terça-feira, 31 de maio de 2022

A Casa “Allemã” na Cidade de São Paulo e a Fábrica de Móveis Indústrias Paulus Ltda, em Santo Amaro: Um Elo Familiar

Alemanha e Brasil juntos

A família de Ernst Gustav Paulus[1], futuro arquiteto, nascido em 1868, sua mãe Lisette Ottilie (nascida Oehler) e seu pai, Heinrich Emil Paulus, decidiram se mudar de Kleve, no Baixo Reno, para Westphalia, onde Heinrich era gerente da propriedade florestal em Dickenhagen, perto de Altena, na Alemanha.

Os filhos Ernst Gustav e Paul Otto Paulus provavelmente saíram de casa cedo, pois a situação econômica era muito difícil.

Ernst Gustav Paulus começou a estudar na Royal Prussian Building Trades School em Nienburg an der Weser, escola técnica de Hanover, onde finalmente trabalhou nos departamentos em dezembro de 1888.

Graduado em Arquitetura e Engenharia Civil, em 1890, Paulus teve que cumprir seu serviço militar de três anos como "soldado do regimento ferroviário" em Berlim.

Em 1898 Ernst Paulus casou-se com  Katharina Antonie Mathilde Elisabeth “Elli” Schade (falecida 8 maio 1952), de onde vieram os filhos Ernst Günther Paul Friedrich Paulus, em 1898, Anneliese Paulus, em 1904, e Rolf Emil Paulus, em 1908.

Em 1901 tornou-se sócio do escritório  de arquitetos “Grisebach und Dinklage” dos fundadores Hans Grisebach e August Dinklage. Em 1904, juntou-se ao norueguês Olaf Lilloe. Por causa da situação econômica da Alemanha ao final da Primeira Guerra Mundial, Olaf Lilloe deixou o país em 1918 e voltou para a Noruega.

Em 1925, Ernst Gustav fundou um novo escritório de arquitetura com seu filho Günther, que estudara arquitetura em Karlsruhe e Berlim, recebendo seu doutorado em Darmstadt em 1924.

Ernst Gustav Paulus desde 1896 era membro da loja maçônica “Friedrich Wilhelm zur Morgenrote”. A chamada “Vila Heydenreich”, construída entre 1914 e 1916. O construtor, Adolf Heydenreich, era sócio da empresa “Heydenreich Irmãos” especializada em artigos de moda, e sócio limitado de uma loja de roupas sediada em São Paulo, Brasil, desde 1883. A residência ele a construiu para si, sua esposa Mathilde Plaeschke e filhos, imediatamente após retornarem do exterior.

Os laços da família foram perpetuados pelo matrimônio as duas filhas de Adolf Heydenreich Irmgard e Charlotte, na década de 1930 com os dois filhos de Ernst Paulus, Günther e Rolf.

A construção de uma igreja neste local foi originalmente planejada em 1911, paralizada pela 1ª guerra e finalizada em 1929, obra do escritório de arquitetura “Architekten Paulus”, que Ernst e Günther Paulus administraram juntos. A igreja (Kreuzkirche) é hoje um dos poucos monumentos sobreviventes da arquitetura expressionista desta época.

Ernst Günther Paul Friedrich Paulus casou-se em 6 de maio de 1933 com Irmgard Heydenreich em Berlin-Dahlem, de onde vieram os filhos, Klaus-Günther (6 de maio de 1933), Rolf Dieter Konrad Paulus (15 de abril de 1935), Gotz Hartmut Paulus (11 de junho de 1941) e Irmgard-Verena ( 22 de setembro de 1942)

Com o início da guerra em 1939, Günther Paulus foi convocado, servindo na Finlândia e Alemanha. Após o fim da guerra, em 1945, a família mudou-se para a Suíça, onde permaneceu encontrando um emprego na Schweizer Architekten Max Kopp, em Zurique. Em 1946, Paulus tornou-se assistente de desenhos de construção e arquitetura na Universidade Técnica Federal Suíça em Zurique, perto de Friedrich Hess. Neste mesmo ano a família emigrou para o Brasil. 

