terça-feira, 18 de novembro de 2014

POR QUEM OS SINOS DOBRAM? ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA!

200 ANOS DA “DESPEDIDA DO ARTISTA” - 18 DE NOVEMBRO DE 1814

A MÃO DE OBRA E AS CONFRARIAS DO BARROCO: OS CONTRATOS COM A IGREJA
Mistérios de Antonio Francisco Lisboa: O Barroco Colonial Brasileiro

Antonio Francisco Lisboa pode ter tido em seus pertences um catálogo das obras de Lorenzo Ghiberti, pois muitas estampas modelo se assemelham nas obras do artista, embora exista uma reelaboração de composição e não simples cópia.

Maneirismo, Barroco e Rococó

Antonio Francisco Lisboa realizou obras no período entre 1765 e 1810 e nos últimos anos de sua vida não realizou trabalhos de relevância. Sua história é marcada por valores daquela época.
Seu pai foi o entalhador português Manuel Francisco Lisboa, que também assumiu a função de mestre de obras e possuía uma escrava de nome Isabel, com quem se relacionou e teve o filho Antonio Francisco Lisboa. Este por sua vez seguiu o ofício do pai com quem aprendeu a arte tendo ainda como orientador o desenhista (aquele que comumente elaborava o “traço” da obra) e pintor João Gomes Batista, completando a formação com o ornamentista e escultor Francisco Xavier de Brito.

Antonio Francisco Lisboa tornou-se escultor e projetista de igrejas.

Policromia de suas obras a cargo de Manuel da Costa Ataíde

Obra sobre Aleijadinho: Rodrigo José Ferreira Bretas, em 1858 colheu relatos de Joana Lopes, nora de Antonio Francisco Lisboa e que originou no documento “Traços biográficos relativos ao Finado Antonio Francisco Lisboa, distinto escultor mineiro mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho”.

Sua nora Joana Lopes descreve-o a Rodrigo Bretas autor do livro “O Aleijadinho”:

“Antonio Francisco Lisboa era pardo escuro, tinha voz forte, fala arrebatada, e o gênio agastado: estrutura baixa, o corpo cheio e mal configurado, o rosto e a cabeça redondos, e testa volumosa, o cabelo preto e anelado, o da barba cerrado e vasto, a testa larga, o nariz retangular e um tanto pontiagudo, os beiços grossos, as orelhas grandes e o pescoço curto.”

O ano de nascimento é comumente aceito como sendo 1738 e seu falecimento ocorreu em 1814 como consta em certidão de óbito registrada no livro da Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antonio Dias, em Ouro Preto.

No batistério consta: “Aos 29 de agosto de 1730, nesta igreja de Nossa Senhora da Conceição, com licença minha, batizou o reverendo, padre João de Brito a Antonio, filho de Isabel, escrava de Manuel Francisco Lisboa, de Bonsucesso, e lhe pôs os santos óleos, deu o dito seu senhor por forro; foi padrinho, Antonio dos Reis de que fizeste assento. O vigário Félix Paiva”.

O Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) decretou a data de 29 de agosto de 1730 como sendo oficialmente a data de nascimento de Antonio Francisco Lisboa, por esta certidão de batismo ocorrido nesta data e onde consta o nome de Manuel Francisco, sendo que há uma lacuna que não dirimiu por completo a dúvida cronológica deste fato.

Teve orientação do pai, mas foi criado pela mãe. Recebeu instrução básica, pois redigia pareceres técnicos em linguagem correta. Em 1775 nasce-lhe um filho no Rio de Janeiro com a crioula forra Narcisa da Conceição, recebendo o nome do avô Manuel Francisco. Foi processado pela mãe do menino em 1776. Em 1804 no censo de Vila Rica arrola seus dependentes a nora de 34 anos, o filho de 29 e um neto de um ano de idade. Morre em casa de Joana Lopes, esquecido de amigos e família.

PAPI, Luiz F. . O Aleijadinho: Anjo e Bruxo do Barroco. Rio de Janeiro: Cátedra,1983.
ANDRADE, Mario de. Aspectos das Artes Plásticas no Brasil. São Paulo: Livr. Martins ED/MEC,1975.

