quarta-feira, 27 de maio de 2020

O Museu de Arte de São Paulo e a Fundação Armando Alvares Penteado: Idealizações de Sonhos

Museu de Arte de São Paulo- 1ª INAUGURAÇÃO 02 DE OUTUBRO DE 1947

O embaixador Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo foi um magnata das comunicações no Brasil entre o final dos anos 1930 e início dos anos 1960, dono dos Diários Associados, que foi o maior conglomerado de mídia da América Latina, que em seu auge contou com mais de cem jornais, emissoras de rádio e TV, revistas e agência telegráfica. Foi responsável pela chegada da televisão ao Brasil, inaugurada em 1950 a primeira emissora de TV do país, a TV Tupi
Também é conhecido como o cocriador e fundador, em 1947, do Museu de Arte de São Paulo (MASP), junto com Pietro Maria Bardi com uma coleção particular de pinturas de grandes mestres europeus que foram adquiridas a preços de ocasião na Europa empobrecida do pós-Segunda Guerra Mundial, em aquisições financiadas por empresários brasileiros.
Nos três primeiros anos de atividade, o museu funcionou em uma sala de mil metros quadrados, no segundo andar do Edifício Guilherme Guinle, na rua Sete de Abril, São Paulo, sede dos Diários Associados, que pertencia a Assis Chateaubriand. O Museu de Arte ocupava dois andares, sendo que no primeiro andar ficavam os auditórios, laboratório de fotografia, secretaria e biblioteca e no segundo ficava exposto o acervo permanente.

Inauguração em 1947: Bardi e Chateaubriand

Os primeiros visitantes chegaram para ver a incipiente coleção, ainda com poucas peças, destacando-se o Busto de atleta, de Pablo Picasso e o Autorretrato com barba nascente, de Rembrandt. Duas exposições temporárias também puderam ser vistas: uma com a Série Bíblica de Cândido Portinari e outra com obras de Ernesto de Fiori.

Foto da 1º Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1951 – Foto Peter Scheier-Acervo IMS

O fotógrafo Peter Scheier contribuiu de 1945 a 1951 como colaborador dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, na revista O Cruzeiro. Depois através de Assis Chateaubriand conheceu o diretor do museu Pietro Maria Bardi que, em 1947, chamou-o para ser o fotógrafo oficial do recém-fundado Museu de Arte de São Paulo. Pietro Maria Bardi junto com Assis Chateaubriand, foi responsável pela criação do Museu de Arte de São Paulo sendo seu diretor por 45 anos consecutivos. 
Para o recém inaugurado MASP foi doado 3 milhões de cruzeiros da fazendeira Sinhá Junqueira, de Ribeirão Preto, do cafeicultor Geremia Lunardelli (de quem se dizia ser "o maior plantador de café do mundo") e do industrial Francisco "Baby" Pignatari, que recebia telegramas influenciando-o a adquirir obras do mercado das artes.



Exemplo dessa relação com empresários podemos ver no documento enviado que demonstra a aproximação de Assis Chateaubriand como o empresário Baby Pignatari vinha de longo tempo essa relação de amizade.

Um exemplo das relações de Assis Chateaubriand com o mercado da arte na Europa é demonstrado em carta cabográfica endereçada a Francisco Pignatari, em sua residência na Rua Haddock Lobo:

EM MINHAS MÃOS QUADRO VAN GOGH NOURRICE FASE HOLANDEZA CATÁLOGO COM EXPERTISE SCHOELLE CONSULTE INTERESSA CHATEAUBRIAND RESPONDA URGENTE PANAIR BRASIL PLAZA ATHENEE HOTEL PARIS ABRAÇO-PAULO SOLEDADE

Assis Chateaubriand com seu amigo, marchand e jornalista italiano Pietro Maria Bardi, dava a diretriz dizendo:

“Nós temos que passar como dois hunos sobre a Europa devastada pela guerra comprando quadros. A nobreza e a burguesia europeias estão quebradas, seu Bardi, quebradas! Se corrermos, vamos comprar o que há de melhor entre os séculos XIII e XVII a preço de banana! A firme convicção de que havia tesouros na Europa à espera de quem tivesse dinheiro na mão nascera da observação do cotidiano de franceses e ingleses, um ano antes. Chateaubriand fizera uma viagem de poucos dias à Alemanha, França e Inglaterra e voltara impressionado com o estrago e a penúria produzidos pela Segunda Guerra Mundial”.

