sexta-feira, 28 de junho de 2019

O IMPERADOR DOM PEDRO 2º EM SANTO AMARO PAULISTA EM 1886

Sua Majestade Imperial na “Villa” de Santo Amaro (Ata de Santo Amaro em 14 de novembro de 1886 quando da visita de Dom Pedro 2º em Santo Amaro , vindo para a Província de São Paulo)
Vindo à Província de São Paulo os Imperadores do Brasil, resolveram os augustos hóspedes visitar Santo Amaro, notícia que causou grande júbilo a população.
Tomando as devidas providências, a Câmara de Santo Amaro reuniu-se em 25 de outubro de 1886, nomeando uma comissão composta dos senhores doutor Aquilino Leite do Amaral Coutinho, Padre Luiz Ignacio Taques Bittencourt e comendador Manoel Leite do Amaral Coutinho, incumbida de receber as majestades imperiais. Foram ordenados urgentes reparos no edifício da Câmara, sendo as ruas garridamente enfeitadas e a iluminação pública consideravelmente aumentada.
Na manhã de 14 de novembro de 1886 Suas Majestades chegaram. Acompanhadas de luzido séquito, recebendo entusiástica ovação do povo, apinhado por todas as ruas, dirigindo-se diretamente a Igreja Matriz e indo depois à Câmara. Realizou-se rápida visita ao edifício, sendo lavrado o livro número 4, de atas, à página 98, o seguinte termo:
“Aos quatorze dias do mês de novembro de mil oitocentos e oitenta e seis, data que se torna memorável para os santamaristas, pois nela tiveram eles a súbita honra de receber a muito alta visita de Suas Majestades Imperiais (SMI) na Sala de Sessões da Câmara Municipal desta Vila, presente Sua Majestade o Imperador, que se digna honrar esta com a Imperial rubrica, mais o presidente da Câmara e alguns vereadores, para que ficasse consignado tão momentoso e solene fato, lavra-se a presente ata. Eu, Manoel Leite do Amaral Coutinho, secretário interino a escrevi. (a.a.) Dom Pedro 2º- Manoel da Silva Machado- Amaro Antonio da Luz- Bento Pires De Oliveira- Augusto Antonio da Silva.”
Desta visita coube aos cofres públicos “santamaristas” uma despesa equivalente a 1:158$070, que não possuindo tal soma o então presidente da Vila de Santo Amaro, senhor Manoel da Silva Machado, dispôs da soma por empréstimo sem juros.

OBS:

O mil-réis foi oficializado em 08.10.1833 através da Lei 59, assinada no 2°. Império, pela Regência Trina durante a menoridade de D. Pedro II. Essa Lei reorganizou o Sistema Monetário Brasileiro. Mil-réis passou a designar a unidade monetária e réis os valores divisionários.

Na mesma época ficou conhecido o conto de réis, tratando-se do montante equivalente a 1 milhão de réis, ou mil mil-réis.

Rs 1:000$000 = 1 conto de réis = 1000 mil-réis = 1 milhão de réis.

A notação "Rs" era utilizada mais como uma abreviação de réis do que propriamente um símbolo do padrão monetário.

Efígie do Imperador Pedro II, circundada pela inscrição PETRUS II. D. G. CONST. IMP. ET PERP. BRAS. DEF. e o ano de cunhagem (exemplar desse missivista)

sábado, 22 de junho de 2019

DIA MUNDIAL DO FUSCA VW: 22 DE JUNHO


O BESOURO-FUSCA MUITO ALÉM DE PORSCHE

O "Dia Mundial do Fusca", 22 de junho, celebra a data de assinatura do contrato entre Ferdinand Porsche e a Associação Alemã da Indústria Automotiva, no ano de 1934.


Ainda em 1931 a Zündapp, fabricante de motos, decidiu se arriscar na ideia do carro popular alemão. Eles encomendaram ao escritório (Konstruktionbüro) Porsche a construção de um protótipo de carro popular. Porsche construiu três (na verdade a mecânica foi fornecida pela Zündapp, e as carrocerias pela Reutter), que foram batizados de “Tipo 12”, mas as condições econômicas não levaram à frente o projeto.
O projeto concreto de um carro popular alemão, refrigerado a ar, de 4 cilindros, de tamanho médio foi baseado no Tatra 97 (T97), fabricado na Checoslováquia e construído por Tatra em Kopřivnice, Morávia, de 1936 a 1939.
O Design do Besouro de 1936