Antonio Francisco Lisboa ganhou manumissão[1] na época do nascimento, liberto na pia batismal sendo a criança denominada “forra de pia”, onde normalmente fazia-se o pagamento de certa quantia, em geral o pai ofertava, ou, o padrinho escolhido pela mãe fazia essa função.
Manuel Francisco Lisboa da Costa Lisboa, pai de Antonio Francisco Lisboa, homem de boa conduta perante a sociedade, porém não hesitou em se concubinar nos trópicos, regra geral na época, inclusive entre o clero que deveria seguir as regras rígidas do Concílio de Trento, onde longe da vigilância se permitia as quebras de regras sujeitas aos códigos civis e eclesiásticos.

Porfiría

O químico e médico Paulo da Silva Lacaz em 1971, da Universidade Federal do Rio de Janeiro realizou a primeira exumação de Antonio Francisco Lisboa e observou que os ossos possuíam uma cor castanho-avermelhada, típica de portadores da porfiría que criam lesões cutâneas e que em estágios avançados podem causar mutilações.
Em matéria vinculada no jornal Folha de São Paulo, de 30 de março de 1998 consta a exumação realizada em 16 de março para estudos coordenados pelo  dermatologista Geraldo Barroso de Carvalho.Nesta exumação ventilou-se a hipótese de outros elementos químicos no organismo do artista proveniente de sua atividade com texturas de pigmentos variados usados em suas obras.

Quanto ao falecimento o mesmo ocorreu em 18 de novembro de 1841 em sua cidade natal de Vila Rica, atual Ouro Preto, quando o ciclo minerário já tinha se esgotado. Esta certidão de óbito foi registrado na Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antonio Dias.

Oficial Mecânico

Os artífices de cultura popular que produziam obras de cunho manual eram diferenciados daqueles e até inferiorizados em comparação com aqueles considerados de artes liberais que produziam literatura e estavam entre aqueles da elite colonial de valores europeizados. Ao grupo popular eram inseridos os portugueses sem vínculo familiar que se aventuravam pelo Brasil, os degredados, negros alforriados e índios.
As Corporações de Ofício muito comum na Europa entre os construtores de castelos e igrejas são na Colônia abarcados em grupos de trabalhadores que incorporam as irmandades.

O projeto da obra de construção e acabamentos eram elaborados por projeto delineado e denominado “risco”. Eram traçados rústicos, manuscritos da obra com seus vários detalhes correndo por conta e risco da obra ao contratante. O autor da obra geralmente não aparecia no contrato das partes.
Antonio Francisco Lisboa o escultor do barroco brasileiro assume outras qualificações como os ofícios de carpintaria, entalhador e escultor. Na Igreja da Ordem 3ª de São Francisco de Assis em Ouro Preto ele assume múltiplas funções, pois a obra pertence-lhe por inteiro.

Antonio Francisco Lisboa transporta o triunfo da arte transformada como um modelo feudal da Cidade de Ouro Preto (Vila Rica) encravada em seus montes, repleta de igrejas e ruas estreitas. A arte do artista sublima o barroco americano diferenciado nos traços mulatos de suas figuras, mistura de raças nos traços de anjos gorduchos. Edificando-se a cidade enraíza-se a arte barroca, entalhados com golpes dos formões e goivas penetrantes na talha produzida.

Antonio Francisco Lisboa teve bons rendimentos chegando a possuir três escravos e uma escrava. Dado a doença ficou deformado ao ponto de seu escravo chamado Maurício ter tentado se matar com a navalha ao ser adquirido por um “amo tão feio”.

MOURA, Clóvis. Dicionário da Escravidão Negra no Brasil. São Paulo: Editora USP, 2004.

Manoel da Costa Ataíde foi pintor responsável pela policromia, aplicação de cor sobre madeira em muitos trabalhos de Antonio Francisco Lisboa, inclusive o teto da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto.
Antonio Francisco Lisboa, cognominado de Aleijadinho, aparece em documentos da época como:

Aparelhados, carpinteiro, entalhador, imagineiro (escultor de imagens de madeira), construtor, autor de riscos (projetos de arquitetura) e prestador de serviços de louvação (averiguação se a obra pronta correspondia ao projeto original).

