terça-feira, 21 de maio de 2019

As Forças Ocultas e as Incultas no País do Futuro...e o medo de meus pais!


O conto do Vigário: O país do eterno futuro!

Na década de 1960, todo moleque não estava muito preocupado com as dificuldades que o Brasil passava, o problema pertencia aos nossos pais, nós nem sabíamos o que estava acontecendo.
Minha mãe, um belo dia para jogar futebol, puxou meu braço e falou que íamos para Santo Amaro, lá no Largo 13 de Maio, buscar feijão que o governo estava racionando. Andamos uns 3 quilômetros, pois minha mãe não tinha o dinheiro da condução e eram duas passagens, pois eu já pagava e não tinha “essa moleza” (minha mãe falava assim até ir para o “outro lado”) de bilhete de viajar por 3 horas e tendo direito de usar o ônibus por 4 vezes.
O caminhão do feijão, que era uma “essência muito essencial” que trazia “sustança” do povo, pertencia a secretaria de abastecimento do governo.
Quando chegamos, minha mãe deu-me “200 réis” (já era cruzeiro, mas ela sempre chamou qualquer dinheiro do Brasil de réis, independentemente qual fosse) e pegamos uma “baita” fila e era um saquinho de 1 quilo pra cada pessoa, cheguei na carroceria quase nem alcançava o saquinho de feijão, paguei, e minha mãe logo atrás fez o mesmo e “perna pra quem te quero” de volta ao Jardim São Luiz com os dois pacotes parecendo um belo troféu.
Nós éramos quase alto suficiente, tínhamos uma horta, com pés de frutas, verduras e também criação de patos, galinhas e até porcos, mas algumas coisas tínhamos que comprar nos armazéns, o nosso “supermercado”!
Então como o feijão que fomos buscar em Santo Amaro, tínhamos que comprar açúcar, arroz, farinha de mandioca, pois meu pai nasceu no interior, era meio “italiano acaboclado” e gostava das coisas da terra, gostava de “pasta”, mas dava a vida por um prato de feijão com farinha e uma galinha caipira que ele destroncava o pescoço todo fim de semana, sem tirar da penosa uma gota de sangue que minha mãe limpava como destreza, eu quase digo que ela fazia aquilo de “olhos fechados”. Eu só aparecia quando a “gororoba” estava pronta.
Na mesa falavam de tudo e eu só observava, então meu pai dizia que essa “coisa do governo do Brasil” não estava indo bem e que um governante que o povo escolheu “tinha ido embora” porque não conseguia governar porque tinha “forças ocultas” que não deixavam fazer o que tinha que ser feito no “país do futuro”!
Não entendia o que o velho falava e um dia perguntei: O que era essa tal de “forças ocultas”? Meu pai não era letrado, trabalhava como um “burro de carga” (ele mesmo se denominava desse jeito) estudou só pra saber ler um pouquinho e “male e male” assinava o nome, mas como ele dizia “tinha que preservar o nome, entrar e sair de cabeça erguida”, ou seja, ser honesto e o nome dele era quase isso, Ernesto!
Acho que ele também não sabia o que era essa tal de “forças ocultas”, ele só achava que era uma coisa ruim e tinha gente que “sacaneava” o Brasil.
Nunca mais se falou desse negócio até que um dia meu pai chegou esbaforido de tanto pedalar, pois ia sempre trabalhar de bicicleta para economizar, e disse pra minha mãe não me deixar sair que o “pau estava comendo” e tinha “forças armadas” nas ruas.
Fiquei “preso” e só ia para a escola e dela voltava, sempre meio assustado. Não entendia muito bem, e mesmo adulto nunca entendi esse negócio de “forças pra cá e pra lá”!
As forças armadas eu vi andando nas ruas, como meu pai tinha visto antes, mas a tal de “forças ocultas” eu acho que estou vendo agora neste país de eterno futuro...sem presente!
Seriam essas “forças ocultas” o medo de meus pais e do país?

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Antônio da Mata Júnior, a Rua da Paróquia São Luiz Gonzaga: Jardim São Luiz, São Paulo

O PAI DO PADRE: Uma homenagem merecida!

