História
publicada em 18/11/2013: enviado à Secretaria da Cultura do Município
de São Paulo e publicado em site.
Natural da Ilha da Madeira, possessão de Portugal,
Pérola do Atlântico, o menino Edmundo da Mata veio ao mundo em 15 de fevereiro
de 1935, através de duas famílias portuguesas tradicionais, sendo irmão gêmeo
de Feliciano da Mata; esse tinha juízo, pois no Brasil se tornou corintiano, e,
como ninguém neste mundo é perfeito, o menino Edmundo foi tomado por uma
“enfermidade terrível” que afetou seu sistema nervoso, fazendo-o apaixonar-se
perdidamente pelo São Paulo Futebol Clube, se tornando amigo do governador
Laudo Natel.
Sua mãe, Angelina Jorge, possuía fervorosa devoção
e intensa religiosidade. Seu pai, homem prático, vivia na lida diária. Deste
modo o casal constituiu uma família numerosa com vários filhos: Feliciano,
Helder, Lucinda, Antonio, Mafalda, Alda e Orlando.
A conturbada situação econômica da Europa, prestes
a eclodir a 2ª Guerra Mundial, fez com que a família decidisse rumar ao Brasil,
onde aportou em 1939, indo residir na Vila Gumercindo, em São Paulo.
Seu pai, Antônio da Mata Júnior, além da grande
jornada de trabalho era homem presente em relação à família. Nas madrugadas
paulistanas dirigia-se ao Mercado Municipal da Cantareira, distribuição do
celeiro alimentar de São Paulo, margeado pelo Tamanduateí, e onde, o Antonio
“Botinudo”, este era seu apelido, transportava hortaliças, frutas e produtos
dos mais variados segmentos.
Dona Angelina cuidava para que seus “anjinhos” não
voassem mais que o permitido. Inclusive o Edmundo, “um peralta” que fugia para
pular dos “bondes” e degustar frutas de árvores alheias. Os irmãos gêmeos
trabalharam no Largo Paissandu, em frente à igreja da Irmandade de Nossa Senhora
do Rosário, com tabuleiro de frutas, mas ambos quase faliram o pai: comiam mais
do que vendiam!
O “degas” foi enviado para o Seminário Menor Metropolitano
do Imaculado Coração de Maria, em São Roque, estado de São Paulo. Começava ali
a árdua caminhada de serviço religioso para servir a Deus juntamente com outros
rapazes que formaram através dos anos as amizades que se eternizaram, e,
registraram para sempre o “Morro do Ibaté”, em “ECHUS” inesquecíveis de
lembranças memoráveis.
Essa criança “traquina” é a prova incondicional que
Deus escreve certo por linhas tortas, pois se tornou o nosso estimado Padre
Edmundo da Mata, ordenado em 08 de dezembro de 1963, em Pleno Concílio Vaticano
II, iniciado pelo Papa João XXIII e terminado em 1965, pelo Papa Paulo VI. O
seu derradeiro aprendizado ainda seria completado no Seminário do Ipiranga, na
Avenida Nazaré, preparando-se para sua longa jornada.
Sua primeira missão religiosa como sacerdote foi na
Freguesia do Ó, na atual Matriz de Nossa Senhora da Expectação, local de grande
entusiasmo religioso e onde ainda na atualidade se apresenta a bonita Festa do
Divino. O padre Edmundo deixou um dia de ser “óiense” para fazer parte da
caipiragem “jardinense” e foi transferido para o bairro do Jardim São Luiz,
lugar afastado nos arrabaldes da antiga cidade de Santo Amaro, mata fechada,
verdadeira “boca de sertão”, e que aparecia nos mapas com o nome de “Coruroca”,
trajeto indígena. Ainda no hodierno há resquício deste tempo no nome indígena
na Rua Nova do Tuparoquera, reminiscência deste passado. O referido bairro
nasceu pelo decreto nº 3.079, em 15 de setembro de 1938, sendo o 30º
subdistrito de Santo Amaro, primeiro bairro do lado oposto ao Rio Pinheiros, em
relação a Santo Amaro, atrás do “Morro da Barra”, onde a historiografia
registrou ter sido edificada neste local, em 1607, a primeira Usina de Ferro
das Américas.
No final da década de 1950, a imagem de São Luís
Gonzaga, padroeiro da juventude, vinha em procissão do Seminário da Rua Verbo
Divino, na Chácara Santo Antonio, em Santo Amaro, para as capoeiras do Jardim
São Luiz em um andor enfeitado. São Luís Gonzaga, pertenceu à família
tradicional da Itália e resolveu bem cedo tornar-se jesuíta, não chegou a
ordenar-se, sendo contaminado pela peste bubônica contraída de vítimas a quem
amparou. Foi canonizado pelo Papa Bento XII, em 1726.
Uma curiosidade: o santo, com todas as suas
virtudes, foi registrado “Luís” com “S” e o bairro com todos os seus pecados,
foi registrado “Luiz” com “Z”!