A projeção social estava circunscrita ao “encomendante” da obra contratada, que ara o indivíduo ou corporação que contratava o artesão, que era o artista que no século 18 não possuía o costume de assinar suas obras.

Todos os registros de nascimento, casamento e óbito eram feitos nas igrejas católicas. Em 1890, com o advento da República, por decreto, foi retiradas todas estas prerrogativas da Igreja, inclusive sua sustentabilidade do padroado, com a extração do poder político e econômico, sendo que era o Estado quem administrava a Igreja, inclusive determinando politicamente os seus representantes sendo que os padres tornaram-se funcionários públicos do Estado e dependentes do modelo vigente governante. A partir da República instituída em 15 de novembro de 1889 o Estado assumiu todo e qualquer registro ocorrido em solo brasileiro, dando origem aos cartórios de registros.

Os escultores, entalhadores ou pintores não recebiam “cartas de habilitação” no Brasil, considerando que a profissão era mais uma arte do que “ofício mecânico”, inclusive eram dispensados do imposto profissional.
Em Portugal a profissão de “oficiais mecânicos”foi codificada pelo licenciado Duarte Nunes de Leão, em 1573. Os ofícios eram registrados pela “Casa dos Vinte e Quatro”, representados por um juiz sob controle da Câmara Municipal que fornecia a carta de habilitação, sendo que havia a convocação pelo juiz que fornecia os plenos poderes de direto ao exercício da profissão definitiva. Tal órgão jamais existiu no Brasil!

Em contrapartida esses ofícios no Brasil agrupavam-se em confrarias para proteção daqueles que exerciam a profissão e que exerciam pressão exigindo que os juízes doa marceneiros e pedreiros inspecionassem as obras em andamento da cidade, exercendo a função de peritos assumindo as responsabilidades de função. As irmandades tomaram deste modo o sentido corporativo onde acabou-se regulamentando  o “ofício mecânico” por força de Cata Régia de 3 de dezembro de 1771.

Depois do Erário Real eram as Irmandades aquelas que mais arrecadavam o ouro advindo da lavra, sendo que esta arrecadação eram dirigidas aos padres locais que confiavam as construções  sacras, pois a sociedade imbuída de sentido religioso, erguia aos Céus, Igrejas, para perpetuarem os nomes dos “ofertantes”, em agradecimento a Deus pelas benesses de fartura e riquezas.

Lista de Artesão que forneciam Mão De Obra para a Arquitetura Barroca  

01-  PEDREIROS
02-  CANTEIROS (entalhadores de pedras que faziam as cantarias)
03-  REBOCADORES ( em pedra ou gesso)
04-  CARPINTEIROS
05-  CARAPINAS (marceneiro do serviço bruto, sem esmero artístico)
06-  MARCENEIROS
07-  EBANISTAS (quem trabalhava com mobílias)
08-  ENTALHADOR (escultor em madeira)
09-  IMAGINÁRIOS ou ESTATUÁRIOS (criavam imagens)
10-  FERREIROS
11-  SERRALHEIROS
12-  LATOEIROS (trabalhavam chapas de metal)
13-  OLEIROS (trabalhavam o barro)
14-  LADRILHEIROS
15-  TELHEIROS ( telhados em geral)

Mestre de risco é uma qualidade não um ofício. A ele cabia fornecer a planta(risco) e o desenho com detalhes (traço) de uma construção além de fiscalizar a obra. O mestre de obres executava conforme o “risco” apresentado para a obra contratada. O “risco” era executado por qualquer pessoa que tivesse conhecimento de arquitetura, sem exigências acadêmicas.

Os riscos em Minas Gerais ou as talhas em madeira eram fornecidos por pedreiros, caso freqüente, carpinteiros caso de Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho, entalhadoras, caso do próprio Aleijadinho, pintores, como Manuel da Costa Ataíde que fez o risco do altar mor da Igreja do Carmo de Ouro Preto, ou por padres como por exemplo pela Ordem Terceira de São Francisco de Mariana, através do padre José Lopes da Rocha, ou feita por alguma comissão empossada para a obra que era necessária construir.