Antônio da Mata Junior nasceu aos 23/10/1908, numa pequena vila rural denominada Gaula localizada a poucos quilômetros de Funchal, capital da Ilha da Madeira, Portugal. Seus pais, Antônio da Mata e Augusta de Jesus, eram típicas pessoas da terra e no dia-a-dia cuidavam das obrigações com os animais leiteiros, vacas, cabras e a cultura de legumes, verduras, batatas para preparo das refeições da família que eram reforçadas com algum pescado. Neste ambiente crescia o menino traquina, bem peralta, como todas as crianças felizes na infância correndo pelos prados floridos. Nem tudo era somente brincadeiras, e não havendo condições para estudar nos lugares afastados, pois os recursos eram escassos, os pais colocavam seus filhos pequenos nos afazeres da lida diária que os mantivessem ocupados como uma ordenha ou a recolher os frutos plantados na estação propícia e amadurecidos no verão. 
O garoto Antônio tornou-se um jovem robusto e ao lado do pai cuidava das colheitas de mais força e atenção, das "podas das videiras" do bom vinho português e as culturas bem típicas do lugar, como bananas e cana de açúcar. Alcançar novas metas e buscar novos horizontes fez com que a nova família constituída por Antônio da Mata Junior com a bela e graciosa moça Angelina Jorge embarcasse para o Brasil no navio, o vapor espanhol Almazorra, com os quatro filhos Edmundo, Feliciano, Helder e Orlando. 
Na bagagem, muita garra para enfrentar o desafio e a "carta de chamada", que fazia parte de um processo de análise onde uma família residente recomendava ao governo brasileiro a aptidão do apresentado por conhecê-la. Assim os "da Mata" aportaram em Santos, São Paulo, em 29 de abril de 1939, poucos meses antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial. Vieram para a metrópole da capital paulista pela ferrovia Santos - Jundiaí no comboio de 2ª classe reservados aos que chegavam para o serviço na lavoura. Os patrícios, como se denominavam os das terras portuguesas, os aguardavam na Estação da Luz, onde paravam as Marias-Fumaças como eram apelidadas as locomotivas a vapor, rumando para uma vila do bairro Parada Inglesa, em referência aos ingleses que implantaram a ferrovia no Brasil. Antônio preparado desde há muito na terra natal para serviços pesados, de constituição física avantajada, foi logo arranjando colocação como carregador de sacas de café que eram produzidas nas fazendas paulistas e que saiam para o mercado externo sendo o produto mais importante de exportação do Brasil. 
Os tempos eram difíceis com a Europa em guerra. Havia dificuldades em todos lugares do mundo, obrigando a família que crescia, procurar novo espaço de acomodação, mudando-se para a rua Itatins, entre os bairros Paraíso e Saúde, depois se fixaram definitivamente na Vila Gumercindo, em 1943. Um ano depois, Antônio arrumou colocação no mercado Central da Cantareira, em São Paulo, além do que dona Angelina tornava-se mãe de novos rebentos: Lucinda, Alda, Mafalda e o caçula Antônio da Mata Neto, nascido em 1944, recebia o nome em homenagem a Santo Antônio, venerado em Portugal. 
Desta maneira fechava a numerosa família nas mãos abençoadas das parteiras, pois a quantidade de médicos não seguia o ritmo vertiginoso da cidade, e o resguardo da parturiente era fortalecido com um típico fortificante constituído com caldo de galinha e um pequeno cálice do bom vinho da Madeira. Os filhos ajudavam para reforçar a renda familiar vendendo frutas no Largo Paiçandu ou Praça da República, mas já eram vítimas dos "rapas", os fiscais municipais. Da família numerosa do simpático casal Antônio e Angelina foram constituindo-se outras novas e o agente de nossa história deixou saudade no Mercado Municipal onde passou boa parte de sua vida profissional. 
O bom e velho amigo "Português Botinudo" aposentou-se em 1973, escrevendo na memória dos anais do desenvolvimento de São Paulo a sua modesta participação e admirável conduta, partindo desta vida em 31 de janeiro de 1975, deixando o belo exemplo, reflexo passado às gerações posteriores.
Depoimento concedido em 25 de março de 2006, por seus filhos, Antonio da Mata Neto e padre Edmundo da Mata, Paróquia São Luiz Gonzaga, no bairro Jardim São Luiz, de quem os feitos da família são eternamente enaltecidos.


A PRIMEIRA CAPELA DE SÃO LUIZ GONZAGA: BAIRRO JARDIM SÃO LUIZ, SÃO PAULO

ATA DA CONSTRUÇÃO DA PARÓQUIA ANTIGA (demolida):  27 de abril de 1957



“São Paulo, 27 de abril de 1957.

Ata da assembléia inaugural da comissão para construção da capela de São Luiz. Jardim São Luiz a vinte e sete dias do mês de abril do ano de hum mil novecentos e cinqüenta e sete do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo, realizou-se na Capela Nossa Senhora da Penha, no bairro da Penhinha, Parochia de Capão Redondo. Assembléia inaugural da comissão da construção da Capela São Luiz, Jardim São Luiz, à rua 4, sem número. A assembléia foi iniciada às vinte horas pelo sr. Antonio Zacaria de Paula e Silva com as orações iniciais a Nossa Senhora. Iniciada a seguir os trabalhos próprios da necessidade de construir uma capela no bairro do Jardim São Luiz porque o bairro é bastante populoso e não tem sequer um local para o catecismo das crianças.

