O QUE EU VI O QUE NÓS VEREMOS
Em São Paulo, no ano de 1904 foi idealizada a Inspetoria de Veículos[1] que computou em seus registros 84 automóveis na capital paulista. Neste mesmo ano foi expedida na capital paulista a primeira carta de “chaufer”, ou motorista, concedida a Menotti Falchi, proprietário da Fábrica de Chocolates Falchi. Era o primeiro titular habilitado a receber a "carta de condutor" para dirigir automóveis no Brasil.
Eis as razões do peticionário:
Por esse documento ficamos sabendo que existia um segundo carro na cidade de São Paulo, em 1901. Consta ainda nos registros de transito paulistano que o segundo veículo automotivo a circular por São Paulo, em 1898, e pode ter pertencido ao Conde Álvares Penteado.
O barulhento e sacolejante triciclo Patent-Motorwagen criado por Karl Benz, começava a plantar uma semente em 3 de julho de 1886 quando enfrenta sua primeira rua e atinge14 km/h. Benz, cercado por um time de dedicados inventores como Daimler, Otto, Maybach, os irmãos Duryea, os Michelin, Dunlop, Goodyear, Louis Renault e Armand Peugeot tratou de promover uma virada no século em matéria de invenções automobilísticas.
O primeiro automóvel chega ao Brasil em São Paulo, importado pela família Dumont. Aos 18 anos Alberto Santos Dumont, viaja com a família para a França, a bordo do vapor Elbe, onde o pai pretende curar-se da hemiplegia freqüentando as termas de Lamalou-les-Bains. Visita a Exposição do Palácio das Indústrias e pela primeira vez, vê um motor de combustão interna. Fica maravilhado e diz mais tarde:
“Qual não foi o meu espanto quando vi pela primeira vez um motor a petróleo, da força de um cavalo, muito compacto e leve, em comparação aos que eu conhecia... funcionando! Parei diante dele, como que pregado pelo destino”.
Maravilhas como aquela andam já pelas ruas, dentro dos raros automóveis que circulam. Alberto compra um Peugeot. Não era fácil, em 1890, adquirir um carro: é ele quem confessa em seu livro “Meus Balões”. Teve que percorrer várias usinas procurando o melhor. Acabou, em 1891, comprando uma Peugeot. Foi um dos primeiros fregueses da fábrica francesa, acompanhado de seu pai, o fazendeiro de café Henrique Dumont, que na viagem se apaixonou pelos veículos movidos a motores de combustão interna.
"Os automóveis eram muito raros em Paris em 1891 e tive de ir à usina de Valentigney para comprar minha primeira máquina, um Peugeot de rodas altas, de 3,5 cavalos de força. Daí para frente tornei-me adepto fervoroso do automóvel. Entretive-me em estudar os seus diversos órgãos e a ação de cada um. Aprendi a consertar a máquina e quando, ao fim de sete meses, minha família voltou ao Brasil, levei comigo minha Peugeot".
Foi adquirido por 1200 francos, e trazido a bordo do navio Portugal, que aportou na cidade de Santos, em novembro de 1891, com a família indo residir em uma casa da Rua Helvetia, em São Paulo.
Um automóvel Peugeot Type 3 circulou pelas ruas de São Paulo em 1893, fazendo um giro pela Rua Direita, no então refinado Centro de São Paulo. Pertencia a Henrique Santos Dumont, irmão do celebre aviador Alberto Santos Dumont.
Ainda estavam desenvolvendo o veículo que pela combustão interna lança grande descarga de fumaça pela queima do combustível, além de ruído do motor, que causa espanto ao passar o “automobile”. Para Santos Dumont o motor é o que mais interessa, qual o aproveitamento futuro para novas possiblidades. Regressa a França, e aos 18 anos é emancipado pelo pai, documentado no 3.º Tabelião de Notas da cidade de São Paulo. Vai o pioneirismo de Santos Dumomnt combinar um balão com o “novo” motor de explosão, nascendo o Santos Dumont n.º 1. Fixa residência em Paris em 1897, onde constroi um hangar em Saint Cloud. Adquire outro automóvel tipo "Panhard", com o qual foi de Paris a Nice em 54 horas de viagem. Para experimentar um motor a explosão de dois cilindros que havia construído, adaptou-o a um triciclo com o qual acompanhou uma parte da corrida de automóveis entre Paris e Amsterdam. Em 18 de setembro 1898 faz a experiência com o Santos Dumont n.º 1, no Jardim da Aclimação, em Paris; primeira vez que um motor a explosão interna é adaptado a um veículo aéreo.
