quinta-feira, 23 de maio de 2013

O Cemitério de Santo Amaro e Bento do Portão!

“CAMPO SANTO” DE SANTO AMARO


Os cemitérios foram decretados pelo Imperador do Brasil, Dom Pedro I, em 1828, por uma contingência necessária de se evitar que os fiéis defuntos de determinada ordem religiosa fossem depostos nas dependências das referidas paróquias em determinada Freguesia[1]. Os primeiros cemitérios foram criados para manterem-se próximos das igrejas, ou seja, ao redor destas, onde serviam determinada congregação e estavam em volta destas matrizes ou capelas. Logicamente com a expansão urbana houve a necessidade de ampliar estas áreas físicas depositárias, e no caso o poder municipal achou por bem determinar locais apropriados para este cunho específico, quebrando deste modo o vinculo exclusivo de determinada irmandade, (em Santo Amaro, em 1836 estavam registradas quatro irmandades: do Santíssimo Sacramento, de São Miguel, das Almas e do Rosário, CALDEIRA, p.66) não mais cabendo todo o ritual do féretro, sendo às exéquias unicamente parte do serviço religioso dentro ou ao redor das paróquias, assumindo a deposição do corpo a sepultar ao poder municipal de cada cidade.


Cumprindo determinações a respeito e tendo em vista unicamente o sentido da saúde local houve por bem aceitar as determinações e a interferência sanitarista.
O século 19 todas as doenças diagnosticadas estavam relacionadas às febres temíveis e em São Paulo não era diferente, espalhando a febre palustre, a terçã, tifoide, inflamatória, intermitente ou remitente e a perniciosa, numa gama enorme de ainda desconhecidas doenças que se somavam a falta de higiene que alastrava também a peste bubônica e a varíola que eram temidas pela população urbana de concentração mais elevada[2]

O pensamento da época sustentava que as aglomerações de cortiços favoreciam maior foco de epidemias, pois estes locais concentravam um grande número de pessoas em ambientes insalubres, sendo grande foco de contágio. As anemias contribuíam para que os óbitos crescessem assustadoramente, pois as parcas sustentações alimentares agravavam o enfraquecimento e alastravam as doenças, que atacavam os mais fracos, e, neste grupo muitas crianças eram afetadas em número alarmante.

Havia correntes que se preocupavam com a higienização, que demandavam uma nova concepção de espaço urbano e de suas infraestruturas, exigindo um modelo de combate em locais segregados, fileiras de grande massa operária, exigindo saneamento básico compatível com o crescimento. As latrinas não mais deveriam despejar seus detritos a céu aberto e as águas deveriam ter tratamento compatível às necessidades locais. As teorias parlamentares campeavam nas repartições públicas, sem embasamento suficiente para combate eficaz das moléstias mais comuns da época.

Em decreto de 14 de setembro 1891, extinguiu-se a “Inspetoria de Higiene de São Paulo”, reorientando os serviços públicos de saúde. Novas estruturas evoluíam quanto mais se necessitava o combate às doenças mais comuns entre a população.

O serviço Sanitário foi instituído em 28 de outubro de 1891, através da lei nº 12. 

Em 18 de julho de 1892, a lei nº 43 regulamentava o modelo sanitarista, criando o “Laboratório de Análises Químicas” para controle de alimentos, o Laboratório de Bacteriologia, o Instituto Vacinogênico para os trabalhos de produção de vacina antivariólica, e o Laboratório Farmacêutico, para produção de medicamentos.
Com a larga escala de navios aportando em Santos com a alta demanda de imigrantes de várias partes do mundo que afluíam para a Cidade de São Paulo do século 19, e deslocamento de populações, houve a preocupação com a peste bubônica, sendo os ratos os agentes transmissores da peste, houve precauções visando que o mal chegasse a capital paulista.

Cemitério de Santo Amaro

O Cemitério de Santo Amaro possui sua entrada mais antiga localizada na Rua Carlos Gomes, sem numeração e a entrada oficial à Rua Ministro Roberto Cardoso Alves, nº 186, na esquina da Rua Padre José de Anchieta. 