Pensou-se então, em formar uma comissão como é feito em vários bairros para o que convidaram-se várias pessoas do bairro. Estando reunido ele preparou a formação da diretoria por meio de votos, escolhendo os candidatos entre as pessoas presentes, o que acharam melhor por unanimidade de votos eleger o sr. Antonio Zacarias para presidente e ficando a escolha dos demais cargos a critério do presidente, podendo este escolher as pessoas capacitadas para ocuparem os devidos cargos. As pessoas presentes da assembléia inaugural eram os seguintes: Antônio Zacarias de Paula e Silva, José Cassiano Cruz, Luiz Martins, Henrique Schlautmann, Ernesto Rossi, João de Oliveira, José de Oliveira, Ettore Angeloni, Francisco Mansur dos Santos, Rafael Costa Faria, Maria Lurdes de Oliveira. A formação da diretoria ficou assim constituída:

Para presidente: Sr. Antonio Zacarias de Paula e Silva
Vice-presidente: Henrique Schlautmann
Primeiro Secretário: Ernesto Rossi
Segundo Secretário: Luiz Martins
Primeiro Tesoureiro: José Cassiano Cruz
Segundo Tesoureiro: Ettore Angeloni
Conselho Deliberativo: Rafael Costa Ferre

Estabelecida a diretoria tratamos em seguida da mensalidade dos membros e por maioria de votos ficou a taxa de quarenta cruzeiros mensais. Nada havendo mais a tratar o sr. Antonio Zacarias encerrou a assembléia com a oração da Nossa Senhora e eu, Ernesto Rossi, secretário lavrei a presente ata que depois de lida e discutida será aprovada e assinada por mim e demais presentes”.

Esta é a íntegra da primeira ata em prol da construção da então Capela São Luiz, e que ainda constavam as assinaturas de nomes não citados acima, mas que registramos como fato histórico: Manuel da Rocha Nunes, Ana Garbieri de Freitas, Leonilda Schlautmann, Izilda Marques Vugas e o Padre Germano Jutter.

E, deste modo, iniciou-se todo um trabalho conjunto de um grupo comissionado que, a partir de uma simples e humilde capelinha lateral do atual terreno que, de tão pequena que era, diziam, em tom de brincadeira que quando entrava o padre, saía o Santo e quando este entrava, saía o padre,. Definiu-se o início de um esforço para criar-se a Capela São Luiz sendo marcada no dia 16 de junho de 1957 a primeira missa campal no jardim São Luiz presidida pelo padre Germano Jutter, que recebeu a imagem do Santo padroeiro da juventude, São Luiz Gonzaga, emprestado do seminário do Verbo Divino e levado em procissão no mesmo dia às 15:30 horas.

A capela provisória, para receber tão ilustre visitante e que muito honra aos jardinenses legítimos, foi erguida rapidamente e seu contorno limpo para acolher de braços abertos o povo. As senhoras enfeitaram o andor adornando a capela com a importância merecida da ocasião. Providências a parte, criou-se a “Campanha para a construção da Igreja de São Luiz Gonzaga”, onde instituiu-se uma cartela com indicadores mensais da contribuição em prol da construção que foram acrescidos e reforçados com quermesses que eram embelezadas pela banda proveniente de Santo Amaro com “uma alvorada de fogos de estouro”. Consta em ata lavrada por seus membros de comissão que “a imagem de São Luiz foi comprada a prestação no valor de um mil e trezentos cruzeiros, sendo quinhentos cruzeiros de entrada e o restante em pequenas prestações mensais de trezentos cruzeiros”.

As barracas para nossa primeira quermesse foram concedidas pela comissão do Capão Redondo, que na época já era definida como paróquia sendo o bairro, pela proximidade com a estrada que levava a Itapecerica da Serra, um marco, um bairro nos idos de 1912.
A capela terminada consumiu $ 9.125,00 cruzeiros, e que teve uma zeladoria a cargo das senhoras Ana Luiza Garbieri de Freitas, e Joana Molina Martins. A comissão elegeu outro presidente o Sr. João de Oliveira. A ata do dia 10 de dezembro de 1957 constava: comissão pró construção da Paróquia São Luiz Gonzaga, bairro do Jardim São Luiz em Santo Amaro, Paróquia Capão Redondo e já era sede a rua 4 (atual Antonio da Mata Jr.), número 80 e eram ofertados tijolos para erguer as primeiras paredes.