A necessidade de uma entidade ligada aos veículos motorizados fez com que fosse fundado em 1908 o “Automóvel Club de São Paulo”, que no mesmo ano idealizou a corrida “Bandeirantes sobre rodas de Borracha”, no circuito de Itapecerica da Serra.
Diante do número de veículos circulantes pelas ruas paulistanas, exigiu-se medidas por parte do governo de Washington Luís. Criou-se o policiamento de trânsito, com homens bem equipados que além de uniformizados a caráter para a finalidade ainda tinham que usar acessórios como luvas e polainas brancas à moda inglesa, completada pela montaria de cavalos adestrados. Os “guardas”[2] deste modo dirigiam o tráfego de veículos e pedestres.
Casarão da Família Santos Dumont, Campos Elíseos, São Paulo: Alameda Cleveland, 601. O imóvel pertence hoje à Fundação Patrimônio Histórico da Energia. O casarão foi por muitos anos residência de Henrique Santos Dumont, filho de Henrique Dumont, o Rei do Café, e irmão de Alberto Santos Dumont, o inventor do avião. Localiza-se nos Campos Elíseos, primeiro bairro com planejamento urbano em São Paulo, arruado em 1879.
O primeiro prefeito da República em São Paulo, Antonio da Silva Prado[3], de família tradicional de cafeicultores e idealizadores mais tarde da Companhia Paulista, ferrovia que fez frente ao monopólio ferroviário inglês, achou por bem regulamentar os veículos exigindo pela lei Nº 493 de 26 de outubro de 1900, que os mesmos usassem placas de identificação mediante pagamento de taxa obrigatória a favor municipal que regulamentava os automóveis.
Essa taxa foi questionada por Henrique Santos Dumont e alegou que as ruas da cidade estavam em condições precárias para circulação dos novos veículos e deste modo requereu a isenção datado de 1901, e baixa do lançamento do imposto sobre seu automóvel.
Eis as razões do peticionário:
“...o suplicante sendo o primeiro introdutor desse sistema de veículo na cidade, o fez com sacrifício de seus interesses e mais para dotar a nossa cidade com esse exemplar de veículo “automobile”; porquanto após qualquer excursão, por mais curtas que sejam, são necessários dispendiosos reparos no veículo devido à má adaptação de nosso calçamento pelo qual são prejudicados sempre os pneus das rodas. Além disso o suplicante apenas tem feito raras excursões, a título de experiência, e ainda não conseguiu utilizar de seu carro “automobile” para uso normal, assim como um outro proprietário de um “automobile” que existe aqui também não o conseguiu”.
Por esse documento ficamos sabendo que existia um segundo carro na cidade de São Paulo, em 1901. Consta ainda nos registros de transito paulistano que o segundo veículo automotivo a circular por São Paulo, em 1898, e pode ter pertencido ao Conde Álvares Penteado.
Além do mérito histórico dessa petição do Dr. Henrique Santos Dumont o documento tem outra característica: é a primeira reclamação de um dono de automóvel ao poder público contra as más estradas e as ruas em péssimo estado de conservação.
A crítica a administração não agradou o prefeito que providenciou a cassação da licença para Henrique Santos Dumont, perdendo o direito de possuir a placa P-1, a primeira usada em automóveis, que passou em 1903 o automóvel pertencia ao industrial Conde Francisco Matarazzo, ano em que a cidade possuía 16 automóveis registrados.
Em 1903, baixou-se o ato Nº 146, tornando obrigatórios o licenciamento e a inspeção dos veículos e estabelecendo também os limites de velocidade no município, regulamentando a velocidade máxima dos veículos que não deveria exceder “a de um homem a passo” nos locais com aglomeração de pessoas; podendo exceder aos 12 km/h nas ruas da cidade; 20 km/h nos locais habitados e a 30 km/h em campo raso.
O ESTADO DE SÃO PAULO 01 de abril de 1911 - Multas aplicadas aos condutores que infringiam as normas de tráfego na cidade.