Assis Chateaubriand não teve dificuldades para obter do presidente Marechal Eurico Gaspar Dutra autorização para trocar os cruzeiros por dólares: quase 160 mil dólares. Quinze dias depois, em fervilhante festa a rigor no casarão da família Jafet, na avenida Brasil, ele "apresentava à sociedade paulista" o produto das primeiras doações para a galeria do Museu de Arte de São Paulo: dois Tintoretto, um Botticelli, um Murillo, um Francesco Francia e um Magnasco adquiridos em Roma. 

De 1947 a 1953, comprou-se obras a preços baixíssimos, como todos os 73 bronzes de uma série do escultor francês Degas, arrematados por US$ 45 mil. Hoje, apenas uma das peças, a Bailarina, vale dez vezes mais o valor pago na época, além das telas O Escolar, de Van Gogh, e O Conde-Duque de Olivares, de Velázquez, adquiridas por US$ 40 mil cada uma e atualmente avaliadas em US$ 30 milhões. Dentre as cerca de 4 mil obras que compõem o acervo, estão também telas de Renoir, Rafael, Goya, Gauguin, Ticiano, Picasso, Modigliani, Lucas Cranach e Cézanne, entre tantas outras raridades artísticas.

A FAAP e o MASP

A Fundação Armando Alvares Penteado, FAAP, era um sonho de Armando Alvares Penteado, que ele não pode concretizar, pois faleceu em 27 de janeiro de 1947. Seu irmão Silvio Alvares Penteado tornou-se o primeiro presidente e a pedra fundamental foi lançada em 2 de setembro de 1948, no Bairro do Pacaembu, na Rua Alagoas.
José Xavier de Souza, Annie Alvares Penteado, Domício Pacheco e Silva recebem D, Cecília Prado e acompanhante

Em dezembro de 1957 Chateaubriand fez acordo com a FAAP que estava em obras, para transferir a coleção do MASP, desafogando o prédio dos Diários Associados, que além de abrigar os jornais, o prédio era comercial e também guardava a cinemateca brasileira e já havia ocorrido três incêndios. O convênio foi firmado entre Chateaubriand e a presidente da FAAP desde 1956, Annie Alvares Penteado para onde se deslocou o arquiteto Luiz Sadaki Hossaka. Foram transferidos os cursos de formação para professores criado no MASP pelo professor da história da Arte, Flávio Lichtenfelds Motta, que se tornou diretor dos cursos do Instituto de Arte Contemporânea, IAC, iniciado em 1958 e as obras do Masp para a FAAP. Para formar a histórica pinacoteca, Bardi, já naturalizado brasileiro, em janeiro de 1959 voltou a Europa que estava arrasada no pós-guerra para garimpar obras, respaldado pelo prestígio financeiro de Chateaubriand e pelo seu próprio e apuradíssimo faro de expert em arte. O Museu de Arte instalado na FAAP nesse tempo conviveu com um vácuo de poder por 9 meses.
Pietro Maria Bardi, Renato Magalhães Gouvêa e D. Annie Penteado acompanham a visita da  princesa Cecília de Bourbon em 20 de outubro de 1958

Em setembro de 1959 com o fim do convênio entre governo e as duas entidades, as obras voltaram para o prédio dos Diários Associados. A tarefa de desmonte das peças que estavam na FAAP, entre telas, estátuas e outros apetrechos de volta ao prédio dos Associados, na Rua 7 de Abril, número 230, levou 15 dias em transporte de 32 caminhões, acervo que estava avaliado em 25 milhões de dólares. Em 18 de dezembro de 1959 o MASP reabriria suas portas sem pompas cerimoniais.