As missas na capela provisória eram mensais e consta a vinda de padres do Capão Redondo. A Cúria Metropolitana de São Paulo tinha a frente Dom Paulo Rolim Loureiro que não autorizou celebrar a Missa do Galo em uma capela. Mas resolutos, adquiriram material para construir suas barracas consumindo Cr$ 910,50 (cruzeiros) na Casa Ferreira Simões, pois muito material de construção vinha mesmo de Santo Amaro.

Em 2 de fevereiro de 1958 o membro da comissão sr. Vitório Libone trouxe o chefe de gabinete do prefeito paulista da época sr. Adhemar Pereira Barros, o sr. Arlindo Rodrigues que demonstrou interesse em discurso de criar benfeitorias no bairro. Muito havia o que construir em conjunto com a prefeitura paulistana e o governador em exercício Jânio da Silva Quadros.
Na época já existia a sub prefeitura de Santo Amaro e o São Luiz como seu subdistrito. O padre Fabiano S. Cachel tornava-se vigário da paróquia.

A Light Power and Company Ltd., cedia cinqüenta metros cúbicos de areia das margens do então limpo Rio Pinheiros, correndo o transporte por conta da comissão e que o carreto teve um custo de Cr$ 3.600,00. Na ata do dia 21 de agosto de 1958 constava o requisito de demolir a capela provisória.

Em 9 de outubro de 1958 manteve-se um minuto de silêncio pela passagem de Pio XII, falecido no dia 7. Citando a festa sempre aguardada não só no Jardim São Luiz mas em todos bairros emergentes em homenagem a Nossa Senhora da Penha, no mês de setembro.
Registrado também está que no dia 1o de janeiro de 1959 houve a missa solene às sete horas e trinta minutos na capela provisória, esta marcada por constar a primeira comunhão das crianças do catecismo do bairro Jardim São Luiz, celebrada pelo vigário do Capão Redondo, padre Fabiano S. Cachel.

Locomover-se para igreja era difícil, pois situada no alto carecia de acesso e era contornada pelas ruas vizinhas e o registro de 19 de março de 1959 dizia-se que a comunidade, comissão e a Sociedade Paulistana de Terrenos, que loteou o bairro São Luiz prontificavam-se a arrumar as escadas frontais à igreja para facilitar o acesso.

Como finalidade que era, sem dúvida, a construção da igreja, providenciou-se as quermesses com barracas que mantinham, leilões de prendas, quentão, as casinhas numeradas para entocarem um porquinho da índia assustado e espantado pelos concorrentes ao prêmio em disputa e as argolas lançadas no gargalo d’alguma garrafa e aparada por um toco quadrado ao fundo da mesma onde a argola deveria vencer apoiando-se na mesa e fazendo jus ao prêmio disputado. Ou a série de números de um bingo competitivo sendo completado com as barracas das bebidas e churrasco e onde a música fluía de outra banda, a “Corporação Musical de São Judas Tadeu”, de Indianópolis que completava a beleza do evento com ares de uma cidade interiorana.
Em 10 de setembro de 1959, menciona-se a aquisição do telhado da igreja no valor de Cr$ 58.500,00, conseguidos com sacrifício e definindo o marco referencial do Jardim São Luiz, completada a cobertura em 25 de outubro de 1959.

A igreja firmava-se como condição prioritária no desenvolvimento do bairro, sendo que os padres Joel Ivo Catapam do Seminário Verbo Divino e Fabiano S. Cochel da Paróquia Capão Redondo assumiram a causa apoiados por uma comissão bem estruturada que não esmoreceu na árdua empreitada, juntamente com Congregados Marianos e Filhas de Maria. Assim, em dezembro de 1960 o bispo auxiliar de São Paulo, Dom Paulo Rolim Loureiro, comunicava que elevava à categoria de paróquia a “Igreja São Luiz Gonzaga”.


A partir de 1964 um jovem aceitou o desafio de estar à frente da Paróquia São Luiz Gonzaga, Padre Edmundo da Mata, que se familiarizou com o bairro repercutindo sua evangelização em nome da Igreja de Cristo.

             Hoje o Jardim São Luiz possui uma paróquia moderna, pela efetiva participação de moradores juntamente com o pároco Edmundo da Mata em prol de uma nova paróquia, reportada à Diocese de Campo Limpo.

A Capela Penhinha: Jardim São Luiz, São Paulo

Um marco histórico eternizado pelo nome Penhinha

Já em tempos passados, os bandeirantes que desbravaram o interior paulista buscavam a proteção em suas empreitadas, pedindo proteção e recorrendo em preces à "Nossa Senhora da Penha da cidade de São Paulo". Quando ocorriam calamidades públicas de epidemias e secas, era evocado seu nome e, deste modo, a Câmara Municipal outorgou à Capital o título de padroeira da cidade, assim, tornou-se parte da história de São Paulo.

