terça-feira, 25 de agosto de 2009

O NOME BRASIL(5):ÍNDICO, ÁSIA e MALACA, PRIORIDADES DO IMPÉRIO PORTUGUÊS

ÍNDICO, ÁSIA e MALACA: O IMPÉRIO PORTUGUÊS NO SÉCULO 16
A cidade de Malaca era o centro econômico das riquezas do Sudeste Asiático. O Estreito de Malaca é a passagem mais rápida entre o Golfo de Bengala e o Extremo Oriente. Fundada no século 14 tornou-se entreposto comercial de mercadorias que atravessavam o Índico. Os produtos escoavam pelo Estreito, onde as matérias-primas e produtos manufaturados eram divididos em categorias referidos abaixo:

1) Figuravam diversos gêneros da Ásia, destacando-se a pimenta de Sumatra vinda pelo Estreito de Sunda passagem principal entre o Mar da China e o Índico, como também o cravo e a noz-moscada das Ilhas de Molucas, "Ilhas das Especiarias" localizada no Mar de Banda. Haviam outras mercadorias vindas de Timor, Bornéu, Reino de Sião, Tailândia, ou Birmânia como benjoim, uma espécie de resina que alcançava elevadas somas em dinheiro no mercado externo, pedrarias, almíscar e lacre.
2) Produtos chineses manufaturados, como porcelanas e sedas.
3) Tecidos indianos, originários do Guzerate, estado mais ocidental da Índia, de Coromãndel ou de outras localidades do Golfo Bengala.
4) Produtos do Médio Oriente, onde figuravam o ópio, diversos metais, couros ou tapetes.
Os portugueses sabiam da existência e importância de Malaca no Oceano Índico onde o almirante-mor de Portugal, Vasco da Gama, marcou presença lusitana a partir de 1498. Os portugueses incluíam em seu maior interesse e o domínio das riquezas da opulência comercial, avaliando a importância de Malaca de maior prioridade: controlar o comércio da Ásia marítima, que alimentava boa parte do Mediterrâneo.
O primeiro vice-rei, Dom Francisco de Almeida, levou ordens para estabelecer os primeiros contatos com o sultão, mas a demora no cumprimento de contatos imediatos para os interesses de Portugal levou Dom Manuel, rei de Portugal, a preparar uma armada, capitaneada por Diogo Lopes de Sequeira, para rumar em direção a Malaca, partindo de Lisboa em 1508. Logo ficou claro o interesse do controle do comércio asiático, que abastecia a Rota da Seda, iniciada nas costas da Ásia e fornecedora da República de Veneza e da Sereníssima República de Gênova através dos árabes.

A chegada da armada de Diogo Lopes de Sequeira, em Setembro de 1509, ao invés de concretizar o controle do comércio asiático, que os portugueses haviam logrado conquistar, desorganizaram o local com imposições à rede mercantil da região, desaparecendo o porto centralizador do comércio e, com ele, o Estado que controlava o estreito que separava o Istmo da Malásia e a Ilha de Sumatra.

O comércio, antes centralizado em ações geradas por comerciantes da região, com a interferência portuguesa, espalhou-se repentinamente por outros portos em meio a disputas militares no Estreito de Malaca. O papel desempenhado no passado pelo Estreito de Malaca, que ligava o oceano Índico ao Mar da China meridional e partilhado pela Malásia, Indonésia e Singapura, agora estava repartido com as pretensões exercidas por Portugal.
Afonso Albuquerque tinha convicção da importância de Malaca que fazia a ligação entre o comércio de especiarias chinesas e a Europa, e, assim a 1º de Julho de 1511, no comando de uma forte armada, fundeou próximo a Malaca. Os portugueses apresentavam-se em posição de força, tendo sido feitas várias exigências à cidade. Contudo, a pressão dos mais influentes da corte malaia, nomeado bendahara, ou primeiro-ministro, não permitiram o sucesso das negociações. Afonso de Albuquerque decidiu tomar a cidade, após algumas hesitações por parte de capitães mais reticentes, por motivo de intrincadas manobras diplomáticas. A seu favor contava com o apoio dos “quelins”, mercadores malaios e os chineses, que viram nos portugueses a oportunidade para abalar a hegemonia “guzerate” da Índia e obter uma posição privilegiada junto ao novo poder político.

No Oriente houve três locais que assumiam maior importância:
1) O Golfo de Aden, localizado ao norte do Oceano Índico na entrada do Mar Vermelho, entre a costa norte da Somália, na África e a costa sul da Peninsula Arábica.
2) O Estreito de Ormuz, na entrada do Golfo Pérsico.
3) O Estreito de Malaca, no Sudeste Asiático.

Afonso de Albuquerque com o sucesso da sua estratégia de expansão procurou fechar todas as passagens navais para o Índico, no Oceano Atlâtico, Mar Vermelho, Golfo Pérsico e Oceano Pacifico transformando-o num “Mare Clausum”, o mar fechado português, semelhante as Repúblicas da Itália que reclamavam o "Mare Clausum" no Mediterrâneo.
Sinal evidente desta preocupação era sentido nos primórdios do domínio pelo envio da armada de Vicente Sodré em 1502, com ordens supremas para ir à costa sul da Arábia, e o comandante Antonio Saldanha, em 1503, para fechar os “Estreitos” à navegação muçulmana.

