As vezes nos aparece do nada, alguma lembrança adormecida no subconsciente, no "HD do nosso cérebro", e passa-se um filme que nos recorda a infância feliz!
Minha família, esparsa e pequena, é religiosa, e há certas passagens que quando recordadas nos faz rir e outras nem tanto.
Hoje há viagens para tudo quanto é lugar, com estradas boas, e ônibus de grande conforto, antes nem tanto!
Todos os anos meu pai já marcava que nós íamos viajar, eu nem dormia direito, ficava contando os dias, pois viajar para mim, era coisa rara!
Para onde íamos era sempre num lugar, que muita gente ia e vai rezar: Aparecida do "Norte", que nunca foi do Norte, mas de todos os pontos cardeais!
Meu pai comprava três assentos, e eu sentava separado, era o máximo, sentia-me importante!
O ônibus nem sempre ia com todos os assentos tomados e parava no meio da estrada e vendia-se as passagens restantes.
Um belo dia o ônibus parou e entrou um senhor, vestido que nem meu pai, de paletó e gravata e chapéu Prada, que era o único luxo de meu pai possuia, mas não tinha mais assentos e meu pai deu-me um ultimato para levantar e dar o lugar para o homem! O senhor disse que não precisava, que era pra deixar o "menino", mas não teve jeito, levantei-me e fui para o colo de minha mãe!
Quando o ônibus chegou na rodoviária de Aparecida o senhor agradeceu a meu pai e deu-lhe um cartão com um endereço e disse para írmos lá que ele iria dar-me um presente! Quando escutei, fiquie radiante, e pensei logo numa bola de futebol bonita! E assim seguimos nosso caminho.
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A "primeira igreja que conheci em Aparecida, foi a de São Benedito", e tem gente que até hoje nem sabe que ela existe, mas era a primeira igreja que dava de frente para a rodoviária!
Eu meio serelepe, nem sabia ainda rezar direito, ficava esperando aos meus pais fazerem suas orações e eu saia todo contente, subindo a Ladeira do Calvário, que dava direto no Santuário para participar da missa, motivo de nossa vinda!
Perto do altar tinha um guarda-chuva e eu perguntava, porque tinha aquilo, e meu pai falava que foi uma bailarina, que entrou e Deus tirou de sua mão o guarda chuva aberto que ela usava. Tinha um monte de histórias, e também a de um degrau de pedra com a marca de uma ferradura, e era outra coisa intrigante e meu velho "com paciência de japonês", explicava que um homem teimoso e rico falou que iria entrar montado em seu cavalo, mas o cavalo, respeitou o lugar e derrubou o homem! As histórias de meu pai era o máximo e minha mãe só confirmava!!!
Minha mãe, era precavida e levava em uma sacola comida em duas ou três panelas, gralmente era alguma penosa de nossa galinheiro e "pastasciutta" que meu pai dizia e minha mãe traduzia por macarrão!!!
Aparecida era um descampado de caminhões e ônibus no meio das ruas, nem tinha a Basílica nova, um dos templos mais conhecidos que existem!
Aquele lugar era quente, eu nunca vi uma chuva lá, e tinha o circo da mulher que se transfomava num bicho qualquer, e íamos lá, e eu ficava impressionado como uma mulher virava um outro bicho!!!
Eu não tinha esquecido que o homem da viagem tinha dito ao meu pai, que ele iria dar-me um presente e eu por todo caminho enchia os "patovás", mas meu pai só foi em direção ao lugar do endereço do senhor do ônibus, a tardinha, pois era em direção para pegar o ônibus de volta para São Paulo!
Entramos no endereço, era uma loja, e tinha um monte de santos de tudo quanto era jeito e o homem era o dono da loja e agradeceu ao meu pai várias vezes pela gentileza da viagem e pegou o meu presente..."era uma santa, não era uma bola"!!!
Sai meio desapontado, porque eu não sabia do valor de Nossa Senhora Aparecida, afinal eu era uma criança que queria uma bola, era pecado eu querer uma bola?
Meu pai era bem simples, foi criado na roça, mas entendia a alma das crianças, ele falou para eu dar a santa de presente para a minha mãe e indo para a rodoviaria foi visitar São Benedito de novo e voltamos para casa!
Um belo dia, já no bairro Jardim São Luiz, ele chamou-me para passear e na Avenida São Luiz, hoje a Maria Coelho Aguiar, meu pai entrou em uma bicicletaria, e lá comprou uma bola e deu-me de presente, a bicicletaria está lá até hoje, ela vendia bolas de capotão!
Na volta para casa, eu estava feliz da vida, com uma bola número 5, a maior que existia, sei lá o que o pai precisou não ter para eu ter aquela bola, e eu pensava no meio do caminho:
"Meu pai deve ter conversado com São Benedito e acertado para ele me dar uma bola"!
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