Por sua vez a Escola de Arte da FAAP receberia seu almejado reconhecimento em 4 de junho de 1962, com o governo estadual considerando a Fundação Armando Alvares Penteado uma entidade de utilidade pública e depois de um ano o curso de Licenciatura em Desenho e Artes Plásticas foi reconhecido pelo Conselho Federal de Educação. Em 1967 a Escola de Arte ganha status de Faculdade de Artes e Comunicações da Fundação Armando Alvares Penteado e extingue-se o Curso de Formação de Professores de Desenho, somando-se nessa estrutura o Museu de Arte Brasileira.

Museu de Arte de São Paulo- A INAUGURAÇÃO DEFINITIVA 08 DE NOVEMBRO DE 1968
Na avenida Paulista, o terreno antes era ocupado pelo belvedere Trianon e que foi demolido em 1951 para dar lugar a um pavilhão, onde fora realizada a primeira Bienal Internacional de São Paulo. O terreno havia sido doado à prefeitura por Joaquim Eugênio de Lima, idealizador e construtor da avenida Paulista, com a condição de que a vista para o centro da cidade fosse preservada, através da avenida Nove de Julho.
Lina Bo Bardi, arquiteta e esposa Pietro Maria Bardi ciente da situação do terreno e das condições impostas pelo doador, considerava o local ideal para a construção da nova sede do museu. Contou seus planos a Edmundo Monteiro, que, por sua vez, decidiu negociar a concessão do terreno com Ademar de Barros.
Edmundo Monteiro já trabalhava com Assis Chateaubriand, sendo diretor-executivo dos Diários Associados e no Museu de Arte de São Paulo tornou-se responsável pela parte administrativa, enquanto Chateaubriand, Pietro Maria Bardi e Lina Bo encarregavam-se do programa museológico e da formação do acervo. Edmundo passou a trabalhar na arrecadação de fundos para aquisição de obras de arte, conquistando outros doadores, além daqueles com os quais o próprio Chateaubriand tratava. 
Ademar era candidato à eleição para a prefeitura de São Paulo. Acertou com Edmundo Monteiro de fazer a sua campanha pelos Diários Associados, de graça, comprometendo-se, caso fosse eleito, a aprovar a concessão do terreno para a construção da nova sede. Eleito, Ademar de Barros manteve o acordo, dando início aos trabalhos.
Lina Bo Bardi projetou em 1958 a atual sede do MASP, preservando a vista exigida para o centro da cidade.  A construção tem seu corpo principal sustentado sobre quatro colunas laterais, e entre elas um vão livre de 74 metros. A inovação foi viabilizada pelo trabalho do engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, que aplicou na obra a sua própria patente de concreto protendido.
O edifício, projetado em 1958, levou dez anos para ser concluído. A nova sede do MASP foi inaugurada em 8 de novembro de 1968, na presença do príncipe Filipe e da rainha Elizabeth II, da Inglaterra, a quem coube o discurso de inauguração. Lina Bo coordenou a exposição de abertura, intitulada A mão do povo brasileiro, dedicada à cultura popular do país. 

Deste modo São Paulo ganhava duas entidades de grande reconhecimento no meio das artes: o MASP e a FAAP.



*Crônica sujeita a modificações e acrescimentos que complete informações úteis e ampliação da historiografia.






Ref.
Morais, Fernando, 1946- Chatô: o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Companhia das Letras,1994.


Folha de São Paulo, 09 de novembro de 2009


FERRAZ, Marcelo Carvalho (Org.). Museu de Arte de São Paulo. São Paulo, Instituto Lina BO e P.M. Bardi: Editorial Blau, 1997.

