quarta-feira, 25 de abril de 2012

A VIDA DO BOXEADOR “JACK O TERRÍVEL” OU JOAQUÍN MARÍN Y UMAÑES

SANTO AMARO/SP E O PUGILISMO DE JACK MARIN

Santo Amaro, em São Paulo, possui uma história que muitas vezes se confunde realidade e mito. Os mitos parecem nascer após expirar a vida e então construir algo irreal: “-me um ídolo morto e te darei um mito”. Outros escreveram sua história, mas foram esquecidos pelos registros historiográficos.
Joaquín Marín nasceu a 15 de fevereiro de 1903, em Sevilha, em Espanha, onde foi campeão nacional e chegou a disputar o título europeu, na década de 20, segundo o professor Waldemar Zumbano, conhecedor da história do pugilismo.

JACK MARIN matéria jornalística do "DIÁRIO" (em espanhol) artigo de 10 de Maio de 1929

Wademar Zumbano
[1], que lutou em São Paulo a mesma época que “Jack”, afirmava que ele se apresentava “com técnica e franqueza, tão leal como firme”. No Brasil fez muitas lutas, especialmente em São Paulo, Santos e Rio, e perdeu poucas. Era conhecido por alguns particulares: costumava quebrar garrafas no queixo, fazendo-o sem se cortar.

Rua Amaro André,  travessa da Rua Barão do Rio Branco, antiga Aurora, em Santo Amaro. Ao fundo vê-se o antigo "armazém" que resiste ao tempo, do senhor Nilo Placona Filho, conhecido por Lico Boeninha. 

Vê-se a esquerda resquício da antiga Plásticos Dias-depois York - Terreno a venda para empreendimentos imobiliários.

A família de Joaquín Marín y Umañes residia à Rua Amaro André, 149, uma travessa da Rua Barão do Rio Branco, antiga Aurora, em Santo Amaro próximo a Plásticos Dias, (depois York). Joaquín Marín, na década de 1930 subiu aos rinques para defender a nobre arte, com o nome de "Jack, O Terrible".
Uma apresentação de gala: O Estado de São Paulo, 01 de abril de 1922

O próprio lutador confirmava ter sido “um dos primeiros boxeadores da América Latina, tendo desenvolvido o esporte nos Estados Unidos, aos 15 anos. Lutou até aos 30 anos, passando pelo México, Argentina, Chile e Uruguai. Lembrava ter feito mais de 100 lutas e perdido sempre que enfrentava “gente mais pesada”. (sua massa era de 66 quilos, estando na classificação atual entre meio médio)
OS MAIORES CAMPEÕES PROFISSIONAIS APRESENTAVAM-SE AO MUNDO

Os contemporâneos de boxe lembram que “Jack” sempre gostou de manter-se “independente”, em relação a sua vida particular. (...)
JACK - JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO - 14 DE JUNHO DE 1981

Joaquín Marín preferia recordar-se de fatos pitorescos de sua carreira. Conta que ainda pugilista foi pedir em casamento a filha de conservadora família de imigrantes alemães de Santo Amaro. Belmira Helfenstein, com quem se casou e tiveram os filhos: Maria do Carmo (conhecida por Zuca), Yvonne, Marina e José Maria. De início a sogra não gostava de sua atividade no boxe, exigindo: “Trate de arrumar um emprego, pois minha filha não come socos!”

Enquanto isso, a população de Santo Amaro ainda estava influenciada pelo desempenho do Padre José Maria Fernandes, (remanejado posteriormente para a Igreja de São José de Belém, em São Paulo) que juntamente com um comissão de homens beneméritos de Santo Amaro, entregaram a igreja Matriz reformada em 1924.
SANTO AMARO: Rua Pe. José Maria com Rua Barão do Rio Branco em 1960

O coronel Isaias Branco de Araujo, prefeito à época do Município de Santo Amaro, deu o nome do padre José Maria (pelos anais municipais esse padre é outro, com sobrenome Moura) a rua frontal ao frontispício da Igreja Matriz de Santo Amaro. Foi certamente pelo espírito religioso que Joaquín Marín e Belmira deram nome do padre ao filho nascido em 6 de maio de 1932.

Na década de 1920 era anunciadas lutas no “Centro Pugilístico Manoel Lacerda Franco” · onde a emoção estava a cargo de grandes pugilistas da época. Na noite de 24 de novembro de 1929 era cartaz o confronto entre Caetano e Huber. Os árbitros mais cotados à época eram Amadeu da Silveira Saraiva, pioneiro da aviação em São Paulo[2], Armando Silva e Moacyr Barbosa Ferraz que estavam à frente dos grandes espetáculos. Na mesma época se apresentava outros pugilistas em São Paulo: Klausner, Haki, Ítalo, Bellini, Antonio Portugal, Zanini, Estevan, Buttori, Peter Johnson.
ERA O AUGE DA "NOBRE ARTE" E APARECIAM AS ACADEMIAS DE PUGILISMO

Em 04 de Novembro de 1936 nascia a Federação Paulista de Boxe fundada, pelos Clubes Espéria, Palestra Itália (SE. Palmeiras), Associação Atlética Guarani, Clube de Regatas Tietê e São Paulo Boxing Clube que dava base aos pugilistas profissionais e amadores brasileiros disputarem títulos oficiais nacionais e internacionais.

Fontes:
Almanach Esportivo, 1929(com fotografias de Miguel Falletti, da "Gazeta")

"DIÁRIO" (em espanhol) artigo de 10 de Maio de 1929

Folha da Manhã, 25 de novembro de 1929

O Estado de São Paulo, 01 de abril de 1922

O Estado de São Paulo, 14 de junho de 1981

Oliveira, Taciano de  e Rosa, D. de Miranda : O Pugilismo. Imprensa Methodista, S. Paulo, 1924.

Zumbano, Waldemar : O Box ao Alcance de Todos. Editora Brasiliense Ltda., S. Paulo, 1951

H. Manteucci: Luzes do Ringue. Hemus, S. Paulo, 1988.


PROJETO DE LEI Nº 101, DE 2004: Dá o nome de "Professor Waldemar Zumbano" à Sala da Secretaria dos Cursos do Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, no bairro do Ibirapuera, São Paulo.

Documentário "Quebrando a Cara", de Ugo Georgetti , 1983.

Duarte, Orlando. A História dos Esportes. Editora Senac, SP, 2004.









[1] O maior boxeador brasileiro de todos os tempos, Eder “Zumbano” Jofre, nasceu em uma família de pugilistas: tanto por parte do pai, Kid Jofre (Aristides Pratt Jofre, chegou ao Brasil em 1928, oriundo de Buenos Aires, Argentina ) como por parte da mãe Angelina Zumbano, da família dos pugilistas Waldemar Zumbano, Ralph Zumbano e Antonio Zumbano (Zumbanão) Waldemar Zumbano foi técnico da equipe brasileira de boxe para os Jogos Pan-Americanos de 63. O Ginásio do Pacaembu  criado em 1940 “assistiu” lutas de brasileiros de nível internacional, como Atílio Lofredo e Antônio Zumbano. Zumbanão foi o primeiro grande astro do boxe brasileiro, ficando absoluto de 1936 a 1950, realizando cerca de 140 lutas, ganhando muitas  por nocaute.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sou descendente de Jack Marin, sua bisneta, e me emocionei ao ver um pouco da história de meu bisavô documentada, já que o que sabemos vem das passagens contadas pela minha avó, Zuca. Obrigada. Ana Lídia Guerra

camila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.