quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Beneditinos da Hungria, a Vila Anastácio (Lapa) e o Morumbi, em São Paulo

As comunidades e a missão pastoral: A messe é grande...

A história da imigração húngara[1] no Brasil está vinculada a expedição de Fernando de Magalhães onde um jovem húngaro de nome Erdody Miksa e o armador de Sevilha, o português Haro, propuseram o custeio abalizado pelo Rei Carlos V da Espanha, amigo de Erdody. No navio Concepcion o comandante da artilharia era o húngaro János Varga. Por gratidão um dos canais da Lagoa dos Patos foi batizado com o nome “Canal da Hungria”. Pelo Tratado de Permuto de 13 de janeiro de 1750, entre Portugal e Espanha, do território jesuíta do Rio Grande do Sul que passou à Portugal, foi formada por uma Junta Governante do território onde estava presente o jesuíta húngaro Lásló Orosz autor da obra “Guerra Guaranítica”, sendo outro húngaro, Ferenc Limp o chefe das Sete Missões que travava lutas constantes com espanhóis e portugueses.

Em 5 de agosto de 1763 desembarcava em Pernambuco o capitão húngaro János Monár seguido do sargento Kornel Pally com o navio holandês “Nijenborg”.

Na batalha de Ituzaingo, conduzida pelo Marques de Barbacena em 20 de fevereiro de 1827, travada contra os argentinos pereceram aproximadamente 200 húngaros com seu Capitão de nome Tóth.

Em 8 de outubro de 1828 desembarcaram no Rio de Janeiro os irmão Daniel e Józsej Vamosy, antepassados do uruguaio  Alceu Vamosy poeta dos pampas.

Tratado de Trianon

Muitos imigrantes húngaros chegaram ao Brasil após a primeira Grande Guerra com o desmembramento do Império Austro Húngaro onde vasto território foi dividido em sua unidade física de longa data, pelo Tratado de Trianon de 04 de julho de 1920. A Hungria pelo tratado de Trianon passou de seus 325 mil km² para apenas 93 mil km² sendo que quase dois terços de sua população perdia a identidade “magiar” (húngara) passando de 19 milhões para 7 milhões de habitantes.

Segunda Grande Guerra

O cardeal József  Mindszenty, que fora contra a intervenção nazista e fascista durante a Segunda Guerra foi preso acusado de traição e condenado à prisão perpétua em dezembro de 1948, havendo uma perseguição sistemática aos dirigentes das igrejas assim como líderes húngaros. Após a Segunda Grande Guerra afluíram muitos húngaros ao Brasil, completada com nova migração com a Revolução popular de 1956, contra o domínio russo que implantar um governo comunista. Esses imigrantes eram registrados pelas autoridades portuárias do Brasil de acordo com seus passaportes, ou seja, como romenos ou iugoslavos.
Na edição de 15 de junho de 1933 do periódico hún­garo da América do Sul, intitulado Délamerikai Magyar Hír­lap, estimava-se 150 mil húngaros radicados no Brasil, sendo que 30 mil no Estado de São Paulo.

Imigrantes húngaros no Brasil, com passaporte de outras nacionalidades
Húngaros
Hungarian
Romenos
Romanian
Iugoslavos
Yugoslavs
Austríacos
Austrian
Tcheco-eslovacos
Czech-Slovak
6.501
30.437
16.518
2.742
518

Fonte: BOGLÁR, Lajos. Mundo Húngaro no Brasil: do século passado até 1942. São Paulo: Humanitas, 2000, p. 41-42.

Os beneditinos húngaros no Brasil

O primeiro beneditino, Dom Arnaldo Szelecz[2], chegou ao Brasil em 21 de março de 1931, na comemoração do dia de São Bento, enviado pelo então coadjutor e mais tarde abade do Mosteiro de Pannonhalma[3], fundado por Santo Estevão Rei[4]. Dom Crisóstomo Kelemen, atendendo ao pedido do primaz da Hungria Dom Justiniano Serédi, Cardeal Arcebispo de Esztergom, estava preocupado com os imigrantes europeus na América.