BARDI, Pietro Maria. História do MASP. São Paulo, Instituto Quadrante, 1992

Fundação Armando Alvares Penteado, Memórias Reveladas, 1947-2010

Vide:

Baby Pignatari em Roma: Mecenas do MASP
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2011/12/baby-pignatari-em-roma-mecenas-do-masp.html

domingo, 24 de maio de 2020

O Navio alemão Windhuk e meu amigo Bubele (Erwin Kunz)


Um relato das tramas da história

No início da Segunda Grande Guerra, em 1939, o navio alemão Windhuk, (Canto do Vento) que fazia a rota de cruzeiro de Hamburgo, Alemanha, até a África do Sul, na Cidade do Cabo, foi surpreendido com a declaração de guerra impetrada pelos ingleses à Alemanha, obrigando o oficial tomar a decisão de camuflar o navio como embarcação japonesa “Santos Maru” e assim tomar o rumo do Brasil, fugindo do bloqueio naval inglês, chegando ao Brasil em 7 dezembro de 1939.
No auge da Segunda Guerra Mundial a embarcação foi confiscada pelo governo de Getúlio Vargas quando o Brasil entrou na guerra em 1942. Antes, porém os motores do navio foram “explodidos” na casa de máquinas, pois havia acordos bilaterais entre Brasil e Estados Unidos e não queriam entregar a parte motriz integra aos interesses americanos.
Depois disso seus tripulantes foram confinados em cidades do interior como Bauru e Pindamonhangaba e estavam sobre custódia do governo brasileiro que havia declarado guerra ao Eixo, Alemanha, Itália e Japão.
A data de 7 de dezembro de 1939 tornou-se comemorativa pois muitos dos tripulantes do Windhuk resolveram ficar no Brasil e assim criaram laços familiares por aqui. Se reuniam num restaurante batizado com o nome do navio na região de Moema.
Erwin Kunz tinha à época apenas 18 anos e era um “aprendiz de marinheiro” e trabalhava na cozinha do navio.
Tornou-se meu amigo e gostava do seu apelido carinhoso de criança “Bubele”, um alemão enorme com apelido de “Garotinho”! Era casado com dona Nazaré, portuguesa de origem, em segundas núpcias pois sua primeira esposa havia falecido em 1956.

Pesquisador da natureza, morava em Parelheiros, no Jardim São Norberto, e sua sala era composta por uma biblioteca com algumas preciosidades, em que ele, na sua vontade em aprender cada vez mais, extraía informações de seus livros. Falava que era ateu, mas ajudava a comunidade São Francisco sendo participante ativo.
Falava que ali perto havia a Cratera de Colônia, nome de uma cidade da Alemanha, nome dado pelos imigrantes alemães também neste local em São Paulo, que os acolheu em 1827, quando tudo isto era Santo Amaro. Parelheiros está localizado entre o bairro do Grajaú e Marsilac, já próximo da encosta do litoral paulista. A cratera tinha sido resultado de um impacto raro há alguns milhões de anos, feito por um meteorito, uma das poucas no continente sul-americano.
Neste local, nas proximidades referidas, trabalhei para a indústria fabricante de bicicletas "Caloi", no Centro de Detenção Provisória de Parelheiros, ladeado pela mata, cercado por altas muralhas, com arame farpado e corredor de vigia. Fazíamos manutenção de mesas para montagem de raios em seus respectivos aros das rodas, que eram recolhidos por caminhão baú, no fim da tarde. Grandes portões separavam os pátios, onde no primeiro havia pequena criação de carneiros de lã marrom, e num segundo portão, depois de passar por detectores de metais, entrávamos na área de trabalho do presídio. Era uma verdadeira produção planejada, dando aos detentos o direito de cada três dias trabalhados recuperarem um dia da penalidade.
Tudo isto estava ali próximo daquela bela vista verdejante, observávamos o local desta peculiaridade de proporções gigantescas do impacto, que nos tornávamos tão pequenos no espaço de onde surgiu o fenômeno.
Meu amigo foi embora em 2009 para o céu, de onde veio o meteorito, lá ele deve estar contando estas histórias de sua vida, do navio Windhuk e da Cratera da Colônia!









Quem quiser saber sobre o navio Windhuk há o livro O Canto do Vento, de Camões Filho, da Ed. Página Aberta



quinta-feira, 21 de maio de 2020

O Nome "Arzão" (ou Arzam) em Santo Amaro/SP


Impressiona quando a trama da história encontra o elo de um personagem. Essa história é mais um momento ocorrido em Santo Amaro, um território de 640 quilômetros quadrados!


