Santo Amaro e Seu Poeta
À história compete “escarafunchar” todos os recônditos lugares em busca de seu constante movimento, isto vale todos os esforços possíveis atrás das provas dos movimentos constantes do homem em busca de conhecimento, disto resulta teses infindáveis seguida de dialética, por vezes combativa, de negação, levando a um êxtase constante pela investigação, negando às vezes, afirmando em outras, enfim, uma depuração dos equívocos de nossa contemporaneidade.
Rua Floriano Peixoto, ex Fundição. À direita, parte igreja São Pedro, demolida em 1910. Ao fundo, o Solar da Marquesa de Santos, antiga Rua do Carmo, hoje Roberto Simonsen.
Rua Floriano Peixoto em 2012
Na véspera do
espetáculo, um domingo, o “Correio Paulistano” publicou um anúncio de meia
página, sobre as festas em homenagem ao 36º aniversário de S. M. Imperial, o Sr.
D. Pedro II.
A crítica paulistana não gostou, mas já era a confirmação do poeta e dramaturgo paulista, enaltecida e talvez visualizada no interior de Santo Amaro e completada na cidade de Tatuí!
OBS:
À história compete “escarafunchar” todos os recônditos lugares em busca de seu constante movimento, isto vale todos os esforços possíveis atrás das provas dos movimentos constantes do homem em busca de conhecimento, disto resulta teses infindáveis seguida de dialética, por vezes combativa, de negação, levando a um êxtase constante pela investigação, negando às vezes, afirmando em outras, enfim, uma depuração dos equívocos de nossa contemporaneidade.
Desta feita,
novamente somos surpreendidos pelas “viagens” do poeta Paulo Eiró, nascido no
interior de São Paulo, na cidade de Santo Amaro, em 15 de abril de 1836 com o nome
de batismo Paulo Francisco Emílio de
Salles,(ou Sales) filho de Francisco Antonio das Chagas e de dona Maria
Angélica de Morais, carinhosamente chamada de Nhá Gequinha. (Schmidt, p.12) Participou
intensamente das Arcadas em compridas conversas, além de estar envolvido com a
campanha abolicionista, sendo o primeiro intelectual a se ocupar seriamente com
a causa, e participar da Convenção de Itu.
Viagem para Tatuí
O capitão Ezequiel Leme
da Guerra, fazendeiro do município de Tatuí, após ficar alguns meses em Santo
Amaro foi se despedir da parentela e passou na chácara de Santo Amaro, onde
estava presente o padre Casemiro, e que contou ao fazendeiro a paixão de Paulo
Eiró por viagens, assim “tio” Ezequiel resolveu levá-lo, com aceitação entusiástica
do poeta, onde alguns cavaleiros partiram do Largo da Matriz[1].
Nesta comitiva o padre Casemiro, que iria acompanhar um bom pedaço do caminho,
o camarista capitão Inácio Antonio de Borba, chamado pelos mais íntimos de
Inácio Jacú, e sua esposa, que iriam permanecer em São Roque, seguindo para Tatuí
o capitão Ezequiel Leme da Guerra com alguma tropa de mulas seguindo-lhe Paulo Eiró.
Em carta datada de 22
de abril de 1860, Paulo Eiró conta para sua mãe como decorreu a viagem:
“Foi no dia 19 que
chegamos a esta Vila com seis dias, ou antes, sete, de jornada, pelo fato de
estarem os animais cansados (os do Sr. Inácio) e a bagagem ser grande. O padre
acompanhou-nos até Mboi[2]
e deve ter-lhe contado o que foi o primeiro dia de viagem. No segundo dia,
saímos de Mboi e fomos passar na Várzea Grande, légua e meia adiante de Cotia.
Do terceiro dia em diante, a viagem foi mais alegre ainda, por causa do João do
Beco, que ia conosco vender um escravo. Paramos nos Marmeleiros, adiante de São
Roque, vila bonita porém em má posição. No quarto dia, atravessamos o campo
elevado de Pantojo, de um aspecto singular, o Piragibu, o Nhoahiva, onde há
hoje poucos papudos[3], e
chegamos a um pouso junto à fazenda à fazenda Passatrês. A poeira avermelhada
incomodou-me bastante. No quinto dia, chegamos a Sorocaba, que é uma linda
cidade, paramos junto à ponte que também é muito boa e onde se juntam os
feirantes, que este ano tem sido em pequeno número, bem que a feira se tenha
aberto preços elevados.
