quinta-feira, 21 de julho de 2016

VÁRIAS IMAGENS DE UM MESMO LOCAL: INAUGURAÇÃO DA PONTE ITAPAIÚNA, SOBRE O RIO PINHEIROS, EM 21-JULHO-2016

UMA TESE DE "PROGRESSO" PARA SANTO AMARO/SP

Depois de dois anos será inaugurada a Ponta Itapaiúna. Um plano diretor onde todo sistema viário sem contornos definidos recebe uma expansão de novos condomínios que incham um espaço nunca pensado, como uma invasão de bárbaros onde nada deve permanecer como antes em nome do desenvolvimento e progresso, mas sem planejamento de cidade expandida que agora as empreiteiras descobrem em Santo Amaro, um grande filão monetário a ser explorado, expulsando àqueles que foram os pioneiros locais.

Quem chega agora vislumbra-se com o alto padrão do setor imobiliário, mas que infelizmente não possuem identidade e pertencimento com a região.

A ponte Itapaiúna será inaugurada para dar afirmação de uma “gentrificação” em andamento e que demanda interesses que não mais se enquadram naqueles que fundaram o local e foi um dia vivenda da população periférica que precisa agora ser deslocada para locais mais distantes.

Prédios gigantescos vão assumindo o espaço de residências comuns, dando origem a mega empreendimentos e obras faraônicas que assumem o compromisso de oferecer condições de conforto e bem estar aos novos residentes. Não há como resistir interesses do sistema capitalista e as demandas possuem valores que devem ser pagos para criar uma nova atmosfera de desenvolvimento, com outras condições e outros interesses.

MESMO ASSIM BEM VINDO A PONTE ITAPAIÚNA E AO "PROGRESSO” DE SANTO AMARO!!!



PLACAS COM 6 MESES DE ATRASO












Vide complemento em:

PONTE LAGUNA E PONTE ITAPAIÚNA, NO RIO PINHEIROS, SÃO PAULO

quinta-feira, 7 de julho de 2016

A escultura “Homenagem a Alceu Amoroso Lima” de León Ferrari e o Jardim São Luiz/SP

A PERIFERIA DE SÃO PAULO NÃO POSSUI MONUMENTO SOBRE SUA ORIGEM!

Há de se notar que em muitos dos recantos longínquos do país onde foram idealizados bairros por deslocamento de população não há um marco referente aquele lugar, o local nasce de um “parto forçado, sem história e sem rosto”.

Santo Amaro, em São Paulo talvez seja um dos poucos bairros da cidade de São Paulo que graças ao artista Julio Guerra possui muitas obras em referência ao lugar em que o artista nasceu e morou.
De resto, há poucos bairros que podem se beneficiar desses marcos histórico que deveriam ser “pedras fundamentais” do início de quaisquer epopéias populares de migração.

Há grande dificuldade de existirem esses pontos marcantes para confirmar o lugar na metrópole de São Paulo, transformada a cada instante com destruições constantes de antigos redutos onde se uniram famílias de regiões diferentes e que criaram uma identidade, mas sem o reconhecimento das autoridades vigentes.

Torna-se um “local” em que as pessoas não possuem passado, ou pelo menos não aparece explicitamente, e o futuro está à mercê da vontade das benesses do Estado que não fornece perspectivas de um futuro.

DOIS EXPOENTES DA HISTÓRIA REUNIDOS NO JARDIM SÃO LUIZ

Talvez a percepção do sagrado, ou a luta ardua contra o “regime de exceção”, ou quem sabe a arte em si uniu dois polos que se completavam nas ideias de buscar soluções para as causas sociais tanto na Argentina quanto no Brasil: o argentino León Ferrari e o brasileiro Alceu Amoroso Lima

