Ato
Contraditório: há ou não despojos na Cripta da Sé de São Paulo?
Não há como recuperar toda a história,
mas nos deparamos com certas circunstâncias que nos fazem vagar pelo instante
contemporâneo. Na Cripta da Catedral de São Paulo, estão os restos mortais de
alguns ilustres homens da historiografia da Cidade de São Paulo e de bispos que
foram responsáveis de organizar a diocese que se tornou referência nacional
para a estrutura eclesiástica.
Breve relato
sobre o padre jesuíta Bartolomeu Lourenço
de Gusmão
Entre estes ilustres está na cripta da
Sé de São Paulo o padre jesuíta
Bartolomeu Lourenço de Gusmão que nasceu na Vila paulista de Santos em 1685,
seguindo ainda muito jovem para a carreira eclesiástica. Na Bahia, completou o
curso de Humanidades e se filiou à Companhia de Jesus. Foi um estudioso de
vários campos científicos como astronomia, mecânica, física, química de onde
retirou as bases cientificas de sua invenção Foi criador de um objeto que
alçava voo movido por ar quente que foi apresentada a d. João V e à Casa Real. O
aeróstato, balão enchido de ar aquecido, ascendeu em 8 de agosto de
1709, indo pousar
no pátio da Casa da Índia, no Terreiro do Paço, em Portugal, após duas
tentativas anteriores. Deste modo era apresentado o engenho do “mais leve que o
ar” idealizado pelo Padre Voador, que, no entanto, nele não voou[1],
mas teve publicação dos desenhos
no periódico Wienerische Diarium de 1709, dando deste modo o crédito
inventivo a Bartolomeu
Lourenço de Gusmão.
Este invento ficou conhecido como Passarola, por
ter aparência de pássaro e também chamada de Balão de São João, em alusão ao
rei. Faleceu em
1724 e foi sepultado na Igreja de San Roman, em Toledo, Espanha.
Restos Mortais de Bartolomeu Lourenço de Gusmão
O Brasil interessou-se
na década de 1960 que os restos mortais de Bartolomeu
Lourenço de Gusmão fossem transladados para São Paulo e
não foi medidos esforços de uma comissão para a referida empreitada a cargo do
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e Fundação Santos Dumont, mas
houve dificuldades em encontrar os restos mortais do Padre Voador!
“Seus restos mortais só
retornariam ao Brasil em 1966. Foram guardados no Museu de Aeronáutica,
localizado no Parque do Ibirapuera, depois em uma igreja em Cotia, então no
Mosteiro de São Bento, na capital paulista, e por fim na cripta da Catedral da
Sé, onde divide o subterrâneo com bispos de São Paulo, os despojos do índio
Tibiriçá (o defensor da cidade) e os ossos do Padre Feijó (o tutor da Pátria).
Ali, no mês de agosto, a FAB comparece para missa solene em homenagem ao Pai da
Aeroestação”. (O ESTADO DE SÃO PAULO, 06
de novembro de 2010)
O que
realmente foi descoberto sobre os restos mortais do padre jesuíta Bartolomeu Lourenço de Gusmão, pela
comitiva enviada para esta finalidade em 1965?
“Sábado passado, dia 6, no Instituto Histórico
e Geográfico de São Paulo, em sessão presidida pelo acadêmico Aureliano Leite,
o veterano aviador, comandante Amadeu da Silveira Saraiva, depois de brilhante
improviso, incisivo discurso bem concatenado e erudito, entregou oficialmente ao sodalício duas lascas de mármore das lápides
das antigas sepulturas de Alexandre e Bartolomeu de Gusmão. Trouxe-as da Espanha, depois de se inteirar
definitivamente que os ossos, os restos mortais de Bartolomeu de Gusmão não
poderão jamais ser encontrados, pois foram jogados em uma urna em que a enorme
promiscuidade os desindentificou. Dessa forma, não será possível haver como
era desejo da Prefeitura Municipal de Santos e da Fundação Santos Dumont,
transladar o corpo do “padre voador”, o homem que fez um balão alçar-se no
espaço, no velho salão do Palácio das Índias, em Lisboa, perante o rei de
Portugal e o núncio apostólico que seria mais tarde Sua Santidade o Papa
Inocêncio XIII”. (O Dia, São Paulo, 10
de fevereiro de 1965)
O
Estado de São Paulo, em 7 de fevereiro de 1965
completava ainda com a seguinte colocação ao traslado dos restos mortais do padre
Bartolomeu Lourenço de Gusmão:
-Impossível a
transladação
É
impossível a transladação para o Brasil das cinzas Bartolomeu Lourenço de
Gusmão, o padre-voador, inventor dos aeróstatos e de seu irmão, Alexandre
Gusmão, o notável diplomata do século XVIII, a cujo crédito se deve o Tratado
de Madrid, fixador de nossas fronteiras. Esta informação
anunciada oficialmente na sessão de ontem do Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo, que, juntamente com a Fundação Santos Dumont e com a Câmara
Municipal de Santos, se interessa pela transladação dos restos daqueles dois
ilustres santistas.
