sexta-feira, 21 de agosto de 2009

SERTÃO DE SANTO AMARO: ITAPECERICA DA SERRA E PARELHEIROS

Sertão de Santo Amaro

Na zona sul de São Paulo esta localizada a área denominada de “O Sertão de Santo Amaro”. Esta região, sobretudo em decorrência da construção do Reservatório do Rio Grande como foi inicialmente denominada a represa Billings, e em função dos problemas ligados as vias de comunicação, tão próximo a metrópole, praticamente ficou distante, o que levou Antonio Rocha Penteado a escrever que ela estava mais para o litoral, onde esta parte do sertão, do que na capital:“todavia, bastam uns poucos quilômetros... em direção as escarpas da Serra do Mar, para que outra paisagem se abra aos olhos do observador. É o chamado “sertão” de Santo Amaro - um sertão que se encontra mais próximo do litoral do que a cidade de São Paulo... mas na verdade, faz lembrar bastante esses recantos esquecidos, perdidos no anonimato, em tão grande numero ainda existentes no imenso interior do país.*

Trata-se de uma área que ficou inteiramente a margem das vias de comunicação entre São Paulo e o litoral Atlântico; suas ligações se fizeram, durante muito tempo, através de péssimos caminhos, apenas com São Bernardo do Campo e Itapecerica da Serra e, menos freqüentemente, com Itanhaém, no litoral.De início, sua escassa população dedicou-se a extração de madeiras da Mata Atlântica e a produção de carvão vegetal. Proibida a primeira na região de Santo Amaro, continua a existir apenas a segunda dessas atividades econômicas, em franco desenvolvimento, sobretudo no “sertão” de Itapecerica da Serra, onde se encontra, com freqüência, a paisagem que lhe corresponde - os modestos carvoeiros, os rústicos fornos a soltar fumaça, a mata devastada de maneira irregular, os toscos ranchos de moradias. De quando em vez, o ronco de um caminhão vem em busca do carvão ali preparado, quebra a tranqüilidade sertaneja, resfolegando com dificuldades pelas estradas mal cuidadas e cheias de rampas fortes. E na pequena cidade de Itapecerica da Serra que se dá a reunião dos caminhões carvoeiros, cuja presença constitui, também, um dos poucos motivos de animação e movimento dessa localidade suburbana no sertão de Santo Amaro propriamente dito existem algumas serrarias, que trabalham para abastecer parte do mercado paulistano. (Penteado, 1958: p.52,53)


O professor Antonio Rocha Penteado, em "A Cidade de São Paulo", coloca que no reinado de Dom Pedro I houve a intenção de instituir em Santo Amaro, Sertão de Itapecerica da Serra, um núcleo colonial em junho de 1829, contando com 62 famílias perfazendo um total de 229 pessoas, mas devido a falta de acompanhamento e investimento, em 1838 o marechal Daniel P. Muller publica “Quadro Estatístico”, informando restar 1578 colonos, e, em 1847 existiam não mais que nove famílias. Em 1850 em documentos entre delegados de polícia de Santo Amaro e São Paulo era informado que a Colônia localizada a quatro léguas da Vila “estava quase abandonada tendo quatro a cinco famílias, porque a mor parte delas se tem mudado para diferentes lugares, ignorando-se a razão de seu atraso” (Penteado, 1958, p. 104, 104).Numerosas famílias de longa data radicadas na região denotam a origem: Klein, Foster, Schunk, Cotterfritz, Underwerger (Penteado, 1958, p.53-57)


Este espaço do Sertão de Santo Amaro, Parelheiros, tornou-se último reduto dos guaranis, preados por bandeirantes ávidos em conseguir mão de obra barata para a elite dominante, e subsistiu a demarcação na década de oitenta, as terras indígenas dos krucutu e da Barragem dos povos guaranis.Certamente o olhar (crítico)do professor Antonio Rocha Penteado não foi suficientemente meticuloso para junto com a professora Emilia Viotti Costa, identificarem na área rural de Itapecerica da Serra ou do “Sertão” de Santo Amaro como era conhecida a região de Parelheiros, os povos guarani que ali viviam. Eles são o ausente da obra “A Cidade de São Paulo”. Aliás, eles apenas estão presentes em rápidas passagens da história de São Paulo, ou então nas chamadas epopéias que tornaram os caçadores de índios os homens ilustres desta terra: os bandeirantes. Jagunços predadores de índios e caçadores de escravos que fugiam, os bandeirantes foram transformados nos idolatras representantes da força e da coragem do povo paulista. Certamente para as elites foi isso que eles foram. Mas, para o povo trabalhador desta cidade e deste estado, não foi bem assim esta história. Aliás, este é um capítulo que deverá ainda ser escrito sobre a história de São Paulo: quem de fato foram os bandeirantes e qual seu real valor para o povo de São Paulo. É possível que sendo servis às elites, puderam fazer o que elas desejavam, mas não tinham coragem: escravizar índios, caçar escravos negros que fugiram enfim, tomar as terras de nações indígenas.
Foi por isso que os índios Guarani Mbya não foram identificados pelos professores Antonio Rocha Penteado e Emilia Viotti Costa em seus textos presentes na obra “A Cidade de São Paulo”, feita por ocasião do IV Centenário de São Paulo. Mas é bom que fique registrado que eles estavam no “sertão” de Itapecerica da Serra, no litoral sul e no litoral norte. Provavelmente foram confundidos com os caipiras do “sertão”.

O professor Pasquale Petrone vai resgatá-los na geografia em seu importante trabalho “Aldeamentos Paulistas” em 1964. Este trabalho oriundo de sua tese de livre docência defendida na FFLCH-USP, é marco para os estudos da história de São Paulo, pois trata de resgatar a importância dos indígenas e dos caipiras na história da cidade, dessa forma o “sertão” de Santo Amaro constituía-se no último refúgio guarani, e foi lá que, mais de 30 anos depois, conseguiram demarcar uma pequena parte de suas terras.

*População da região do extremo sul em 1954

Distrito municipal (pr=população rural ; pu=população urbana)
Parelheiros / pr=6934 pu=207
Itapecerica da Serra / pr=7294 pu=951
Embu / pr=3699 pu=329
Embu-Guaçu / pr=3182 pu=633

Parte deste texto foi pesquisa em:Geografia de São Paulo, 2 : A Metrópole do Século XXI. Organização Ana Fani Alessandri e Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Editora Contexto.Ariovaldo Umbelino de Oliveira é professor titular de geografia agrária, orientador do programa de pós-graduação em geografia humana, FFLCH-USP.

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