quinta-feira, 30 de julho de 2015

Lourenço Miranda Borba e a vida social de Santo Amaro no século 20

História: PRESENTE!

Lourenço Miranda Borba vem de uma família tradicionalíssima de Santo Amaro, onde existem muitos da estirpe dos “Borbas” desde os tempos de Manoel de Borba Gato, bandeirante do século 17 e 18, em outro momento histórico com outra realidade que se enveredou pelo sertão afora, deixando raízes que se perpetuaram por Santo Amaro.

Nosso personagem Lourenço nasceu na Rua Cerqueira Cesar em 19 de novembro de 1930, “dia da Bandeira Nacional”, quando a localidade possuía autonomia administrativa como Cidade e Freguesia de Santo Amaro.

Era um município pacato, com tradições de “sertão caipira”, cantada em verso e prosa e lembrada no som da viola e muita religiosidade voltada em festejos tradicionais como a Festa do Divino, do fogo de Pentecoste, ovacionada com um Império bem formado que era conhecido até na “longínqua” capital paulista. Depois a fé ultrapassava as fronteiras santamarenses e ia “por ai afora”, como se dizia, pelas estradas empoeiradas em direção a Pirapora do Bom Jesus com as romarias de Cenerino Branco de Araujo e José Diniz.

Era bem conhecido o ex-prefeito de Santo Amaro, Isaías Branco de Araujo, tio de dona Maria Rodrigues Borba, conhecida como Maricota, a matriarca da família.
PEDRO MIRANDA BORBA

Pedro Miranda Borba foi por algum tempo “inspector geral de trânsito” de Santo Amaro, habilitando muitas pessoas locais em “condutor de automóvel” ou “condutor de carroça”, em habilidade de cocheiro ou carroceiro!
REGISTROS DAS CARTAS
Mais tarde abriu um negócio próprio no segmento de peças em couro e estava sempre na lida diária confeccionando arreios variados para as montarias da localidade, muito comum à época em ser o meio de transporte mais comum os cavalos, muares e muitas charretes, aranhas e carroças. As ferragens para adornar as várias confecções vinham da Abramo Eberle & Cia, casa tradicional que fornecia para o exército brasileiro e todas as milícias estaduais, e estava localizada em Caxias, no Rio Grande do Sul, desde 1895.

Nesta atmosfera cresciam os outros filhos do casal Pedro e Maria: Lupércio Rodrigues Borba, Rosa e Lucia Miranda Borba. Estudavam todos na Escola Paulo Eiró e em casa ajudavam na lida diária sendo que os filhos iam para a loja trabalhar com “seu” Pedro, para produzir as peças encomendadas pelos santamarenses e que eram feitas até para fora da Vila. A loja ficava na Alameda Santo Amaro, número 358 e era bem conceituada e concorrida. 

O prédio(ainda existente) foi construído no início do século 20, em 1914, e era bem localizado, que resiste ao tempo com “galhardia” de santamarense, que infelizmente vê-se seus prédios centenários serem demolidos na atualidade em nome do “progresso”.

Aos fins de semana a diversão da “rapaziada” estava voltada às atividades corriqueiras de Santo Amaro, como as “pelejas” de futebol na baixada da Avenida Padre José Maria, onde hoje fica o Terminal de ônibus e estavam os campos de várzea. 
Somado a grande paixão brasileira somava-se às andanças de bicicletas ou competições que formaram grandes ciclistas como Joaquim Mendonça Filho e Karl Czernik, que mantinha o Ciclo Club na esquina da Cerqueira Cezar com a Rua Carlos Silva Araujo, nº 448, e estava filiado a Federação Paulista de Ciclismo fundada em 1925 e onde se reuniam também muitos outros ciclistas santamarenses como Tarcísio Montanaro, cognominado de Garça, companheiro de Lupércio que competiram na “Prova Ciclística 9 de Julho”[1], evento paulistano, onde se incluía nomes como Rolando Montesi e Pietro Allegrini da equipe Alda Allegrini. 


