Mercado
da livre concorrência: 1910 e 2015
A história jamais se repete, veste-se
com outra roupagem através do tempo e espaço.
Sempre que há algum fato novo que ocorre
mudanças na estrutura instituída, haverá resistência de quem detém o monopólio do
sistema. Isso ocorre em todos os campos
de trabalho, sendo sempre aquele que presta o serviço considerado injustiçado por
uma condição moderna que se habilita a participar de uma parte do filão daquela
atividade.
O sindicato dos taxistas da cidade de
São Paulo agrega participação efetiva de seus membros e são protegidos por
normativas municipais conquistadas ao longo do tempo. Sempre detiveram parte do
nicho do transporte particular urbano. Temos que somar a isso ainda o controle
das cooperativas que são estruturadas em empresas e sobre-alugam (féria) seus taxis
para motoristas que não possuem veículos próprios.
Uma
alusão do passado
Vejamos um pouco desta história entre os
cocheiros do início do século 20, detentores do sistema do transporte privado,
que com o advento da produção dos veículos automotores massificou-se nas
grandes capitais mundiais os taxis-autos, acabando assim com todo o monopólio dos
cocheiros que detinham essa prerrogativa.
Surgiu na época, mais precisamente no ano de 1913, um compêndio[1] de
1079 páginas que dá uma percepção daquilo que acontecia na cidade.
TÁXIS EM FRENTE AO TEATRO MUNICIPAL DÉC. 1910
Em 1º de setembro 1910
foi fundada a empresa “Companhia Auto-Taxímetros Paulista” que deteria o
controle do transporte privativo na capital paulista. A companhia possuía uma
frota de 62
automóveis-taxímetros(ou taxi-autos), além de grande número de automóveis de
luxo. Num total de 78 automóveis, onde figuram Berliets, Renaults e Panhards,
com luxuosas e cômodas carrocerias, veículos
novos para prestar serviço na cidade de São Paulo e que representa a
introdução de uma idéia nova e o seu completo êxito. Os choferes da empresa são
de uma cortesia que muito a recomenda. A garagem e oficinas da companhia ficam
à Rua Conselheiro Nébias, 55 e 70, havendo, além disso, uma agência à Rua de
São Bento, 21.
Disputa
entre os coches e taxi-autos
Em 25 de agosto de 1911 o jornal O
Estado de São Paulo publica o entrevero que houve entre Antonio de Luca (cocheiro)
contra o “rival” Francisco Cunha, que culmina com este baleado pelo cocheiro,
pois que fora contratado como segurança para garantir a integridade da
companhia dos automóveis que estava revolucionando o sistema de transporte
particular da cidade de São Paulo. Tudo isto porque o gerente da Companhia
Nacional de Auto-Transportes, Frederico Zanardini, havia sido anteriormente agredido
por cocheiros. Esta Empresa possuía taxi-autos na Rua Mauá, próxima a Estação
da Luz.
Cia. Nacional de Auto-Transportes: oficinas e garagens
A Companhia Nacional de Auto-Transportes foi constituída como oficina para consertos
em automóveis e aos poucos adquiriu seus carros, de modo que, um ano depois de
sua inauguração, em fevereiro de 1911, tinha 20 “landaulets”[2] em serviço ativo além de 6 ônibus
automóveis e 4 caminhões, com capacidade para 3 toneladas. A companhia receberia
mais 20 carros de diversos modelos para engrossar sua frota. A intenção da
empresa era estabelecer na cidade de São Paulo um bem organizado serviço de
táxis.
Deste modo duas empresas de taxi-autos,
a Paulista e a Companhia Nacional, estavam preparando o novo modelo para a locomoção na cidade de São Paulo em
detrimento aos antigos coches que muito serviram no passado, mas os tempos eram
outros e as transformações inevitáveis.
O jornal O
Estado de São Paulo na década de 1910 mencionou 536 vezes o termo cocheiro e no
decênio seguinte era apenas mencionado 50, até sumirem por completo sendo substituído
pelo termo “chauffeur” (motorista de praça, taxis).
Disputa
entre taxis e Uber
Na atualidade apareceu despretensiosamente
o aplicativo denominado Uber, uma nova tecnologia que torna eficiente e menos
oneroso ao usuário do sistema deste tipo novo de uso de transporte particular
urbano. São Paulo e outras cidades brasileiras terão que se adaptar ao modelo
que já acontece em vários países, em suas mais importantes capitais.
A concorrência faz parte do mercado
liberal e se há lacunas legislativas que se criem normas para que todos possam usufruir
o direito de trabalhar e possuir renda. A Câmara Municipal paulistana em 9 de
setembro de 2015 vetou o Uber com muita pressão da classe de taxistas. Se
necessária for a regulamentação do ofício que se cumpram, por parte da vereança,
as normativas básicas para haver o consenso entre as partes.
PALÁCIO ANCHIETA E OS TAXISTAS DE SÃO PAULO: O Estado de São Paulo-10 set 2015
PALÁCIO ANCHIETA E OS TAXISTAS DE SÃO PAULO: O Estado de São Paulo-10 set 2015
Deste modo a história mantém-se viva na disputa do espaço de sobrevivência existindo sempre dois lados de interesses: um que se acha prejudicado com as novas tendências e outro abarcando pela livre concorrência o mercado de trabalho atuando para prestar um serviço de interesse público a Cidade de São Paulo.
[1]
“Impressões do Brazil no seculo
vinte: Sua historia, seo povo, commercio, industrias e recursos” e vários
autores assinavam a obra a saber: Reginald
Lloyd, Walter
Feldwick, L. T. Delaney, Joaquim
Eulalio, Arnold Wright,
tendo como editor a Lloyd's greater
Britain publishing Company, Limited.
[2]
Pequena carroceria fechada de automóvel com capota em fole
sobre o compartimento reservado aos passageiros.
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