História publicada originalmente em 11/03/2014 no site da Secretaria da Cultura: saopaulominhacidade
Da diáspora dos italianos no ano de 1891, dos
105.839 imigrantes que vieram na custódia do Governo Central (Federal) e dos
697 que adentraram por exclusividade do governo de São Paulo, havia entre eles
o grupo familiar dos Fatorelli.
Tudo converge para uma partida marítima do Porto de Gênova, no ano de 1891, de comunas unificadas em cidades que deram origem ao Estado Italiano, por força e mérito de Giuseppe Garibaldi e outros abnegados que lutaram para a unificação da Itália.
Evidentemente que nestes locais estavam repletos de diaristas que trabalhavam a terra e plantavam para manter o sustento por jornada trabalhada em terras de grandes proprietários. Eram tempos difíceis, não existiam mais as terras comuns onde esses trabalhadores podiam cultivar uma determinada gleba e dela tirar algum provento e sustento. A Europa estava em efervescência política e existia um excedente de mão de obra perambulando para cima e para baixo a procura de local para se trabalhar no meio rural ou se deslocando para as cidades a procura de alguns afazeres. Nem as ferramentas pertenciam aos agricultores e sim ao senhor que perpetuava a vassalagem e controlava os meios de produção. A situação era insuportável e os governantes e seus estados unificados estavam à beira de um colapso social, quando aparece a oferta de terras do Império do Brasil que necessitava de mão de obra para a lavoura, mais propriamente para a produção cafeeira.
Estava formado o que passou a ser a “grande diáspora de imigrantes italianos” para o Brasil, em busca de terras que pudessem trabalhar e encontrar esperança e um pouco de felicidade.
Deste modo uma leva de 132 famílias de imigrantes italianos partiu do Porto de Gênova, Itália, com o pouco que puderam amealhar, provavelmente velejando no Atlântico por três semanas na terceira classe que tinha preços módicos e possível de ser paga por famílias inteiras; chegando ao porto de Santos no “Vapor Santa Fé”, em 21 de outubro de 1891, onde estavam entre eles os Fatorelli, que na relação fornecida estava com a grafia errada como Fattorello. Traziam em seu bojo vontade de trabalhar onde os genitores Luigi Fatorelli e Carolina Tedesca, sobrenome referindo a uma possível ascendência germânica, ambos com a idade de 59 anos e que se responsabilizavam pelos filhos Rosina de 15 anos, Gaetano de 12 anos, e Virgílio (ou Vergílio) de apenas 9 anos. Estes dados se encontram dos Arquivos do Memorial do Imigrante, livro 029, página 057. Eram naturais da Província de Verona, região de Vêneto.
“Os vênetos” não saem com a esperança de voltar, como os do Sul. Saem se desfazendo de tudo, de seus animais e dos parcos utensílios domésticos, partem depois da colheita do trigo, no outono, entre setembro e novembro”. Adicionam assim ao escasso pecúlio obtido com a venda de seus bens, o produto de venda dos gêneros agrícolas.” (ALVIM, Zuleika M.F. Brava Gente! Os Italianos em São Paulo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986)
Houve uma adaptação local para que os imigrantes tivessem acompanhamento médico e social na Hospedaria do Imigrante, sito à atual Rua Visconde de Parnaíba, 1316 - Brás, São Paulo - SP, de onde deveria seguir para as fazendas que deveriam trabalhar na lavoura por contratos assumidos pela Sociedade Promotora D’ Imigração de São Paulo.
Perdeu-se no meio do caminho um dos dois “Ts” do nome Fattorelli, pois o mesmo resulta do termo “fattoria” com o significado de fazenda, ou pessoas que estão no meio agrícola de produção, serviço braçal mesmo.
Muitos se desenvolveram em camadas subalternas, aquelas profissões que poucos queriam exercer ou era de baixa remuneração ou algumas outras que já traziam no bojo da experiência da Península e de estrito trabalho urbano entre os quais estavam os sapateiros, cocheiros, carregadores, cavadores, pedreiros, marceneiros, ferreiros, barbeiros, alfaiates, sapateiros. Outros enveredaram para o comércio e constituíram grandes empresas de distribuição varejista.