-Esclarecimento
Presidindo a sessão o
Dr. Aureliano Leite, antes de dar a palavra ao Sr. Amadeu Saraiva, que esteve
há pouco na Espanha e em Portugal, credenciado para promover tal transladação,
esclareceu que ele e o prof. Tito Lívio Ferreira já tinham verificado a
impossibilidade no tocante a Alexandre de Gusmão, a qual fora comprovada pelo vice-presidente
da Fundação Santos Dumont.
Quanto a missão
cometida ao Sr. Amadeu Saraiva falou também o presidente da FSD, Sr. Ribeiro de
Barros.
-Diligências
Com a palavra, o Sr.
Amadeu Saraiva começou por narrar o que fizera em Toledo. Disse da dificuldade
que teve de encontrar a igreja de San Roman onde está sepultado o padre-voador,
falecido naquela cidade, então capital, em 1724. Estivera em viagem àquele
templo em 1954 e agora quase não o conheceu, uma vez que está passando por
restauração que visa repô-lo no seu primitivo estado. Verificou também que as cinzas de Bartolomeu de Gusmão, que jaziam em
uma urna em um dos altares, assinalada por um placa, foram reunidas as de mais
de duzentas pessoas, e colocadas todas sob a nave central da igreja. Impossível,
pois, separá-las, como lhe declarou o cardeal de Toledo e primaz da Espanha, em
audiência que lhe concedeu. Diante disso, com autorização das autoridades
eclesiásticas, trouxe para os museus do Instituto Histórico e da Fundação
Santos Dumont, pedaços do mármore da igreja de San Roman, como símbolo dos
restos do padre-voador. No templo, porém, a placa alusiva será mantida, dela
constando as datas e os locais de nascimento e morte do padre santista.
Em Lisboa, conseguiu
primeiramente o Sr. Amadeu Saraiva localizar e obter uma certidão de óbito de
Alexandre de Gusmão, com o que se dissipara as dúvidas sobre a data de sua
morte-30 de dezembro de 1753-pois a certidão consta que foi enterrado em 31.
Pela certidão, verifica-se que o notável diplomata que foi secretário de D.
João V, morreu de um “estupor” pelo que não pode receber os sacramentos. Foi
enterrado no Convento de Nossa Senhora dos Remédios.
Epitáfio no átrio da igreja de San Roman em Toledo, Espanha:
Neste templo de São Roman mártir repousam os
restos de Dom Bartolomeu Lourenço de Gusmão
presbítero português nascido na cidade de Santos- Brasil -
no ano de 1685, primeiro inventor do aeróstato.
Faleceu nesta capital a 19 de novembro de 1724.
Existe interesse do Instituto
Histórico e Geográfico de Santos, em requer a urna dos restos mortais
repousadas na Arquidiocese de São Paulo dos irmãos Gusmão como citado em O
Estado de São Paulo, em 7 de fevereiro de 1965, no titulo da matéria
jornalística “Ventos na contramão”:
“... poucos se deram conta da presença do Padre
Voador na missa realizada na cripta em meio a colunas, arestas, balaustradas e
esculturas de São Jerônimo e Jó. Mais do que a extrema discrição, incomoda a
alguns santistas, em especial a Paulo Monteiro, presidente do Instituto
Histórico e Geográfico de Santos, a insistência da Arquidiocese de São Paulo em
manter a urna do padre em subsolo da capital”.
Fica a indagação sobre
o que há nos despojos do padre jesuíta Bartolomeu Lourenço de
Gusmão, depois deste processo investigativo do momento de translado feito por
dignas instituições que promoveram tal empreitada.
O que há de fato depositado
na Cripta da Arquidiocese de São Paulo do padre jesuíta Bartolomeu
Lourenço de Gusmão?
Referências:
O
Dia, São Paulo, 10 de fevereiro de 1965
O
Estado de São Paulo, 7 de fevereiro de 1965
O Estado de São Paulo, 4 de abril de 1965
O Estado de São Paulo, 4 de abril de 1965
O ESTADO DE SÃO PAULO, 06 de
novembro de 2010
Complementos:
[1] Balão
de ar quente “Montgolfières”: O feito de um balão tripulado coube
aos irmãos Joseph Michel Montgolfier e Jaques Étienme Montgolfier
que construíram o balão exibido-o publicamente em 5 de junho de 1783, na comuna
de Annonay, na França, que se ergueu do chão 300 metros, durante cerca de 10
minutos voando uma distância de aproximadamente 3 quilômetros. Foi apresentado
ao Rei Luís XVI e a Rainha Maria Antonieta, no dia 19 de setembro de 1783, onde
os “pilotos” Pilatre de Rozier e François Laurent voaram por 25 minutos percorrendo
aproximadamente 9 quilômetros. O invento dos irmãos Montgolfier, parece ter
sido cópia do invento de Bartolomeu de Gusmão, que ao ir para a Espanha deixou
seus planos inventivos com seu irmão Alexandre de Guasmão, notório diplomata servindo a Corte
portuguesa, em 1715 como secretário da Embaixada portuguesa, na corte de Luís
XV, em Paris e de relevantes préstimos no Tratado de Madrid, assinado em 13 de janeiro
de 1750, entre Portugal e Espanha, mantinha estreitas relações de amizade em
Paris com o cientista José de Barros amigo pessoal dos Montgolfier.
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