Em 1950, tornou-se diretor-gerente e coproprietário da “Galleria Paulista de Modas Ltda", antiga Casa Allemã, alterado o nome em 1942, sendo a primeira loja de departamento,  iniciada por Daniel Heidenreich, Traugott, Carl Andreas e Hermann com a razão social Heidenreich Irmãos & Cia, que era administrada pela família desde sua fundação em 1883.

Mathilde Plaeschke com Walter, Bruno, Erich, Irmgard e Charlotte. Mathilde Plaeschke era esposa do Adolf Friedrich Heydenreich, irmão de Daniel, Traugott, Carl Andreas e Hermann Heydenreich.(Crédito: Instituto Martius Staden)

Em 1953 inaugurou-se também em São Paulo a fábrica de móveis Indústrias Paulus Ltda, situada na Avenida João Dias, número, 2046, Santo Amaro, onde se localiza o atual Centro Universitário Ítalo Brasileiro. Em 1955 o escritório de arquitetura e construção Construtora Paulus.

A Indústrias Paulus, primeiramente focou sua produção no mercado interno e depois expandiu para outros países, com produção de móveis sobre encomenda.
Deste modo o showroom da empresa possuía sessões de mostruário de dormitórios, copas, salas de jantar e estar, cozinhas, especializando em modelos especiais para mobília infantil. Toda esta estrutura estava a cargo de Klaus e Gotz  Paulus, com atenta supervisão de Irmgard.



Em 1968 Günther Paulus retornou à Alemanha e se estabeleceu em Tegernsee, onde faleceu em 8 de setembro de 1976.


Referências: 

Alexander Ahrens (Seine_Jugend_war_hart_Der_Architekt_Ern.pdf)

https://www.gunde.de/genealogie/individual.php?pid=I2249&ged=scholz.GED

 

O Estado de São Paulo 9 de maio de 1952

Jornal do Brooklin, 24 a 30 de março de 1973

https://www.academia.edu/41574668/_Seine_Jugend_war_hart_Der_Architekt_Ernst_Paulus_Ein_in_Kleve_geborener_Baumeister_in_Berlin_in_Kalender_f%C3%BCr_das_Klever_Land_auf_das_Jahr_2020_Duisburg_2019_20_28

 

Quem, porventura, tiver informações ou imagens a respeito da referida crônica, favor contatar, para ilustrar o assunto.

 

 

 

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[1] Ernst Gustav Paulus

Nasceu em 29 Agosto 1868, em Kleve, Rheinprovinz, Preußen

Esposa Irmgard Heydenreich Paulus

Filhos:

Ernst Günther Paul Friedrich Paulus 1898–1976

Anneliese Paulus 1904– (FILHA) casada com Fritz Dally

Rolf Emil Paulus 1908– (FILHO) casado com Charlotte Heydenreich Paulus

Faleceu em Berlin, Preußen, Deutsches Reich, a 25 Julho 1935 

 

quarta-feira, 25 de maio de 2022

As Duas Primeiras Escolas do Bairro Jardim São Luiz: A Escola Estadual Marechal Eurico Gaspar Dutra e a Escola Estadual Professor Luiz Gonzaga Pinto e Silva

“O bairro Jardim São Luiz possuía um grupo escolar, edificado como galpão de madeira, onde se ministrava o equivalente hoje ao fundamental I e a continuação que se denominava à época de ginásio, hoje equivalente ao fundamental II, não existia, tendo que se buscar esse recurso em Santo Amaro. Assim a educação básica era feita na única escola existente, o Grupo Escolar Jardim São Luiz.

O 3º Convênio Escolar, responsável pela maioria da construção de galpões de madeira, foi promulgado através da Lei Estadual nº 2.816, de 27 de novembro de 1954. O 3º Convênio foi extinto em 1959, longe de alcançar a qualidade que apresentou o 2º Convênio: enquanto o 2º Convênio Escolar construiu 52 escolas em 5 anos, o 3º construiu somente 17 escolas também em 5 anos de existência.

