sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A galinha e o Ovo de Colombo: Uma grande viagem

"A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado".- Marc Bloch

Pelos estudos de arqueologia e história parece ter havido uma simbiose entre o predador homem com a domesticação da ave-galinha por volta de 8 mil anos. Provinda do sul da Ásia, de onde é nativo o galo-banquiva, do Vale do Rio Indo, espalhou-se pelo globo. 

O homem domesticou os primeiros galos-banquivas na Índia, cerca de 3.200 a.C. A Mesopotâmia teve contato com a galinha por volta de 1950 a.C. estava na rotas de comércio do Golfo Pérsico e atingiu a cidade do Ur,(Mesopotâmia, atual Iraque) local bíblico de Abraão(Gênesis 11:31)

Também pela Rota da Seda, a China popularizou essa ave por volta de 1500 a.C. e no Egito já era conhecida por volta de 1450 a.C. quando já reinava a 18ª Dinastia (entre 1550 a.C. e 1295 a.C.). A Pérsia (atual Irã) espalhou a ave ao redor da região por volta de 550 a.C. espalhando-se para o atual Cazaquistão e a Ásia Menor (Turquia). 

Os fenícios também foram propagadores levando-a a Grécia onde foram estampadas em moedas e cerâmicas coríntias por volta de 700 a.C. e sendo mencionada pelo poeta Theognis de Megera em 600 a.C. e ainda Cícero cita rinhas de galos e o comportamento destes por volta de 250 a.C. Por volta do ano 50 d.C. de Roma a ave espalhou-se pelo Império, embora alguns estudiosos propaguem que no ano 100 a.C. a galinha fora introduzida por alguns recantos da Europa atingindo a Grã-Bretanha. 

Uma lei romana, a Lex Faunia de 162 a.C., faz referência de como criar e produzir frangos castrados e como tratar galinhas poedeiras. 

Na cidade de Maresha, (ou Marissa, região da Idumeia), aproximados 60 quilômetros de Jerusalém, fez parte das conquistas gregas de Alexandre, O Grande, antes da Era Cristã, local onde concentraram escavações arqueológicas e que encontraram esqueletos de galinhas datadas (carbono 14) de 245 a 140 a.C., considerando que por volta dessa época a ave começou a ser sistematicamente produzida, pois há sítios escavados que foram encontrados restos de aves. 
Galináceas ao redor do mundo-CRÉDITO:Poultry of the World, por L. Prang & Co.

Com o advento das grandes navegações a galinha sai do Oriente e Europa e atinge ilhas do Pacífico por volta do ano de 1200 d.C., sendo que podem ter existido rotas para atingir outras regiões. Cristóvão Colombo em sua segundo viagem para a América, em 1493, transporta para a Ilha de São Domingos 200 galinhas, iniciando sua criação no Novo Continente. Pedro Álvares Cabral trouxe a galinha em sua expedição pelo Brasil em 1500 e consta até de ter assustado os nativos, a ponto de não quererem nela tocar. Nas expedições exploradoras comandada por Martim Afonso de Souza, ela chega no sudeste com a fundação da Capitânia de São Vicente, fundada em 1532.

Um Rei no Brasil e o mito do apetite por frangos

Dom João assumiu o trono após sua mãe, D. Maria I perder as faculdades mentais sendo reconhecido oficialmente como regente em 1792 e príncipe regente em 13 de julho de 1799. Com a morte da rainha, em 20 de fevereiro de 1816, o regente assumiu o trono com o título de D. João VI sendo aclamado rei em 6 de fevereiro de 1818.

Entre 25 e 27 de novembro de 1807, quase 15 mil pessoas preparam-se para embarcarem em 14 navios da esquadra real e outros mercantes: a família real, a nobreza e o alto funcionalismo civil e militar da Corte foram forçados pelo exército francês de Napoleão a abandonar a Europa. 

Em 28 de novembro de 1807 a corte portuguesa deixa Portugal e desembarcam em 22 de janeiro de 1808 em Salvador e em 28 de janeiro assina a abertura dos portos. Em 7 de março de 1808 D. João e a comitiva sai da Bahia e aporta no Largo do Paço, hoje Praça Quinze, em 8 de março de 1808 no Rio de Janeiro com a família Real Portuguesa com seu séquito

Em 16 de fevereiro de 1815 o Brasil e elevado a Reino Unido a Portugal e Algarves. Com a Revolução Liberal do Porto de 1820 apressa-se a partida de D. João VI de volta a Portugal em 26 de abril de 1821. Dizem que D.João VI se fartava de comer e que no estômago de Dom João VI cabiam três frangos e quatro mangas a cada refeição. Se isto é uma calunia histórica pode ter sido colaborada por quem queriam denegrir a administração de um rei estrangeiro governando na América e perpetuado após  a República. 

Nada ainda foi comprovado de ser D.João VI um devorador contumaz de frango assado, mas faz isso parte de um folclore que apresenta o frango como algo comum na alimentação brasileira, prato que geralmente faz parte do cotidiano até os dias atuais por ter custo baixo.

Uma receita de Portugal: CABIDELA

Um prato muito comum no Brasil, antes de se proibir a comercialização de sangue pela vigilância sanitária, (o sangue precisa ser certificado com o animal sendo abatido em frigorífico) foi a galinha ao molho pardo, também conhecido em algumas regiões como galinha de gabidela, que é preparado com os miúdos e a carne envolvidos por molho a base de sangue diluído com vinagre. O termo cabidela, provavelmente se originou da língua portuguesa que chama de “cabos” as extremidades do animal, como pescoço, pernas, asa e podem ser feito com outros vários animais como cabrito, porco, pato ou proveniente de animais de caça selvagem. Parece que as receitas com sangue são preparadas em Portugal desde o Achamento do Brasil, nas regiões de Trás-os-Montes, Alto D’Ouro, no Minho, Alentejo, Beira Alta, e outros cada qual com sua peculiaridade.

Deste modo se perpetua por toda parte os conceitos gastronômicos variados que satisfaz todos os povos!

Referências:  






Como o frango chegou ao forno:  O ESTADO DE SÃO PAULO, 25 DE JULHO DE 2015 http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,como-o-frango-chegou-ao-forno--imp-,1731785

O frango de dona Leopolda: O ESTADO DE SÃO PAULO, 24 A 30 DE ABRIL DE 2014 https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=+o+frango+de+dona+leopolda

Receita infalível para curar ressaca: O ESTADO DE SÃO PAULO, 19 A 25 DE FEVEREIRO DE 2015 http://blogs.estadao.com.br/paladar/galinhada-receita-infalivel-para-curar-a-ressaca/

Lello Universal, Porto: Artes Gráficas.


Gomes, Laurentino. “1808”. São Paulo: Planeta, 2007

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