quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Antonio Bocchiglieri, “O Plantador de Vilas” na região de Santo Amaro

Um "Oriundi" do desenvolvimento

Santo Amaro era um local que atraia pequenos empresários da cidade de São Paulo e até do interior paulista no início do século vinte.

Em 1909 o casal Afonso e Rosa Bocchiglieri, de origem italiana, partiu de Sorocaba, onde residiram por um período até se fixarem na capital de São Paulo, na Aclimação, em 1909. Seu Afonso tinha o oficio a arte de mestre cortador de calçados e sapateiro. Os filhos estavam enumerados na grande família, a saber: Luisa, Maria Gracia, Antonio, José, Carmela, Lucinda, Judith e Paulino. Em companhia do filho Antonio o patriarca tomou os rumos de Santo Amaro, um local aprazível, que em suas virtudes estava o seu bom clima e local de vegetação exuberante. Santo Amaro já possuía certa produção agrícola que abastecia parte dos mercados locais e ainda fornecia parte de seu excedente para São Paulo sendo que já mantinha uma linha férrea dos trens a vapor modelo alemão Krauss que ligava o matadouro próximo a Rua São Joaquim onde fazia seu ponto final na Liberdade, completando um trajeto de dezenove quilômetros até a cidade de Santo Amaro.

Deste modo o senhor Afonso Bocchiglieri em 1914 vende suas propriedades e segue em direção a Cidade de Santo Amaro, e fixa residência e oficina própria na Alameda Santo Amaro, nº 10.

O filho Antonio, nascido em Sorocaba em 26 de dezembro de 1895, chega à Santo Amaro muito jovem e aos poucos participa da vida social da “cidade” e se torna sócio do pai em 1920 no empreendimento da família denominada “Manufatura de Calçados Progresso” que fornecia calçados nas redondezas e para operários da construção da Usina Piratininga e da Estrada de Ferro Sorocabana. Manteve contatos alternados com seus passeios costumeiros nos arredores de Santo Amaro que levam o aguçado interesse em criar loteamentos com “vilas” providas de arruamentos e com planejamento básico para prover condições nestas “novas” terras.

Antonio Bocchiglieri teve efetiva participação na vida social santamarense, tendo como parte de seus feitos juntamente como outros amigos a formação do Esporte Clube Progresso, agremiação esportiva local e ainda atuou como ator advindo do “sangue italiano” no teatro amador nos salões do Cine Rio Branco, São Francisco e Sociedade do Circulo Italiano.
CINEMA RIO BRANCO: AVENIDA ADOLFO PINHEIRO 
(construído na administração de Thiago Luz)

Deste modo aproximou-se da pessoa do Dr. Afonso de Oliveira Santos, que já tinha vasta experiência como loteador de terrenos, sendo responsável pela implantação do loteamento da Vila São Pedro, área esta que pelo decreto nº 1634, de 5 de março de 1952, teve que ceder área para instalação do cemitério da City Campo Grande, via carroçável na Estrada da Pedreira, a atual Avenida Nossa Senhora do Sabará. O agenciador para a vila supracitada coube ao jovem Antonio Bocchiglieri, começava assim uma história vencedora no ramo de “criação de vilas”.

Tinha como suas relações mais constantes na atividade de corretagem a outros como Alexandre Bechara, Honório Prado, Mimi Prado, Benedito Borba de Araujo e outros.

Associando-se a Ricardo Nascimento e Izidoro Maretto criam o loteamento denominado “Vila Luciola” que foi vendido com facilidade. Estava selada a sorte misturada com muito trabalho aquele que se tornou “O Plantador de Vilas” nome este merecido quando planeja, faz o arruamento e cria as condições básicas para expandir os seguintes loteamentos:  
                                                                        
1)      Vila Luciola,
2)      Vila Andaluzia,
3)      Vila Constancia,
4)   Vila Santa Terezinha, em parceria com Moacyr Monteiro, criou o loteamento do lado esquerdo oposto a Estrada de Itapecerica, próximo ao bairro do Jardim São Luiz.
5)      Vila Arriete, fundada em 1947 em homenagem a sua filha primogênita Arriete Bocchiglieri Castro e Silva. 