O “Mosteiro de São Geraldo Conventual da Congregação Húngara da Ordem de São Bento”, foi criado pelo decreto da Santa Sé em 8 de dezembro de 1953 elevando a comunidade monástica a Priorado Conventual.

O Arquiabade Paulo Sárkozi requisitou novos membros para exercer a missão implantada, sendo que chegam em 1951 Dom Veremundo Tóth e Dom Valentim Simon; em 1952 Dom Gabriel Zsolt Iróffy e em 1955, Dom Francisco  Endrédy.

Colégio Santo Américo, Rua Imaculada Conceição, Santa Cecília. 
Década de 1950. Crédito: Dom Valentim Simon 

Em 27 de fevereiro 1951 foi fundado o Colégio Santo Américo, no Bairro de Santa Cecília, localizado à Rua da Imaculada Conceição, 71, permanecendo no local até 1963.

Deste modo nasceria o Priorado Conventual, com a Regra de São Bento e pelos estatutos da Congregação Húngara, sendo fundadores seu primeiro Prior, Dom Emílio Jordán[5] com Dom Aureliano, Dom Arnaldo, Dom Olavo Kerényi[6], Dom Severino Kogl[7], Dom Engelberto Sarlós[8], Dom Veremundo Toth, Dom Valentim Simon[9] e Dom Gabriel Zsolt Iróffy. Tudo isso recebeu frutos de escolas fundadas pela comunidade húngara nos bairros paulistanos e em muitas cidades do interior paulista e logo depois da Segunda Guerra Mundial houve florescimento maior em outras colônias no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Vila Anastácio e Santo Estevão Rei da Hungria

O bairro de Vila Anastácio, Lapa, São Paulo, deste modo vinculou  grande relação com a comunidade húngara, onde afluíram muitos imigrantes nas primeiras décadas do século 20 e que receberam os recém-chegados da Europa Central.
DÉCADA DE 1940:

SETEMBRO DE 2015:

Com a expansão do campo social, de grande atuação dos beneditinos húngaros, na Vila Anastácio, Lapa, em 1939 criou-se a Paróquia de Vila Anastácio em homenagem Santo Estevão Rei da Hungria, sendo seu primeiro vigário, Dom Arnaldo Szelecz tendo como coadjutor[10] Dom Aureliano Hets[11]. Dom Arnaldo, em 8 de dezembro de 1939, foi nomeado  vigário pelo Arcebispo Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva. Esta igreja, anteriormente uma capela teve início de construção em 1933. 
Final da década de 50 - Rua Martinho de Campos, Vila Anastácio. Crédito: em pesquisa

Em 1945 houve uma ampliação da mesma e de 1952 a 1955 foi ornamentada com decoração artística sobre a orientação do Engenheiro Lászlo Marek, onde estão representações artísticas dos Santos da Sacra Hungria. Em 1956, a seu chamado, vieram as “Irmãs Anunciatas” de Belém do Pará, que intensificaram a vida paroquial nas pastorais e promoções humanas com suas obras assistenciais.  

Dom Arnaldo Szelecz, pelos valorosos préstimos na Igreja do Santo Estevão Rei recebeu homenagem na região com seu nome na Praça Padre Arnaldo[12]. Dom Aureliano o sucedeu como Vigário em 1972, onde permaneceu por três anos, pois necessitava sua presença no Mosteiro do Morumbi. Dom Pedro Paulo Ther[13] que havia servido no Paraná, na Paróquia Nova Santa Rosa, assumiu em seu lugar na Vila Anastácio, Lapa.
SETEMBRO DE 2015: Rua Martinho de Campos, Vila Anastácio


Colégio Santo Américo

Como missão tradicional dos beneditinos húngaros está a educação voltada para a juventude, e deste modo foi iniciado uma nova etapa no Colégio Santo Américo fundado em 1951, considerado Santo Padroeiro da Juventude, filho do Rei Santo Estevão.