Muitos não tiveram como arcar com dívidas contraídas da viagem para o Brasil, mais precisamente em São Paulo, e neste grupo estavam os Fatorelli(s) remanejados para as fazendas da Comarca de São Carlos mantiveram-se presos ao sistema por dívidas contraídas de translado. Embora muitas viagens fossem custeadas, poucos tiveram este privilégio e tiveram que pagar com trabalho as dívidas assumidas.
Vieram “rastelar” o “ouro negro” em substituição ao escravo liberto por Lei Áurea do Império, diga-se que foi o último país a dar esta condição de liberdade aos negros, uma infâmia que manchou a reputação de país “livre e independente”. Perdendo a mão de obra escrava em 1888 não restava outra alternativa se não “importar” outra mão de obra disponível em substituição àquela que estava disponível até então, onde os escravocratas descontentes com o Império fomentaram a República em 1889!
Virgílio, o filho mais novo de Luigi, já falecido nesta época, resolveu se casar em 1909 com Maria Italiana, uma jovem colona nascida em 1889, natural de Napoli, filha de Michele Italiano e de Magdalena Lunarda. Irão começar vida nova em Taquaritinga e formarão uma prole de cinco filhos, a saber: Hermínia, Ernesto, Rosa, Madalena, que atendia pelo nome carinhoso de Nena, e João para ajudar na lida diária e nas fazendas de café.
Fica a indagação: o que fez a família se deslocar de São Carlos (denominada à época com o complemento do Pinhal) para a região de Taquaritinga e Catanduva, pela ferrovia Araraquarense, com aproximadamente 100 quilômetros de distância? Já havia um prenúncio da derrocada do café e buscavam-se novas culturas em outras fazendas e isto seria o atrativo maior de deslocamento da família Fatorelli? Quem sabe?
Em 12 de abril de 1916, nasceu Ernesto Fatorelli, que por ser o homem mais velho assume as obrigações de primogênito trabalhando com toda a família nas fazendas, que não davam a estrutura educacional suficiente para crianças e jovens, pois ensinavam somente “as primeiras letras” para “male-male” saberem assinar o nome e para rubricar garranchos em papéis e obrigações assumidas.
Deste modo, depois de algum tempo, e com muito sacrifício a família resolve vir para a capital paulista em 1940, quando o pai Virgílio Fatorelli já havia falecido. Fixa-se residência no terreno da Igreja São Dimas, antes denominada Nossa Senhora das Graças, na Vila Nova Conceição, de onde começaram vida nova na cidade de São Paulo.
Ernesto Fatorelli, depois de dez anos em São Paulo une-se ao cônjuge de origem portuguesa, Elsa Mello dos Santos e no ano de 1954 desloca-se para Santo Amaro, mais precisamente num bairro nos arrabaldes denominado Jardim São Luiz. São Paulo se formava como uma grande Metrópole e oferecia novas oportunidades e havia uma mão de obra excedente no meio rural que se deslocaram para novos desafios.
Nova etapa de uma saga ainda incompleta que muito tem que ser desvendada por muitos Fatorelli(s) espalhados por São Paulo e outras localidades do Brasil, em uma busca constante e um estímulo às sábias e novas gerações que podem dar respostas neste segmento da “arqueologia histórica” sobre as várias famílias que detém o sobrenome Fatorelli.
Vide crônicas nos links:
A DIÁSPORA DOS
IMIGRANTES ITALIANOS: SÃO PAULO (1)
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2012/11/a-diaspora-dos-imigrantes-italianos-sao.html
A DIÁSPORA DOS
IMIGRANTES ITALIANOS: SÃO PAULO (2)
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2015/07/a-diaspora-dos-imigrantes-italianos-sao.html
A DIÁSPORA DOS
IMIGRANTES ITALIANOS: OS BRACCIANTI EM SÃO PAULO (3)
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2013/03/a-diaspora-dos-imigrantes-italianos-os.html
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