     O marco de referência da Vila Arriete é a Igreja Verde, pois possuía o telhado em cor verde, mas oficialmente é denominada Paróquia Nossa Senhora do Sabará, sito à Avenida Nossa Senhora de Sabará, 3.212, que nos registros consta que o terreno fora doado por Nilo Souza de Carvalho, o empresário das Lojas “A Exposição Cliper. Um dos grandes incentivadores na sociedade amigos foi Benedito Vicente Prado, que colaborou para a infra-estrutura básica ocorresse com presteza por parte das concessionárias da época.
6)    Vila Santa Margarida, adquirido por Rafael Parise, dando origem e impulsionando os Bairros da Vila Remo e Jardim Ângela
7)      Vila Bocchiglieri,
8)      Parque Sabará, em parceria com Antonio Coutinho de Carvalho, Arnaldo e Francisco Camacho
9)      Vila Ester, em parceria com Alexandre Bechara,
10)  Jardim Rosalina, loteamento com penetração mais ao extremo sul em direção a antiga Estrada do  Parelheiros.
11)  Vila Romano.

Contando com a primeiro gleba da “Vila Luciola” somado até ao último loteamento da “Vila Romano” foram implantados onze loteamentos que muito contribuiu para a valorização das terras do antigo município de Santo Amaro. As grandes realizações de suas iniciativas e com grande espírito pioneirismo inovador de ser um visionário forjou este homem que teve vida libada e de feitos idôneos, somados a tantas virtudes tinha a solidariedade participativa sempre presente de sua esposa Constância Romano Bocchiglieri.
Há de ser somada aos esforços de implantação de novos aglomerados urbanos a Sociedade Amigos da Estrada da Pedreira, fundada em 1955 que muito contribuiu para a expansão e implantação de infra-estrutura básica destes loteamentos sempre com a presença de Antonio Bocchiglieri que colaborava sempre para o desenvolvimento local. 

Sua filha Norma Bocchiglieri relatou em reportagem jornalística certa feita:

“Lembro-me que em vários natais, papai fazia com que todos nós – mamãe e os sete filhos – passássemos o dia de Natal distribuindo brinquedos e doces nas vilas que construía. Dias antes do Natal, ele passava com um caminhãozinho recolhendo doações dos comerciantes locais.”
Residência da família Bocchiglieri em Santo Amaro: Rua São Benedito

Antonio Bocchiglieri foi um pioneiro da expansão dessas regiões, deu opção de crescimento e ampliando horizontes maiores aos operários que vieram para trabalharem no grande aglomerado industrial que se desenvolvia em Santo Amaro. Tentou uma última cartada juntamente com seu irmão Paulino Bocchiglieri e seu genro Romeu Toledo, que cedeu sua participação ao casal Antonio de Arruda Sampaio e Odete de Arruda Sampaio, para implantação de um novo loteamento, o Parque Paiolzinho, mas a frágil saúde o afastou de sua maior atividade vindo a ter o passamento em 13 de maio de 1986.

Espera-se a crítica salutar para acréscimos e correções que possam completar a crônica!

Referências:

Gazeta de Santo Amaro, 15 de Janeiro de 1983
Revista Interlagos, dec. 50

Revista do Arquivo Municipal, CXLIX, 1952, p. 79,80

3 comentários:

Anónimo disse...


Mais um artigo que rebusca algo perdido no tempo, apesar de ter sido reportagem há decadas passadas, voce põe na mídia mais um fato histórico de Santo Amaro, como essa familia italiana radicada em nosso bairro que tinha como lema, criar bairros, e o que também chamou atenção foi a existencia de um cinema que nunca ouvi falar na história de Santo Amaro e em nenhuma "roda" de historiadores e ainda com foto, que foi o cine Rio Branco.

Marilda disse...

Quando criança morei no Jardim Palmares, que para tudo tinha como referência a "Vila Arriete", da qual lembro de comemorar o aniversário em desfiles escolares nos anos 80. Muitas vezes busco a Arriete no Google, e fiquei feliz de saber mais da história deste meu bairro. Parabéns pela pesquisa e pelo desprendimento.

Anne Lieri disse...

Sou neta de Antonio Bocchiglieri e me surpreendi pesquisando em blogs em ver esse seu artigo tão maravilhoso sobre a vida de meu avô! Obrigada!