De um lado  León Ferrari, nasceu na Argentina, Buenos Aires a 3 de setembro de 1920  tendo seu passamento em  25 de julho de 2013 em sua cidade-natal. Formou-se  engenheiro sabendo utilizar e conhecendo a propriedade cada material. trabalhando com metal trefilado, com cimento, com madeira enfim uma gama de materiais nas oficinas onde passou como Roma, Milão, São Paulo, e logicamente m Buenos Aires em sua oficina na rua Reconquista. Foi um artista completo. Sua arte começou em 1954, criando algumas esculturas de cerâmica. Em 1955, trabalhou com diferentes materiais: fios de cerâmica, gesso, cimento, madeira e aço em suas mais variadas formas. Em 2007, ele foi eleito o melhor artista na 52ª edição da Arte Internacional da Bienal de Veneza, sendo premiado com o "Leão de ouro" e considerado pelo New York Times como um dos cinco artistas mais importantes no mundo. Um de seus três filhos desapareceu devido a repressão do regime militar imposto na Argentina partir de 1976.
Do outro lado Alceu Amoroso Lima[1] nascido na cidade do Rio de Janeiro, no dia 11 de dezembro de 1893. Formado em direito pela Faculdade do Rio de Janeiro em 1913.Como crítico de “O Jornal” em 1919, adota o pseudônimo Tristão de Ataíde. Influenciado por Jackson de Figueiredo, Alceu converte-se ao catolicismo em 1928, tornando-se uma das influências católicas do Brasil. O crítico literário, professor, pensador, escritor de várias obras, publicando dezenas de livros e intensa atividade intelectual. Alceu teve uma grande produção jornalística em sua trajetória profissional destacando-se imensamente no combate ao regime militar no Brasil. Faleceu em 14 de agosto de 1983 na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro.

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS TANTO NA ARGENTINA COMO NO BRASIL

León Ferrari viveu no Brasil, estabelecendo-se em São Paulo de 1976 a 1991 onde se exiliou durante a ditadura militar Argentina nos anos críticos do regime. Neste período retomou seu trabalho em esculturas de metal nascendo deste modo sua obra em homenagem a Alceu Amoroso Lima. Em 1982 com a distensão do regime militar pode viajar para a Argentina, regressando definitivamente ao seu país em 1991. 

León Ferrari sintetizou o momento entre seu trabalho e a repressão na Argentina:

Eu não sei nada a nível expressivo que tem a força da repressão na Argentina”.

Seu amigo Alceu Amoroso Lima a quem León Ferrari dedicou a obra Homenagem a Alceu Amoroso Lima” em outras palavras expressou seu sentimento da repressão no Brasil:

“A liberdade não deve ser apenas um fim a atingir, mas ainda, um método de ação”
.


Marco aos Desaparecidos no Regime Militar - Monumento delapidado atualmente
O legado de ambos foi lutar sempre contra ditaduras impostas na America Latina  com convicções firmes demonstraram seu apreço pelas liberdades humanas, independente de seus credos e usaram suas forças mesmo na fragilidade humana impondo realidades dos acontecimentos sombrios na busca das liberdades dos povos.

UM MARCO IMPORTANTE QUE NÃO EXISTE MAIS NO JARDIM SÃO LUIZ: A ESCULTURA EM HOMENAGEM A ALCEU AMOROSO LIMA”


Fotos acima: crédito Clarindo Alves Pereira (Katito Alves)

Foto atual da Praça Alceu Amoroso Lima em comparação com as antigas fotos no mesmo espaço

A escultura Homenagem a Alceu Amoroso Lima” foi originalmente instalada em uma praça na entrada do Bairro do Jardim São Luiz no cruzamento com a Avenida João Dias, em 1983 e era formada por 59 tubos metálicos de 6 metros de altura cada uma com cores variadas em tons claros. Em 1990 a prefeitura alegando a necessidade de precisou remoção da obra para a construção nova ponte no local removeu as peças para seu depósito de materiais e a escultura jamais retornou ao local de origem. 






A "PRAÇA ALCEU DE AMOROSO LIMA" FOI TOTALMENTE DESFIGURADA

Como tantas obras peregrinas de São Paulo, estava fadada a ser um que cairia no esquecimento ate que a arquiteta Anna Ferrari neta de León Ferrari “redescobriu” a obra de seu avô e a trouxe ao lume, participando ativamente do processo de reconstrução. Recuperou-se o projeto original da escultura com as cores utilizada pelo artista na concepção do projeto, na década de 1980. O próprio León Ferrari, assistido pela neta Anna, participou ativamente da reconstrução da obra “escondida nos galpões municipais”.

