“A FOTOGRAFIA COMO CONCEPÇÃO HISTÓRICA”
Já fomos hostilizados por tirarmos fotos, já
fomos xingados, já tivemos que apagar fotos da câmera, já viraram o rosto, já
perguntaram o porquê tiramos tantas fotos, enfim recebemos “um montão de nãos”.
Mas também já nos chamaram para cobrir eventos esportivos, para tirarmos fotos
no altar diante do santo de devoção e até registrar um casamento de quem não
tinha como pagar um fotógrafo profissional, o que evidentemente não somos!
Um dia batemos palma na casa de um senhor de
uma família tradicional. Ele nos atendeu e falamos que gostaríamos de saber um
pouco da história de sua família, ele meio desconfiado perguntou:
Por que vocês fazem isso? Porque somos loucos,
foi a resposta!
Depois de feita a crônica de sua família ele
ficou emocionado e sua família nossa amiga! Há “montões de sins” e dentro
destes sins há muitos moradores de raiz que ficam felizes em contar um
pouquinho de si.
Havia um homem que lutou na 2ª guerra mundial
na França que se chamava Marc Bloch. Ele achava que poderia escrever sobre os
grandes acontecimentos da história universal e possuía condições para isso,
pois os livros estão repletos de informações desde Heródoto, considerado o pai
da história. Um dia sentado num morro de sua vila Marc Bloch perguntou para si
mesmo:
Afinal quem irá escrever a história deste
“buraco” onde vivo os meus dias?
Lá no fundo de seus pensamentos ele sabia que
teria que começar a trabalhar e muito para relatar sobre esse local onde
conhecia o padeiro, o jornaleiro, o verdureiro, o boteco, a farmácia, o padre,
enfim todas as vielas e ruas e gente do dia a dia desta vila. Isso se chama
“identidade e pertencimento”, pois ele sabia onde estava, por onde andava, pois
vivia ali e era reconhecido por outros moradores locais, que sabiam quem ele
era, e quem foi um dia seus avós, tios e pais, enfim tinha uma identidade, não
era alguém “sem rosto, invisível ao meio”.
O CENTRO EMPRESARIAL FICA NO "MORRO DO ELISEU" NO JARDIM SÃO LUIZ/SP
Cada local há um “louco” atrás da história
local, são “pernautas”, batem perna atrás de uma simples fotografia, um relato
da micro história, daquela pequena história de quaisquer lugarejos de pessoas
que moram nos arrabaldes das cidades grandes e que um dia cuidou de selar o
cavalo de Dom Pedro 1º para ele fazer a independência, ou cozinhou para a
princesa Isabel, ou que colaborou como estudante da Escola de Artes e Ofícios
como marceneiro da Catedral da Sé, ou trabalhou assentando trilhos de trens
para o Barão de Mauá ou trabalhou fazendo banha, farinha e sabonetes nas
fábricas Matarazzo e outras muitas outra coisas.
A história está presente nos recônditos
longínquos, coisas que fazem parte de algo histórico e que não se dá para
recuperar tudo e é bom que seja assim, porque fica uma interrogação que faz
parte do imaginário humano, como dizia Walter Benjamin, que deixou seu legado
para a posteridade, sabendo que não há como recuperar “toda a história”, apenas
parte dela, alguns de seus fragmentos que vem à tona da superfície como algo de
interesse geral.
Há de se advertir que tudo é histórico, mas
nem tudo é história, pois no contexto temos que ter em mente que a história é
algo mais globalizado que transforma a vida de muitos. Há também de se pensar
nos depoimentos pessoais, que entendemos como oralidade. Esses depoimentos
precisam ser filtrados com no mínimo dois relatos de uma mesma ação acontecida
no passado e testemunhada por essas duas pessoas, sendo necessário verificar o
que coincide e descartar aquilo que pairam dúvidas. Isso é como uma
investigação policial, precisamos ouvir as partes e colher algumas provas, que
podem ser objetos, fotos, atas de agremiações, documentos pessoais, enfim uma
gama de fragmentos que se unem em uma urdidura tecida, sendo até uma
“arqueologia histórica, escavada dentro de um terreno familiar”.
Nem só o poder faz história e chancela
documentos para a posteridade, a população também “chancela sua história” em
cada lar, em cada beco, em cada campo de futebol, em cada festa local!
Muitas vezes o poder político quer interferir
nessa história popular, que não lhe pertence de fato e direito, e a força se
apodera dos espaços para implantar o seu modelo de ação comunitária, com se
fossemos incapazes de dirigir nosso próprio modelo de vida, nosso destino. Essa
intromissão alheia do poder não possui a identidade nem o pertencimento local!
OS BÁRBAROS ESTÃO CHEGANDO
Escrevemos para os que vivem e respiram em um
espaço determinado em um tempo. É para essa posteridade que queremos deixar
nosso legado, desse “buraco” chamado Jardim São Luiz, que um dia foi um bairro
de Santo Amaro e hoje um distrito, que é cercado de um morro em toda sua
circunferência, que parece uma “boca de vulcão” e que está sempre em ebulição,
transformando-se a cada dia e chama-se Jardim São Luiz, com “z” mesmo!
O maior interesse nosso é apenas pela história
do bairro Jardim São Luiz, esse jardim que nossos antepassados desbravaram para
ser um dia nosso “jardim feliz”.
Aos jardinenses de raiz parabéns e aos que
estão chegando para esta "família" sejam bem-vindos!!!
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