Cornélio de Arzão, nasceu no Condado de Flandres, Bélgica, pelos anos de 1565 e veio para São Paulo em 1609, e tornou-se genro do Capitão-Mor Martim Fernandes Tenório de Aguillar. Ambos não se conheceram, pois quando  Cornélio de Arzão chegou seu sogro já havia partido para uma bandeira na Boca do Sertão paulista. Foi sua sogra, Suzana Rodrigues, quem tratou de seu casamento com Elvira Rodrigues. Teve 6 filhos, sendo Braz Rodrigues de Arzão o quinto filho do casal.

Cornélio de Arzão era cristão novo, ou seja, judeu convertido ao catolicismo.

Cornélio de Arzão aparece em 1616 como um dos primeiros donos de moinhos movidos a roda d’água nas beiradas do rio Anhangabaú, e 12 anos mais tarde estava em Santo Amaro, ás margens do Rio Pinheiros, perto do Engenho de Ferro. Seu moinho “de moer trigo moente e corrente” foi avaliado pela Inquisição em 1638 em 10 mil réis e no pregão foi arrematado por 14 mil réis, o que sem dúvida, pelo valor atingido, era uma boa peça, mecanismo valioso. O moinho de trigo referido com esse produto foi substituído pelo milho que era menosprezado e rotulado como “Farinha de cachorro”, mas que no século seguinte fazia parte da alimentação inúmeros produtos provenientes do milho e que já se dizia que em nada se diferenciava da farinha europeia, salvo em ser esta cozida ao forno e levar sal.

Cornélio de Arzão apesar de seu trabalho honesto entrou em conflitos com os jesuítas, em 1618, que não conseguiam fazer negócios vantajosos com ele. Assim foi submetido a julgamento pela Inquisição, perdendo todos os seus bens, confiscados que foram pelo Santo Ofício, mesmo não se comprovando crime que tenha perpetrado. Esteve preso por cinco anos em Setúbal, Portugal. Em 1627 foi libertado e retornou ao Brasil, conseguindo uma carta de sesmaria para um terreno nas cercanias de São Paulo, em área onde é hoje o município de Cubatão, por volta de 1628, local onde passavam diversos ribeirões e córregos e era praxe o pagamento de pedágio ao proprietário quando alguém precisava transpor as águas em viagem. Os jesuítas para aumentar suas rendas nos pedágios e na exploração das terras em Cubatão, conseguiram nova expropriação de sua sesmaria e de inúmeras outras propriedades vizinhas, resultando perda de todos os seus bens em 1628. Morreu em São Paulo em 30 de outubro de1638, deixando testamento no qual distribui o que sobrou de seus pertences para seus familiares.

 Filhos:

1-Maria, nascida por 1613


2- Manoel, nascido por 1616: (Sesmarias vol. 01, 158) Manoel de Arzão - 1640 - filho e neto de conquistadores, terras na cabeceira de Belchior de Borba. Casou-se aos 13-01-1642 na Sé de São Paulo com Maria Afonso também referida em alguns assentos paroquiais como Maria de Azevedo. Aos 06-10-1677 recebeu provisão passada na Bahia por Antonio Garcia para assumir o cargo de Capitão de Infantaria da Ordenança do Bairro de Santo Amaro, antes ocupado por Francisco Furtado porque, estando vago o posto, "convem prove-lo em pessoa de pratica da disciplina militar e experiência da guerra: tendo nós consideração ao bem que todas estas partes e qualidades concorrem, na pessoa de Monoel Rodrigues de Arzão.Tiveram vários filhos entre eles:
- Suzana Rodrigues de Arzam, casada com Manoel Gonçalves Malio, filho de Baltazar Gonçalvez Malio e Domingas de Abreu, todos moradores em Santo Amaro, onde batizaram os filhos e onde faleceram, Manoel em 1720 e Suzana aos 04-05-1754, sepultada dentro da Matriz de Santo Amaro. Além dos filhos legítimos, Manoel teve alguns naturais e outros bastardos, batizados e casados em Santo Amaro, conforme os livros paroquiais.