Neste local iniciou-se o maior desafio do jovem
Padre Edmundo, a partir de 25 de outubro de 1964, quando chegou, tendo ajuda de
alguns fiéis, na consolidada Paróquia São Luís Gonzaga pelo Decreto de Criação
de 21 de abril de 1960 por providência do arcebispo metropolitano Dom Carlos
Carmelo de Vasconcellos Motta. Assim unia-se a juventude e a força da gente
jardinense para edificar o maior projeto comunitário, quando pouco ou nada se
falavam de ações sociais. Deste modo surgia as Associações Amigos de Bairros,
para reivindicações de bem feitorias locais. Nascia para o bairro Jardim São
Luiz, aquele que tomaria à frente das causas inerentes da Comunidade, somando
nesta trajetória incomum de meio século de vida religiosa e atuação no bairro.
O antigo bairro Jardim São Luiz, situado na região
do extremo sul de São Paulo, era um bairro relativamente pequeno, desmembrado
de uma fazenda de 35 alqueires, hoje abrangente, com área distrital de 25 quilômetros
quadrados, e que faz parte da Diocese Campo Limpo, idealizada em 1989, tendo à
frente da mesma, o bispo Dom Luís Antônio Guedes, sendo que a referida diocese
foi edificada ao mesmo tempo da formação da Diocese de Santo Amaro, juntamente
com Osasco e São Miguel Paulista.
Padre Edmundo da Mata acreditou na região e aceitou
o desafio de ser, além de sacerdote, o “delegado e o prefeito” das ações jamais
impetradas aos órgãos competentes pelas necessidades locais. Nascia, também,
deste modo, nas dependências da Igreja, a “Escola Madureza São Luiz”, que mais
tarde deu origem ao Colégio São Luís de Gonzaga.
Em 04 de maio de 1974, padre Edmundo edificou a
associação “Juventude Amor União-JAU”, com estatuto voltado as causas sociais e
esportivas criando a quadra de futebol de salão ao lado da Paróquia, com a
participação da juventude. Esta entidade é ainda atuante diante dos egrégios
representantes do Estado, nas exigências comunitárias que a ela compete.
O desenvolvimento chegava ao Jardim São Luiz e as
ruas ganhavam nomes próprios de antigos moradores, sendo que a Rua da Paróquia
São Luís Gonzaga, antiga Rua 4, receberia o nome em homenagem ao pai do
reverendo, sendo denominada Rua Antonio da Mata Junior. Na metade da década de
1970 foi implantado no “Morro do Eliseu” o Centro Empresarial de São Paulo, um
marco paulistano de empresas de vários setores.
O setor imobiliário expande-se rapidamente pela
região no hodierno que assiste as transformações imobiliárias abarcadas daquilo
que representou o orgulho caipira da cidade de Santo Amaro de modo a não deixar
vestígios de suas glórias de pertencimento e identidade.
Hoje a Paróquia São Luís Gonzaga, localiza-se em
local privilegiado, sobre uma área construída de aproximadamente mil e
quinhentos metros quadrados. Padre Edmundo sempre esteve à frente das festas
patrocinadas pela colônia portuguesa, tanto as do Continente quanto das Ilhas,
sendo sempre convidado em muitas cerimônias lusitanas.
Em 2004, a Câmara Municipal de São Paulo, Palácio
Anchieta, outorgou-lhe o “Titulo de Cidadão Paulistano” e em 2011 a mesma Casa,
homenageava-lhe com a honraria “Salva de Prata”, por serviços prestados à
comunidade jardinense. O Centro das Tradições de Santo Amaro, Cetrasa,
outorgou-lhe o “Troféu Botina Amarela” em 2012.
Essa trajetória foi coroada com o reconhecimento da
Igreja e Padre Edmundo foi recebido pelo Papa João Paulo II, em Roma.
Pertence a Venerável Irmandade de São Pedro dos
Clérigos da Arquidiocese de São Paulo. Padre Edmundo da Mata e a Paróquia São
Luís Gonzaga confundem-se com toda a história do bairro Jardim São Luiz, sendo
que irá completar bodas de ouro de sua ordenação em festa programada para 07 de
dezembro de 2013, às 19h na Paróquia São Luís Gonzaga, sito à Rua Antonio da
Mata Junior, número 80, Jardim São Luiz, onde devem estar presentes
representantes eclesiásticos e autoridades governamentais, além, evidentemente,
da população que o saudará. Deveria entrar para o livro dos recordes, pois
permanecer meio século em uma paróquia é algo “sui generis”!
Parabéns Bita!
Hoje, 15 de julho de 2022, com pesar comunicou-se o passamento pela vida terrena, do pároco e vigário da Paróquia São Luiz Gonzaga, padre Edmundo da Mata. Que Deus lhe acolha, com o toque das trombetas, anunciando um justo em nome da ressurreição, em Jesus Cristo, Filho do Deus Supremo.
Hoje, 15 de julho de 2022, com pesar comunicou-se o passamento pela vida terrena, do pároco e vigário da Paróquia São Luiz Gonzaga, padre Edmundo da Mata. Que Deus lhe acolha, com o toque das trombetas, anunciando um justo em nome da ressurreição, em Jesus Cristo, Filho do Deus Supremo.
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