Pesquisa
e produção de explosivos: Cenário dos Fatos
Ao
iniciar-se a Revolução Constitucionalista em 1932, em São Paulo houve
mobilização efetiva para a preparação de munição. Evidente que existiam limitações
de produção no início do conflito, mas São Paulo possuía um parque industrial
significativo e a Federação das Indústrias de São Paulo presidida por Roberto
Simonsen, era de grande importância na preparação bélica de retaguarda. Nisso
estava incluso a fabricação de capacetes de aço, bombas de fumaça, barracas de
campanha, telefones e artigos de couro para transporte de equipamentos,
fabricação de produtos químicos destinados à fabricação de explosivos,
reparação de aviões, hélices, construção de porta bombas, enfim uma gama enorme
de produtos industrializados sobe a égide da FIESP.
Das indústrias mobilizadas
no esforço de guerra há de se citar, entre tantas, a Fábrica Nacional de
Cartuchos e Munições das Indústrias Matarazzo, tendo como diretor Giannicola
Matarazzo e ainda a colaboração de Nadir Dias de Figueiredo, Ribeiro Couto,
Heitor Bertacin entre tantos. Na preparação bélica de retaguarda estava também a
Escola Politécnica com seu Laboratório de Ensaio de Materiais (mais tarde intitulado
Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo) com preparação ativa de
material bélico.
O manuseio de explosivo requeria cuidado extremo e muitos estudantes
e professores voluntários arriscaram suas vidas manipulando explosivos de alto
risco sendo que muitos engenheiros foram vitimas fatais em explosões
repentinas. A pólvora para granadas, projéteis, de
explosão, bombas para uso em aviões foram fabricadas pela Escola
Politécnica.
As primeiras granadas foram arquitetadas
pelo desenhista Hans Schlueter e por Aldo Bardella que se encarregou da
fundição em sua fábrica, que eram semelhantes às inglesas, mas existia a
dificuldade da substituição do detonador, pois não havia tempo hábil para
fabricar espoletas com anel periférico de fulminato (de mercúrio) conforme a
inglesa e assim se adaptou pequenas espoletas de caça produzidas na Fábrica
Nacional de Cartuchos e Munições das Indústrias Matarazzo.
As primeiras
experiências com granadas foram realizadas no Campo de Marte, geralmente no
horário noturno para despertar menos atenção. Outra arma desenvolvida foi o
morteiro tipo Stokes, apelidado de Marcelino, em
homenagem ao major José Marcelino da Fonseca, que morreu junto com o coronel
Júlio Marcondes Salgado em testes Indianópolis (Congonhas, na época um
descampado) com a referida arma no município de Santo Amaro em 23 de julho de
1932.
Deplorável ocorrência em Santo Amaro[1]: matéria A
GAZETA, de 23 de julho de 1932
Sofremos
essa manhã, uma grande perda, que não arrefecerá de certo o nosso ânimo
combativo, mas que indubitavelmente causará às tropas e aos civis profundo
pesar.
Essa
perda foi a do bravo comandante da Força Pública de São Paulo, o brilhante
oficial coronel Júlio Marcondes Salgado.
O
ilustra militar, não caiu vitimado pelos adversários, mas por um desastre
estúpido.
Hoje
cedo o general Bertholdo Klinger, acompanhado de seus oficiais, tenente Saraiva
e Pedro Celestino Filho e coronel Julio Marcondes Salgado, dirigiram-se a Santo
Amaro afim de assistirem à experiências de um novo tipo de morteiro.
Quando
ali chegaram várias experiências já tinham sido feitas com êxito. Prosseguiam
os trabalhos normalmente quando uma das granadas, em vez de projetada para fora
do tubo onde fora lançada, explodindo dentro dele. Com a explosão, voaram
estilhaços para todos os pontos e um deles apanhou o coronel Marcondes Salgado
no pescoço, seccionando-lhe a carótida. O bravo comandante da Força Pública
caiu morto instantaneamente.
O
general Klinger recebeu um estilhaço no braço, ferindo-se ligeiramente.
Feridos
foram também, levemente, alguns oficiais do Exército e da polícia. Dos civis,
presentes, parece que todos saíram ilesos.
A
triste cena causou profunda impressão em todos os assistentes.
Foram
tomadas pelo Governo, imediatamente providências, não só para os funerais do
distinto oficial, como para que as operações de guerra não sentissem, com o seu
falecimento inesperado, a mínima perturbação.
São
Paulo ficou privado do concurso de uma das figuras militares mais
representativas, mas nem por isso sofrerá, no seu poderio militar e na
capacidade de ação da sua Força Pública diminuição alguma.
OUTROS
FERIDOS
Ficaram
feridos levemente, o tenente coronel Salvador Moya e um sargento; o capitão da
Força Pública, José Marcelino da Fonseca recebeu ferimentos de certa gravidade.
Nota:
A
homenagem derradeira ocorreu pelo Decreto 5602, de 23 de junho de 1932, quando Júlio
Marcondes Salgado recebeu a patente de general da Força Pública de São Paulo.
Referências:
Tudo
por São Paulo 1932
A
GAZETA, 9 DE JULHO DE 1957, página 10 -Edição Comemorativa Retrospectiva da
Epopéia de 32
A Escola Politécnica na Revolução de 1932 - Parte I – A
Politécnica em armas
A Escola Politécnica na Revolução de 1932 - Parte II – A Fabricação dos Explosivos
A Escola Politécnica na Revolução de 1932 - Parte III – Os
Morteiros
Os Empresários
Ciccillo Matarazzo e Giulio Pignatari
Revista
do Arquivo Municipal- volume 137; out/Nov/dez 1950, p. 87 a 108
Quartin,
Yone. O Mackenzie e a Revolução de 32. São Paulo: EDICON, 1995
[1]
A GAZETA, 9 DE JULHO DE 1957,
página 10 -Edição Comemorativa Retrospectiva da Epopéia de 32 (reprodução do
fato ocorrido, em publicação jornalística A GAZETA, de 23 de julho de 1932)
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