quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O QUINTO DOS INFERNOS

O REI E O SÉQUITO MOUCO

O rei de Portugal cobrava o “quinto” de toda riqueza encontrada na Colônia, no caso o Brasil, que deu origem ao termo “Quinto dos Infernos”. O que era o quinto e onde eram os Infernos?

Quinto era a quinta parte, (1/5), ou seja, 20% do que era encontrado. Se encontrassem 100 quilos de ouro o governo português levava, sem muito esforço, e por ser dono da Colônia, 20 quilos de ouro como tributo.

E quanto aos infernos?

Quando as caravelas portuguesas adentravam nos portos de Portugal, depois de longa jornada, às vezes 3 meses singrando o Atlântico, e ancoravam, os portugueses se perguntavam: De onde é esse navio? Outro respondia: Vem dos Infernos!

Ora era um lugar bem longe, que ninguém queria morar, onde a costa africana tinha mais valor comercial por se tratar de Caminho às Índias, onde havia um lucro rápido. O Brasil, do pau vermelho, da tinta que tingia os tecidos do Oriente e que tinha monopólio inglês ou holandês era os INFERNOS. Há de se dizer ainda com grande convicção: onde existia um navio português havia no seu rastro um navio inglês para se beneficiar com o butim das Colônias Além Mar de Portugal. 

Hoje o “rei do Brasil” que se viu livre do estrangeiro (será?) tem outras condições de mordomia e o cargo de antes, tem agora nova nomenclatura, embora as regalias podem ser até maiores que os palácios de outrora e chamamos esse novo rei de “presidente”!

Pois bem, esse nosso novo rei atribui tributos maiores do que o antigo regime e nos cobra em tudo que é produzido nos “Infernos” 2/5 como tributo do “ouro” produzido, ou seja, 40% de tributo na fonte de produção.

Os dois são déspotas, e controlavam ou controlam as rendas com mão de ferro, mas quem foi mais ávido para receber a paga da riqueza do país: O rei da Colônia ou o rei da demo-cracia? O primeiro contentava-se com 20% e o segundo não se contenta com 40%!

É necessário morrer outro Tiradentes para mostrar que o rei contemporâneo é injusto em manter a condição dos Infernos e construir nova Inconfidência?

Aceitam-se críticas de banqueiros, políticos, empresários e outros seguimentos e, por último o povo...povo? Ora povo, digo, reza povo, reza, para sair deste inferno, embora a terra tudo dá, (Pero Vaz de Caminha) mas os políticos tiram!


Brasileiros: Filhos de Colonos Embrutecidos e bucaneiros, amálgama em construção. O Inferno são os outros!

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O BAIRRO NAGIB SALEM E A SAGA SÍRIO-LIBANESA NO JARDIM SÃO LUIZ/SP

A SOCIEDADE DE ASSAD ABDALLA & NAGIB SALEM

Hoje os olhos do mundo voltam-se para a região geográfica da Síria onde é travada uma guerra civil de um morticínio sem precedentes, sendo que o sofrimento humano obriga a população a decisões desesperadoras onde vidas são ceifadas sem explicações, apenas por uma ideologia qualquer. Sem o mérito de quem está com a razão o sofrimento da população civil é imenso.



O IMPÉRIO BRASILEIRO E OS ÁRABES

Houve outros tempos em que os sírios libaneses foram recebidos no Brasil por convite do então imperador Dom Pedro II e que mais tarde perpetuou essa amizade no período republicano. A imigração para o Brasil iniciou-se em 1880 com a chegada simbólica de Youssef Mussa ao Rio de Janeiro.
No Brasil popularizou-se a chamar “turcos” todos os árabes que chegavam ao país, mas na realidade esses “turcos” eram sírios e libaneses, coisas bem distintas na história. Isso se deve ao fato de que por longo tempo a Síria e o Líbano estavam sob a dominação da Turquia, e estes imigrantes que vinham para o Brasil possuíam passaporte Império Otomano[1].