 COMPETIÇÃO EM SANTO AMARO
PASSEIO LÚDICO

Existia ainda o Campo de Bocha aonde muitos iam se divertir no “Club de Bocha Santo Amaro” fundado por Jorge Fares um dos sócios da Calil Fares & Cia. Neste segmento o “Grêmio Unido Santo Amaro”, G.U.S.A., teve um grande representante da seleção brasileira do certame de bocha, José Geraldo Sbragia, popularmente conhecido com o cognome de “Comando”. Santo Amaro era uma efervescência esportiva onde mais tarde representou nas competições náuticas o velejador Joerg Bruder!  Muitos bailes da época eram orquestrados por artistas locais como o músico Amaro Machado que compunha o grupo de Mario Gennari Filho. 

Lourenço Miranda Borba participava desses momentos em Santo Amaro nos fins de semana com outros jovens, sendo adepto do ciclismo andava na turma do João Abóbora, Turquinho, Armando, somando com seu irmão Lupércio que os acompanhavam nas investidas na Avenida Paulista, São Paulo.

Seu Lourenço tornou-se um profissional de todo o ramo de montaria, da confeccionando em couro barrigueiras, sobrecinchas, caronas, badanas, loros, açoiteiras, rabichos, rédeas, peitorais, enfim tudo que se relacionava a este universo era de fácil manuseio e fabricação pela família Borba.

A religiosidade local concorria nas celebrações da Matriz de Santo Amaro, sendo que nas angariações das missões eram ofertadas espórtulas em nome de alguém em homenagem perpétua, em obra seráfica das santas missas, onde a família Borba tinha participação efetiva.

O jovem Lourenço casou-se com Maria Conceição Mendes, também da origem santamarense, dando continuidade na família com os filhos Fábio e Marcello Mendes Borba.
Rua Brasílio Luz  Chevrolet - taxi 1951

Nosso “santamarense da gema”, seu Lourenço, ainda trabalhou nas feiras de Santo Amaro e em 1956 enveredou-se para tornar-se “chofer de praça” no ponto antigo do Largo Treze de Maio, com a proteção de São Cristóvão, por longo tempo foi assíduo participante do meio social santamarense e exemplar representante “botina amarela” do Centro das Tradições de Santo Amaro.

“Chofer de praça”: LOURENÇO MIRANDA BORBA


Esta é uma crônica de quem participou ativamente das relações sociais da “Cidade” de Santo Amaro, e a quem muitos novos santamarenses devem reverenciar e conhecer sua historiografia, como tantos outros contemporâneos que perpetuaram a identidade local.

“Quem é, ou quem foi alguém, não o sabemos a não ser conhecendo a história da qual ele é o herói”. (Hannah Arendt)



Referências:

Oralidade: LOURENÇO MIRANDA BORBA e Rosana Manfredini

Fotos cedidas por Fabio Mendes de Borba, salvo especificação contrária.

Correio Paulistano-15 de setembro de 1942

Almanaque esportivo de 1929


Aguarda-se a crítica da crônica em nome da historiografia, para aprofundamento do tema e possíveis correções e acréscimos.




[1] PROVA CICLÍSTICA 9 DE JULHO: Instituída em 1932 pelo jornalista Cásper Líbero em homenagem à Revolução Constitucionalista foi realizada pelo jornal “A Gazeta Esportiva” a partir de 1933, com a denominação Prova Ciclística 9 de Julho. A Prova Ciclística tem realização e organização da Fundação Cásper Líbero e Gazeta Esportiva.net, com organização técnica da Federação Paulista de Ciclismo e supervisão da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC). A Fundação Cásper Líbero que detém o registro por problemas burocráticos cancelou a prova em 2012 e a Federação Paulista de Ciclismo então organizou o “Grande Prêmio São Paulo Internacional de Ciclismo”. A tradição prevalece e volta as suas origens do calendário de festividades.

1 comentário:

ESTANISLAU disse...

Carlos, parabéns pela homenagem ao Sr. Lourenço, pessoa de fino trato e santamarense da gema, homem simples de principio que deixou uma história de vida consumada em escrita por você.
Ele é mais um dos muitos personagens que ajudaram a construir o bairro que tanto dignificou onde sempre morou, ele ficará para sempre na memória do bairro com essa homenagem.