Em 18 de janeiro de 1936, Erwin Komenda esboçou o primeiro projeto de "carro popular". Komenda trabalhou em vários projetos inovadores e recebeu o cargo de designer-chefe do departamento de testes e desenvolvimento da Daimler-Benz AG, de 1929 a 1931.
Deixou este trabalho na Daimler-Benz procurando novos desafios para ingressar no escritório de design da Ferdinand Porsche, para ocupar o cargo de chefe do departamento de design de carrocerias, que dirigiu até 1966.
Entre muitos projetos da Porsche ele desenvolveu o corpo do Besouro VW (Beetle),que no Brasil foi apelidado de Fusca. Com mais de 21,5 milhões de cópias, o VW Beetle tornou-se o automóvel mais vendido do século XX.
O famoso logotipo Volkswagen, é de autoria de Franz Xaver Reimpseb que também desenvolveu o sistema de refrigeração por ventoinha que é utilizado no VolksWagen a ar.

ref. Wikipédia



sexta-feira, 21 de junho de 2019

Bairro Jardim São Luiz: Loteamento em São Paulo de 1938!

UM ERRO HISTÓRICO SOBRE O BAIRRO JARDIM SÃO LUIZ, São Paulo



LEIA COM ATENÇÃO PARA NÃO PERPETUAR A CONFUSÃO DE DATAS DE FUNDAÇÃO DO JARDIM SÃO LUIZ

HOJE, 21 DE JUNHO, É DIA DO SANTO SÃO LUIZ GONZAGA E NÃO DO BAIRRO JARDIM SÃO LUIZ QUE FARÁ 81 ANOS EM 15 SETEMBRO DE 2019 E O SINO DA CAPELA PENHINHA FAZ 115 ANOS EM 2019! (segue foto do sino)

Não se registra um momento histórico por mero interesse pessoal, mas para deixar registrado para as gerações vindouras que houve um início registrado em documento, não com uma transmissão oral sem compromisso histórico.

Há de se colocar que gostamos de dar nossa opinião em todos os assuntos, e em história não se foge a regra: todos possuem duas profissões sendo uma aquela que temos habilidade em trabalhar no dia a dia e a outro “profissão” é contar história sem compromisso!

1) O BAIRRO JARDIM SÃO LUIZ, FARÁ 81 ANOS EM 2019: 
Decreto nº 3079 de 15 de setembro de 1938

2) O Santo São Luiz Gonzaga, é padroeiro do bairro Jardim São Luiz e é comemorado em 21 de junho.

3) O SINO DA CAPELA PENHINHA FAZ EM 2019, 115 ANOS.
O sino que hoje faz parte do acervo da Paróquia São Luiz Gonzaga, pertencia a Capela Nossa Senhora da Penha, onde hoje está o Supermercado Extra e foi fabricado em 1904, pela Fábrica Pólvora Estrella, que era da família Dias, onde tem o Bairro Penhinha, que se iniciou antes do bairro Jardim São Luiz. Esse sino não foi fabricado para “fundação” do Bairro Jardim São Luiz, mas para ser parte da Capela Nossa Senhor da Penha!


 Sino de 1904 da Fábrica Pólvora Estrella, da família Dias: 115 ANOS EM 2019


O bairro Jardim São Luiz, situa-se no município de São Paulo e foi criado de acordo pela lei nº 58 de 10 de dezembro de 1937, decreto nº 3079 de 15 de setembro de 1938. Loteamento inscrito sob nº 36, 11ª Circunscrição de Registro de Imóveis, localizado atualmente na Rua Nelson Gama de Oliveira, 235/365, na Vila Andrade, Região do Morumbi, São Paulo.

PORTANTO REFORÇANDO: O DIA DO SANTO SÃO LUIZ GONZAGA é 21 DE JUNHO e O DIA DO LOTEAMENTO DO BAIRRO JARDIM SÃO LUZ é 15 DE SETEMBRO DE 1938!


SÃO LUIZ GONZAGA 
(9 de março de 1568 / 21 de junho de 1591)

PADROEIRO DO BAIRRO JARDIM SÃO LUIZ/SP


Hoje, 21 de junho de 2019 comemora-se o dia do santo padroeiro São Luiz Gonzaga e haverá missa solene às 19:30 horas na Paróquia São Luiz Gonzaga, situada à Rua Antônio da Mata Junior, número 80!