As instalações iniciais eram bem modestas, contando com 11 salas de aula e uma quadra de esportes, além da parte administrativa divididas em 9 salas do antigo primário, hoje ensino fundamental 1; ginásio, o atual fundamental 2 e o colegial, o que corresponde ao atual ensino médio. Seu diretor e fundador foi Dom Emílio Jordán, que permaneceu na função até 1958, sendo a administração feita por Dom Severino Kogl, tendo como coordenador pedagógico Dom Engelberto que assumiu o encargo de direção após Dom Emílio Jordán, até o ano de 1974.

Em 1951, a comunidade se transferiu para o prédio de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica, sendo mantenedora a Fundação São Paulo, no bairro de Santa Cecília, quando foi instalado o Mosteiro São Geraldo e fundado o Colégio Santo Américo  que se tornaria importante referência do ensino na cidade de São Paulo e ao qual deram o nome do príncipe húngaro Santo Américo.

Em 1958, o Mosteiro São Geraldo de São Paulo, mantenedor do Colégio, adquiriu um terreno da antiga fazenda do Morumbi com área de 45.000 m² que foi aumentado pela doação de Oscar Americano feita em 1968 e nos anos seguintes por compra de particulares atingindo uma área física de um pouco mais de 60 mil m². 

Em 7 de março de 1963 foi o marco do início das novas instalações do novo Colégio Santo Américo, na antiga rua 17, hoje Rua Santo Américo, no Morumbi, nº 357, São Paulo. O prédio recebeu instalações modernas com 22 salas de aula, refeitórios, laboratórios e outras repartições para funcionamento do equipamento estudantil. Os desafios eram grandes e precisava incentivar uma nova estrutura pedagógica e orientação religiosa. 


COLÉGIO SANTO AMÉRICO: Um dia qualquer de 1968

Para esta nova expectativa foi convocado a experiência educacional de Dom Veremundo Tóth que teve como auxiliar Dom Edmundo. A ampliação foi inevitável e necessitava contratar professores que não pertenciam à ordem beneditina, pelo volume de procura, mas que conseguiram manter as diretrizes educacionais do colégio.

Esta nova experiência fez com que se expandisse a causa comunitária em bairros operários em torno do colégio que se formavam, como os adjacentes bairros de Monte Kemel, Jardim Colombo, Vila Morse, Parasópolis, sendo para isso construído o Parque infantil Dom José Gaspar para ali fomentar o serviço social do Mosteiro São Geraldo fundado em 1965 em terreno de quase 3 mil metros, cedido pelo Banco F. Munhoz S.A. tornando-se um canal de comunicação com a população local na comunhão pregada pela Ordem beneditina sendo, mais tarde, declarada pelo governo, obra de utilidade pública. Hoje há no bairro de o Núcleo 1, na Vila Morse o Serviço Social do Mosteiro São Geraldo; Núcleo 2, na comunidade de Paraisópolis, denominado Centro Comunitário de Trabalho; Núcleo 3, no Monte Kemel; Núcleo 4,Santo Estevão Rei; Núcleo 5, Casa Azul Panônia; Núcleo Casa Azul Sede.

Há ainda o Instituto Social Morumbi criado em 1966 para a formação social cristã com estudos no campo pesquisa e documentação proveniente de vasta biblioteca junto ao Colégio Santo Américo.

Dom Veremundo Tóth

Dom Veremundo Tóth, monge beneditino e sacerdote, nasceu em Szakony, na Hungria, em 3 de julho de 1922, no mesmo ano em que a Fazenda Morumbi, hoje Paraisópolis, foi loteada e foi parte integrante de sua missão de evangelização. Fez sua profissão de fé em 1944, e foi ordenado em 1948.
Crédito: ABADIA SÃO GERALDO

Dom Veremundo chegou ao Brasil em 1951 para trabalhar em São Paulo, primeiramente junto a colônia húngara, ao mesmo tempo em que exercia as funções de professor de latim e francês, além de orientador vocacional no recém-fundado Colégio Santo Américo, ainda nas instalações da Rua Imaculada Conceição, no bairro de Santa Cecília.