3- Ana Rodrigues casada com Belchior de Borba - 1640 - No limite de Botura, nas cabeceiras de Tristão de Oliveira ou de Martim Rodrigues. Família “Borba Gato”.


4- Suzana, nascida por 1624.


5- Braz Rodrigues de Arzão, nascido por 1626


 6- Cornélio, nascido por 1628.



Veja complemento desse histórico em:

O “Santo” da Igreja de Santo Amaro, a “Banda do Além” e a genealogia dos Aguilar, Rodrigues, Paes e Borba Gato

WEBER, Maria Aparecida; Sérgio. Campo Belo: Monografia de um Bairro. São Paulo: Editora Estação Liberdade


sexta-feira, 15 de maio de 2020

ANTES ERA UMA PRAGA, DEPOIS PESTE, HOJE PANDEMIA!!!

A DOENÇA

A primeira “pandemia” ficou conhecida como Praga de Justiniano e foi a primeira epidemia de peste bubônica, que voltou a assolar a Europa, entre 1346 e 1352.

Transmitida por pulgas de ratos infectados, vindos dos navios, a praga surgiu no Egito, passou pelo Oriente Médio e chegou à capital do Império Bizantino, Constantinopla, em 540 d.C., matando 5 mil moradores por dia, e eliminando metade da população. Estima-se que entre 500 mil a 1 milhão de pessoas da cidade.

A maior epidemia (ou pandemia) foi a Peste Negra na Europa no século 14. Acredita-se que a peste tenha surgido nas planícies áridas da Ásia Central e foi se espalhando principalmente pela rota da seda, alcançando a Crimeia, que era uma feitoria comercial de Gênova, em 1343.  No total, a praga pode ter dizimado 30 a 50 milhões de pessoas que morreram pela peste, o que representava cerca de um terço da população europeia da época. As pessoas começaram a fugir das cidades que foram abandonas pelos camponeses que fugiam com medo de serem infectados em meados de século 14[1] 
Alguns sintomas pipocam antes dessas erupções de nódulos inflamados, dos bubões (tumores inflamatórios), como febre alta, dores de cabeça e corporais intensas, falta de apetite, náusea e vômitos.

Peste Negra (ou peste bubônica) é uma doença pulmonar causada pela bactéria Yersinia pestis[2]. Essa doença é bastante conhecida por ter dizimado um terço da população europeia no século XIV. A propagação da doença, inicialmente, deu-se por meio de ratos e principalmente, pulgas infectadas com o bacilo, que acabava sendo transmitido às pessoas picadas pelas pulgas, em cujo sistema digestivo a bactéria da peste multiplicava-se. Num estágio mais avançado, a doença começou a se propagar por via aérea, pelas vias orais, por meio de espirros e gotículas, surgia à propagação de forma pneumônica.

Contribuíam com a propagação da doença as precárias condições de higiene e habitação que as cidades e vilas medievais possuíam, o que oferecia condições para as infestações de ratazanas e pulgas. A morte pela peste era dolorosa e terrível, além de rápida, pois variava de dois a cinco dias após a infecção. O aspecto dos doentes era horrível, os tumores secretavam sangue e pus, a urina, o suor, a saliva e o escarro apresentavam aspecto escurecido, sendo esta a referência para denominá-la peste negra. Há relatos de que as pessoas com a peste cheiravam mal.

Entre os sintomas é importante ressaltar a febre alta e dores fortíssimas. Como não havia cura, as pessoas usavam vinagre para tentar se defender, tendo em vista que tanto os ratos quanto as pulgas evitam seu cheiro. O número de mortos era tão grande que eram abertas enormes valas comuns.

Nos tempos medievais, a grande perda de pessoas devido a peste bubônica em uma cidade criou um desastre econômico. As corporações de ofício também paralisaram, pois muitas ficaram sem seus mestres, oficiais e aprendizes. Até mesmo obras artísticas e arquitetônicas foram interrompidas pela enfermidade de artistas e pedreiros.