Vide parte dessa história em:

BAIRRO JARDIM SÃO LUIZ, São Paulo/SP

sábado, 15 de junho de 2019

O PRESENCIADOR, O INVESTIGADOR E O HISTORIADOR


História não é uma fábula da carochinha!
Um “presenciador” (que algumas vezes é denominado de testemunha) de história pode não ter observado em um determinado instante a profundidade de um momento histórico e passado despercebido a importância do fato.
Não haverá nunca mais aquele momento, podendo até existir um com alguma semelhança, mas jamais igual, pois até os atores mudarão.
Cabe ao historiador investigar criteriosamente e juntar as peças da trama histórica para aproximar toda uma estrutura engendrada que culmina com um momento histórico.
Um “investigador” jamais participa de um crime, mas irá colher dados da trajetória do crime que serão acrescentados aos autos como provas.
O “presenciador” do crime, por vezes não grava na mente a roupa, os trajes do criminoso, ficará em dúvida...mas presenciou o crime, mas sua inconsistência não serão provas!
Tudo é história comprovada, mas nem tudo é histórico, pois para sê-lo é necessária uma transformação como um todo em determinada sociedade, ou por vezes até mais de uma!

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Pioneirismo da “Panificadora São Luiz” no Bairro Jardim São Luiz/SP


As padarias em Santo Amaro e Jardim São Luiz

A Panificadora São Luiz”, no bairro Jardim São Luiz, São Paulo, tinha a razão social T. D. Oliveira & Filhos, na antiga Rua 1, hoje Rua Geraldo Fraga de Oliveira, nº 195, foi iniciada em 1º de outubro de 1960 com suas novas instalações embora em regime de fabricação de pães tenha sido implantada como experiência a partir de 1957, conforme declaração familiar. Toda a experiência na fabricação de pães, doces, confeitos variados salpicados com açúcar de confeiteiro, bolos para festas e até o “biscoito especial” muito apreciado e que já era produzido quando das instalações em Santo Amaro, faria parte também da Panificadora São Luiz, além do fornecimento de bebidas nacionais e estrangeiras.


PROCISSÃO DE SANTA ISABEL PADROEIRA DOS PADEIROS


Na inauguração do estabelecimento coube a benção do local ao reverendo padre Joel Ivo Catapan da Paróquia São Luiz Gonzaga.


Tertuliano Dias de Oliveira, nasceu em 7 de maio de 1905, em Santo Amaro, São Paulo. Toda sua habilidade em confeccionar doces e salgados começou quando criança trabalhando de padeiro na Padaria do Jacó, em frente à Prefeitura de Santo Amaro. 




Em Santo Amaro havia nomes de peso no setor de panificação como a
Padaria Hessel, na Alameda Santo Amaro, esquina com a antiga Belchior de Pontes, atual Gen. Roberto Alves de Carvalho Filho, ou a Padaria Alemã, depois administrada pela família Grassmann e bem mais tarde as instalações fizeram parte da padaria Goa, situada no Largo 13 de Maio, nº 11, fazendo esquina na Rua do Cotovelo, atual José Bonifácio. Nesta última citada Tertuliano havia trabalhado de padeiro.

 



“Padaria e Confeitaria 15 de Novembro” hoje: CONSTRUÇÃO de 1928


Depois Tertuliano passou a trabalhar na “Padaria e Confeitaria 15 de Novembro” e do “Bar e Restaurante 15”, gerenciado por Americo e Vittorio Angelico Maretto. Este estabelecimento foi adquirido mais tarde pela família de Manuel Antonio Alves, ficando reconhecido como “Padaria do Mané da 15”. Tertuliano permaneceu por 20 anos nessa empresa.

 



Depois de acumular boa experiência Tertuliano Dias de Oliveira resolveu se estabelecer por conta própria adquirindo a Padaria Brasileira, também em Santo Amaro, tornando-se dono do ponto da “Padaria Brasileira”, na Rua Direita, atual Capitão Tiago Luz, onde atualmente há uma filial das Casas Pernambucanas, mas não era dono da propriedade, que mais tarde  foi adquirida por Eliseu Schmidt e assim os “Oliveiras” resolveram se deslocar e abrir comércio em terreno próprio deslocando-se para o Jardim São Luiz na década de 1950.


Em 1956 começou a erguer o prédio que viria a ser a Panificadora São Luiz, primeira padaria do bairro Jardim São Luiz. Necessitando de máquinas industriais para a produção de panificação requereu junto a Light um transformador para suportar potências maiores exigidas pelos equipamentos instalados. Essa iniciativa contribuiu e muito para que novos ramais de eletricidade fossem feitos a partir desse ponto comercial, expandindo-se por todo o bairro, que caricia de energia elétrica.