Em 1952, Dom Veremundo Tóth e Dom Valentim Simon em conjunto à comunidade de imigrantes húngaros fortaleceram o “Grupo dos Escoteiros Szondi György. No final da década de 1960, o escotismo foi incorporado às atividades do Colégio Santo Américo, onde se desenvolveu com o incentivo e entusiasmo de Dom Aniano Úrdombi[14].
Crédito:Grupo dos Escoteiros Szondi György

Dom Veremundo Tóth foi escolhido para ser Prior Conventual do Mosteiro do Morumbi de 1968 a 1981. Um ato de Dom Agnelo Rossi criou a paróquia São Bento do Morumbi em 1969. Dom Veremundo assumiu a Capelania[15] do Mosteiro e em 1970 foi inaugurada a Paróquia São Bento do Morumbi. Seu patrono foi São Bento e seu primeiro vigário foi Dom Veremundo Tóth. Sua construção teve início em 1971 e sua consagração deu-se em 1978. 
Dom Veremundo Tóth celebrando missa em Paraisópolis. Década de 1960. Crédito:Em Pesquisa

Sua atuação foi marcante em Paraisópolis, São Paulo, onde teve seus primeiros contatos com a realidade da comunidade que estava se iniciando, consequência da intensa migração vinda principalmente do nordeste do Brasil e onde fundou, em 1965, as Obras Sociais do Mosteiro São Geraldo.

Abadia de São Geraldo, da Congregação Húngara da Ordem de São Bento

Em 8 de junho de 1989, o Priorado recebeu o título Abacial[16], tendo como seu primeiro abade, D. Ernesto Linka, eleito em 09 de agosto, tendo recebido a Bênção Abacial em 11 de setembro. Criou-se Cela de São José, Itapecerica da Serra, em 6 de agosto de 1992, na Festa da Transfiguração do Senhor.

Dom Veremundo Tóth fundou ainda em 1990 o “Movimento Pax”. Necessitando dedicar-se com maior afinco como pároco da a Igreja de Nossa Senhora do Paraíso, em Paraisópolis, passou o encargo do movimento a Dom Geraldo González y Lima que assumiu os trabalhos no ano de 2005.

Dedicou-se também intensamente em deixar um legado através de seus livros, fontes de estudo da virtude cristã, e foram impressos pelas  Edições Loyola, Editora Ave Maria, e outras, sempre preocupado com os ensinamentos a juventude, como os livros:

A Igreja nos Santifica Em Cristo - 7ª Série do 1° Grau; Enviados para o Mundo - 3ª Série do 2º Grau; Cristo Caminha Conosco na Igreja - 1ª Série do 2º Grau; Cristo Caminha Comigo na Igreja- 1ª série do 2º Grau; O Cristão no Mundo de Hoje; A Igreja nos Santifica em Cristo 7ª. Série do 1o. Grau; Seguir o Cristo; A Igreja nos Santifica Em Cristo; Enviado para o Mundo; A Boa Nova de Jesus Cristo;  A Comunhão dos Santos a Tarefa do Leigo na Igreja; Louvores à Virgem Maria; Viver Com a Igreja; Jovens Fortes na Fé; Curso para Formação de Catequistas; Deus Prepara a Vinda de Seu Filho;A Boa Nova de Jesus Cristo;Um Grande Sinal dos Tempos.

Instituto de Teologia Veremundo Tóth-CAMPO LIMPO,SP

Dom Veremundo Tóth foi coordenador e reitor do curso de teologia da Diocese de Campo Limpo, São Paulo, formada a partir de 1989, desmembrada da Arquidiocese de São Paulo, tendo como bispo Dom Emílio Pignoli. Deste embrionário curso criado em 1994 surgiram grandes colaboradores que exerceram atividades junto à igreja católica, seja na Diocese ou em suas paróquias de origem. Seu passamento ocorreu em 6 de junho de 2005.
1ª turma do “Instituto de Teologia Veremundo Tóth”:1994/97

O curso teológico diocesano de Campo Limpo, São Paulo, SP, em justa homenagem foi denominado de “Instituto de Teologia Veremundo Tóth”.



