quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O Chafariz do Largo da Misericórdia em São Paulo em granito doado pela Vila de Santo Amaro! Será?

Progresso efêmero do passado de taipa em São Paulo

IGREJA DA MISERICÓRDIA



Na esquina da Rua Direita, em São Paulo, com a fachada voltada para o largo, na direção da Sé, existiu a Igreja da Misericórdia, construída em 1716 e demolida em 1886. No frontispício da igreja colocavam-se todas as proclamas da Câmara de São Paulo, para onde convergiam as pessoas para serem informadas. Pertenceu à Irmandade da Misericórdia, administradora da Santa Casa. No local da igreja demolida foi construído, muito depois, para renda da Misericórdia, o atual Edifício Ouro para São Paulo, em homenagem ao apoio à Revolução Constitucionalista de 1932.

O CHAFARIZ DE THEBAS


O abastecimento de água para 20 mil habitantes de São Paulo no início do século 19 era feito por “aguadeiros” que a vendiam de porta em porta, ou recolhidas pelas bicas e chafarizes espalhados por pontos estratégicos da cidade.
Em 1793 foi construído o chafariz próximo ao átrio da Igreja da Misericórdia a mando do governador da capitania, Capitão Geral de São Paulo, Bernardo José de Lorena.
Essa primeira fonte de água pública de São Paulo, o chafariz da Misericórdia ou de Thebas, foi considerada a melhor obra pública do século 18, em São Paulo.

GRANITO DO CHAFARIZ DOADO POR SANTO AMARO!

Consta ainda como referência, embora de comprovação remota, que a pedra provinha dos arredores de Santo Amaro, conforme citação do historiador Benevenuto Silvério de Arruda Sant’Anna, que era conhecido pelo pseudônimo de Nuto Santana.
Há de se ter em mente que Santo Amaro em seu núcleo histórico da citada Vila, não possui grandes áreas minerarias e se há nisso um cunho de verdade o granito que deu origem ao chafariz em São Paulo, era algo proveniente das periferias que deram na atualidade novos municípios como Itapecerica da Serra, Embu das Artes, antes denominada simplesmente de M’ Boy, ou algum outro local periférico à Vila de Santo Amaro.

A CONSTRUÇÃO DO CHAFARIZ

A construção do primeiro chafariz público de São Paulo ficou a cargo do mestre de obras, alforriado, Joaquim Pinto de Oliveira Thebas, contratado como “jornaleiro” por 600 réis, para edificar em pedra de quatro lados com 4 torneiras uma em cada face , para abastecer o público da cidade de São Paulo. (Thebas assumiu várias outras como a construção da antiga Catedral da Sé em 1755)
O Chafariz era abastecido das águas que afluíam da formação na nascente do ribeirão Anhangabaú, que ficava no antigo Morro do Caaguaçu, onde na atualidade se situa a Avenida Paulista, na região do Paraíso. As águas eram recolhidas em barricas e depois transportadas para as residências locais por cativos que serviam seus senhores ou por homens livres denominados “aguadeiros” que se serviam deste afazer diário ao preço de 40 réis o barril de 20 litros em pipas carregadas por carroças de burros, podendo encarecer dependendo da dificuldade de fornecimento da água.

Reclamação de falta de água no chafariz da Misericórdia publicada em 1876 -
A Província de São Paulo (ATUAL O ESTADO DE SP)

O chafariz tornou-se também uma tradição para a cidade, ponto de encontro de pessoas onde se informavam sobre vários assuntos enquanto se recolhiam a água para transporte ou simplesmente por “servidão pública” se saciar algum sedento de passagem, embora houvesse uma escassez de água que incomodava à época.
A ameaça de demolir o chafariz em 1857, resultou em movimento de protesto e a ordem do governo foi revogada.

O FIM DO CHAFARIZ

Em 1886, já com o prenuncio de mudanças estruturais urbanas na cidade de São Paulo o chafariz da Misericórdia foi transferido para o largo de Santa Cecília, acompanhando o deslocamento antes ocorrido (em 1884) da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia. Em 1903 o chafariz seria removido e recolhido para algum depósito da Prefeitura ou simplesmente destruído.

 LARGO DA MISERICÓRDIA EM 1905 
 ATUAL LARGO DA MISERICÓRDIA

A Igreja e o Chafariz da Misericórdia, dois símbolos paulistas que constituíam parte da história de São Paulo, foram destruídos para sempre pelo “dinamismo constante” da cidade!




Ref.

Pontes,José Alfredo Vidigal. São Paulo de Piratininga: de pouso de tropas a metrópole. São Paulo:Editora Terceiro Nome, 2003


Créditos de imagens: Miguelzinho Dutra, Militão Azevedo, Aurélio Becherini, desenhos José Wasth Rodrigues.

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