Fomos depois à Terra
Vermelha, meia légua adiante, onde mora o Sr. Guilherme Hannickel, que me
tratou muito bem. Aí foi o nosso pouso. No sexto dia, como no precedente,
caminhamos, todo em município de Sorocaba; encontramos algumas tropas de venda
e paramos um pouco na Fábrica de Ferro do Ipanema, que está hoje acabada.
Fábrica de Ferro do Ipanema-IPERÓ/SOROCABA
Nosso
pouso foi na Venda Nova. No sétimo dia, pusemo-nos a caminho e atravessando o
Sarapuí, nos encontramos neste município. O sol esteve ardentíssimo e achei a
jornada comprida.
MUSEU PAULO SETUBAL - TATUÍ/SP
Tatuí é uma povoação
grande, mas as casas estão muito espalhadas: a posição é bonita e os campos fizeram-me
lembrar os de Santo Amaro; as ruas são todas muito direitas e se cortam em
ângulos retos. A terra é sossegada e comerciante; não há divertimentos, à exceção
de alguma companhia ambulante que por aqui aparece.
O dr. Pinto aqui tem
estado.
Nós aqui demoramos até
hoje, domingo, por causa do negócio do João do Beco e pretendemos ir logo para
a fazenda, daqui a quatro léguas.
Esquecia-me de
contar-lhe que festejei o dia de meus anos perto de São Roque, bebendo com o
Capitão e o João do Beco duas garrafas de vinho. É escusado dizer-lhe que o Sr.
Inácio e sua senhora têm-me tratado nas palmas das mãos, e com todos os cômodos
possíveis. Assim faz gosto viajar. Eu me conservo satisfeito e com saúde e não
tenho sentido a menor canseira. Os cavalos estão frescos e têm de comer muito
milho, que aqui se dá de graça. Lembranças a Mano Guerrinha, minha mana (referia-se
a Emigdia) e ao Chico, que estimarei vá a melhor, ao Lucas, a Mariazinha, ao
Padre, a meu pai, que tomará esta como sua, e a quem juntamente com Vmcê. Pede a
benção este seu filho, etc.- Paulo Eiró”
A carta foi confiada a João
do Beco que acabara fazendo um negócio e vendendo o escravo e, sem nenhum
prazer por excursões daquela marca, despedira-se dos amigos na porta da
hospedaria e regressara a Santo Amaro, levando o dinheiro por dentro da
carneira do chapéu, a fim de precaver-se contra as surpresa do caminho.
O capitão Ezequiel Leme
da Guerra tomou novo rumo a tratar de negócios. No dia seguinte, o poeta, o capitão
Ezequiel e os escravos que tratavam dos animais, fizeram uma madrugada e
partiram para a fazenda, onde um deveria permanecer e outro passar o tempo que
quisesse.
TATUÍ NA ATUALIDADE
Foi uma viagem deliciosa,
pois a temperatura já havia abrandado, a poeira vermelha tinha desaparecido e a
paisagem de momento se fazia mais linda. A meio dia do trajeto, junto de um
riacho, os escravos estenderam a toalha debaixo de uma árvore e serviram o
virado de feijão com torresmos.
Só a cair da tarde,
chegaram a fazenda. Era uma daquelas velhas propriedades, com extensos muros de
pedra seca, mangueiras de tábuas mal juntas, zumbido intenso de moscas no
esterco verde da cocheira e anuns equilibrando-se dificilmente nos mourões das
cercas. Um cheiro de capim socado ia e vinha nas aragens. Os escravos cantavam
coisas tristes nas senzalas e, noite alta, ouvia-se o bate-pé nos terreiros
distantes...
No primeiro dia, Paulo
Eiró mostrou-se ébrio de contentamento. No segundo, leu a Bíblia com as
respectivas anotações. No terceiro, fez umas ligeiras despedidas, desatendeu a
todas as instancias para que ficasse e perdeu-se na estrada de Tatuí... (Schmidt,
119 a 122)
Paulo Eiró manteve-se
professor da escola primária, da Rua Direita[4],
em Santo Amaro, implantada em “data”[5]
cedida ao seu pai, até 1863, data em que foi substituído na cadeira.