Também para contatos com fornecedores e clientes foi o primeiro a adquirir uma linha telefônica no bairro incipiente do Jardim São Luiz.

Toda a família tinha sua função especifica na Panificador São Luiz, desde sua esposa Edwirges de Andrade como todos seus filhos, Rubens, Dulce, Waldemar, Osvaldo, Terezinha, Sebastião, Ary e Antônio Luiz.

Muito contribuiu a família Oliveira para o desenvolvimento do bairro. O senhor Tertuliano Dias de Oliveira, teve seu passamento em 12 de outubro de 1976, deixando seu legado de muito trabalho.






Hoje a Panificadora São Luiz, um marco local, com o passamento dessa dinastia Oliveira, se encontra fechada e seu último proprietário foi o senhor Rubens Dias de Oliveira!





Dois tempos: JARDIM SÃO LUIZ-SP, A BOCA DE VULCÃO DEPOIS DE 60 ANOS
(clicar nas fotos para ampliá-las)

Referências:
Depoimento e documentos dos filhos Rubens e Ary e fotos adquiridas em pesquisa.

Nota:
Aguardamos quaisquer referências que porventura possa haver para acrescer ou alterar a crônica, desde que elas estejam baseadas em fatos.

Cronica sujeita a alterações sem prévio aviso!

sábado, 8 de junho de 2019

Matadouro da Vila Clementino, Vila Nova Conceição e Itaim Bibi/SP


Vivências de uma época (original exposto em “São Paulo minha cidade em 01-10-2008)
Manoel dos Santos, conhecido pelo apelido de Salas por alguns e por outros de Piscais, veio com a esposa Maria de Melo Amaro, trazendo na bagagem somente esperança e muita vontade de trabalhar. Não tinham estudo algum e as "letras da primeira classe" foram feitas para o gasto daquilo que era necessário para o cotidiano. Vinha "recomendado", o que quer dizer que havia alguém estabelecido que se responsabilizava e comprometia-se a fixar-lhe com trabalho. No "Bilhete de Identidade do Instituto de Criminologia de Coimbra", Portugal, consta(va), no documento nº. 86696, como profissão "operário apícola".
O senhor Salas, nome de guerra dos tempos idos dos quartéis de cavalaria da antiga metrópole portuguesa, aportou por estas paragens brasileiras na década de 20. Homem forte e sem preguiça, acostumado à labuta diária, como tantos outros patrícios que vieram para o Brasil trabalhar por falta de mão de obra no campo.
Ao aportar em São Paulo, foi encaminhado para exercer o trabalho de jardineiro para a família de Julitta Prado Alves de Lima, em Higienópolis, número 8, com registro feito em 21 de novembro de 1927, em documento expedido pela "Directoria de Fiscalisação do Serviço Domestico", lei nº. 2996, de 16 de agosto de 1926. Sua esposa, por sua vez, cozinhava as comidas típicas das aldeias (pequenas vilas) de Portugal para os patrícios que trabalhavam na Fábrica de Doces Bela Vista, das balas Toffee, concorrente da Indústria de Balas Confiança.

Mais tarde, arrendou uma pequena chácara de Maneco Capinzeiro, na Estrada de Santo Amaro, que na época dava acesso ao Município de Santo Amaro, que era percorrido pelo ônibus 79, pois o bonde 104, vindo de São Judas, circulava por Indianópolis, a extensão da Avenida Ibirapuera para Santo Amaro. 
Essa chácara ficava quase em frente à farmácia do Seu Barros, hoje próximo ao hospital São Luiz, ao lado de um terreno baldio do CNI, Confederação Nacional da Indústria, onde as peladas esportivas corriam soltas nos fins de semana, e que se estendia até a Rua Jacques Félix. 
Crédito:Osvaldo Valente 
Igreja São Dimas

Do lado oposto, estava localizada a Igreja Nossa Senhora da Graça, depois a Igreja São Dimas, que dava fundos com a casa da Dona Joaninha, e a Escola Estadual Martim Francisco, na Rua Domingos Fernandes com Jacques Félix (dez mil metros quadrados que o interesse do setor imobiliário cobiça para prédios de luxo), onde parava o ônibus 80, com itinerário Vila Nova Conceição até o "Parque" Anhangabaú.

Nesse local, começou a se plantar rosas, dálias, cravos dobrados e algumas hortaliças, vagens, tomates, frutas, para consumo familiar e para um pequeno comércio do excedente.


