terça-feira, 3 de maio de 2016

Imigrantes andarilhos do Mundo na Nova Roma: Uma “cota” miscigenada de gente habita o Brasil

Amálgama de várias culturas: Uma família, e muitas misturas

Vamos lá ver quem somos nessa amálgama incompleta de um povo que se denomina brasileiro:

Sou parte de uma mistura com a “Santa Terrinha”, da Aldeia de Cadima, lá dos lados de Catanhede, Portugal, por parte de mãe.

Pelo lado paterno sou do Nordeste da Itália, de Vêneto e a tez clara. Pois bem os dois grupos se enveredaram pelo Atlântico e aportaram por essas bandas e “estou cá indo”.

Já pelo lado de minha esposa, o pai tinha traços de holandeses, com cabelo crespo, mas que aqui mudou de categoria e ficou “sarará” como diziam.

Sua mãe é afro-descendente, cabelo liso, e sua avó (mãe de sua mãe) era escrava e seu pai tinha origem nos índios do Brasil. Desta mistura veio ao mundo a filha (minha esposa) que tinha tez mais morena que eu e cabelo bem crespo.

Disso resultaram nossos quatro filhos que a genética definiu do seu jeito num modelo nada igual:
Um filho tem tez clara e cabelo e barba crespa ao extremo, o outro é mais claro e tem barba pouca, estilo caboclo, um pouco ali outro pouco acolá.

Uma das filhas é aloirada, puxando pelo lado lusitano, da mistura talvez dos “imigrantes” suevos e visigodos, bárbaros que povoaram a Península Ibérica e completada pela soma daquele lado holandês do avô materno. A outra acredito que venha um pouco da forma dos mouros que “saltaram” Gibraltar, tendo tez mais escura, numa amálgama completada da avó materna de ascendência africana.

COMIDA: GOSTOS VARIADOS

A família não possui gosto homogêneo, e o paladar é bem diversificado, muito diferente. Este missivista, mesmo possuindo sangue europeu, aprecia o sarapatel, buchada, mocotó, peixe, virado paulista bem caipira e tudo com muita pimenta, o que já não agrada o paladar, de três filhos que são voltados a comidas não tão fortes, estando incluindo as pastas italianas, mas sem “regar” a vinho, que a água-ardente “abriu o apetite”. A “moura” por sua vez já gosta de tudo que tem muito vegetal, do palmito apreciado antes do “Achamento” pelos indígenas, suplemento das carnes magras típica dos galináceos que têm que ser salpicados com muita pimenta, daquelas “malaguetas” que ferve não só o paladar, mas faz chorar de ardência.

Já por parte materna a preferência é pela feijoada, uma variante da mistura do sarrabulho[1], além da carne seca, embora não se exclua o churrasco, esse bem tipicamente brasileiro, (embora se possa supor que foi a primeira maneira de coser as carnes em braseiro feita pelo homem das cavernas) degustado com uma bela cerveja bem gelada, embora a cevada seja no Brasil completada com milho, produto farto que insistem em indicar “cereais não maltados”. Dos holandeses nem o costume do queijo adquirimos, mas uma coisa neles apreciamos: o cultivo e o bom gosto pelo colorido das flores.

Tudo isso completado com as frutas tropicais que abundam pelas terras brasileiras e que as frutas de inverno europeu só completam as festas natalinas de fins de ano.

Os doces são bem simples, onde o bolo de fubá, mandioca e coco têm a preferência sem perder o costume do café matutino bem brasileiro.

Desta somatória podemos chegar a consideração que já perdemos a identidade da língua da pátria antiga, com raras exceções, e também não dançamos mais a tarantela e nem cantamos o fado, não festejamos São Nicolau como os holandeses, não vivemos em tabas indígenas e pouco temos dos ancestrais africanos, mas fomos contemplados com o candomblé, somado aos sabores do acará e vatapá nacionalizado.

Enfim no “frigir dos ovos” acontece uma miscelânea interna no organismo que não se sabe o que realmente o que foi ingerido que fez bem ou mal.

Somos ítalo-brasileiros, luso-brasileiros, holando-brasileiros, afro-brasileiros, com adição pelo gosto autóctone das redes e a tapioca, o substituto do pão de trigo, completada com os pescados dos grandes rios caudalosos circulados por canoas.

Não temos mais pertencimento e identidade com a terra natal de origem de nossos antepassados, vivemos e respiramos no Brasil, curtimos o lúdico do samba, frevo, catira, fandango e futebol que mesmo não sendo originalmente brasileiro faz parte da “paixão nacional” de tantos povos e tantas culturas que não sabemos dimensioná-las por completo em diversidades diferenciadas!

Hoje todos nós estamos ainda em um cadinho efervescente dessa miscigenação que Darcy Ribeiro com toda propriedade denominou “Nova Roma” e que alguns insistem, por alguma característica ou uma ideologia tacanha da política, separar-nos entre nós e eles!

Quem são os nós e quem são eles?
A quem interessa a separação desta linda diversidade cultural?




[1] Prato típico português feito com  miúdos de porco e condimentos ("sarrabulho", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008 2013, http://www.priberam.pt/dlpo/sarrabulho  [consultado em 03-05-2016].)

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