A MEDICINA DE ENTÃO

médico da peste negra era um médico especial que tratava aqueles que contraíram a peste. Esses médicos foram contratados pelas cidades que tiveram muitas vítimas da peste. Os médicos de peste tratavam os pacientes segundo seus acordos e eram conhecidos como médicos municipais ou comunitários da "peste negra".

Os médicos comunitários foram bastante valiosos e receberam privilégios especiais. Por exemplo, os médicos da peste eram livremente autorizados a realizar autópsias, que foram, de outra maneira, geralmente, proibidas na Europa Medieval, bem como a investigação de uma cura para a peste.



Os médicos de peste praticavam sangria e davam diversos tipos de remédios, como colocar rãs ou sanguessugas nas ínguas para em uma rotina normal. Eles não podiam, geralmente, interagir com o público em geral, devido à natureza de seus negócios e a possibilidade de propagação da doença; eles também poderiam estar sujeitos a quarentena.
De 18 médicos de Veneza, apenas um ficou trabalhando em 1348, pois cinco tinham morrido da peste, e 12 desapareceram e podem ter fugido.
Quando a Peste Negra chegou a Avignon, França, em 1348, o médico Guy de Chauliac permaneceu, tratando de doentes de peste e documentando os sintomas meticulosamente. Ele alegou ter sido ele próprio infectado e ter sobrevivido à doença usando parte de seu conhecimento. Guy de Chauliac foi médico particular do Papa Clemente VIque na época, o papado estava instalado em Avignom, sobreviveu a peste e foi o primeiro a estudar essa peste. Através das suas observações, Chauliac fez distinção entre as duas formas da doença, a peste bubônica e a peste pneumónica[3]. (Redigiu um tratado em latim sobre a cirurgia, intitulado Chirurgia Magna). Era incansável em sua persistência analítica dos sintomas a ponto de declarar sempre que "Um cirurgião que não sabe a sua anatomia é como um cego a esculpir um tronco".
A peste negra contribuiu para outra maneira de encarar a morte observada na arte iconográfica que se popularizou com a representação da morte. Todo esse drama entre a vida e a morte da doença que assolou a humanidade foi representado na gravura a "A Dança da Morte", que apareceu como ilustração reproduzida em xilogravura do século XV, A Sétima Era do Mundo: A Imagem de Morte de do Livro de Crônicas[4] (Nuremberg Chronicle), escrita por Hartmann Schedel e ilustrada por Michael Wolgemut em 1493.

O DOUTOR BICO OU DOUTOR DA PESTE: As precauções da época do surto da Peste Negra
Alguns médicos de peste usavam um traje especial, embora fontes gráficas mostrassem que usavam uma variedade de peças de vestuário. As roupas foram inventadas por Charles de L'Orme  em 1619; elas foram usadas ​​pela primeira vez em Paris, tendo mais tarde se espalhando em toda a Europa. 
Este traje também foi usado por médicos durante a peste de 1656, que matou 145.000 pessoas em Roma e 300.000 em Nápoles. 
O traje de proteção consistia em um sobretudo de tecido pesado, que era encerado, uma máscara com aberturas de olhos de vidro e um nariz em forma de cone, como um bico para segurar substâncias aromáticas e palha. A maioria dos médicos da peste também usavam um chapéu de aba, que foi tipicamente utilizado para identificar sua posição como médico.
Alguns médicos usavam máscaras que pareciam bicos de aves cheias de itens aromáticos. As máscaras foram concebidas para protegê-los do ar fétido, que, de acordo com a teoria miasmática[5] da doença, foi considerado como a causa da infecção.
Eram assim descritos:
Possuíam um nariz de meio pé (uns 15 centímetros) de comprimento, com a forma de um bico, preenchido com perfume em apenas dois orifícios, um de cada lado, perto das narinas, mas que eram o suficiente para respirar e reunir o ar das drogas alojadas no interior do bico. Sob o casaco usam botas de couro marroquino (couro de cabra) por cima dos calções que estavam amarradas a estas botas e uma blusa de manga curta em pele lisa, do qual o extremo inferior é dobrado para dentro dos calções. O chapéu e as luvas também são feitas da mesma pele... com lentes sobre os olhos.