Deste modo houve a criação do Cemitério de Santo Amaro, inaugurado em 9 de maio de 1856, (o Cemitério da Consolação, considerado o primeiro cemitério da cidade de São Paulo foi inaugurado 15 de agosto de 1858) quando Santo Amaro possuía autonomia administrativa (Cidade de 1832 a 1935) cumprindo o artigo 66, da Lei Régia de 1º de outubro de 1828, exigindo que a deposição dos corpos dos fiéis defuntos não deveriam ser colocados dentro das Igrejas, sob assoalhos onde se mantinham as referidas campas, pois com o tempo exalava odores insuportáveis pela putrefação da decomposição orgânica sendo esta prática  um grande risco a saúde.
Cópia de documento de 1828(fração)

O primeiro enterro do Cemitério de Santo Amaro conforme registros historiográficos ocorreu em 5 de janeiro de 1857. Logicamente com a rotatividade na área física do cemitério não houve a preservação do espaço destes primeiros túmulos depositários, ficando como indício do século 19 a lápide do Comandante José Foster, que participou da Guerra da Cisplatina e que nasceu em Wertemberg na Alemanha, em 27 de setembro de 1800, vindo a falecer em 14 de outubro de 1886 em Santo Amaro, São Paulo, Brasil.

Muita história local foi depositada neste “campo santo”. Além de muitas atribuições exercidas em Santo Amaro coube-lhe ainda ser o primeiro administrador foi Adolpho Alves Pinheiro de Paiva (1814-1880).

Através de observação no Cemitério de Santo Amaro é possível conhecer sepulturas de importantes personagens santamarenses. Deste modo podem- ser vistas lapides de famílias tradicionais que muito contribuíram para o desenvolvimento da Cidade de Santo Amaro: 


Araújo, Moraes, Zillig, Sgarbi, Luz, Lamera, Diniz, Lang, Foster, Hessel, Barroso, Zenha, Schmidt, Guerra, Rivellino, De Luca, Amaro, Borba, Roschel, Klein, Piccarolo, Schunck, Bechara, Grassmann, Fares, Martins, Carvalho, Abrantes, Mendes, Czernik, Cortez, Petrillo e tantos outros nascidos nestas paragens ou imigrados que vieram de lugares diversos que podem ser aqui acrescidos e que merecem sempre o réquiem e o silêncio do respeito de todas as gerações demarcada pelo Cruzeiro, farol de luz entre os que estão aqui e aos que tiveram “passamento” pela vida. 

Bento do Portão: Santo para o povo!

Antônio Bento nasceu em 20 de janeiro de 1875 no estado da Bahia, Brasil. 


Tornou-se figura de devoção em Santo Amaro. Bento do Portão como se tornou conhecido, viveu em boa parte de sua existência em Santo Amaro espalhando bondade, com labor da vida diária, ora carregando lenha, fonte de energia local e da cidade como um todo, ora sendo o “agueiro” recolhido das minas d’água da Iguatinga, recebendo as benesses populares desta labuta, tendo como “morada” o portão do Cemitério de Santo Amaro ou acomodava-se diante da ombreira e verga das grandes portas das residências dos domicílios de onde usufruísse de seu sustento, sendo essa casa abençoada pela benevolência. 

Veio a falecer em 29 de junho de 1917 sendo sepultado no Cemitério de Santo Amaro e em sua exumação após o período de sete anos, seu corpo permanecia intacto. Seu túmulo, no Cemitério de Santo Amaro possui alta frequência, sendo diferenciada dos demais por uma estrutura coberta próxima a capela. Os leigos religiosos tem grande apreço nas interseções e através de orações elevam graças ao Deus Criador, sendo Bento do Portão o instrumento elevado pela força do Espírito Santo, um dia, quem sabe, sua beatificação, cabendo à prova taumaturga, pela fé cristã, torne-se um grande acontecimento de santidade em Santo Amaro.

Referências:

Colaboração do administrador do Cemitério de Santo Amaro, Amaro Machado
Trabalho de Conclusão de Curso: Elisandra Martins e equipe- Universidade Unisa
Revistas do Arquivo Municipal. Publicação da Divisão do Arquivo Histórico, do Departamento de Cultura, da Secretária de Educação e Cultura, da Prefeitura de São Paulo.
GUERRA, Juvêncio, Guerra Jurandyr. Almanack Commemorativo do 1º Centenário do Município de Santo Amaro.São Paulo: Estab. Graphico Rossolillo - p. 79.

CALDEIRA, Netto Caldeira. Álbum de Santo Amaro. São Paulo: Organização Cruzeiro do Sul-Bentivegna & Netto, 1935.


[1] Freguês: Da expressão latina fillius eclesiae, filho da igreja, logo a Freguesia era uma divisão administrativa pequena dentro dos municípios, (“concelhos”, em Portugal) civil ou eclesiástica. O território eclesiástico no Brasil são distintos aos territórios político-administrativos. 
[2] Em Santo Amaro, não havia um perigo concentrado, pois existiam poucos “fogos” com uma população um pouco maior do que dez mil habitantes (em 1876/77, apenas 426 fogos (casas), em uma área total de 40 léguas quadradas, CALDEIRA, p.73).

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito interessante! Existe relação do primeiro administrador com agrande avenida ali da região? abs! Roque