Consta que os paulistanos faziam questão da presença da Senhora da Penha em sua cidade. Remonta a 1814 a primeira ida da imagem a Sé, em festa solene. Devido à tal devoção, a entrada do bairro Jardim São Luiz havia como marco principal uma pequena capela em homenagem à Nossa Senhora da Penha, carinhosamente denominada "Penhinha", que foi erguida em homenagem a santa, por mérito e graça das benesses conseguidas ao longo da trajetória vocacionada na fé.
Ao alto, a capela tinha uma escada frontal que dava acesso aos transeuntes e devotos, que lhe transmitiam o carinho e merecimento, rodeada por altos coqueiros. Havia, na capela, uma nave com um campanário com sinos em bronze, datados de 1904, apoiada por bases laterais e um eixo central que repicava a anunciar um feito importante. Ela era branca como a santidade do lugar e transmitia a segurança necessária ao viajante que pedia saúde e proteção.
Próxima à atual Avenida João Dias, era o entroncamento da estrada que levava ao Município de Itapecerica da Serra, por onde passava toda a boiada da fazenda Santa Gertrudes, (que atualmente será ladeada pelo Rodoanel) em direção ao famoso frigorífico Eder em Santo Amaro, ao lado na Santa Casa de Misericórdia.




A capela era parada obrigatória para boiadeiros devotos que, em suas montarias, atrelavam os animais próximos à Penhinha, onde também existiam armazéns de gêneros básicos, onde se adquiria arroz, feijão, banha, milho, e que faziam parte da vida cotidiana dos transeuntes, matutos caipiras interioranos, felizes, de fala mansa.
As festas em comemoração à santa faziam-se com participação popular dirigindo-se em júbilo para homenagear à "Santa Penhinha". A grandeza de toda comunidade circulante era demonstrada nas bandeirolas e enfeites, colorindo e embelezando tudo ao redor, cercado por mata fechada. A parada tornou-se também obrigatória aos alegres "botinas amarelas", romeiros que partiam de Santo Amaro em direção ao Bom Jesus de Pirapora.
Animais impecáveis, com arreios reluzentes, atrelados às charretes que conduziam famílias inteiras que faziam ali a parada, davam ao lugar um estilo interiorano próprio de Santo Amaro, orgulhoso de ser até um senhor mais velho do que a grande metrópole e que, até 1935, era município autônomo, antes da intervenção do Estado.
A Capelinha abrigava poucas pessoas em seu interior e muitos fatos de relevância eram desenvolvidos à sua volta como, por exemplo, a missa campal, literalmente no campo, em devoção a Deus, com interseção dos distintos Santos: a Nossa Senhora da Penha e o ilustre casamenteiro Santo Antônio, que recebia todo tipo de pedido de mocinhas à procura de seu príncipe encantado.
O local abrigou a empresa de terraplenagem ENPAVI, que, se deslocando para outro local, cedeu o espaço por sua vez, ao sistema poliaquático "The Waves", um conjunto de piscinas cobertas e que foi desativado.

A famosa Capelinha de Nossa Senhora da Penha, ou simplesmente Penhinha, foi demolida em maio de 1973 e hoje pertence ao Grupo francês CASINO (Casino Guichard Perrachon), detentora do Pão de Açúcar,Extra.
Terraplenagem década de 1970



sexta-feira, 10 de maio de 2019

A Ordem Premonstratense em Pirapora do Bom Jesus, São Paulo


“Prontos para toda a Obra” 

A  Ordem Premonstratense[1], ou dos cônegos regulares Premonstratenses foi fundada em 1119, na região de Prémontré, na diocese de Laon, França, um pântano isolado na floresta de Coucy, por Norberto de Gennep, filho do conde de Gennep, região Xanten, no Baixo Reno, no atual território da Holanda.

Em fins do século XIX, o então bispo de São Paulo, Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti,(de 1894 a 1897) dirigiu-se ao prelado da Abadia de Averbode, Bélgica, solicitando sacerdotes para trabalho em sua diocese.

Dom Gumaro Crets, aceitou o desafio e nomeou os primeiros cônegos Vicente van Tongel e Rafael Goris, destinados a administrar o Santuário do Senhor Bom Jesus de Pirapora e iniciar um colégio financiado pelo bispado de São Paulo.    

Em 07 de agosto de 1896, os dois cônegos partiram da Bélgica chegando no Seminário Diocesano de São Paulo em 26 de dezembro de 1896, tempo este para familiarizarem-se com a língua portuguesa.

