domingo, 17 de abril de 2011

O PERTENCIMENTO E ACEITAÇÃO

A INVESTIGAÇÃO E A CONSIDERAÇÃO NA HISTORIOGRAFIA

Interagir com o local em que você está, não pertencendo ao mesmo e não vivendo ali, sente-se "cheiro" o pertencimento de outros que possuem identidade com o local. A resposta a isso, de estar, permanecer no “lugar” deve ser entendido como aceitação.

Esta “aceitação” nunca é imediata, leva tempo para amadurecer, as pessoas estudam o comportamento, nos primeiros contatos. Não pertencemos somente porque nascemos em determinado espaço, mas porque participamos deste espaço. Evidente que laços iniciais da terra natal, nosso primeiro habitat, deixam marcas, mas não determinam que se faça parte do lado de cá do rio, nem do lado de lá do rio, estamos “dentro do rio”.

Para ser um investigador em história precisa-se desarmar de tudo. Sem prévios conceitos de nossas convicções e penetrar no universo dos outros, a alteridade, aceitação das diferenças, mesmo que ela pareça estranha a nossa ótica. A historiografia investigativa de fatos tem que se despojar de modelos antigos, paradigmas arcaicos, e acompanhar o evolutivo do meio sem interferir no processo do objeto estudado, pois este universo nos é diferente e real, e por este motivo não se deve interferir, pois “ainda” não temos o controle dos movimentos daquela sociedade e somos “sapo de fora”, “água fora do côco” e outros adjetivos também de qualificação, pois também somos o objeto de estudo pelos locais, àqueles que possuem a identidade.

Quando se estuda antropologia vemos essa visão que o processo científico deve ter, onde não se deve interferir naquilo que é um processo e objeto de estudo, e esse objeto já é um “acontecimento” e não somos sujeitos daquele momento, e, por este motivo devem-se respeitar outros momentos e outras culturas.

Seria importante estudar a historiografia com critério analítico e ter postura em saber o que é objeto e sujeito da história. A antropologia e a sociologia são ramos que fazem o pesquisador se despir de sua casca, de sua vestimenta de seu olhar de juiz da história, e jamais, no final, de um trabalho usar palavra “conclusão”, mas formar um epilogo com o termo “consideração”, pois nada é conclusivo e determinantemente imutável.

O historiador aprende estudando e se exercitando na prática destes movimentos para tornar-se um investigador existencialista e saber a diferença entre “sua” contemporaneidade e a dos “outros”, também contemporâneo em outro espaço determinado, despojando-se de critérios subjetivos de valores arcaicos da análise imediata do ”o inferno é o outro”(Sartre). Outro fato importante é a aceitação e como se adaptar a um modelo diferente do nosso e participar naquilo do qual queremos saber ,e que não possuímos conhecimento total e por vezes nenhum?

Num primeiro instante o meio estudado rejeita nossa interferência, porque somos um corpo estranho nesse espaço, e também estamos sendo estudados também em nossos interesses e que o outro lado não possui comprometimento conosco precisando a aceitação daquilo que se entendo por confiança.

Os pudores se confrontam e se moldam a medida do tempo de exposição em que se participa deste espaço, o lugar onde esta o objeto de nosso interesse. O homem somente se movimenta pelos desejos (Lacan) e é isto que transporta o estudo científico para outros locais, independente do que se pretende, ou por satisfação pessoal, se auto-afirmar e firmar, ou até material, sabendo “discernir o joio do trigo”, sem se deixar levar por vaidades que desviam o foco e prejudica todo o trabalho estudado, embora a determinante seja a subjetividade do pesquisador que possui características de apresentação de sua ótica, mas deve-se retratar o fato não conclusões pessoais que estão intrínsecos no objeto, pois a imaterialidade também é um campo vasto, é de certo modo mais legível ao olhar analítico, elaborando se metas de organogramas e cronogramas, isso é assim, este não, aquele pode, este não, sempre com nossa subjetividade, pois expomos um momento “inexistente” para nosso pensar, nós não participamos daquele instante, logo aceitamos “escutar”até as fantasias, próprias do narrador, este sim, faz de sua explanação seu entendimento de determinado momento vivido, pode se enganar e florear ao seu bel prazer, mas o fato é que não existe materialidade, e por isso estuda -se como fonte de pesquisa de oralidade histórica que pode se tornar historiografia quando se recolhe uma segunda, ou mais, visão colocada na oralidade de uma outra pessoa do meio estudado; neste momento deve haver a separação daquilo que é comum do que não coincide, e no caso separa-se para em outro instante investigar, muitas vezes num espaço outro com outro depoimento que possa ocorrer. A isto os grandes catedráticos chamam de investigação cientifica, um “crime” que precisa ser solucionado e não deixar dúvidas dos fatos, e colocar isso nos autos, fazendo parte da historiografia da realidade de um recorte do tempo em determinado espaço. Além de tudo precisa paciência, não ser aflitivamente momentâneo na busca do resultado e isso compete aceitar as condições oferecidas pode ser um castelo ou um casebre, sem interferências naquilo que nos oferecem como condição naquele momento.

Por fim, buscar na diversidade o campo fértil oferecido pela história, que parece apenas relatos de momentos, mas faz parte da existência humana, aprendizado repassado por gerações. Yoshihiro Francis Fukuyama, em abordagem filosófica citou, como Hegel também o fez, a idéia do “fim da história”, mas dos processos de mudanças que marcaram profundas transformações da existência humana que busca o equilíbrio das ações, talvez sem previsão das forças naturais que ditam outra regras transformadoras de evolução, que pode muitas vezes ter outro processo e “involuir”, entrar num casulo de hibernação. A busca da ciência é por conhecimento pelo “progresso e verdade”, o grande drama que sacode as estruturas da humanidade, e a história é mera ferramenta desses momentos transformadores na aceitação do imutável e o que continua mutável, e que sintetiza-se e rotula-se como “bem estar” do que se procura como “felicidade”, onde a plena é utopia, neste campo vasto dos conflitos humanos, de uma urdidura de linhas que se encontram em um tecido, outras vezes se afasta para formar a fazenda rica em detalhes. Os gregos chamaram todo este emaranhado de “histos”, uma trama tecida e encontros de varias linhas e que formam o conhecimento deste tecido que possui a parcela de cada qual que pertenceu a um determinado momento e que faz parte da história.

A história tem que ser imparcial, não tem amigo nem inimigo, não pactua jamais com interesses de políticas escusas, e por isso fascina sempre.

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