Quaisquer considerações devem ser feitas para melhoria da crônica, inclusive introdução de algum fato relevante do histórico em questão.

Referências:
Informativo “Mini HIRADÓ”: Ano 15 - nº 42. São Paulo, abril de 2015 http://www.ahungara.org.br/hirado/hirado_70/minihirado42.pdf

Dom Veremundo: Exemplo de solidariedade

BOGLÁR, Lajos. Mundo Húngaro no Brasil: do século passado até 1942. São Paulo: Humanitas, 2000.

Construção do Colégio Santo Américo




[1] A “fundação” da Hungria (em húngaro, Magyarország) está vinculada a chegada das tribos magiares que migraram da Euroásia para a Bacia dos Cárpatos fixando-se em 896 d.C. no comando do príncipe Árpád, na Europa Central, na planície da Panônia. O reino consolidou-se pelo casamento com a Beata Gisela da Baviera, filha do duque Henrique da Baviera e a aproximação com o cristianismo com o envio da coroa real pelo Papa Sivestre II (monge beneditino da Abadia de Cluny, França) a Wajk que recebeu depois disso o nome de Estevão I (Istvám I, filho de Géza, bisneto de Árpád), coroado no Natal do ano 1000 d.C. Mais tarde, foi canonizado e se tornou o santo padroeiro da Hungria. Estevão I governou a Hungria de 997 a 1038. Por mais de 900 anos, a Coroa de Santo Estevão foi a coroa dos reis da Hungria.
O Rei Estevão I organizou o reino em dez Dioceses e trinta e nove Diaconias, correspondentes aos trinta e nove Condados que existiram na Hungria. Santo Estevão Rei faleceu em 1038.

Logo passou a ser venerado pelo povo húngaro, que fez do seu túmulo local de intensa peregrinação de fiéis a procura de graças. A fama de sua santidade ganhou força no mundo cristão.

A festa de santo Estevão da Hungria, após a reforma do calendário da Igreja de Roma, passou as ser celebrada no dia 16 de agosto. 
Foi pai de Santo Américo (1007-1031), príncipe representado com um lírio na mão. Os dois santos pai e filho foram canonizados pelo Papa São Gregório VII em 1083.


[2] Dom Arnaldo Szelecz, 1900 – 1972. Nasceu na cidade de Pér, na Hungria, em 1900. Depois de participar como soldado na Primeira Guerra Mundial, entrou para Arquiabadia de Pannonhalma em 1920, foi ordenado sacerdote em 1928. Nessa casa foi professor da Escola Superior de Magistério de Pannonhalma e no Ginásio dos Oblatos, além de pastor de almas, confessor, pregador e catequista na Hungria. Foi o primeiro beneditino húngaro a chegar ao Brasil como missionário dos imigrantes húngaros, em 23 de março de 1931. Viveu no Mosteiro de São Bento de São Paulo durante 7 anos. Além de percorrer todos os bairros da cidade de São Paulo, fez muitas viagens ao interior para realizar serviços pastorais nas colônias húngaras. Auxiliava na adaptação dos imigrantes e preocupava-se com a vida religiosa e cultural da colônia. Foi editor da Revista de Pannonhalma ( Pannonhalmi Szemle).Em 1939 foi nomeado Vigário-fundador da Paróquia de Santo Estevão Rei, na Vila Anastásio, Lapa, onde permaneceu por 33 anos. Participou da Fundação do Colégio Santo Américo e do Priorado de São Geraldo. No Colégio, lecionou Geografia e História entre 1951 e 1966. Faleceu em São Paulo em 20 de setembro de 1972.


[3] O mosteiro da Ordem Beneditina de Pannonhalma, na Hungria, começou a ser construída em 996 depois da conversão do povo húngaro ao cristianismo. Fica situado na província de Gyor-Moson-Sopron, onde também se encontra o Parque Nacional Ferto-Hanság, com área de 235,88 km² na fronteira da Hungria e Áustria, conectadas pelo 3º maior lago da Europa Central, o Lago de Neusiedl, área de preservação de aves em risco de extinção. 
Província de Gyor-Moson-Sopron: VERDE ESCURO - localização do monastério

É a casa-mãe dos monges fundadores do Colégio Santo Américo e Abadia São Geraldo. Martinho de Tours provavelmente nasceu na Szombathely,Panonia, Hungria, em 316, falecendo em Candes-Saint-Martin, na Gália, (França), em 8 de novembro de 397 d.C. Monge e depois bispo de Turonum (Tours) , sendo considerado santo pela Igreja Católica. O Complexo monástico da Pannonhalma recebe seu nome.

