Amálgama de várias culturas: Uma família, e muitas
misturas
Vamos lá ver quem somos nessa amálgama incompleta de um
povo que se denomina brasileiro:
Sou parte de uma mistura com a “Santa Terrinha”, da
Aldeia de Cadima, lá dos lados de Catanhede, Portugal, por parte de mãe.
Pelo lado paterno sou do Nordeste da Itália, de Vêneto e
a tez clara. Pois bem os dois grupos se enveredaram pelo Atlântico e aportaram
por essas bandas e “estou cá indo”.
Já pelo lado de minha esposa, o pai tinha traços de
holandeses, com cabelo crespo, mas que aqui mudou de categoria e ficou “sarará”
como diziam.
Sua mãe é afro-descendente, cabelo liso, e sua avó (mãe
de sua mãe) era escrava e seu pai tinha origem nos índios do Brasil. Desta
mistura veio ao mundo a filha (minha esposa) que tinha tez mais morena que eu e
cabelo bem crespo.
Disso resultaram nossos quatro filhos que a genética
definiu do seu jeito num modelo nada igual:
Um filho tem tez clara e cabelo e barba crespa ao
extremo, o outro é mais claro e tem barba pouca, estilo caboclo, um pouco ali
outro pouco acolá.
Uma das filhas é aloirada, puxando pelo lado lusitano, da
mistura talvez dos “imigrantes” suevos e visigodos, bárbaros que povoaram a
Península Ibérica e completada pela soma daquele lado holandês do avô materno.
A outra acredito que venha um pouco da forma dos mouros que “saltaram”
Gibraltar, tendo tez mais escura, numa amálgama completada da avó materna de ascendência
africana.
COMIDA: GOSTOS
VARIADOS
A família não possui gosto homogêneo, e o paladar é bem diversificado,
muito diferente. Este missivista, mesmo possuindo sangue europeu, aprecia o
sarapatel, buchada, mocotó, peixe, virado paulista bem caipira e tudo com muita
pimenta, o que já não agrada o paladar, de três filhos que são voltados a
comidas não tão fortes, estando incluindo as pastas italianas, mas sem “regar”
a vinho, que a água-ardente “abriu o apetite”. A “moura” por sua vez já gosta
de tudo que tem muito vegetal, do palmito apreciado antes do “Achamento” pelos indígenas,
suplemento das carnes magras típica dos galináceos que têm que ser salpicados
com muita pimenta, daquelas “malaguetas” que ferve não só o paladar, mas faz
chorar de ardência.
Já por parte materna a preferência é pela feijoada, uma variante
da mistura do sarrabulho[1], além da carne seca,
embora não se exclua o churrasco, esse bem tipicamente brasileiro, (embora se possa
supor que foi a primeira maneira de coser as carnes em braseiro feita pelo
homem das cavernas) degustado com uma bela cerveja bem gelada, embora a cevada
seja no Brasil completada com milho, produto farto que insistem em indicar
“cereais não maltados”. Dos holandeses nem o costume do queijo adquirimos, mas
uma coisa neles apreciamos: o cultivo e o bom gosto pelo colorido das flores.
Tudo isso completado com as frutas tropicais que abundam
pelas terras brasileiras e que as frutas de inverno europeu só completam as
festas natalinas de fins de ano.
Os doces são bem simples, onde o bolo de fubá, mandioca e
coco têm a preferência sem perder o costume do café matutino bem brasileiro.
Desta somatória podemos chegar a consideração que já
perdemos a identidade da língua da pátria antiga, com raras exceções, e também
não dançamos mais a tarantela e nem cantamos o fado, não festejamos São Nicolau
como os holandeses, não vivemos em tabas indígenas e pouco temos dos ancestrais
africanos, mas fomos contemplados com o candomblé, somado aos sabores do acará e
vatapá nacionalizado.
Enfim no “frigir dos ovos” acontece uma miscelânea
interna no organismo que não se sabe o que realmente o que foi ingerido que fez
bem ou mal.
Somos ítalo-brasileiros, luso-brasileiros, holando-brasileiros,
afro-brasileiros, com adição pelo gosto autóctone das redes e a tapioca, o substituto
do pão de trigo, completada com os pescados dos grandes rios caudalosos
circulados por canoas.
Não temos mais pertencimento e identidade com a terra
natal de origem de nossos antepassados, vivemos e respiramos no Brasil,
curtimos o lúdico do samba, frevo, catira, fandango e futebol que mesmo não
sendo originalmente brasileiro faz parte da “paixão nacional” de tantos povos e
tantas culturas que não sabemos dimensioná-las por completo em diversidades
diferenciadas!
Hoje todos nós estamos ainda em
um cadinho efervescente dessa miscigenação que Darcy Ribeiro com toda
propriedade denominou “Nova Roma” e que alguns insistem, por alguma
característica ou uma ideologia tacanha da política, separar-nos entre nós e
eles!
Quem são os nós e quem são eles?
A quem interessa a separação desta linda diversidade cultural?
[1] Prato típico português
feito com miúdos de porco e condimentos ("sarrabulho", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha],
2008 2013, http://www.priberam.pt/dlpo/sarrabulho [consultado
em 03-05-2016].)
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