OS “PRIMOS” SÍRIO-LIBANESES

Desembarcavam no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, e em São Paulo[2], onde se fixaram na região da Sé e Santa Ifigênia, entre as ruas 25 de Março, Cantareira e Avenida do Estado com lojas de tecidos a varejo e armarinhos. Saiam a “mascatear”, vender com uma caixa pesada sobre os ombros com tecidos e artigos de costura e atavios femininos.

Nestas vindas chegaram ao Brasil em 15 de dezembro de 1895 dois primos, Assad Abdalla e Nagib Salem, naturais da cidade Homs, na Síria, solteiros e com muita vontade de “vencer na vida”.  Ambos persistentes assumiram com dedicação e muito trabalho o que está no sangue árabe: a arte de comercializar.
  Vendedores ambulantes 
1) Quitandeiro; 2) Vendedor de vassouras e cestas; 3) Vendedor de cebolas; 4) Padeiro; 5) Doceiro; 6) Vendedora de bugigangas; 7) Mascate - (http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300g10.htm)

Começaram primeiramente a mascatear  pelos bairros próximos do centro de São Paulo carregando às costas as grandes caixas, cheias de armarinhos com tudo que era peculiar a costura e uma gama de tecidos. A escolha do comércio de tecidos e armarinhos deu-se devido à menor concorrência, pois alemães, italianos e portugueses já dominavam um mercado específico e deste modo, os sírio-libaneses passaram a controlar boa parte do ramo têxtil de São Paulo. Começa então as primeiras referências das casas de comércio nas mãos de sírio-libaneses, que se iniciavam aos poucos no varejo.

No início, sem muitos recursos financeiros, residiam em pensões baratas, vilas com muitas casas pequenas localizadas nas imediações ou em porões de velhos sobrados (comumente chamados de cortiços) dessa antiga região da cidade.

Amealharam, com o tempo, algum ganho com economias feitas que lhes deram condições de, mais tarde, comprarem seus próprios estabelecimentos para venda de mercadorias por atacado, ampliando, deste modo, os negócios no  ramo têxtil. Mais tarde voltaram-se para a indústria, havendo implantado em seu “país de adoção”, uma série de grandes estabelecimentos empresariais.



Assad e Nagib empreitaram-se no comércio de tecidos e armarinhos, estabelecido na Rua Vinte e Cinco de Março, no número 141, atualmente nº 595. A firma Assad Abdalla & Nagib Salem tornou-se a principal distribuidora de algodãozinho cru com a “Marca 141”, que entregavam em todo o Brasil. Em 1912 os sócios investiram parte dos ganhos em imóveis, por exemplo, na região do Tatuapé na região da Fazendinha, local que hoje sedia o Parque São Jorge do clube Corinthians Paulista e adquirida à época pelo clube dos referidos sócios.

A loja de Assad Abdalla & Nagib Salem (AA&NS) na Rua Vinte e Cinco de Março, número 141, era dirigida pelos dois primos onde Abdalla cuidava dos negócios viajando para o Rio de Janeiro, que era o centro comercial do país, para comprar mercadorias nacionais e importadas, somando a isto mais três viagens feitas a Europa entre 1908 a 1912 para abastecer a loja com mercadorias estrangeiras conseguidas nas fontes produtoras um melhor preço, enquanto que Nagib Salem ficava administrando a loja.
Nagib Salem
O movimento de importação, segundo o "Relatório da Repartição de Estatística do Estado", em 1909 dos principais portos era:
Portos de procedência com valor superior a um mil réis:
Portos
Peso em quilos
Valor em Réis
Rio de Janeiro
29.726.809
12.118:823$000
Pernambuco
16.950.779
6.494:603$000
Rio Grande (R.G.S.)
15.917.836
4.985:449$000
Santos (S.P.)
1.688.441
2.763:532$000
O principal produto da AA & NS eram roupas brancas e pretas estas últimas usadas por uma viuvez precoce ocorrida por doenças tropicais e por partos mal sucedidos. Por essa altura dos negócios ambos davam provas de grande competência, revelando-se hábeis negociantes no ramo proposto.