DE CHÁCARA AO INTERESSE IMOBILIÁRIO NA VILA NOVA CONCEIÇÃO
A família, por sua vez, tendo um filho pequeno, Ivo dos Santos, começou a crescer e o jardineiro Manoel interessou-se por terras que estavam sendo arrendadas da família Rocco Tomazelli, a qual possuía comércio e transporte de carnes na Rua Afonso Braz. Na mesma rua também ficava a fábrica de massas "Pastifício Paulista". Na esquina das ruas Jacques Félix com Baltazar da Veiga, na esquina oposta à chácara do Piscais, estava localizada a "Padaria Mija na Pá", uma referência da época na região; apesar do nome pitoresco, possuía boa qualidade dos produtos oferecidos.

Estas ruas eram passagens de boiadas, que entravam na cidade de São Paulo pelo bairro da Lapa dirigindo-se para Pinheiros, seguindo pela Iguatemi, no bairro Itaim Bibi, atravessando a Vila Nova Conceição, em direção a atual Avenida República do Líbano.
Há uma epopeia que merece consideração, pois as manadas vinham do interior paulista, para abastecimento de carne da capital. Das cidades de várias localidades seguiam os tropeiros, geralmente com uma manada de oitocentos a mil e quinhentos animais, controlados por, aproximadamente, quinze peões e um capataz que conhecia o trajeto. A tropa era composta pelo ponteiro, aquele que vem à frente com o berrante, juntamente com o cozinheiro, seguido por dois burros cargueiros que carregavam caixotes, as "bruacas", contendo alimentos utilizados para o preparo da comida, panelas, bules, talheres e outros apetrechos que vinham no lombo dos animais, cobertos com uma lona, o "surrão". A cada cem animais havia um peão alternado, um à esquerda outro à direita, e atrás da manada vinham, geralmente, dois homens denominados "culatras", todos bem atentos para não ficar animal perdido, como diziam: "na arribada".
As viagens eram demoradas de dez a quinze quilômetros ao dia, dependendo do terreno. De tempos em tempos, trocavam-se os cavalos de montaria por outros descansados que seguiam com a tropa. Quando aportavam em São Paulo, estavam exaustos, necessitando de uma "aguada". Próximo ao que viria a ser o Parque do Ibirapuera, onde boa parte da área era um grande charco e servia de pastos, cortado pelo Córrego do Sapateiro, formava-se pequenas lagoas, onde os animais eram introduzidos num tanque, que servia para refrescar e para higienização, controlados pela vigilância sanitária, próximo ao Viveiro de Plantas Manequinho Lopes.
O Matadouro Municipal da Vila Mariana, na Vila Clementino, na atualidade a Cinemateca Brasileira, era o fim da linha da jornada. Fazia-se parada no Largo do Matadouro, ou Largo Senador Raul Cardoso, entregando a encomenda para abates e atender demandas da cidade que acolhia um grande número de pessoas, vindas de toda parte do Brasil e do mundo.
Há de se dizer que a cidade já seguia seu desenvolvimento para estas áreas mais próximas. Na Avenida Santo Amaro com a Rua Afonso Braz, foi implantada a Empresa Endoquímica, logo depois a Mead Johnson Company, pioneira da produção na nutrição infantil. Hoje, a área é ocupada pela Faculdade Metropolitana Unidas, FMU.
O senhor Piscais tinha o tino mercantil dos mouros e, aos poucos adaptado ao mercado, conseguiu manter uma licença de venda sobre o nº. 58589, controlado pela "Secretaria da Fazenda para Serviço de Ambulantes", para trabalhar em feiras-livres. A primeira foi na esquina da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio com Anajaz, hoje São Gabriel, próximo ao largo da Maná, na atualidade Praça Gastão Liberal Pinto.

