Um "Oriundi" do
desenvolvimento
Santo Amaro era um local
que atraia pequenos empresários da cidade de São Paulo e até do interior
paulista no início do século vinte.
Em 1909 o casal Afonso
e Rosa Bocchiglieri, de origem italiana, partiu de Sorocaba, onde residiram por
um período até se fixarem na capital de São Paulo, na Aclimação, em 1909. Seu
Afonso tinha o oficio a arte de mestre cortador de calçados e sapateiro. Os
filhos estavam enumerados na grande família, a saber: Luisa, Maria Gracia,
Antonio, José, Carmela, Lucinda, Judith e Paulino. Em companhia do filho
Antonio o patriarca tomou os rumos de Santo Amaro, um local aprazível, que em
suas virtudes estava o seu bom clima e local de vegetação exuberante. Santo
Amaro já possuía certa produção agrícola que abastecia parte dos mercados
locais e ainda fornecia parte de seu excedente para São Paulo sendo que já
mantinha uma linha férrea dos trens a vapor modelo alemão Krauss que ligava o
matadouro próximo a Rua São Joaquim onde fazia seu ponto final na Liberdade,
completando um trajeto de dezenove quilômetros até a cidade de Santo Amaro.
Deste modo o senhor Afonso
Bocchiglieri em 1914 vende suas propriedades e segue em direção a Cidade de
Santo Amaro, e fixa residência e oficina própria na Alameda Santo Amaro, nº 10.
O filho Antonio, nascido
em Sorocaba em 26 de dezembro de 1895, chega à Santo Amaro muito jovem e aos
poucos participa da vida social da “cidade” e se torna sócio do pai em 1920 no
empreendimento da família denominada “Manufatura de Calçados Progresso” que
fornecia calçados nas redondezas e para operários da construção da Usina
Piratininga e da Estrada de Ferro Sorocabana. Manteve contatos alternados com
seus passeios costumeiros nos arredores de Santo Amaro que levam o aguçado interesse
em criar loteamentos com “vilas” providas de arruamentos e com planejamento
básico para prover condições nestas “novas” terras.
Antonio Bocchiglieri
teve efetiva participação na vida social santamarense, tendo como parte de seus
feitos juntamente como outros amigos a formação do Esporte Clube Progresso,
agremiação esportiva local e ainda atuou como ator advindo do “sangue italiano”
no teatro amador nos salões do Cine Rio Branco, São Francisco e Sociedade do
Circulo Italiano.
CINEMA RIO BRANCO: AVENIDA ADOLFO PINHEIRO
(construído na administração de Thiago Luz)
Deste modo aproximou-se
da pessoa do Dr. Afonso de Oliveira Santos, que já tinha vasta experiência como
loteador de terrenos, sendo responsável pela implantação do loteamento da Vila
São Pedro, área esta que pelo decreto nº 1634, de 5 de março de 1952, teve que
ceder área para instalação do cemitério da City Campo Grande, via carroçável na
Estrada da Pedreira, a atual Avenida Nossa Senhora do Sabará. O agenciador para
a vila supracitada coube ao jovem Antonio Bocchiglieri, começava assim uma
história vencedora no ramo de “criação de vilas”.
Tinha como suas
relações mais constantes na atividade de corretagem a outros como Alexandre
Bechara, Honório Prado, Mimi Prado, Benedito Borba de Araujo e outros.
Associando-se
a Ricardo Nascimento e Izidoro Maretto criam o loteamento denominado “Vila
Luciola” que foi vendido com facilidade. Estava selada a sorte misturada com
muito trabalho aquele que se tornou “O Plantador de Vilas” nome este merecido
quando planeja, faz o arruamento e cria as condições básicas para expandir os
seguintes loteamentos:
1)
Vila
Luciola,
2)
Vila
Andaluzia,
3)
Vila
Constancia,
4) Vila
Santa Terezinha, em parceria com Moacyr Monteiro, criou
o loteamento do lado esquerdo oposto a Estrada de Itapecerica, próximo ao
bairro do Jardim São Luiz.
5) Vila Arriete, fundada em
1947 em homenagem a sua
filha primogênita Arriete Bocchiglieri Castro e Silva.