As embarcações do Império Otomano que transportavam a mercadoria de Malaca pelo Golfo Pérsico e Mar Vermelho, depois de várias disputas com os navegantes lusos, já não assustavam Afonso de Albuquerque. Suas pretensões superaram a hegemonia do comércio da Costa de Choramándel, na Índia, controle da Baía de Bengala, Reino do Pegu na Birmânia, Malaca, Sumatra e Reino do Sião. No pensamento de Afonso de Albuquerque estavam outras terras ao Sul dos mares da China, estendendo-se até ao Japão. Em 20 de Agosto de 1512, numa carta escrita ao Rei Dom Manuel I, da cidade de Cochim, um dos melhores portos ao sul da Índia, na costa ocidental de onde os portugueses obtiveram controle do lucrativo do comércio de especiarias, Albuquerque dava notícias dizendo que Malaca era terra de Portugal. O sonho estava concretizado, mas era necessário estruturar a praça de armas, fortalecer a defesa frágil que possuía o local anteriormente na administração dos sultões. Planejou-se a construção da Fortaleza de São Tiago, mais tarde chamada de “Famosa”, dada a sua fama e beleza arquitetônica, onde dentro foi construída a igreja da Anunciação a Nossa Senhora e na atualidade resta somente a fachada. Ordenou em Malaca a cunhagem de moeda, como já era feito em Goa, tomada em 1510, e Ceilão, nítida condição de poder e controle. Afonso de Albuquerque, estava envolvido no projeto de conquistar todos os mercados Orientais, navegando mais ao Sul do Mar de Andamão, a oeste da atual Tailândia em direção a Malaca, local de transações de mercadorias vindas de todo o Oriente. Tinha ao seu mando a maior nau da armada, a “Flor de la Mar”, que fazia parte do orgulho marítimo de Portugal, sendo a nau mais poderosa em ação naval de alto poder de artilharia, com capacidade de 400 tonéis[1], construída em Lisboa em 1502, que já havia sido comandada por Estevão da Gama, irmão de Vasco da Gama nos mares em direção à Índia. A segunda viagem da citada nau aconteceu em 1505 e, ao dobrar o Cabo da Boa Esperança sofreu avaria no casco, reparada em Moçambique, África. Participou também na conquista de Ormuz, em 1507, na batalha de Diu, em 1509 e na conquista de Goa em 1510 e apresentava na conquista de Malaca, em 1511.

Afonso de Albuquerque com o controle da administração utilizou-a na expansão portuguesa na Ásia, dotando Portugal do maior centro comercial mais rico de toda a Àsia. Com a nau-almiranta Flor-de-la-Mar comandando a expedição navega outra nau menor, Trindade acompanhada de um junco chinês. Afonso de Albuquerque ordena carregar a nau Flor de La Mar com o butim tomado na conquista. Finas decorações trabalhadas em madeira de Sândalo e Rosa, barras de ouro, ornamentos dos mais variados. Liteiras ricas de uso do sultão, revestidas de prata e ouro fino. Dois leões em ferro, retirados da tumba de um sultão de Malaca, para servirem, depois da morte de Albuquerque, de guardas do seu túmulo em Goa. Um montante de pedraria, para oferecer ao Rei Dom Manuel. Esta oferenda seria o testemunho da conquista e gratidão para com o Rei Venturoso por ter-lhe conferido a honraria de Vice-Rei da Índia. Junto com tão fino espólio, ía uma espada, cravada de diamantes e um anel de rubi, oferta do Rei do Sião a Dom Manuel I, presente pelo encetamento das relações recentes, tudo catalogado para controle em nome do Império de Portugal.
Mas a poderosa nau não venceu a tormenta que pairou no estreito de Malaca e na noite de 20 de Novembro de 1512 naufragou levando ao fundo enorme riqueza, onde unicamente se salvou o almirante Albuquerque com mais quatro pessoas por ele comandados.
Este fim trágico nunca arrefeceu o interesse de Portugal no Arquipélago Malaio, ou Insulíndia, composta de um numeroso grupo de ilhas situado entre o continente do Sudeste Asiático e a Austrália foi controlado por fortificações a partir de Malaca, na Malásia, que tornou-se território português, controlando o maior comércio existente na Ásia desde 1511 até 1641, por uma das maiores forças navais da época: Portugal.

Do outro lado do Atlântico estava outro território de domínio português que não tinha tanta importância em mercado econômico: O Brasil, secundário nas relações comerciais de Portugal, somente começou a fazer parte dos interesses da Metrópole, após aproximados trezentos anos do “Achamento”!

A prioridade eram as riquezas imediatas da Ásia!

[1] Um tonel na época correspondia ao volume que comportava a massa de 1000 Kg líquidos.

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