São Paulo somente viria a tornar-se um centro comercial importante após a primeira grande guerra (1914-1918) crescendo ainda mais com as dificuldades de cambio, quebra da Bolsa de Nova York (1929) e ainda com o conflito interno da Revolução de 30 que culminou com o levante paulista da Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo já dava sinais da efervescência de grande pólo industrial, consistente que poderia competir com outros mercados internos e até do exterior.

Neste ano de 1932 também chegava ao fim a sociedade solida de longos anos dos primos Assad Abdalla e Nagib Salem cada um assumindo negócios próprios com os filhos.

A empresa antiga passou a ser denominada “Assad Abdalla e Filhos” expandida para outros segmentos sendo fundada a Indústria York S.A.[3] para produção de produtos cirúrgicos. Em 1956 compraram a “Plásticos York” em Santo Amaro, São Paulo, e em 1977 uniram a têxtil Assad Abdalla S.A. (TAASA) com as duas empresas York resultando o “Grupo York S.A. Indústria e Comércio”, dividida em duas empresas: uma em São Paulo (Tatuapé) com produtos de saúde e higiene e outra em Salto (SP) de artigos de laminados sintéticos. A empresa Dural, da família Abdalla permanece na Rua Vinte Cinco de Março, em São Paulo, número 595 (antigo 141)

Nagib Salem e Fuad Salem, depois de findada a sociedade com Assad Abdalla, formaram a "Nagib Salem e Filho" com sede em São Paulo, a Rua Vinte e Cinco de Março, número 553, antigo número189, para a compra e venda, por atacado, de tecidos e armarinhos constituída por escritura particular de 26 de dezembro de 1936. 
LOCAL HOJE
Mais tarde se ampliou recebendo a denominação "Nagib Salem S/A Indústria e Comércio de Tecidos” com o objetivo de ampliar a sociedade fomentando a indústria, comércio, importação, exportação e representação de todos os gêneros de tecidos, e de tudo o mais correlato a este ramo fabril especifico.

Na década de 20, Nagib Salem havia comprado uma área na Avenida Paulista, número 98, depois 1.313, e lá construiu sua residência com projeto dos engenheiros Malta e Guedes, marcado pela monumentalidade, com vitrais coloridos,  mármores, madeiras nobres, muita pintura, teto e sancas em gesso com acabamento em ouro.



LOCAL DO PALACETE HOJE

Os jardins foram criados por João Dierberger[4] e a decoração das paredes pelo pintor-artesão italiano Bernardino Ficarelli. Em 1971, a família Salem vendeu o terreno da Avenida Paulista para a FIESP e o SESI abrigarem a nova sede institucional.










FUAD SALEM E O BAIRRO "JARDIM NAGIB SALEM"

O comendador Fuad Salem, nasceu em São Paulo, em 04 de dezembro de 1905, filho de Nagib Salem. Estudou em São Paulo na Escola Anglo Brasileira, passando depois para o Mackenzie College, formou-se em advocacia na Universidade de Cambrigde na Inglaterra. Implantou junto com seus pais e outros participantes da colônia Síria o Hospital Sírio Libanês. Incentivou a formação do Orfanato Sírio, hoje denominado Orfanato São Jorge. Fixou residência à Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, número 2759, região da Paulista.









Formou sociedade com seu pai Nagib Salem e outros compatriotas e mais tarde tornou-se industrial e ainda se dedicou ao setor imobiliário, implantando o Jardim Nagib Salem, no extremo sul de São Paulo, região de Santo Amaro, pequena vila, bem estruturada com uma centena de residências de companhia, com duas ruas distintas, Rua Guimarães de Tavares e Rua José da Mata Cardim, antiga Lacerda Franco, com entrada pela Avenida Maria Coelho Aguiar, bairro encravado no Distrito do Jardim São Luiz, entre o Centro Empresarial de São Paulo e o que foi a antiga empresa Pirâmides Brasília S.A., hoje os antigos galpões são alugados para pequenas e médias empresas.

Fuad Salem foi agraciado pelo rei Paulo da Grécia por atitudes beneméritas, vindo a falecer nesta Capital, em 23 de março de 1977. Foi reconhecido pela câmara paulista que o homenageou com a Rua Comendador Fuad Salem, no Jardim Wanda, São Paulo - SP, Brasil.

