"A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado".- Marc Bloch
Pelos estudos de arqueologia e história
parece ter havido uma simbiose entre o predador homem com a domesticação da
ave-galinha por volta de 8 mil anos. Provinda do sul da Ásia, de onde é nativo o galo-banquiva,
do Vale do Rio Indo, espalhou-se pelo globo.
O homem domesticou os primeiros galos-banquivas na Índia,
cerca de 3.200 a.C. A Mesopotâmia teve contato com a galinha por volta
de 1950 a.C. estava na rotas de comércio do Golfo Pérsico e atingiu a cidade do
Ur,(Mesopotâmia, atual Iraque) local bíblico de Abraão(Gênesis 11:31).
Também pela Rota da Seda, a
China popularizou essa ave por volta de 1500 a.C. e no Egito já era conhecida
por volta de 1450 a.C. quando já reinava a 18ª Dinastia (entre 1550 a.C. e 1295 a.C.). A Pérsia
(atual Irã) espalhou a ave ao redor da região por volta de 550 a.C. espalhando-se
para o atual Cazaquistão e a Ásia Menor (Turquia).
Os fenícios também foram
propagadores levando-a a Grécia onde foram estampadas em moedas e cerâmicas
coríntias por volta de 700 a.C. e sendo mencionada pelo poeta Theognis de
Megera em 600 a.C. e ainda Cícero cita rinhas de galos e o comportamento destes
por volta de 250 a.C. Por volta do ano 50 d.C. de Roma a ave espalhou-se pelo
Império, embora alguns estudiosos propaguem que no ano 100 a.C. a galinha fora
introduzida por alguns recantos da Europa atingindo a Grã-Bretanha.
Uma lei romana,
a Lex Faunia de 162 a.C., faz referência de como criar e produzir frangos
castrados e como tratar galinhas poedeiras.
Na cidade de Maresha, (ou Marissa,
região da Idumeia), aproximados 60 quilômetros de Jerusalém, fez parte das
conquistas gregas de Alexandre, O Grande, antes da Era Cristã, local onde
concentraram escavações arqueológicas e que encontraram esqueletos de galinhas
datadas (carbono 14) de 245 a 140 a.C., considerando que por volta dessa época
a ave começou a ser sistematicamente produzida, pois há sítios escavados que
foram encontrados restos de aves.
Com o advento das grandes navegações a galinha
sai do Oriente e Europa e atinge ilhas do Pacífico por volta do ano de 1200 d.C.,
sendo que podem ter existido rotas para atingir outras regiões. Cristóvão
Colombo em sua segundo viagem para a América, em 1493, transporta para a Ilha
de São Domingos 200 galinhas, iniciando sua criação no Novo Continente. Pedro
Álvares Cabral trouxe a galinha em sua expedição pelo Brasil em 1500 e consta
até de ter assustado os nativos, a ponto de não quererem nela tocar. Nas
expedições exploradoras comandada por Martim Afonso de Souza, ela chega no
sudeste com a fundação da Capitânia de São Vicente, fundada em 1532.
Um Rei no Brasil e o
mito do apetite por frangos
Dom João assumiu o trono após sua
mãe, D. Maria I perder as faculdades mentais sendo reconhecido oficialmente
como regente em 1792 e príncipe regente em 13 de julho de 1799. Com a morte da rainha, em 20 de
fevereiro de 1816, o regente assumiu o trono com o título de D. João VI sendo
aclamado rei em 6 de fevereiro de 1818.
Entre 25 e 27 de
novembro de 1807, quase 15 mil pessoas preparam-se para embarcarem em 14 navios
da esquadra real e outros mercantes: a família real, a nobreza e o alto
funcionalismo civil e militar da Corte foram forçados pelo exército francês de
Napoleão a abandonar a Europa.
Em 28 de novembro de 1807 a corte portuguesa deixa
Portugal e desembarcam em 22 de janeiro de 1808 em Salvador e em 28 de janeiro
assina a abertura dos portos. Em 7 de março de 1808 D. João e a comitiva sai da
Bahia e aporta no Largo do Paço, hoje Praça Quinze, em 8 de março de 1808 no
Rio de Janeiro com a família Real Portuguesa com
seu séquito.
Em 16 de fevereiro de 1815 o Brasil e elevado a Reino Unido
a Portugal e Algarves. Com a Revolução Liberal do Porto de 1820 apressa-se a
partida de D. João VI de volta a Portugal em 26 de abril de 1821. Dizem que D.João VI se fartava de comer e que no
estômago de Dom João VI cabiam três frangos e quatro mangas a cada refeição. Se isto é uma calunia histórica pode ter sido
colaborada por quem queriam denegrir a administração de um rei estrangeiro
governando na América e perpetuado após
a República.
Nada ainda foi comprovado de ser D.João VI um devorador
contumaz de frango assado, mas faz isso parte de um folclore que apresenta o frango
como algo comum na alimentação brasileira, prato que geralmente faz parte do cotidiano
até os dias atuais por ter custo baixo.
Uma receita de Portugal: CABIDELA
Um prato muito comum no Brasil, antes de
se proibir a comercialização de sangue pela vigilância sanitária, (o sangue
precisa ser certificado com o animal sendo abatido em frigorífico) foi a
galinha ao molho pardo, também conhecido em algumas regiões como galinha de
gabidela, que é preparado com os miúdos e a carne envolvidos por molho a base
de sangue diluído com vinagre. O termo cabidela, provavelmente se originou da
língua portuguesa que chama de “cabos” as extremidades do animal, como pescoço,
pernas, asa e podem ser feito com outros vários animais como cabrito, porco,
pato ou proveniente de animais de caça selvagem. Parece que as receitas com
sangue são preparadas em Portugal desde o Achamento do Brasil, nas regiões de
Trás-os-Montes, Alto D’Ouro, no Minho, Alentejo, Beira Alta, e outros cada qual
com sua peculiaridade.
Deste modo se perpetua por toda parte os conceitos gastronômicos variados que satisfaz todos os povos!
Referências:
Lista de raças de galinhas: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_ra%C3%A7as_de_galinha
Gallus gallus domesticus: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gallus_gallus_domesticus
galos-banquivas: https://pt.wikipedia.org/wiki/Galo-banquiva
Frango
à moda dos Moreira: http://www.bemfeitinho.net/site/conteudo/3696-frango-moda-dos-moreira.html
Ascensão
e queda da galinha Cabidela: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,ascensao-e-queda-da-galinha-de-cabidela,4002
Como
o frango chegou ao forno: O ESTADO DE SÃO
PAULO, 25 DE JULHO DE 2015 http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,como-o-frango-chegou-ao-forno--imp-,1731785
O frango de dona Leopolda: O ESTADO DE SÃO PAULO, 24 A 30 DE
ABRIL DE 2014 https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=+o+frango+de+dona+leopolda
Receita infalível para curar ressaca: O ESTADO DE SÃO
PAULO, 19 A 25 DE FEVEREIRO DE 2015 http://blogs.estadao.com.br/paladar/galinhada-receita-infalivel-para-curar-a-ressaca/
Lello
Universal, Porto: Artes Gráficas.
Gomes, Laurentino. “1808”.
São Paulo: Planeta, 2007
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