sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Baby Pignatari em Roma: Mecenas do MASP

Recepção a Assis Chateaubriand, o “rei” do Brasil 
A revista “O Cruzeiro”, de 01 de agosto de 1959, traçava em sua edição número 42, ano 31, matéria  sobre Festa Romana promovida pelas irmãs anfitriãs senhoras Mimosa e Fernanda Parodi Delfino e que promoviam o evento para homenagear o embaixador Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. 

Tornou-se o homem mais influente em muitos campos  de atividades e percurssor da Campanha Nacional da Aviação, ou CNA,  que como jornalista  e proprietário da cadeia de jornais Diários Associados, além da revista “O Cruzeiro”, promoveu campanha para doações de aviões para ampliar os aeroclubes existentes, angariando recursos  que servissem para a compra ou construção de aviões, ampliando hangares e ampliando campos de pouso para consolidar a aviação civil no país. Era um mescenas, e que consta do artigo supracitado a revista “O Cruzeiro”, rodeado das mais infuentes personalidades de então.

Foi grande incentivador para que o Grupo Industrial Pignatari absorvesse a demanda da construção da aviação e grande incentivador da implantação da Companhia Aeronáutica Paulista, do industrial Baby Pignatari, em 1942. Disto a revista expõe sobre Marina Parodi Delfino(Mimosa):

“A velha amiga do homenageado, viveu muitos anos no Brasil, tendo sido um dos esteios da Campanha Nacional da Aviação, promovida por ele. Aviadora, guarda inumeras recordações das proezas aviatórias, inclusive  quando, em 1945, com Assis Chateaubriand a bordo, se perdeu na Foz do Iguaçu.”

Esta era a mulher com quem se casara em 1939, o empresário Baby, dono da Laminação Nacional de Metais S.A., que ainda detinha a Companhia Brasileira do Cobre, CBC, no Rio Grande do Sul, constituída em decreto de 02 de setembro de 1942, autorizando a exploração das Minas Camaquã, para a prospecção de minério. Era o único a realizar todas as fases do processo na produção de cobre e suas ligas abastecendo as indústrias de transformação do setor.  

Mimosa, era filha de um dos mais influentes empresários da Itália, Leopoldo Parodi Delfino, casando-se, veio residir no Brasil, morando no Bairro do Morumbi, em São Paulo. Deste relacionamento nasceu em 16 de fevereiro de 1942, o único herdeiro de Baby, Giulio Cesare Pignatari[1]. O casamento acabou em 1947, com cada qual assumindo seus compromissos em separado.
Em 1959, na homenagem oferecida ao grande embaixador Assis Chateaubriand estavam presentes as mais ilustres representações da sociedade romana à elegante recepção:

Príncipe e princesa de Orleans e Bourbon[2]; Princesa Giovanna Doria D’ Angri (Pignatelli); Princesa Margot Alliata, Princesa Rosanna Del Drago; Princesa Luciana Pignatelli; Príncipe Ferdinando Del Drago Marescotti; Príncipe Dado Ruspoli, Princesa Marília Windish-Graez; Duquesa Gidia Torlonia; Princesa Domitilia Ruspoli;  Princesa Doris Pignatelli; Condessa Mancinelli Scotti (atriz do cinema italiano, Elsa Martinelli); Princesa Laudomia Hercolani; Duquesa Elena Serra Di Cassano; Dom Romano Massara; Sra. Natalie Perrone; Sra. Giovanna Bergonzoni; Dom Lilio Ruspoli; Sr Sandro Perrone; Sra. Teresita Montez, Srta Nicoletta Montanari; ator Walter Chiari, Baby[3] e Giulio Pignatari, e outros que completaram aquela noite brasileira em cenário de nobreza romana.
Giulio Cesare Pignatari

"Chatô" sabia ser um bem humorado anfitrião, e graças ao seu senso de aproximar pessoas soube angariar para planos futuros as maiores benesses, e deste modo constituiu o acervo do Museu de Arte de São Paulo com seu amigo, marchand e jornalista italiano Pietro Maria Bardi, que dava a diretriz dizendo:

“Nós temos que passar como dois hunos sobre a Europa devastada pela guerra comprando quadros. A nobreza e a burguesia européias estão quebradas, seu Bardi, quebradas! Se corrermos, vamos comprar o que há de melhor entre os séculos XIII e XVII a preço de banana! A firme convicção de que havia tesouros na Europa à espera de quem tivesse dinheiro na mão nascera da observação do cotidiano de franceses e ingleses, um ano antes. Chateaubriand fizera uma viagem de poucos dias à Alemanha, França e Inglaterra e voltara impressionado com o estrago e a penúria produzidos pela Segunda Guerra Mundial”.
Um exemplo das relações com o mercado da arte na Europa em carta cabográfica  endereçada a Francisco Pignatari, endereço Haddock Lobo:
EM MINHAS MÃOS QUADRO VAN GOGH NOURRICE FASE HOLANDEZA CATÁLOGO COM EXPERTISE SCHOELLE CONSULTE INTERESSA CHATEAUBRIAND RESPONDA URGENTE PANAIR BRASIL PLAZA ATHENEE HOTEL PARIS ABRAÇO-PAULO SOLEDADE

O Brasil assim, com incentivos das elites empresariais formava um acervo dos mais respeitáveis do mundo, fomentado por recepções entre as mais ilustres representações.

Os bárbaros invadiram a Europa e venceram!

Bibliografia:
“O Cruzeiro”, edição de 01 de agosto de 1959, número 42, ano 31.

Morais, Fernando, 1946- Chatô : o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Companhia das Letras,1994.

Macedo, Ana Macedo de...(et al.). Baby Pignatari: O Centauro de Bronze. Porto Alegre: Metrópole, 2006.



[1] Há desencontro no ano, sendo que consta em alguma genealogia o ano de 1940!
[2] Carla Parodi Delfino, era irmã de Marina “Mimosa” e se tornou  Princesa Carla de Orleans Bourbon, Duquesa  da Galliera ao se casar em 10 de julho de 1937 em Roma, Itália, com Don Alvaro Antonio Fernando Carlos Felipe de Borbón y Orléans-Sajonia-Coburgo-Gotha, duque de Galliera , filho de Alfonso Maria Francisco Diego de Orléans y de Borbón, quinto duque de Galleria e Beatrice Leopoldina Victoria Saxe-Coburgo-Gota, a princesa do Reino Unido
[3] Museu de Arte de São Paulo- 1ª INAUGURAÇÃO 02 DE OUTUBRO DE 1947: Conseguiu arrancar 3 milhões de cruzeiros da fazendeira Sinhá Junqueira, de Ribeirão Preto, do cafeicultor Geremia Lunardelli (de quem se dizia ser "o maior plantador de café do mundo") e do industrial Francisco "Baby" Pignatari, e não teve dificuldades para obter do presidente Dutra autorização para trocar os cruzeiros por dólares - quase 160 mil dólares (equivalentes a 1,1 milhão de dólares de 1994). Quinze dias depois, em fervilhante festa a rigor no casarão da família Jafet, na avenida Brasil, ele "apresentava à sociedade paulista" o produto das primeiras doações para a galeria - que agora já era chamada por todos de Museu de Arte de São Paulo: dois Tintoretto, um Botticelli, um Murillo, um Francesco Francia e um Magnasco adquiridos em Roma. A "burguesada" que se preparasse que aquilo não ia ter fim. (Morais, Fernando,1946- Chatô : o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo : Companhia das Letras,1994)


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