Este mercado atraiu a empresa Ford que decidiu em 1919 trazer a montadora para o Brasil. O próprio Henry Ford sentenciava: "O automóvel está destinado a fazer do Brasil uma grande nação". A primeira linha de montagem e o escritório da empresa foram montados na Rua Florêncio de Abreu, centro da cidade de São Paulo, em 1920. A Ford começou a montar automóveis no país[4], sendo as peças importadas da matriz.
Este mercado atraiu a empresa Ford que decidiu em 1919 trazer a montadora para o Brasil. O próprio Henry Ford sentenciava: "O automóvel está destinado a fazer do Brasil uma grande nação". A primeira linha de montagem e o escritório da empresa foram montados na Rua Florêncio de Abreu, centro da cidade de São Paulo, em 1920. A Ford começou a montar automóveis no país[4], sendo as peças importadas da matriz.
Em 1925, foi a vez da “General Motors do Brazil” abrir sua fábrica no bairro paulistano do Ipiranga. Meses depois já circulava o primeiro Chevrolet. As Primeiras fábricas do ramo automotivo no Brasil, só montavam seus automóveis aqui e não produziam suas peças. Era conhecido como Sistema CKD[5].
Muitas coisas aconteceram na “revolução industrial tardia” no Brasil. Na atualidade a cidade de São Paulo possui uma frota que excede a 7 milhões de veículos registrados e que ocupam espaço de 25 % de área construída somente para estacionamentos. São os avanços tecnológicos e as facilidades que controlam o mercado de consumo da modernidade sem limites na busca do bem estar aparente.
Vide:
Portal do Governo do Estado de São Paulo: http://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/historia_republica-industria-automobilistica
CEDOC - Centro de Documentação da Indústria Automobilística: http://www.anfavea.com.br/cedoc.html
[1] A Inspetoria de Veículos era composta de funcionários municipais auxiliados por guardas civis e/ou soldados da Força Pública.
[2] 1831: Criada pelo regente Feijó e pelo brigadeiro Tobias de Aguiar a Guarda Municipal Permanente
1837: A guarda se transforma em Corpo Policial Permanente
1866: Com o engajamento do corpo policial na Guerra do Paraguai, a polícia passa a ter o nome de Corpo Policial Provisório
1871: Com o fim da guerra, volta a ter “Permanente” no nome
1891: Após a proclamação da República, vira Força Pública
1901: Vira Força Policial
1905: A corporação volta a ter o nome Força Pública
1837: A guarda se transforma em Corpo Policial Permanente
1866: Com o engajamento do corpo policial na Guerra do Paraguai, a polícia passa a ter o nome de Corpo Policial Provisório
1871: Com o fim da guerra, volta a ter “Permanente” no nome
1891: Após a proclamação da República, vira Força Pública
1901: Vira Força Policial
1905: A corporação volta a ter o nome Força Pública
[3]O Conselheiro Antonio da Silva Prado, foi intendente da cidade de São Paulo tomando posse em 7 de janeiro de 1899, e tornou-se o primeiro a receber o título de prefeito, em 1898, quando os poderes legislativo e executivo se separaram. Permaneceu no cargo por doze anos, até 15 de janeiro de 1911, o mais longevo administrador do municipio de São Paulo. Foi empresário, grande cafeicultor e presidente da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sendo a família a grande acionista da empresa. Em sua administração foram feitas obras de relevância para a capital paulista como o Teatro Municipal, o Viaduto do Chá, a Estação da Luz da São Paulo Railway e a construção da Avenida Tiradentes.
[4] A Ford e seu Modelo T, ficaria famoso por ter "dado rodas à América". As linhas de montagem barateavam custos e a aceitação popular foi grande.No final da década de 20, (século 20) Henry Ford resolveu criar uma filial no Brasil. Com capital inicial de US$ 25 mil, depois aumentado para US$ 30 mil, em 1° de maio de 1919, instalou-se uma linha de montagem de componentes importados e um escritório na rua Florêncio de Abreu, Centro da Capital. No ano seguinte, mudou-se para a Praça da República e, em 1921, para o Bom Retiro.
[5] CKD( Completely Knock-Down ou Complete Knock-Down,) são conjuntos de partes de automóveis criados geralmente pela fábrica matriz ou pelo seu centro de produção para exportação e posterior montagem dos veículos nos países receptores destes kits, geralmente fábricas menores ou com produção reduzida.
Sem comentários:
Enviar um comentário