Irmãos abandonavam irmãos, maridos abandonavam as suas mulheres, pais e mães abandonavam e recusavam tratar os próprios filhos. Por todas as ruas, havia cadáveres empilhados em grupos. A principal preocupação era retirar-se os corpos de dentro das casas, nem que para isso fosse necessário atirá-los pelas janelas. Os cemitérios começavam a superlotar e eram abertas grandes valas para se enterrarem mais que um corpo de cada vez. 

A população humana não retornou aos níveis anteriores à peste até o século 17. A peste negra continuou a aparecer de forma intermitente e em pequena escala pela Europa até praticamente desaparecer do continente no começo do século 19.

A medicina não conseguia debelar a epidemia, nem a justificar, mas houve no entanto uma importante medida de saúde pública: Antes de qualquer pessoa poder entrar em uma cidade, era obrigada a estar isolada e vigiada durante um período de 40 dias, que ficou conhecido como “período de quarentena”.



Ref.





[1] Giovanni Boccaccio, poeta e crítico literário italiano autor de Decameron, exercendo o cargo de embaixador da Lombardia, e com grande influência no meio eclesiástico, descreveu os sintomas da doença: 

Apareciam, no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões. Em seguida o aspecto da doença começou a alterar-se; começou a colocar manchas de cor negra ou lívidas nos enfermos. Tais manchas estavam nos braços, nas coxas e em outros lugares do corpo. Em algumas pessoas as manchas apareciam grandes e esparsas; em outras eram pequenas e abundantes. E, do mesmo modo como, a princípio, o bubão fora e ainda era indício inevitável de morte, também as manchas passaram a ser mortais”.
“Para dar sepultura à grande quantidade de corpos já não era suficiente a terra sagrada junto às igrejas; por isso passaram-se a edificar igrejas nos cemitérios; punham-se nessas igrejas, às centenas, os cadáveres que iam chegando; e eles eram empilhados como as mercadorias nos navios”.

[2] A propagação foi ocasionada por meio de um bacilo que em 20 de junho de 1894 e foi identificado em Hong Kong pelo bacteriologista francês de origem suíça,  Alexandre Yersin (1863-1943) recebendo o nome de Yersinia pestis, que tinha como vetor pulgas que parasitam os ratos como o vetor da epidemia. De regresso a Paris no ano seguinte desenvolveria com Albert Calmette e Emile Roux uma vacina e um soro contra a peste. 


Bactéria Yersinia pestis

[3] O médico Guy de Chauliac ficou para estudar a doença e tratar os pacientes e isso quase lhe custou a vida, deixando-o a beira da morte. Ninguém melhor que ele sabia quão escassas eram suas chances de sobreviver a peste. Em seu diário ele deixou o relato: “Próximo ao final da peste, desenvolvi febre e um inchaço na virilha. Fiquei enfermo durante três semanas e quando o inchaço amadureceu e tratei com figos e cebolas cozidas misturados com fermento e manteiga. Eu escapei com as graças de Deus
Em outro relato: “A grande mortandade teve início em Avignon em janeiro de 1348. A epidemia se apresentou de duas maneiras. Nos primeiros dois meses manifestava-se com febre e expectoração sanguinolenta e os doentes morriam em três dias; decorrido esse tempo manifestou-se com febre contínua e inchação nas axilas e nas virilhas e os doentes morriam em 5 dias. Era tão contagiosa que se propagava rapidamente de uma pessoa a outra; o pai não ia ver seu filho nem o filho a seu pai; a caridade desaparecera por completo”. 

[4] The Seventh Age of the World: The Image of Death from Liber chronicarum (Nuremberg Chronicle)

[5] Emanação proveniente de detritos orgânicos em decomposição, considerada outrora (antes dos avanços da microbiologia) como causadora de doenças e epidemias