Na mesma praça, mais tarde, instalou-se o "Bar do Turista", que se localizava bem abaixo do nível da rua havendo uma escadaria de acesso, e que servia o "sortido", composto de tudo um pouco, ou "prato feito", o PF, que insistíamos em mudar para PC ("prato cheio").
O senhor Piscais acordava pela madrugada, como todo feirante, e seu espaço já estava demarcado para trabalhar por "conta", como dizia. Pegava os bondes abertos, em que levavam com mais facilidade suas mercadorias, deslocando-se com cestos repletos de flores, ajudado pelas filhas, Odete e Elza, para outras feiras-livres localizadas na Alameda Lorena, Rua José Maria Lisboa, Avenida Paulista ou Avenida Doutor Arnaldo, próximo ao Cemitério do Araçá, onde as floriculturas que ali existem hoje são remanescentes dessa época.
Além da labuta diária das feiras-livres, que tinha ajuda familiar, cultivava as terras de sua chácara da Rua Jacques Félix, número 42, na Vila Nova Conceição, a base de enxada e regador, com água extraída de um poço largo, introduzindo a "cegonha", uma espécie de gangorra, à moda árabe, onde enchia os baldes para a rega cotidiana da plantação. Podava videiras, ensinava sem cerimônias o "segredo" do corte, com três "olhos" do broto à frente do galho, que na época da primavera se alastrava verdejante. Fazia os amarrilhos em feixes de flores a serem expostos nas feiras, no dia anterior, deixava tudo preparado em cestos de vime ou, quando eram próximas ao Itaim, levava em um carrinho de madeira, mais pesado que a carga a transportar.
Mesmo sem muita leitura, mas com uma experiência passada de geração à outra, o mestre em cultivo seguia um principio básico de manejo da terra: abria uma pequena vala circular e depositava tudo quando sobrava daquilo mesmo que cultivava (talos de legumes, cascas de frutas, restos de folhas que misturava com a terra), formando um húmus fértil, estrume o qual ainda era reforçado com esterco que se recolhia em cocheiras da vizinhança, ou de cavalos que pastavam por ali comendo o capim verdejante e abundante.
Limpar galinheiro era labuta de criança, que raspava as travessas dos poleiros o esterco que era recolhido para fertilizar algum pomar. Esse rejeito de estrume de galinhas produzia húmus orgânico, que, puro, queimava a plantação, precisando que fosse "descansada" num processo semelhante ao conhecido atualmente como compostagem, que era tão comum aos agricultores da época, que desconheciam os agrotóxicos atuais. De tempos em tempos remexia-se tudo com a forquilha, uma espécie de garfo para facilitar a fermentação deste composto.

Outra tarefa era separar as galinhas botadeiras. Às vezes, uma chocava no mato, e era bonito ver a mãe coruja, digo galinha, com toda ninhada marchando de volta pra casa. Esses pequenos afazeres serviam ao adágio que anunciava: quem perde o serviço do "meninito" é "tolito", e que, em outras palavras, queria dizer que quem não orientava as crianças em pequenos afazeres, era um bobo.
Havia na Avenida Iguatemi a chácara de seu cunhado Joaquim Monteiro Amaro, que tinha também larga experiência agrícola. Neste local, a terra tinha uma textura preta que parecia de melhor qualidade de plantio, talvez pela proximidade com o Rio Pinheiros, que havia sido retificado, havendo inclusive castanheiras e jabuticabeiras e plantas ornamentais, mas o que rendia alguns "trocados" mesmo era fazer mudas de hibiscos para construir cercas vivas.
As plantas frutíferas eram feitas enxertias, geralmente em pé de limão rosa, resistente a pragas, e, às vezes, vinham buscá-los para mudar alguma árvore de lugar - uma ciência que só os jardineiros tarimbados possuem - e iam fazendo um círculo profundo em volta, dizendo "cuidado com o espigão", que era a raiz central existente em toda árvore, que não podia ser afetada, senão a árvore não vingava.
Os filhos de seu Joaquim, Fausto, Jaime, Paulo, Alcides, apelidado de Nego, muito contribuíram para o esporte do Itaim, no antigo Canto do Rio, Marítimo, na atualidade o Parque do Povo, na Cidade Jardim.

O São Paulo Futebol Clube fez de tudo para levar o Fausto para o profissionalismo, mas Seu Joaquim não consentiu, pois, filho seu, tinha que trabalhar e ter profissão. Assim, tornou-se torneiro mecânico e o esporte perdeu um atleta, coisas dos tempos!
Mais tarde, o progresso expandia por São Paulo, que crescia e precisava implantar um transporte que levasse maior número de operários. No governo paulista do professor Jânio da Silva Quadros, surgia o papa-fila, da Fábrica Nacional de Motores, FNM, tentativa de constituir-se um veículo feito integralmente no Brasil. Um ônibus articulado, "moderno", onde se separava o motorista, que ficava na boleia (cabine do motorista) do cavalo (o que puxa a carga), e os passageiros atrás deste, havendo uma porta de entrada nos fundos e outra no centro maior para facilitar o "descarregamento".