À época o Santuário do Senhor Bom Jesus de Pirapora, situado no município de Pirapora do Bom Jesus, já atraía romeiros das redondezas e de outras cidades do Estado de São Paulo e até de outros locais do Brasil.

Em 28 de dezembro de 1897, o Santuário do Senhor Bom Jesus e suas terras da freguesia foram desmembrados da Paróquia de Santana de Parnaíba, tornando-se Paróquia, sendo no mesmo dia nomeado, o primeiro Pároco, o Cônego Vicente Van Tongel, tomando posse na missa de 02 de janeiro de 1898.

Em 1897, começaram a construção do colégio, que se tornou o Seminário Menor Metropolitano de São Paulo, de 1905 a 1949. Depois funcionou neste local o Seminário Premonstratense, de 1949 a 1973, que até esta última data foi a casa central da canonia, local onde se situava a ordem dos cônegos regulares Premonstratenses.

A capela do seminário foi construída entre 1926 e 1928, e foi inaugurada por Dom Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de São Paulo.

Na entrada da capela, há uma cripta com os restos mortais dos cônegos e irmãos falecidos. Atualmente, as atividades do seminário foram transferidas para outra cidade, e os cônegos premonstratenses decidiram abrir a capela e demais áreas para visitação pública.

A Abadia Premonstratense de São Norberto está localizada em Jaú e foi a primeira construída na América Latina e depois a ordem se espalhou pelo Brasil.

Um pouco da história da “Imagem Senhor Bom Jesus de Pirapora”, do “Município Pirapora do Bom Jesus” e da “Paróquia Santuário do Senhor Bom Jesus de Pirapora” 

Consta que José de Almeida Naves, morador de Parnaíba, encontrou em Pirapora, por volta de 1725 uma imagem do Bom Jesus, levando-a para casa, onde colocou num altar doméstico[2]. Não se sabe ao certo de onde veio à imagem, talvez lançada no rio após um assalto ocorrido na capela de Nossa Senhora da Escada em 1633, em Barueri. José de Almeida Naves requereu a necessária licença eclesiástica para construir em suas terras, uma capela, concedida em 07 de maio de 1725.
Em 1730, o Padre Jacinto de Albuquerque Saraiva, Pároco de Parnaíba, benzeu a Capela do Senhor Bom Jesus e em 06 de agosto de 1730, celebrou a primeira festa em louvor ao Senhor Bom Jesus de Pirapora.

Em 1887 a então Capela de Bom Jesus foi elevada a Santuário, por Dom Lino Deodato de Carvalho, Bispo de São Paulo (de 1873 a 1894), continuando na dependência da Paróquia de Parnaíba.

A paróquia do Senhor Bom Jesus, cuja Matriz é o Santuário, que com a criação da diocese de Jundiaí em 1966, foi desmembrada da diocese de São Paulo[3].


Foi durante mais de quarenta e cinco anos a sede do “Seminário Menor Metropolitano da Diocese de São Paulo”[4], foi seminário Menor e Maior da Ordem Premonstratense e hoje é residência dos cônegos premonstratenses. Também funcionam neste prédio a casa de formação dos jovens religiosos da Ordem, o museu “São Norberto” e casa para encontros de jovens.

A Província Redentorista de São Paulo assumiu desde abril de 2018 o trabalho administrativo e pastoral do Santuário do Senhor Bom Jesus de Pirapora



OBS.:
Há pequenos desencontros em algumas datas, talvez pela informação da oralidade, embora muito do que consta desta historiografia saíram do livro de Tombo da Paróquia de Santana de Paraíba e da Ordem Premonstratense.




Fontes:





Vide um pouco mais desta história em:
JOSÉ WASTH RODRIGUES E O SEMINÁRIO MENOR METROPOLITANO DE SÃO PAULO EM PIRAPORA DO BOM JESUS[1]


[1] A Ordem Premonstratense, dos cónegos regulares Premonstratenses (latim: Ordo Præmonstratensis ou Candidus et Canonicus Ordo Præmonstratensis, O. Præm) são também conhecidos por Cónegos Brancos ou Cónegos de São Norberto.  É um ramo derivado da Ordem dos Cônegos regulares de Santo Agostinho. No Brasil os Premonstratenses estão presentes em três canonias: Canonia Jauense (Jau, SP), Canonia de Montes Claros (MG) e a Canonia de Itinga (Lauro de Freitas, BA).

[2] No livro Tombo da Paróquia de Santana de Paraíba encontramos a primeira referência oficial à Imagem do Bom Jesus. Era a resposta que o Padre João Gonçalves Lima, pároco de Parnaíba, nos anos de 1797 a 1839, mandou em 27 de outubro de 1825, aos quesitos da circular da Cúria de São Paulo sobre as capelas de Parnaíba.