Durante sua vigência, as ações do 3º Convênio estiveram muito mais voltadas à construção de galpões de madeira, cerca de 500 galpões de madeira foram construídos para medir a demanda de uma determinada região, para, posteriormente, serem substituídos por edifícios de alvenaria. Esses galpões, porém, passaram a fazer parte da paisagem da cidade durante vários anos, inclusive no bairro do Jardim São Luiz.

A população reivindicava a construção de uma nova escola, pois o antigo de madeira não suportava mais a demanda de estudantes que era crescente no bairro.

Deste modo foi edificada uma nova escola, denominada “Escola Estadual Professor Luiz Gonzaga Pinto e Silva, construída pelo governador de São Paulo, Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto, que dirigiu o Estado na gestão de 1959 a 1963.

A demanda crescia na proporção direta do crescimento da cidade de São Paulo, mais especificamente na região de Santo Amaro que a partir da década de 1950, teve uma expansão industrial que afluíam uma mão de obra necessária para as indústrias locais crescentes.

Foi implantado então o Fundo Estadual de Construções Escolares (FECE) criado pelo governo do Estado para o planejamento da rede escolar, para atender à construção, ampliação e equipamentos destinados a escolas de ensino público, primário e médio do Estado, sendo, para isso, criada a LEI N. 5.444, DE 17 DE NOVEMBRO DE 1959.

Além disso através do IPESP-Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, contrataram arquitetos como Villanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e João Clodomiro Browne de Abreu,  arquitetos modernistas paulistas, sendo que o arquiteto e urbanista João Clodomiro foi responsável por aproximadamente 40 edificações escolares em São Paulo.


Foi deste modo que foi implantada a Escola Estadual Professor Luiz Gonzaga Pinto e Silva, situado à Rua Geraldo Fraga de Oliveira, número, 324, com início do ano letivo de1962 com alunos remanescentes do Grupo Escolar do Jardim São Luiz, hoje a atual Escola Estadual Marechal Eurico Gaspar Dutra. A oferta de ensino foi ampliada, englobando o curso primário da antiga escola, hoje o curso fundamental I, indo até o ginasial, correspondendo atualmente ao fundamental II, e depois expandindo para o colegial, hoje ensino médio.

A partir de 1985 foi derrubado o antigo galpão de madeira e construído em seu lugar outra arquitetura em alvenaria, recebendo o nome de Escola Estadual Marechal Eurico Gaspar Dutra[1], voltada para o ensino fundamental, localizada à Rua Hipólito Cordeiro, s/n no Jardim São Luiz”. 



[1] Nem a Diretoria, nem a Secretaria da Educação nem a direção da Escola Estadual Marechal Eurico Gaspar Dutra, sabem informar sobre a história da escola, quem foi seu primeiro diretor (a), os professores (as), nem a data de "fundação" da escola!!!

 

terça-feira, 10 de maio de 2022

Amassando barro no "fim do mundo"!

 História ORIGINAL publicada no site de São Paulo Minha Cidade em 28/11/2013

Saímos da Vila Nova Conceição, na década de 50, para irmos “morar no mato”, pois assim falavam nossos parentes; mas o que poderia fazer meu pai Ernesto, um operário que como tantos outros eram “expulsos” para mais longe de São Paulo? Os recursos eram parcos, não se dava casa com as facilidades da atualidade, não havia “Minha Casa, Minha Vida”, existia somente a vida, nem bolsa disso ou daquilo, apenas uma “algibeira vazia de sonhos” de muita gente conduzida por uma garra enorme de tentar construir alguma coisa que poder-se-ia chamar de seu!