 Alceu Amoroso Lima Filho e este missivista na (re)inauguração da obra de León Ferrari






Em 25 de setembro de 2009 a escultura “Homenagem a Alceu Amoroso Lima” foi definitivamente instalada com presença de familiares e autoridades[2] no jardim da Biblioteca Alceu Amoroso Lima, situada à rua Henrique Schaumann, próximo da praça Benedito Calixto.

Hoje há ainda a Praça Alceu Amoroso Lima, desfigurada e esquecida, recortada pelo “progresso” de vias que se comunicam no espaço com veículos circulando velozmente e de gente que não se comunica na arte de León Ferrari e nas linhas escritas que representa a Praça Alceu de Amoroso Lima, só desliza a Linha 5 do metrô paulistano.





Referências:












INDA-Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço http://www.inda.org.br/revista/116/116.pdf 

Revista Brasileira do Aço - Ano 18 - Edição 116 - Outubro de 2009

Centro Alceu Amoroso Lima Para a Liberdade - Caall

Fundación Augusto y León Ferrari Arte y Acervo

Biblioteca Alceu de Amoroso Lima: Rua Henrique Schaumann, 777; Pinheiros, São Paulo, SP



[1] ALCEU AMOROSO LIMA: uma vida dedicada ao trabalho


Foi eleito para a cadeira 40 da Academia Brasileira de Letras em 29 de agosto de 1935. Foi catedrático de literatura brasileira na Faculdade Nacional de Filosofia, um dos fundadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e diretor de assuntos culturais da Organização dos Estados Americanos. Foi responsável por ministrar cursos sobre civilização brasileira em muitas universidades no exterior, inclusive na Sorbonne e nos Estados Unidos.
Foi exatamente no Brasil da ditadura militar que Alceu, tomando a necessidade da denúncia como missão cristã, consolidou sua renovada imagem de católico liberal. Nas colunas assinadas em jornal, em entrevistas e como professor universitário pediu o fim da censura, a volta das eleições livres, anistia para opositores e o retorno dos exilados pelo regime.
Publicou artigos de muita coragem contra o regime militar como exemplo:

“Há neste momento, no Brasil, sem que sequer se possa citar-lhes os nomes, ao lado de nós, dezenas de lares e neles centenas de corações, que sofrem em silêncio a tragédia da espera, da dúvida sobre a vida ou a morte dos seus mais queridos (…) passam os dias, passam os meses, passam os anos talvez, e a espera continua vã. As promessas [das autoridades] continuam vãs. O destino dos desaparecidos continua envolto no mistério. (…) Até quando haverá, no Brasil, mulheres que não sabem se são viúvas; filhos que não sabem se são órfãos (...)?”.

Além de professor, advogado e pensador católico, atuou como jornalista, editor, tradutor, crítico literário, crítico político, administrador e escritor. Colaborou com diversos jornais, entre os quais A Manhã e o Jornal do Comércio, no Rio, e o La Prensa, de Buenos Aires. O jornal integralista “A Ofensiva” também teve sua participação. Em 1947, foi chamado por Orlando Dantas para colaborar no Diário de Notícias inaugurando então, nesse jornal, a seção “Letras universais” transcrita na Folha da Manhã, de São Paulo, em O Diário, de Belo Horizonte, em A Tribuna, do Recife, no Correio do Povo, de Porto Alegre, e no Diário Ilustrado, de Lisboa. Tornou-se colaborador permanente do Jornal do Brasil e da Folha de São Paulo até o final de sua vida. Sua produção jornalística, ao longo do regime militar, espelhou um direcionamento cada vez mais crítico em relação aos rumos do modelo econômico imposto ao país e às suas consequências no âmbito social, político e cultural. Foi vencedor em 1969 do prêmio Moors Cabot, láurea mais antiga do jornalismo internacional. Recebeu ainda os prêmios Moinho Santista, Luísa Cláudio de Souza, Juca Pato, Sierra Award, Nacional de Literatura e Junípero Serra, além de ter sido agraciado com os títulos de comendador da Legião de Honra (França), da Ordem do Condor (Chile), da Ordem de Santiago da Espada (Portugal), da Ordem Nacional do Mérito e Ordem de São Gregório Magno da Santa Fé. (Vide referências nos links expostos na crônica)