Pela acolhida do Brasil e pela amizade firmada ao longo do tempo foi construído pelo povo sírio-libanês o “O Monumento Amizade Sírio-Libanesa”, de Ettore Ximenes, atualmente situado na Praça Ragueb Chohfi, (outro pioneiro) no final da Rua Vinte Cinco de Março, no Parque Dom Pedro II, próximo ao terminal de ônibus.


O furto da história no Brasil: Socorro!

Curiosidades da onomástica árabe citada e outras:
Salem: intacto, limpo e seguro, de coração puro e correto
Fouad: coração espiritual
Assad: muito feliz, que desfruta de felicidade perfeita

O CEDRO DO LÍBANO: O cedro do Líbano é mais que uma árvore, ele é o símbolo do Líbano. O cedro foi escolhido como emblema da bandeira libanesa por simbolizar força e imortalidade. Embora existam muitos tipos de cedros, o Cedro do Líbano ou Cedrus libani é a espécie mais velha e mais forte, podendo viver ao longo de centenas anos.  Veja como o Cedro do Líbano marcou sua presença ao longo da história:
• Os fenícios empregavam sua madeira na construção de embarcações, utilizadas para a navegação no Mar Mediterrâneo e no Oceano Atlântico.
• O papiro de Unamon, datado do século XI a.C. testemunha o intercâmbio comercial entre o Líbano e o Egito. Unamon narra que foi encarregado pelo Grande Sacerdote do Deus Amon, de Tebas, para procurar os cedros a fim de construir um barco consagrado à divindade.
• Segundo a Bíblia, o Rei Salomão construiu seu famoso templo com a madeira dos cedros libaneses.
• A madeira do cedro era perfumada e utilizada pelos faraós do Egito para mumificar os mortos.


*Aguarda-se a crítica da crônica, sujeita a revisões posteriores, para a fidelidade da identidade local.

Referências:
TRUZZI, Oswaldo M. S. De mascates a doutores: sírios e libaneses em São Paulo. São Paulo: Ed. Sumaré, 1991.

TRUZZI, Oswaldo M. S. Sírios e Libaneses e seus descendentes na sociedade paulista. In: FAUSTO, Boris (Org.). Fazer a América. 2 ed. São Paulo: Edusp, 2000.

TRUZZI, Osvaldo M. S. Patrícios: Sírios e Libaneses em São Paulo. São Paulo: Ed. Hucitec, 1997.

TRUZZI, Oswaldo M. S. O lugar certo na época certa: sírios e libaneses no Brasil e nos Estados Unidos – um enfoque comparativo. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 27, 2001.





Plásticos York: depoimento de Jose Luiz Moraes Dias (família Dias)

KHOURI, Juliana Mouawad. Pelos Caminhos de São Paulo: A Trajetória dos Sírios e Libaneses na Cidade. São Paulo, 2013-Trabalho Científico.

LESSER, Jeffrey. Negociando a Identidade Nacional: Imigrantes, Minorias e a Luta pela Etnicidade no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2001.

ABUMRAD, Carlos. Libaneses e sírios que fazem o Brasil. São Paulo: Editora CLC, 2012

Família Salem. Grandes Famílias que construíram o Brasil. Canadá: 2012


“Impressões do Brazil no seculo vinte: Sua historia, seo povo, commercio, industrias e recursos” e vários autores  assinavam a obra a saber: Reginald LloydWalter FeldwickL. T. DelaneyJoaquim EulalioArnold Wright, tendo como editor a  Lloyd's greater Britain publishing Company, Limited.1913.