Os engenheiros, militares e técnicos em geometria por vezes forneciam os “riscos” das igrejas, sendo que no século 17 eram os que a arte de construir e calcular.

Os decretos reais proibiam ocupar cargos de importância sendo considerados “infames” pela raça ou crime aos judeus mouros, cristãos novos, degredados, ciganos, mulatos livres, mulatos de capote, termo este que se referia aos pardos livres que podiam se vestir como brancos. Há de se referir que na época colonial era melhor ser negro, tendo como referência a epiderme do que ter uma cor mulata, da miscigenação entre europeu e africano, sem distinção da etnia de pertencimento, sendo o mesmo excluído por ambas, não fazendo parte da cultura de nenhuma delas.

O trabalho intelectual (de fornecer o “risco”) tinha conotação menor do que o trabalho manual. Exemplos:
Paga-se 32 oitavas de ouro para José Pereira dos Santos pelo risco de São Francisco de Mariana em 1762.

Mesma soma em 1762 para Tiago Moreira, pelo Carmo de Sabará.

50 oitavas para  Manuel Francisco Lisboa, pelo Carmo de Ouro Preto, em 1766

60$000(sessenta mil réis) para Antonio Francisco Lisboa em 1774 pelo risco de São Francisco, de São João Del Rey. 15 oitavas pela capela mor de São José de Ouro Preto, EM 1772/1773. 14$000(catorze mil réis) pela porta de São Francisco de Ouro Preto, em 1771. 24$000(vinte quatro mil réis) pelo risco do altar mor de São Francisco de Ouro Preto, em 1778/79.

10 oitavas, pago a Manuel Francisco de Araujo pelo frontispício do Rosário de Ouro Preto, em 1784.

6$000(seis mil réis) pelo risco do altar mor do Carmo de Ouro Preto, para Manuel da Costa Ataíde, em 1813.

17$000(dezessete mil réis) aos dois louvados da obra de São Francisco de Ouro Preto, A José Pereira Arouca e Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, em 1794.

O pagamento era feito em pó de ouro, à razão de 1$200 por oitava. A oitava era a subdivisão do marco, que por sua vez se dividia em 32 vinténs.
¼ de oitava= 8 vinténs
½ de oitava= 16 vinténs
¾ de oitava= 24 vinténs
1 inteiro de oitava= 32 vinténs

1 vintém de ouro valia 37,5 réis e era usado para comprar um vintém de ouro(unidade de massa) na região de Minas Gerais.

1 oitava correspondia a 1/8 da onça=3,585 gramas=1dracma(1 oitava correspondia a 1$200 réis)

1 onça(medida inglesa) corresponde a 28,6848 gramas

1 arrátel=14 onças=2 marcos=401,52 gramas

1 marco=229,478 gramas=8onças

1 libra=453 gramas

1 cruzado de ouro valia 400 réis e 1 cruzado de prata valia 480 réis(PRATA era referência de maior valor)

No reinado de Dom João V (1706 a 1750) o cruzado de prata valia 480 réis, o tostão 100 réis e o vintém 20 réis.

A oitava de ouro valia em Minas Gerais:
Até 1725=1$500 réis
De 1º de fevereiro de 1725 a 24 de maio de 1730=1$200 réis
De 1730 a 4 de setembro de 1732=1$320 réis
De 1735 a 1751=1$500 réis
De 1751 a 1823=1$200 réis
In: Zemella. O Abastecimento da Capitania das Minas Gerais no Século XVIII, P.146
SILVA, Flávio Marcos da. Subsistência e Poder –A Política de Abastecimento Alimentar nas Minas Setecentistas. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

O autor do “risco” nem sempre era o contratante do serviço e poderia haver por parte do mestre de obra alguma alteração de projeto no decorrer da empreitada, por alguma dificuldade de execução inerente a realização elaborada no “risco”, por ser de difícil execução.

O mestre poderia assumir a obra como arrematante, ora como louvado[2] e ora como mestre de obras e que vindo muitas vezes de Portugal para assumir a função estavam enquadrados pelo Regimento de Ofícios Mecânicos e tinham a qualificação em mãos pela Carta de Usança, que lhe proporcionava a qualificação  e plenos poderes de execução de obra.

