domingo, 6 de março de 2011

Chácara Tangará, Parque Burle Marx e as ruínas da Capela de Santo Ignácio de Loyola

Onde "moram" as instituições de preservação do patrimônio histórico?

A Chácara Tangará localizada na Avenida Marginal do Rio Pinheiros, na entrada do Panamby, Morumbi é uma área 482 mil m2 da antiga fazenda da família Pignatari, com "reminiscência" de Mata Atlântica no planalto de São Paulo.

Por iniciativa de Baby Pignatari, industrial proprietário da Caraíba Metais e investidor nos aviões Paulistinha e de grande sucesso da década de 50, da família Matarazzo, foi edificado as construções do arquiteto Oscar Niemeyer e seus jardins foram idealizados pelo paisagista Burle Marx[1]. O local mais tarde foi adquirido pela administradora Lubeca, vinculada a Bunge y Born.
Evidentemente que um local aprazível teve interesse das empreiteiras para aprovação de projetos imobiliários, consentido por demandas municipais. Alguns ambientalistas e entidades civis solicitaram o tombamento junto aos órgãos oficiais, conseguindo manter um mínimo de preservação. Deste modo a chácara ficou protegida por legislação ambiental e seu parcelamento foi objeto de negociação com a Prefeitura, nascendo então o Parque Burle Marx, área pública com gestão privada, funcionando como reserva de valor favorecendo o empreendimento dos investidores imobiliários.
OBLITERAÇÃO:
(FAZER DESAPARECER UMA COISA, POUCO A POUCO, ATÉ DELA NÃO EXISTIR NENHUM VESTÍGIO)
Capela de Santo Ignácio de Loyola: Local Parque Burle Marx

Dentro do espaço do Parque Burle Marx há uma ruína anterior ao antigo proprietário e os atuais: trata-se da Capela de Santo Ignácio de Loyola.
RESISTIR AO TEMPO: ATÉ QUANDO?

O que se sabe desta antiga construção não é muita coisa, talvez uma edificação típica de meados do século XVIII, em taipa de pilão, técnica construtiva, de paredes grossas e anterior a alvenaria. Possuem três compartimentos, uma maior que seria propriamente a capela, um conjugado a primeira citação, que pode ter sido sacrário e o altar com uma porta de acesso na lateral a pequeno cômodo que talvez fosse a sacristia, local de uso exclusivo do pároco.
A construção em taipa de pilão, idealizada por algum "arquiteto" do passado, reunindo "construtores" que usavam as mãos como ferramenta em "sopapos" constantes possui ainda cobertura de telhas feitas a mão, sem um padrão industralizado tipo meia cana, com caída em duas águas. O terreno em que se encontra implantada a Capela de Santo Ignácio de Loyola é hoje cercado por grades como uma prisioneira, pode ter pertencido à antiga sesmaria de Afonso Sardinha, que se perdia de vista nas margens do Rio Jeribatiba (ou Jurubatuba, nome de estação da CPTM na atualidade) um rio caudaloso com 45 quilômetros de curvas ( hoje um canal de 27 Km) depois chamado dos Pinheiros, por ter em sua margem muitos “pinheiros do Paraná” (araucárias) e que deu origem ao aldeamento indígena Pinheiros, idealizado pelos jesuítas .
A origem da capela neste local é ainda obscuro, assim como a reverência a Santo Inácio de Loyola, talvez uma homenagem ao idealizador da “Companhia de Jesus” e por ser este local o caminho escolhido para acesso do litoral de Conceição de Itanhaém entrando para a boca de sertão onde a Serra do Mar é mais baixa em relação a São Paulo que possui 700 metros de altitude, e o local deste acesso em torno de 400 metros, com navegação possivel pela grande quantidade de rios e que originou Santo Amaro, Itapecerica, Embu, Carapicuiba e tantas outras até o marco do Pico do Jaraguá, das terras de Afonso Sardinha.

RAÍZES E BURACOS DA HISTÓRIA, LACUNAS INEXPLICÁVEIS POR CONTA DE OUTROS INTERESSES!!!


O Santo Ignácio

Inácio nasceu no castelo de Loyola em 1491, sendo o último dos 13 filhos de Dom Beltrán de Loyola e. Maria Sonnez. Aos 16 anos foi enviado como pajem ao palácio de Juan Velásquez de Cuellar, contador dos Reis Católicos, Fernando e Isabel, o que lhe permitiu contato com a corte de Espanha. Servindo as forças do rei, foi ferido em combate. Depois deste fato fez os votos Montmartre, o que marcou propriamente o início da Companhia de Jesus, estruturada nos moldes da obediencia militar onde uma companhia era geralmente conhecida pelo nome de seu capitão. Na Bula latina de fundação eles foram chamados “Societas Jesu”. Santo Inácio faleceu em Roma, no dia 31 de julho de 1556.

Considerações

O papel dos jesuítas foi também primordial nas demandas de penetração no território paulista onde brilharam os padres Manoel da Nobrega, José de Anchieta, idealizadores do colégio nas terras de Tibiriça, ou, mais tarde, o padre Belchior de Pontes nas terras de Ibirapuera, que perteciam aos guaianases do cacique Caiubi*, com alguma reminicência talvez em povos de aldeias em Parelheiros, Bororé.
Enfim, existe um lugar conhecido como Parque Burle Marx e outro “desconhecido” pelas instituições que cuidam do patrimônio histórico.
Afinal o que são quatro paredes de taipas de pilão da minúscula Capela de Santo Ignácio de Loyola em ruinas na zona sul, no Parque Burle Marx?
Restam, deste carnaval, onde tudo é liberado, as cinzas do descaso. Uma imagem vale mais que mil palavras!!!

Notas:

[1] Tombamento da Chácara Tangará: Processo: 27096/89, Tombamento: 10 de 6/4/94, publicado no Diário Oficial: 7/4/94. Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: Inscrição nº 28, p. 309, 23/5/1994.

*O Padre José de Anchieta dá a seguinte informação:"Em Piratininga, da Capitania de S. Vicente, Cay Oby, velho de muitos annos, deixou uma (mulher) de sua nação, também muito velha, da qual tinha um filho, homem muito principal e muitas filhas casadas, segundo seu modo, com Índios principaes de toda a aldeã de Jeribãtiba, com muitos netos, e sem embargo disso casou com outra que era Guayanã das do mato, sua escrava tomada em guerra, a qual tinha por mulher"

Da expressão Guayanã do mato e se infere em boa lógica que havia também em Piratininga o Guayanã do campo, o mesmo que o autor do Roteiro nos descreveu, que talvez fosse da mesma nação do velho Cay Obiy.

Crédito: Sampaio, Theodoro. 1897. A nação Guayanã da Capitania de São Vicente. Revista do Museu Paulista, vol. II, p. 115-128. São Paulo: Typ. a Vapor de Hennies Irmãos.

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