As Padarias Charlú e Nice, situadas na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, que mantinham cocheiras na Vila Nova Conceição, perderam seus espaços para vendas de automóveis da A.P. Gonçalves, do Seu Ramos. Eram novos tempos de governos democráticos, iniciados por Juscelino Kubitschek e João Goulart, empossados em 31 de janeiro de 1956, época dos anos dourados.
O prédio do seu João Ribeiro, onde estava a sede do Clube de Futebol General Couto de Magalhães, que fervilhava de gente nos bailes da Rua Santa Justina com a Avenida Santo Amaro, em memoráveis apresentações, das ofertas de cravos às damas para conceder a dança, perdeu seu brilho. Os cinemas Excelsior e Radar, da Avenida Santo Amaro, O Star/Lumière, da Rua Joaquim Floriano, eram as sensações, pois estavam no auge os astros das telas.
Os chacareiros do Itaim Bibi e Vila Nova Conceição e que mantinham também pequeno rebanho leiteiro não podiam mais manter os negócios. Muitos antigos moradores se deslocaram para o Brooklin, Chácara Santo Antônio e Santo Amaro. 
Esses dois pioneiros da jardinagem não poderiam permanecer onde começaram e foram para outra periferia mais longínqua, pegando o bonde 101; chegaram a Santo Amaro. Mudaram, conforme suas posses, para o bairro Jardim São Luiz, e o "Senhor Manoel, o Piscais" e seu "cunhado Joaquim", tentaram manter o cultivo da terra. Ainda conseguiram manter sua horta familiar de verduras e legumes, alguns pêssegos e mexericas, mas a cidade não abrigava mais as condições iniciais de seu desenvolvimento. São Paulo transformava-se: de agrícola e pastoril, tornava-se industrial, em nome do progresso.


Este depoimento foi concedido nos meses de maio a julho de 2008, por Odete dos Santos Amaro e Elza dos Santos Fatorelli, filhas de Manoel dos Santos, o Salas ou Piscais, de nosso relato, e sobrinhas de Joaquim Monteiro Amaro, em condição de oralidade dos fatos e fotos. Quanto ao relato sobre as boiadas, agradecemos ao antigo tropeiro Cyro Mascarenhas de Campos, que muito contribuiu para o complemento desta história.

O exposto estará sujeito a quaisquer sugestões e críticas, passíveis e possíveis, para ser mais próximo da verdade histórica. Quase esquecia: o "gajo" era meu avô!
Publicado em 01-10-2008 com o título de “Matadouro da Vila Clementino e as feiras do Itaim”



Testemunho Publicado em 30/09/2008 em saopaulominhacidade por Mário Lopomo

Praticamente nasci no Itaim,1939, e ano seguinte fomos morar na Rua Domingos Fernandes na Viça Nova Conceição. Voltamos novamente ao Itaim, em 1942, na Rua do Porto (Leopoldo Couto de Magalhães Junior). Seu texto me levou a minha infância. Seu relato é perfeito com as denominações de ruas. Naquele terreno do CNI, foi construído um prédio que tinha uma enorme placa com o nome da confederação. Ali morava Ronald Golias nos anos 1960.Era comum ver Manoel de Nóbrega e Carlos Alberto por lá. O Tomazzeli era vizinho de meu avô, na Rua Visconde da Luz, Itaim.
Conheci Fausto,Jaime, e o Nego foi meu colega de time (Esplanada)e trabalhava de torneiro mecânico na oficina do Miguel Ritter, Rua Clodomiro Amazonas. O matadouro da Vila Mariana era mais conhecido como Tendal. Com respeito ao Couto Magalhães era uns times forte, que infelizmente 
o caminhão que carregava os jogadores se acidentou na curva da, avenida Santo Amaro com a Brigadeiro, onde morreram 4 pessoas. (General Couto Magalhães, um time de futebol,texto de minha autoria, publicado em 19 /03/07) Quem vê a Vila Nova e o Itaim hoje, não acredita no que está escrito ai, mas eu sou testemunha, disso.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Projeto identidade e pertencimento no Bairro Jardim São Luiz/SP


“A FOTOGRAFIA COMO CONCEPÇÃO HISTÓRICA”
Já fomos hostilizados por tirarmos fotos, já fomos xingados, já tivemos que apagar fotos da câmera, já viraram o rosto, já perguntaram o porquê tiramos tantas fotos, enfim recebemos “um montão de nãos”. Mas também já nos chamaram para cobrir eventos esportivos, para tirarmos fotos no altar diante do santo de devoção e até registrar um casamento de quem não tinha como pagar um fotógrafo profissional, o que evidentemente não somos!
Um dia batemos palma na casa de um senhor de uma família tradicional. Ele nos atendeu e falamos que gostaríamos de saber um pouco da história de sua família, ele meio desconfiado perguntou:
Por que vocês fazem isso? Porque somos loucos, foi a resposta!
Depois de feita a crônica de sua família ele ficou emocionado e sua família nossa amiga! Há “montões de sins” e dentro destes sins há muitos moradores de raiz que ficam felizes em contar um pouquinho de si.
Havia um homem que lutou na 2ª guerra mundial na França que se chamava Marc Bloch. Ele achava que poderia escrever sobre os grandes acontecimentos da história universal e possuía condições para isso, pois os livros estão repletos de informações desde Heródoto, considerado o pai da história. Um dia sentado num morro de sua vila Marc Bloch perguntou para si mesmo:
Afinal quem irá escrever a história deste “buraco” onde vivo os meus dias?