Caso típico de obra “a duas mãos” é a Igreja de São Francisco de São João Del Rey que foi projetada por Aleijadinho e alterada no risco original por Francisco de Lima Cerqueira, artista português, vindo ao Brasil em 1771.

Os mestiços culpados da “infâmia de mulatos” não usufruíam da licença, pois não possuíam documentos comprobatórios de seu ofício. Caso típico era Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que se subordinava a alguém na execução da sua própria obra, pois sua condição de mulato lhe proibia de assinar contratos, pois os “Livros dos Termos” somente poderiam constar assinatura de homens brancos, e ele só poderia ser acolhido, como foi, por uma irmandade, uma confraria corporativa, e da qual fez parte na Irmandade de São José.

Curiosamente é que as obras romanas e gregas, não consta o nome do autor, pois Cesar era sempre maior que tudo, inclusive o artista da obra, que não passou seu nome para a posteridade em sua grandeza artística. Isto também se perpetuou em obras barrocas, talvez por ser a obra menor que a Divindade pela qual foi contratado reproduzir, um imperativo onde o indivíduo autor da obra não “marca” seu registro na obra realizada, o que no instante contemporâneo muito dificulta o reconhecimento da obra de arte. 

Antonio Francisco Lisboa tinha a responsabilidade do conjunto da obra cabendo aos seus escravos e ajudantes fazer o desbaste grosso da madeira, pois ao que parece o vigor das linhas por vezes tem conotação de entalhe de outras mãos não tão habilidosas que pouco ou nada entendiam de anatomia, mas usaram o cinzel preliminar para rasgar os veios da madeira.

Antonio Francisco Lisboa teve a seu cargo o escravo e discípulo Justino Ferreira de Andrade que o abandonou quando se agravou a doença, (diagnosticada como lepra nervosa por René Laclette) do mestre quem cuidou dele foi a parteira e nora Joana Lopes. Aleijadinho transformou o barroco jesuítico no barroco colonial brasileiro, moldando a esteatita (e saponita) conhecida como pedra sabão abundante nas montanhas de Minas Gerais, e que foi usada como matéria prima de suas obras, substituindo o mármore Lioz[3] de Portugal.

Quando Antonio Francisco Lisboa foi para Congonhas do Campo, Minas Gerais, ela já estava doente havia 15 anos e a deformidade física fazia com que seu escravo Maurício amarrasse em seus punhos o martelo (macete), buris, goivas e raspadeiras.

Foram seus “iluministas[4] o pintor Francisco Xavier Carneiro e Manuel da Costa Ataíde. Muitas obras não receberam camada de tinta, o que dá para observar todo o drama do autor nos entalhes da peça.

“Aos 18 de novembro de 1814, faleceu Antonio Francisco Lisboa, pardo, solteiro, de 76 anos, com todos os sacramentos, encomendado e sepultado em cova da boa morte, e para clareza fiz passar o assento em que assino. O coadjutor José Carneiro de Moraes”. (Registrado no livro da Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antonio Dias)
                                           



[1] Liberdade que o senhor da ao escravo, no caso o pai(senhor) alforria o filho(escravo)
[2] Louvado: termo usado para quem exercia a função de entalhador, escultor, arquiteto, marceneiro e perito.
[3] Mármore de Lioz: Em carta do padre Simão Vasconcelos consta que “a principal da cantaria dos arcos portadas, tribunas, etc, viesse lavrada do Reino, aonde há muitos oficiais que brevemente o podem fazer e vir por lastro dos galeões, que cada ano vem a esta Baia”. Muitas peças entalhadas deste mármore foram carga de Portugal para o Brasil e que tinha como carga de retorno madeira, açúcar, algumas especiarias da terra e ouro.O material a que se refere o padre Simão era um mármore denominado Lioz, que ornamenta muitas igrejas construídas no Rio de Janeiro, Bahia, Recife e em Belém do Pará.
[4]ILUMINURAS: pinturas de cores vivas e de grande realce, primeiramente representadas em livros manuscritos da Idade Média

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