[1] O Oriente Médio, do Mar Negro ao Egito, da Arábia Saudita à Tunísia foi submetido a uma dominação turca que duraria 400 anos. Em 3 de Julho de 1908 culmina com a Revolução dos Jovens Turcos e a dissolução do Império Otomano. Pelo Tratado de Lausanne (1923) foram criados 40 novos países a partir dos antigos territórios otomanos (incluindo a República Turca de Chipre do Norte). O sultanato foi abolido a 1º de Novembro de 1922.
[2] O massacre dos drusos de 1860, seita mulçumana da Pérsia (território compreendido na atualidade ao Irã) em quase todo o Líbano, também foi fator importante para explicar o processo imigratório e o contingente maior de cristãos, ortodoxos do Líbano, os melquitas, da Síria, (Litúrgica, teológica e espiritualmente vinculada à ortodoxia da fé cristã segundo a Tradição Oriental, com vínculo ao Bispo de Roma, o Papa)  Palestina e Egito (de rito Bizantino), os coptas do Egito (Cristãos de origem egípcia ortodoxos em comunhão de Igrejas que se separaram do resto do Cristianismo depois do concílio de Calcedônia, no século 5 d.C.) e os protestantes.

[3] Esta empresa é sucessora da Dias & Cia., com fábrica na rua ao lado do mercado de Santo Amaro, cujo prédio lá ainda se encontra. 


Esta empresa é uma separação da empresa “Plásticos Estrela”, posteriormente Plásticos Dias Ltda., administrada pelo Antonio Dias da Silva e seu filho Plínio Dias.
A empresa Dias & Cia Ltda., foi desmembrada da Plásticos Estrela, saindo da Penhinha, no Jardim São Luiz, instalando-se próxima ao Mercado Municipal de Santo Amaro, administrada pelo irmão do Antonio, José Dias da Silva e seus irmãos (João, Arthur, Cândido e Mário, seus cunhados Virgílio e Olavo), posteriormente administrado somente com seus filhos  José, Gabriel, Ary, Paulo, e Fernando, sendo vendida em 1958  para a família Abdalla, passando a chamar-se Plásticos York. O Escritório comercial e loja inicialmente sediada à Rua José Bonifácio nº 43, posteriormente foram transferidos para a Avenida Brigadeiro Luís Antonio, onde atualmente localiza-se a faculdade de Turismo, a partir da venda da empresa, a administração e vendas foram transferidas para a Rua 25 de março, no Ed. Abdalla e mais a frente para a unidade fabril na Penha.
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[4] A Firma Dierberger Arquitectura Paisagística Ltda. da família Dierberger, com sede na capital do estado de São Paulo, idealizou grandes obras paisagísticas na elaboração e execução de jardins, praças e parques no período do final do século XIX até a década de 1960 em outros estados e cidades do interior paulista.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Os Cocheiros, os taxistas, o Uber e o poder regulamentador

Mercado da livre concorrência: 1910 e 2015

A história jamais se repete, veste-se com outra roupagem através do tempo e espaço.

Sempre que há algum fato novo que ocorre mudanças na estrutura instituída, haverá resistência de quem detém o monopólio do sistema.  Isso ocorre em todos os campos de trabalho, sendo sempre aquele que presta o serviço considerado injustiçado por uma condição moderna que se habilita a participar de uma parte do filão daquela atividade.

O sindicato dos taxistas da cidade de São Paulo agrega participação efetiva de seus membros e são protegidos por normativas municipais conquistadas ao longo do tempo. Sempre detiveram parte do nicho do transporte particular urbano. Temos que somar a isso ainda o controle das cooperativas que são estruturadas em empresas e sobre-alugam (féria) seus taxis para motoristas que não possuem veículos próprios.

Uma alusão do passado

Vejamos um pouco desta história entre os cocheiros do início do século 20, detentores do sistema do transporte privado, que com o advento da produção dos veículos automotores massificou-se nas grandes capitais mundiais os taxis-autos, acabando assim com todo o monopólio dos cocheiros que detinham essa prerrogativa.

Surgiu na época, mais precisamente no ano de 1913, um compêndio[1] de 1079 páginas que dá uma percepção daquilo que acontecia na cidade.