Lá no fundo de seus pensamentos ele sabia que teria que começar a trabalhar e muito para relatar sobre esse local onde conhecia o padeiro, o jornaleiro, o verdureiro, o boteco, a farmácia, o padre, enfim todas as vielas e ruas e gente do dia a dia desta vila. Isso se chama “identidade e pertencimento”, pois ele sabia onde estava, por onde andava, pois vivia ali e era reconhecido por outros moradores locais, que sabiam quem ele era, e quem foi um dia seus avós, tios e pais, enfim tinha uma identidade, não era alguém “sem rosto, invisível ao meio”.


O CENTRO EMPRESARIAL FICA NO "MORRO DO ELISEU" NO JARDIM SÃO LUIZ/SP
Cada local há um “louco” atrás da história local, são “pernautas”, batem perna atrás de uma simples fotografia, um relato da micro história, daquela pequena história de quaisquer lugarejos de pessoas que moram nos arrabaldes das cidades grandes e que um dia cuidou de selar o cavalo de Dom Pedro 1º para ele fazer a independência, ou cozinhou para a princesa Isabel, ou que colaborou como estudante da Escola de Artes e Ofícios como marceneiro da Catedral da Sé, ou trabalhou assentando trilhos de trens para o Barão de Mauá ou trabalhou fazendo banha, farinha e sabonetes nas fábricas Matarazzo e outras muitas outra coisas.

A história está presente nos recônditos longínquos, coisas que fazem parte de algo histórico e que não se dá para recuperar tudo e é bom que seja assim, porque fica uma interrogação que faz parte do imaginário humano, como dizia Walter Benjamin, que deixou seu legado para a posteridade, sabendo que não há como recuperar “toda a história”, apenas parte dela, alguns de seus fragmentos que vem à tona da superfície como algo de interesse geral.


Há de se advertir que tudo é histórico, mas nem tudo é história, pois no contexto temos que ter em mente que a história é algo mais globalizado que transforma a vida de muitos. Há também de se pensar nos depoimentos pessoais, que entendemos como oralidade. Esses depoimentos precisam ser filtrados com no mínimo dois relatos de uma mesma ação acontecida no passado e testemunhada por essas duas pessoas, sendo necessário verificar o que coincide e descartar aquilo que pairam dúvidas. Isso é como uma investigação policial, precisamos ouvir as partes e colher algumas provas, que podem ser objetos, fotos, atas de agremiações, documentos pessoais, enfim uma gama de fragmentos que se unem em uma urdidura tecida, sendo até uma “arqueologia histórica, escavada dentro de um terreno familiar”.
Nem só o poder faz história e chancela documentos para a posteridade, a população também “chancela sua história” em cada lar, em cada beco, em cada campo de futebol, em cada festa local!
Muitas vezes o poder político quer interferir nessa história popular, que não lhe pertence de fato e direito, e a força se apodera dos espaços para implantar o seu modelo de ação comunitária, com se fossemos incapazes de dirigir nosso próprio modelo de vida, nosso destino. Essa intromissão alheia do poder não possui a identidade nem o pertencimento local!



OS BÁRBAROS ESTÃO CHEGANDO
Escrevemos para os que vivem e respiram em um espaço determinado em um tempo. É para essa posteridade que queremos deixar nosso legado, desse “buraco” chamado Jardim São Luiz, que um dia foi um bairro de Santo Amaro e hoje um distrito, que é cercado de um morro em toda sua circunferência, que parece uma “boca de vulcão” e que está sempre em ebulição, transformando-se a cada dia e chama-se Jardim São Luiz, com “z” mesmo!

O maior interesse nosso é apenas pela história do bairro Jardim São Luiz, esse jardim que nossos antepassados desbravaram para ser um dia nosso “jardim feliz”.

Aos jardinenses de raiz parabéns e aos que estão chegando para esta "família" sejam bem-vindos!!!