[4] Os santos padroeiros  da Hungria: Santo Estevão Rei, São Gerardo Sagredo, mártir  e tutor do seu filho Santo Américo e São Ástrico, bispo que coroou Estevão.


[5] D. Dom Emílio Jordán, 1912 – 1999. Nasceu em Budapeste, Hungria, em 12 de novembro de 1912; fez sua profissão solene em Pannonhalma em 1932, tendo se ordenado sacerdote em 1937. Chegou a São Paulo em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial; dedicou os primeiros anos no Brasil ao trabalho pastoral com a colônia húngara no interior. Foi superior da comunidade monástica de São Geraldo de 1949 a 1953 e prior conventual de 1953 a 1968. Presidiu o Comitê Húngaro da Cruz Vermelha Brasileira de 1947 a 1965.Dom Emílio foi visionário e exerceu papel fundamental na fundação do Colégio Santo Américo em 1951 e do Priorado Conventual em 1953. Articulou a mudança do Colégio para o Morumbi e fundou o Instituto Social Morumbi, que atuou na difusão da doutrina social da Igreja, na década de 1970. Publicou livretos e realizou palestras sobre drogas para jovens em um período que este ainda era um assunto velado. Foi professor de inglês e de religião no Colégio Santo Américo e seu diretor de 1951 a 1958. Faleceu em 31 de julho de 1999.


[6] D. Olavo Kerényi, 1912 – 1977. Nasceu em Kapuvár, Hungria. Em 1931 entrou para a ordem de São Bento na Arquiabadia de Pannonhalma. Foi ordenado sacerdote em 1937. Lecionou latim e húngaro em ginásios da Ordem de São Bento na Hungria. Durante a guerra serviu o exército como capelão militar. Emigrou para o Brasil em 1947. Trabalhou como redator do Jornal Gazeta Húngara e foi locutor do programa de rádio semanal mantido pelo jornal. Editou o boletim trimestral Pax durante o período em que a Gazeta Húngara não foi publicada. Foi professor de Latim no Colégio Santo Américo. Em seu trabalho de fé, foi mestre de noviços no Mosteiro São Geraldo e capelão da comunidade Católica de Santo Estevão da colônia húngara de 1963 até 1977, ano em que faleceu.


[7] D. Severino Kögl, 1914 – 1994. Nasceu em Mosonszentpéter, Hungria, em 1914. Entrou para Arquiabadia de Pannonhalma, fez seus votos em 1936 e foi ordenado sacerdote em 1940. Na Hungria trabalhou como professor no Ginásio de Sopron e como cooperador e vigário de Zalaapáti. Chegou ao Brasil em 1949 onde, inicialmente, participou do serviço pastoral. Entre 1951 a 1968 foi diretor ecônomo do Mosteiro São Geraldo e do Colégio Santo Américo. Foi fundador e reitor da Universidade Livre “Colomão o Douto”. Em 1970 foi transferido para Nova Santa Rosa, Paraná, como superior do recém-fundado Seminário Santo Américo e primeiro vigário da paróquia. Em Nova Santa Rosa foi professor e diretor do ginásio local e do Colégio Técnico Comercial, além de membro do Conselho dos Presbíteros da Diocese de Toledo. Coletou, para que constituíssem um museu, muitos objetos e documentos representativos da história da colônia húngara no Brasil e da Abadia São Geraldo. Faleceu em São Paulo em 13 de fevereiro de 1994.