TÁXIS EM FRENTE AO TEATRO MUNICIPAL DÉC. 1910

Em 1º de setembro 1910 foi fundada a empresa “Companhia Auto-Taxímetros Paulista” que deteria o controle do transporte privativo na capital paulista. A companhia possuía uma frota de 62 automóveis-taxímetros(ou taxi-autos), além de grande número de automóveis de luxo. Num total de 78 automóveis, onde figuram Berliets, Renaults e Panhards, com luxuosas e cômodas carrocerias, veículos novos para prestar serviço na cidade de São Paulo e que representa a introdução de uma idéia nova e o seu completo êxito. Os choferes da empresa são de uma cortesia que muito a recomenda. A garagem e oficinas da companhia ficam à Rua Conselheiro Nébias, 55 e 70, havendo, além disso, uma agência à Rua de São Bento, 21.

Disputa entre os coches e taxi-autos
COCHES NA SÉ-SÃO PAULO

Em 25 de agosto de 1911 o jornal O Estado de São Paulo publica o entrevero que houve entre Antonio de Luca (cocheiro) contra o “rival” Francisco Cunha, que culmina com este baleado pelo cocheiro, pois que fora contratado como segurança para garantir a integridade da companhia dos automóveis que estava revolucionando o sistema de transporte particular da cidade de São Paulo. Tudo isto porque o gerente da Companhia Nacional de Auto-Transportes, Frederico Zanardini, havia sido anteriormente agredido por cocheiros. Esta Empresa possuía taxi-autos na Rua Mauá, próxima a Estação da Luz.

Cia. Nacional de Auto-Transportes: oficinas e garagens

A Companhia Nacional de Auto-Transportes foi constituída como oficina para consertos em automóveis e aos poucos adquiriu seus carros, de modo que, um ano depois de sua inauguração, em fevereiro de 1911, tinha 20 “landaulets”[2] em serviço ativo além de 6 ônibus automóveis e 4 caminhões, com capacidade para 3 toneladas. A companhia receberia mais 20 carros de diversos modelos para engrossar sua frota. A intenção da empresa era estabelecer na cidade de São Paulo um bem organizado serviço de táxis.

Deste modo duas empresas de taxi-autos, a Paulista e a Companhia Nacional, estavam preparando o novo modelo para  a locomoção na cidade de São Paulo em detrimento aos antigos coches que muito serviram no passado, mas os tempos eram outros e as transformações inevitáveis.

O jornal O Estado de São Paulo na década de 1910 mencionou 536 vezes o termo cocheiro e no decênio seguinte era apenas mencionado 50, até sumirem por completo sendo substituído pelo termo “chauffeur” (motorista de praça, taxis).  

Disputa entre taxis e Uber

Na atualidade apareceu despretensiosamente o aplicativo denominado Uber, uma nova tecnologia que torna eficiente e menos oneroso ao usuário do sistema deste tipo novo de uso de transporte particular urbano. São Paulo e outras cidades brasileiras terão que se adaptar ao modelo que já acontece em vários países, em suas mais importantes capitais.

A concorrência faz parte do mercado liberal e se há lacunas legislativas que se criem normas para que todos possam usufruir o direito de trabalhar e possuir renda. A Câmara Municipal paulistana em 9 de setembro de 2015 vetou o Uber com muita pressão da classe de taxistas. Se necessária for a regulamentação do ofício que se cumpram, por parte da vereança, as normativas básicas para haver o consenso entre as partes.



PALÁCIO ANCHIETA E OS TAXISTAS DE SÃO PAULO: O Estado de São Paulo-10 set 2015

Deste modo a história mantém-se viva na disputa do espaço de sobrevivência existindo sempre dois lados de interesses: um que se acha prejudicado com as novas tendências e outro abarcando pela livre concorrência o mercado de trabalho atuando para prestar um serviço de interesse público a Cidade de São Paulo.








[1] “Impressões do Brazil no seculo vinte: Sua historia, seo povo, commercio, industrias e recursos” e vários autores  assinavam a obra a saber: Reginald LloydWalter FeldwickL. T. DelaneyJoaquim EulalioArnold Wright, tendo como editor a  Lloyd's greater Britain publishing Company, Limited.

[2] Pequena carroceria fechada de automóvel com capota em fole sobre o compartimento reservado aos passageiros.