% de espanhóis e 15% de portugueses.
A meta de imigração italiana era São Paulo com a presença na fronteira do café
ao longo das ferrovias Mogiana e Paulista. Ascensão social dos imigrantes que
iam para as plantações de café nas fazendas eram reduzidas. São Paulo em 1872
possuía 23.243 habitantes, em 1886 possuía 44.030 habitantes, em 1890 possuía
64.934 habitantes, em 1893 possuía 130.775 habitantes, em 1900 possuía 239.820
habitantes, em 1914 possuía 400.000 habitantes, em 1920 possuía 579.033
habitantes, em 1934 possuía 1.060.120 habitantes. Essa expansão demográfica foi
devido a escalada de estrangeiros imigrados. (Do outro lado do Atlântico: Um
século de imigração italiana no Brasil, de Angelo Trento, p. 123)
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