[8] D. Engelberto Sarlós, 1916 – 1986. Nasceu em Budapeste, Hungria, em 1916. Entrou para Arquiabadia de Pannonhalma, fez seus votos em 1936 e foi ordenado sacerdote em 1940. Na Hungria, foi professor de Matemática nos colégios de Pannonhalma e Sopron; participou como capelão-militar na Segunda Guerra Mundial, foi prisioneiro de guerra na Rússia entre 1945 e 1947. Em 1949 chegou ao Brasil e aqui contribuiu nos trabal333hos pastorais junto à colônia húngara. Foi professor de Matemática no Colégio Santo Américo, vice-reitor entre 1951 e 1958, e reitor entre 1958 e 1974. Também foi professor no curso de Matemática na Pontifícia Universidade Católica. Faleceu em São Paulo, aos 3 de setembro de 1986.


[9] Dom Valentim Simon, 1924 – 1958. Nasceu em Köszeg, Hungria, em 1924. Ingressou na Arquiabadia de Pannonhalma em 1942; fez seus votos em 1944 e foi ordenado sacerdote em 1948. Chegou ao Brasil em 1951 para auxiliar no trabalho pastoral da colônia húngara e no recém-criado Colégio Santo Américo, onde lecionou Matemática e Física. Dom Valentim dedicou-se aos grupos de escotismo do Colégio e dos imigrantes húngaros; foi chefe dos escoteiros e responsável pelas temporadas de férias dos alunos do Colégio em Campos do Jordão. Faleceu precocemente, aos 34 anos de idade, despertando na comunidade monástica o desejo por novas vocações.


[10] Sacerdote nomeado para ajudar ou substituir o prior no exercício de suas funções.

[11] Dom Aureliano Hets, OSB 1913 – 1985. Nasceu em Doer, Hungria; fez sua vestição em 1932, a profissão monástica em 1934 e a ordenação em 1938. Emigrou para o Brasil em 1939 para auxiliar o trabalho de Dom Arnaldo com os imigrantes húngaros. Dedicou-se à comunidade húngara no Brasil, sendo seu capelão; foi coadjutor na Paróquia de Vila Anastácio, na capital. Realizou muitas visitas aos bairros e povoados de imigrantes no interior do Estado de São Paulo. Escrevia para o Jornal Gazeta Húngara, tornando-se editor entre 1948 e 1960. Como professor lecionou História, Religião e Latim no Colégio Santo Américo e Religião no Grupo Escolar e Ginásio Estadual de Vila Anastásio. No Mosteiro São Geraldo foi Ecônomo, Subprior, Professor do Seminário e Mestre de Noviços. Faleceu em São Paulo, em 12 de agosto de 1985.


[12] A Câmara Municipal de São Paulo, pela indicação nº 739/74 requeria nominar de Praça Padre Arnaldo a confluência das Ruas Bernardo Guimarães, Conselheiro Ribas e Bartolomeu Bueno, localizadas na Vila Anastácio.

[13] Dom Pedro Paulo Ther, 1931 – 1994. Nasceu em Oervényes, Hungria, aos 29 de junho de 1931. Foi ordenado em 1958 e trabalhou na vida pastoral como cooperador e vigário. Chegou ao Brasil em agosto de 1967; poucos dias depois fez sua profissão simples; a profissão solene deu-se após um ano, em agosto de 1968. Foi professor de Religião do Colégio Santo Américo e cooperador da paróquia de Nova Santa Rosa, no Paraná. A partir de 1975 foi vigário da Paróquia de Vila Anastácio. Faleceu em São Paulo em julho de 1994.


[14] Dom Aniano Úrdombi, 1927 – 2004. Nasceu em 12 de março de 1927, em Gyor, Hungria, fez sua profissão monástica em Pannonhalma no ano de 1948 e a ordenação sacerdotal em 1952. Até 1956 trabalhou na Hungria como cooperador e depois como operário de uma fábrica. Em 1957 vem para o Brasil, tendo sido capelão dos húngaros, professor de história e de religião no Colégio Santo Américo e ativo chefe dos escoteiros. Em 1975 foi transferido para o Seminário Santo Américo de Nova Santa Rosa, no Paraná, onde foi professor e prefeito do Seminário. Dedicou-se ao hobby da fotografia, tendo registrado inúmeros acontecimentos da vida do CSA e Abadia São Geraldo. Faleceu em 25 de abril de 2004.