Este ano marca a
publicação do drama “Sangue Limpo”, que já havia sido encenado antes, no dia 2
de dezembro de 1861, no Teatro da Rua da Fundição[6],
localizado na face leste do Pátio do Colégio. (Schmidt, 130)
No Pátio do Colégio, o
teatro estava iluminado “a giorno” com riscos de tigelinhas na frontaria...
E dos carros que
estacionavam diante do teatro desciam as famílias mais conhecidas, as
autoridades civis e militares enfim, toda a brilhante sociedade da capital da Província.
(Schmidt, p. 132;3).
ANTIGA PREFEITURA DE SANTO AMARO/SP-ATUAL ESPAÇO JÚLIO GUERRA
A crítica paulistana não gostou, mas já era a confirmação do poeta e dramaturgo paulista, enaltecida e talvez visualizada no interior de Santo Amaro e completada na cidade de Tatuí!
Adozinda Kuhlmann com Henrique Novak: Encontro Social em recital
no dia de Paulo Eiró - Santo Amaro-São Paulo
OBS:
Muita coisa escrita por
Paulo Eiró perdeu-se no tempo, mas ficou como registro a peça, em quatro atos, “Sangue
Limpo” e três livros de poesia: “Primícias Poéticas”, “Tetéias” e “Lira da Mocidade”.
Bibliografia:
Schmidt, Afonso. O
Romance de Paulo Eiró. São Paulo: Editora Clube do Livro, 1959.
[1] Atualmente, Largo 13 de Maio, em
Santo Amaro, São Paulo
[2] Hoje é o município paulista de
Embu das Artes
[3] Espécie de capim
[4] Atualmente Capitão Tiago Luz,
Santo Amaro, São Paulo
[5] Vide: Cartas
de Datas (terrenos) em Santo Amaro e outras providências:
[6] Pátio da Sé delimitava-se o Pátio da Sé, de um lado pela atual Rua
Floriano Peixoto, de outro, pela rua Venceslau Brás. A Rua Floriano Peixoto
teve o nome primitivo de Rua da Fundição, pois abrigava os fundos da Casa da
Fundição dos Reais Quintos de São Paulo, que tinha entrada pelo Pátio do
Colégio. A instituição começou a funcionar no local em 1730. Fechada e
reerguida em 1751, manteve-se em atividade até 1762, foi abolida e, depois
reaberta, para ser desativada definitivamente em 1818. A troca de nome da rua,
homenagem ao presidente da República Floriano Peixoto, deu-se a 1º de agosto de
1907.
No século XVIII, quando dom Luís Antonio de Sousa Botelho e Mourão, o
Morgado de Mateus, era governador general da capitania de São Paulo (1765 a
1775), famoso por conceder em 1767, o título de coronel a Santo Antonio,
surgiria aquele que é considerado o primeiro teatro oficial de São Paulo. Seria
instalada na Casa da Fundição, nos baixos do Palácio do Governo, no Pátio do
Colégio, uma sala de espetáculos para 350 pessoas, chamada de Casa da Ópera. A
Casa da Ópera do Pátio do colégio (local aproximado de onde estava instalada a
Caixa Econômica Estadual), tinha uma construção rudimentar para uma casa de
espetáculos, com três portas no rés do chão e três janelas no primeiro andar.
Trazia no interior, à altura do saguão, duas escadas, que davam, uma para o
camarim governamental e outra aos 28 camarotes, divididos em três ordens. Na
platéia havia bancos simples. A iluminação era feita por velas de cera e
candeeiros de azeite doce.Foi na Casa da Ópera, do Largo do Colégio,que dom
Pedro I, ao proclamar a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, foi
aclamado pelo povo, rei do Brasil. Com a inauguração do Teatro São José, em
1864, e outras casas de diversão em São Paulo, a Casa da Ópera entrou em
decadência, sendo decretado por volta de 1870, que seria demolido o seu prédio.
No seu lugar, em 1881, foi lançada a pedra fundamental do prédio da Tesouraria
da Fazenda.
1 comentário:
Pesquisa linda, parabéns
Ass Gustavo Guimarães Gonçalves
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