[3]Diocese (do grego antigo διοίκησις, dióikessis, pelo latim: dioecēsis) é uma unidade territorial
administrada por um bispo. É também referida como um bispado, Área Episcopal ou Sede episcopal. A diocese é a unidade geográfica mais importante da organização territorial da Igreja.

[4] O “seminário menor”, antes do Concílio Vaticano 2º (1962-1965), era o tempo de estudos do seminarista correspondente aos estudos de nível médio. Hoje só se aceita candidatos ao sacerdócio com mais de 18 anos e concluído o nível médio. O tempo vocacional hoje se chama propedêutico, com duração de 2 anos para os aspirantes que depois iniciam o noviciado.
O antigo nome “seminário maior” hoje corresponde aos estudos de Filosofia e Teologia, sendo os “seminaristas diocesanos” residentes locais e que é reconhecido pelo nome de seminário. 


segunda-feira, 6 de maio de 2019

A Avenida Paulista e os Matarazzo(s)


A indústria nacional e seus percalços

Trabalhava na Alameda Campinas, número 463, próximo à esquina da Avenida Paulista, na empresa que elaborou os projetos do "Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico" do país. Na época, faziam-se mega investimentos na área siderúrgica, e queriam a todo custo fazer cinquenta anos em somente um, plagiando antigos governos, que se prontificaram a resolver tudo em cinco; aliás, estratagema usado constantemente em seu processo desenvolvimentista, e continua-se a insistir no modelo. Nunca, na história deste país, houve planejamento conciso; sempre se optou pelo imediatismo, adquirindo tecnologia encomendada de outros países, abdicando-se da formação intelectual e técnica da especialização local e da estrutura educacional.

Esta empresa multinacional italiana estabeleceu-se nas imediações da Avenida Paulista, que já apresentava parte da estrutura financeira deslocada do Centro Velho de São Paulo, próxima ao famoso prédio da Gazeta, da Fundação Cásper Libero, onde havia o Cursinho Objetivo, preparatório de vestibulares, local da circulação de jovens estudantes que acreditavam, um dia, poder fazer parte do desenvolvimento do país. Nesta idade têm-se grandes projetos, sonhos e muitas ilusões, e eu acreditava nisso também.

O corpo da empresa era representado por dois terços de mão-de-obra brasileira que qualquer grupo europeu deveria manter em seu quadro de colaboradores, definidas pelas normas da consolidação das leis do trabalho nacional, e o restante deslocou-se da Itália para incorporar a área de projetos industriais da multinacional FINSIDER no Brasil, com a razão social ITALIMPIANTI, do setor da metalurgia, responsável pela elaboração de máquinas para portos, mineração e todo equipamento do campo siderúrgico.

Trabalhávamos no 14º andar, onde víamos uma multidão cotidianamente deslocar-se para cima e para baixo na famosa Avenida de São Paulo que representava todo impacto paulistano de não parar jamais, e presenciávamos as coisas mais marcantes e inusitadas possíveis à época.

Um coisa impactante que vimos foi o cortejo fúnebre de Francisco Antônio Paulo Matarazzo Sobrinho, grande empresário-industrial paulistano conhecido como Ciccillo Matarazzo, saindo da residência Solar dos Matarazzo na Avenida Paulista, e que pertencia à família que representava às maiores indústrias do Brasil e que ousaram acreditar no desenvolvimento do país, independente de quaisquer questões políticas de determinado momento histórico. Não há pretensão de expor relatos da questão, pois há uma gama impressionante de livros acadêmicos* que estudam esta época áurea das indústrias no Estado de São Paulo e na Capital.

Houve algo que não era costumeiro naquele espaço urbano que foi representado por cortejo impressionante de uma comitiva caminhante, misturada à automotiva, que parou a Avenida Paulista, com aquele respeito de outrora, quando todos os comerciantes fechavam as portas de seus estabelecimentos em sinal de pesar ao passamento de alguém que um dia fez parte da história local. Era algo incomum no final da década de 70, onde todos acompanhantes faziam uma espécie do réquiem, com silêncio impressionante, diferente daquilo que representava a Cidade com todo seu movimento urbano, um "ser vivo" incompreensível!

As pessoas por um instante fizeram a homenagem que o momento requeria e continuavam em um olhar perdido, seguindo o horizonte em direção à Rua da Consolação. Parecia um estado de agonia e êxtase, uma catarse, onde recebíamos o estalo de um choque que todo ser humano sente de impacto momentâneo descobrindo que somos finitos. Esta reflexão nos interroga no nosso íntimo qual é realmente o sentido de sermos sujeitos daquele momento histórico, onde tudo parece fazer parte de uma tragicomédia representada pela nossa contemporaneidade. O cortejo dirigia-se ao Cemitério da Consolação, onde existe um dos mausoléus mais suntuosos daquele campo santo, uma obra prima para perpetuar os representantes das Empresas Reunidas Matarazzo.