[15] Capelão: Religioso autorizado a prestar assistência e a realizar cultos em comunidades religiosas, conventos, colégios, universidades, hospitais, presídios, corporações militares e outras organizações ou corporações.

[16] Priorado: O termo deriva do latim prìor, óris "primeiro de dois" ou "aquele que está na frente”. O priorado apenas difere de uma abadia pelo fato de o seu superior se intitular prior, em vez de abade. Os priorados são casas subsidiárias de uma abadia principal, a cujo abade estavam subordinados. O abade governa um mosteiro. Abade era também o prelado de uma abadia regular que, sendo elevado à dignidade episcopal, transformava a sua igreja e mosteiro em catedral e sede do bispado. Abades territoriais administram uma circunscrição territorial. Em muitas Ordens existia uma relação piramidal entre uma ABADIA MAIOR, a matriz, palco de uma reforma monástica ou mesmo origem de uma nova Ordem, e outras a ela submetidas como priorados, algumas com abades próprios. Como uma abadia secundária podia tornar-se matriz, reconhece-se o papel fundador da primeira abadia, que passa a ser reconhecida como a abadia superior. Os monges mais famosos da época eram os Beneditinos que é uma ordem monástica religiosa criada por São Bento, que alia trabalho à oração. Foram os grandes guardiões do conhecimento clássico, fomentando bibliotecas através do trabalho de copistas na antiguidade.



4 comentários:

ESTANISLAU disse...

Uma história real religiosa, mas principalmente social, onde a maioria não conhece pois não se ensina nas escolas, creio que nem na igreja, quase ninguém sabe, ninguém viu, mas a bondade a dedicação do homem santo ao homem pecador que nesse texto homenageia e revela o que temos de bom na humanidade cristã.

Ernesto Harsi disse...

Faltou mencionar que o primeiro chefe do Grupo Escoteiro Santo Américo foi Dom Valentim Simon, falecido muito jovem.
Ernesto Harsi

Ernesto Harsi disse...

Este comentário visa corrigir e complementar informações sobre os grupos escoteiros do Colégio.

O nome Szondy György, do grupo escoteiro húngaro que usa as instalações do Colégio, embora tenha como patrono atual a Associação Húngara, é um nome recente, de alguns anos atrás, que resultou da fusão de 4 grupos húngaros que funcionavam em São Paulo de várias comunidades. Dois desses grupos, fundados em 1952 e 1953, ainda no Colégio da Santa Cecília, respectivamente por D. Valentim Simon e D. Veremundo Tóth, eram o grupo masculino Szent Imre (Santo Américo em húngaro) e Dobó Katica, feminino. O nome atual Szondy György era do primeiro grupo escoteiro húngaro de imigrantes pós II guerra, em terras brasileiras, que funcionou por muitos anos no Rio de Janeiro. Quando da fusão desses grupos em S. Paulo, esse grupo já não funcionava e decidiu-se recuperar seu nome pela antiguidade como uma homenagem.

Os chefes desses grupos foram além dos fundadores e alguns leigos, também D. Aniano Urdombi e D. Américo Gácsér. O grupo escoteiro brasileiro integrado ao Colégio, criado por D. Aniano Úrdombi, chamava-se Xavantes.

Carlos Fatorelli disse...

Observação: A pesquisa desta crônica está pautada na estrutura de São Paulo como o titulo pressupõe “Beneditinos da Hungria, a Vila Anastácio (Lapa) e o Morumbi, em São Paulo”. Aqueles que porventura quiserem enriquecer esta historiografia, foco principal desta publicação, no diálogo entre o passado e presente no tempo e espaço dentro do contexto estejam livres para fazê-lo e ainda acrescentar dados feitos em publicações ou por depoimentos comprovados. Dentro deste conceito há ainda o projeto “A Fotografia Como Concepção Histórica” para proporcionar a crítica da crônica em uma dialética variada.