O marco de
referência da Vila Arriete é a Igreja Verde, pois possuía o telhado em cor
verde, mas oficialmente é denominada Paróquia Nossa Senhora do Sabará, sito à Avenida Nossa Senhora de Sabará, 3.212, que
nos registros consta que o terreno fora doado por Nilo Souza de Carvalho, o
empresário das Lojas “A Exposição Cliper. Um dos grandes incentivadores na
sociedade amigos foi Benedito Vicente Prado, que colaborou para a infra-estrutura
básica ocorresse com presteza por parte das concessionárias da época.
6) Vila
Santa Margarida, adquirido por Rafael Parise, dando
origem e impulsionando os Bairros da Vila Remo e Jardim Ângela
7)
Vila
Bocchiglieri,
8)
Parque
Sabará,
em parceria com Antonio Coutinho de Carvalho, Arnaldo e Francisco Camacho
9)
Vila
Ester,
em parceria com Alexandre Bechara,
10)
Jardim
Rosalina,
loteamento com penetração mais ao extremo sul em direção a antiga Estrada
do Parelheiros.
11)
Vila
Romano.
Contando com a primeiro
gleba da “Vila Luciola” somado até ao último loteamento da “Vila Romano” foram implantados
onze loteamentos que muito contribuiu para a valorização das terras do antigo
município de Santo Amaro. As grandes realizações de suas iniciativas e com
grande espírito pioneirismo inovador de ser um visionário forjou este homem que
teve vida libada e de feitos idôneos, somados a tantas virtudes tinha a
solidariedade participativa sempre presente de sua esposa Constância Romano Bocchiglieri.
Há de ser somada aos
esforços de implantação de novos aglomerados urbanos a Sociedade Amigos da
Estrada da Pedreira, fundada em 1955 que muito contribuiu para a expansão e
implantação de infra-estrutura básica destes loteamentos sempre com a presença
de Antonio Bocchiglieri que colaborava sempre para o desenvolvimento local.
Sua filha Norma
Bocchiglieri relatou em reportagem jornalística certa feita:
“Lembro-me que em
vários natais, papai fazia com que todos nós – mamãe e os sete filhos – passássemos
o dia de Natal distribuindo brinquedos e doces nas vilas que construía. Dias
antes do Natal, ele passava com um caminhãozinho recolhendo doações dos
comerciantes locais.”
Residência da família Bocchiglieri em Santo Amaro: Rua São Benedito
Antonio Bocchiglieri
foi um pioneiro da expansão dessas regiões, deu opção de crescimento e
ampliando horizontes maiores aos operários que vieram para trabalharem no
grande aglomerado industrial que se desenvolvia em Santo Amaro. Tentou uma
última cartada juntamente com seu irmão Paulino Bocchiglieri e seu genro Romeu
Toledo, que cedeu sua participação ao casal Antonio de Arruda Sampaio e Odete
de Arruda Sampaio, para implantação de um novo loteamento, o Parque Paiolzinho, mas a
frágil saúde o afastou de sua maior atividade vindo a ter o passamento em 13 de
maio de 1986.
Espera-se
a crítica salutar para acréscimos e correções que possam completar a crônica!
Referências:
Gazeta de Santo Amaro,
15 de Janeiro de 1983
Revista Interlagos, dec.
50
Revista do Arquivo Municipal, CXLIX, 1952, p. 79,80
3 comentários:
Mais um artigo que rebusca algo perdido no tempo, apesar de ter sido reportagem há decadas passadas, voce põe na mídia mais um fato histórico de Santo Amaro, como essa familia italiana radicada em nosso bairro que tinha como lema, criar bairros, e o que também chamou atenção foi a existencia de um cinema que nunca ouvi falar na história de Santo Amaro e em nenhuma "roda" de historiadores e ainda com foto, que foi o cine Rio Branco.
Quando criança morei no Jardim Palmares, que para tudo tinha como referência a "Vila Arriete", da qual lembro de comemorar o aniversário em desfiles escolares nos anos 80. Muitas vezes busco a Arriete no Google, e fiquei feliz de saber mais da história deste meu bairro. Parabéns pela pesquisa e pelo desprendimento.
Sou neta de Antonio Bocchiglieri e me surpreendi pesquisando em blogs em ver esse seu artigo tão maravilhoso sobre a vida de meu avô! Obrigada!
Enviar um comentário