Meu pai já tinha vindo para a região de Santo Amaro de bonde e descido nas cercanias do Largo São Sebastião, atual Bonneville, onde ficavam corretores para apresentar os “jardins” que se formavam e foi através de um deles que meu pai conheceu o Jardim São Luiz, com “Z” mesmo, que havia sido regularizado no final da década de 30, mas ninguém ousava vir para “esse fim de mundo”. Hoje, está bem diferente, brinco que moramos também nos Jardins, mas que não é o Jardim Europa, nem América, mas sim o São Luiz!

O “véio” veio de lá todo entusiasmado com um bocado de promissórias nas mãos, eram as prestações de um terreno de dez metros de frente por trinta de fundos. Fez nele um barracão de madeira, bem aprumado, estilo daqueles que ele havia visto na divisa do Paraná com São Paulo, quando era moço e vivia a colher café pelas fazendas. Os banheiros eram do lado de fora, pois, a latrina era “direta e reta”, não tinha esgoto de concessionária, não tinha energia elétrica, não tinha “nada”.

O caminhão partiu lá da Vila Nova Conceição, com as tralhas de minha mãe Elza, uma bicicleta de meu pai, comigo e a mãe na boleia e meu pai na carroceria. O Fordeco velho gemia no caminho da velha estrada de Santo Amaro, comia poeira amarelada que misturava com o enfumaçado do caminhão e rasgava o tempo todo um caminho esburacado. Diante de nossos olhos parecia um “mato grosso” todo fechado, que até a luz do sol pedia licença para entrar e chegando próximo ao destino dava para vislumbrar uma ponte da Light que ligava os extremos do Rio Pinheiros, ainda de águas límpidas ou próximo disso.

Quando entramos pela rua principal avistavam-se morros para todos os lados, o meu pai tinha adquirido um terreno “que dava até para pegar o Céu com a mão” e cercado por mata verdejante, não havia na época cinquenta casas no lugar, era “bem” longe de São Paulo, e não havia nem transporte coletivo, isso era artigo de luxo, pois passava uma linha que ligava Itapecerica da Serra até Santo Amaro da viação Emílio Guerra, que passava um dia “talvez” e outro dia “jamais”!

Era ali que nós “iriamos fazer nossas vidas”, sem bolsa família sem bolsa gás, porque nem precisava, cozinhava-se na lenha. O chão da cozinha era terra dura batida, o quarto tinha assoalho de madeira, em tempo frio era quentinho e no calor fervia. O banheiro tinha chuveiro “moderno”: era um balde, amarrado em uma corda, onde havia sido soldado um chuveiro com um registro, ensaboava-se todo o corpo e depois enxaguava tudo de um só vez, e se a água não desse saia ensaboado mesmo. O sabão era feito de gordura com soda cáustica, misturado com cinzas, falavam que era pra branquear roupa, mas nelas se usava pedra de anil para o mesmo feitio, não dava para entender essas práticas, eu aceitava e acabou, morria o assunto, não havia muitas perguntas.

A “bufunfa”, ou seja, o dinheiro, era curta, mas não podia faltar para a prestação do bem mais precioso, que era o terreno, assinado por compromisso de compra e venda, que se pagava na “cidade”, na Rua Brigadeiro Tobias, para a Sociedade Paulistana de Terrenos.

Foi assim o começo de muita gente que se enveredou por esse “mundão afora de São Paulo”, não se invadia nada, tudo era comprado com dinheiro “minguado” e era pago “religiosamente”. Hoje, pode tudo, meu pai iria até gostar de ganhar um terreno, uma casa, água encanada, pois a nossa foi de sarilho em poço de 35 metros cavado no barranco onde estava a casa e a fossa para detritos era um buraco de seis metros, que se esgotava de tempos em tempos, nada da “massa” ir para o Rio Pinheiros.

Agora, no século 21, o “edil” quer cobrar “caro” o imposto, algo realmente “imposto, na marra”, mas ele não tinha nem nascido e muita gente já amassava barro na lama das ruas dos incipientes bairros paulistanos, pois nem havia asfalto.

Assim nasceram muitos bairros afastados da periferia de São Paulo e se há semelhança é mera coincidência pela periferia paulistana!