[2] À cerimônia esteve presente Alceu Amoroso Lima Filho, filho do homenageado; as netas do  escultor, Anna e Florencia Ferrari, e a bisneta Violeta; Teresita Silva Gonzales Dias, cônsul-geral da Argentina em São Paulo; o subprefeito de Pinheiros, Nevoral Bucheroni, e o secretário-adjunto de Relações Internacionais.

O pobre, porque é pobre, pague tudo! - As mazelas antigas no Brasil

Quando o Ouro era dourado como o Sol nas Minas e não Preto e a Vila era Rica!

Hoje os jornais estampam: “Governo decide elevar impostos”! Faz-nos  retroceder  na história do Brasil e vê-se  que depois de 230 anos nada  mudou , conforme expõe Tomás Antônio Gonzaga  em Cartas Chilenas, na cidade de Vila Rica em 1786. O lugar (Brasil) é o mesmo, mas a hierarquia de larápios tem nome e sobrenome e permanece a mesma desde longa data. A história não se repete jamais, mas se assemelha muito mais!

Impostos da derrama, os quintos eram cobrados do ouro encontrado na minas. Um quinto correspondia a um imposto de 20% que se deveria pagar ao Rei de Portugal, pois o Brasil era “dependente” da Metrópole. Hoje o leão faminto da Receita Federal requer 27,5% do “contribuinte” como imposto e o Brasil é “independente”!

As “Cartas Chilenas” é uma sátira de Tomás Antônio Gonzaga, uma liderança da Inconfidência Mineira contra o poder na Colônia. São treze cartas em versos, escritas por Critilo a seu amigo Doroteu, criticando as falcatruas de Fanfarrão Minésio, governador da capitania do Chile. (LEIA-SE Brasil) Todos os nomes são fictícios sendo o verdadeiro alvo das críticas Luís da Cunha Meneses, governador de Minas Gerais de 1783 a 1788 que usava em benefício próprio o sistema de contratos, concessão feita, a um particular para que ele efetuasse a cobrança dos impostos em nome da Coroa de 3 em 3 anos. Teoricamente, os contratos deveriam ser disputados em concorrências públicas, mas, como se vê, na Vila Rica (hoje Ouro Preto) do final do século 18, os governantes corruptos “enganavam” a lei Régia para "furtar-se do bem alheio" os cofres públicos e usufruir do dinheiro da Coroa.

Uma estrofe da 8ª Cartas Chilenas mostrando as espúrias administrações do erário público dos poderosos, semelhante aos do Governo brasileiro da atualidade!


Agora, Fanfarrão, agora falo
Contigo, e só contigo. Por que causa
Ordenas que se faça uma cobrança
Tão rápida e tão forte contra aqueles
Que ao erário só devem tênues somas?
Não tens contratadores, que ao rei devem,
De mil cruzados centos e mais centos?
Uma só quinta parte, que estes dessem,
Não matava, do erário, o grande empenho?
O pobre, porque é pobre, pague tudo,
E o rico, porque é rico, vai pagando
Sem soldados à porta, com sossego!
Não era menos torpe, e mais prudente
Que os devedores todos se igualassem?
Que, sem haver respeito ao pobre ou rico,
Metessem, no erário, um tanto certo,
À proporção das somas que devessem?
Indigno, indigno chefe! Tu não buscas
O público interesse. Tu só queres
Mostrar ao sábio augusto um falso zelo,
Poupando, ao mesmo tempo, os devedores,
Os grossos devedores, que repartem
Contigo os cabedais, que são do reino.

Vide:

O QUINTO DOS INFERNOS