Uma segunda situação presente foi que este cortejo havia saído de uma residência no número 1230, que representava um marco da Avenida Paulista, que pessoalmente considerava de arquitetura arrojada pelos padrões de então, que fora cercada pelo último reduto de barrões do café e grandes empresários que deram início à grandeza e real pujança da Cidade de São Paulo, que se perpetua na atualidade, e parece não se findar com suas transformações constantes. Esta casa, que outrora acolheu grandes representantes da família Matarazzo, após este momento solene, também corria o risco de desaparecer. Havia um murmurinho em todos os cantos, que a casa seria "tombada" pelo patrimônio histórico e que seria incorporada aos poucos prédios históricos da Cidade.

São Paulo não possui residências de seu passado de taipa, de pau-a-pique, batidas aos sopapos; para que se preservaria um passado mais recente? Nada disto faz parte deste imaginário conservador da história e lega-se a arqueologia procurar resquícios escavadores ou vasculhar registros extraídos de algum abnegado que resolveu, em seu silêncio de monge enclausurado em si mesmo, esboçar em pintura ou fotografia, vislumbre descoberta de então, como as expedições incorporadas por pintores famosos como Rugendas, mostrando pousos de tropas de nosso "caboclismo", ou o abnegado Militão Augusto de Azevedo, que "sentiu" a "força do capital" e registrou em flashes da cidade, hoje documentos importantíssimos, além de Benedicto Calixto de Jesus, ou Oscar Pereira da Silva, somado a José Ferraz de Almeida Júnior e o italiano Ângelo Agostini, desenhista responsável pelo surgimento da caricatura em São Paulo, fundador da revista Cabrião, e tantos outros que expuseram nos anais históricos da Cidade de São Paulo, e do Brasil, sua marca imprescindível para o entendimento desta primeira cidade interiorana do Brasil, fundada numa pequena "colina" apossada dos ameríndios e longe do litoral brasileiro. Tudo isto, ou parte disto, se tornou patrimônio paulista e paulistano pelas mãos de Ciccillo Matarazzo que incorporou as artes, como grande mecenas, enriquecendo os museus com esse legado.

Voltando às especulações do "derruba e não derruba" da casa dos Matarazzo... Eis que um belo dia, no meu trajeto costumeiro ao "apear" do ônibus e subir em direção a Alameda Santos, adentrando a Rua Pamplona, rumo a Avenida Paulista, onde pela manhã o sol nasce do lado do Paraíso, olhando do lado, inesperadamente parecia-me faltar algo; o quê?

Faltava a Casa dos Matarazzo! Tinha virado escombros, com poucas paredes em pé; aproximei-me da grade, como quem se aproxima de algo morto, espantado, parecia que a haviam bombardeado na calada da noite. Em um lugar da residência, "tombado" estava a ferragem de um maquinário que mais parecia um elevador, e que "jazia ao lado" da demolição, única testemunha ilesa, de uma era. A casa não aparentava ser tão alta na sua estrutura para ter merecido tão requintado luxo, embora digam que ela foi o marco da suntuosidade, e naquele instante ao lado do prédio da Gazeta, a residência era algo irrecuperável.

Na escadaria da Gazeta repleta de estudantes, havia o burburinho costumeiro do riso e da alegria própria dos jovens, mas eles não precisavam entender aquele momento, pois era para mim também, naquele instante, dificultosa a interpretação. Segui meu trajeto costumeiro, entrei para degustar um café expresso, uma novidade até então, um progresso aos costumes paulistanos. Do balcão da copa estupefato olhava silencioso observando que havia valor econômico imobiliário e disputas empresariais que se incumbiram de destruir, ou melhor, apagar para sempre os resquícios do passado paulistano, que outras gerações vindouras, mesmo que aqueles que presenciaram comentem; somente verão pela óptica do grande estacionamento como usuários com seus automóveis, protegidos por muros preservados e a fachada da entrada intacta da residência, que fez, um dia, parte da história da grandeza de São Paulo e pertenceu a família Matarazzo.

Outras histórias de São Paulo começam a serem escritas; viremos outra(s) página(s)!

Referências:
*COUTO, Ronaldo Costa. Matarazzo [A Travessia].São Paulo: Editora Planeta, 2004
Matéria editada em 10-12-2010 em: http://www.saopaulominhacidade.com.br/historia/ver/4486/Paulista%2Be%2Bos%2BMatarazzo

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