A GUERRA CIVIL PAULISTA: 9 de Julho de 1932
Santo Amaro possui superfície de 640 quilômetros quadrados e estava localizada a 713 metros do nível do mar. A Cidade de Santo Amaro era completada por lindas campinas cobertas por espessas matas sendo o sul e ao sudeste quase todo montanhoso formado pela Serra da Conceição de Itanhaém, representada como a Serra do Mar do Atlântico, do Estado de São Paulo. O “local é por demais aprazível, possuindo um clima muito salubre” o que lhe dá excelente reputação. Possui diversos rios, sendo os mais importantes o Jurubatuba e o Guarapiranga, que é o responsável pela Represa de Santo Amaro projeto viável para implementação do desenvolvimento hidroelétrico através da companhia canadense "The São Paulo Tramway, Light & Power Company Limited”, responsável pelo sistema de energia da Metrópole além da concessão das linhas de elétricos, os bondes da Capital Paulista.
Um dos prédios de grande valia para a saúde pública local esta sobre a responsabilidade da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro, concluída sua parte estrutural em 15 de dezembro de 1895, sendo seu primeiro benemérito o coronel Carlos da Silva Araújo e no mandato de 1931 a 1934 tinha-se o senhor José Abrantes como provedor.
Por iniciativa de abnegados da sociedade santamarense foi também fundada em 15 de agosto de 1931 a Assistência Social de Santo Amaro, na Rua Herculano de Freitas, nº 24, "phone" 208, destinada a prestar assistência médica cirúrgica, dentária e hospitalar aos menos favorecidos da região assumindo a diretoria o senhor Waldemar Teixeira Pinto.
A Cidade de Santo Amaro se expandia sendo até visitada pelo urbanista francês Alfred Agache, respeitado mundialmente, vinha em São Paulo para reestruturar a cidade e seria recebido em Santo Amaro para um plano de remodelação urbana.
ÁREA ATUAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO: 1500 Km2
BILHETE DE PEDÁGIO DA AUTO ESTRADA SANTO AMARO
Além do mencionado, duas vias eram ampliadas para a comunicação com a capital paulista, consideradas excelentes estradas de rodagem, que através de proposta em 1927, da Sociedade Anônima de Auto Estradas, formada por Louis Romero Sanson e seu sócio D.L. Derrom, que se fez representar junto a Câmara local, onde se promulgou a Lei nº 61, de 2 de janeiro de 1928, concedendo o direito de exclusividade a exploração por 15 anos de “uma superfície revestida de concreto” ligando-se em 14 quilômetros com a capital até as Represas da Light onde seria ainda construída uma estação balneária. Deste modo foi também instituído pela Câmara, a lei número 67, de 7 de janeiro de 1930, criando a Diretoria Municipal de Obras e Viação para controle desta expansão.
Havia ainda a divisão eclesiástica sendo que Santo Amaro possui uma “maravilhosa parochia”, sendo constituído, de há muito, por um belo monumento de fé que nos últimos tempos foi dotado de nave central, capela, sacristia e consistório graças aos esforços do padre Luiz Ignácio Tacques Bittencourt, seguido pelo empreendedorismo dos padres Bento Ibanez e o vigário geral nomeado a partir de setembro de 1917, padre José Maria Fernandes.
A população local estava estimada, no início da década de 1930, em 25 mil habitantes, sendo que o município possui 5358 prédios em sua área urbana. Destes podiam ser destacados a Sede da Prefeitura, luxuosamente adornado na Praça Floriano Peixoto com projeto civil apresentado pelo então prefeito, senhor Isaias Branco de Araújo, que logo após seu mandato de 12 anos, foi substituído pelo senhor Paulo Goulart que em solenidade realizada em 10 de janeiro de 1929 entregou o prédio junto com a representação da edilidade, os dois andares amplos e elegantes, preenchendo plenamente seus fins. Na “atualidade” ocupa tão importante cadeira o prefeito Francisco Ferreira Lopes.
Outra estrutura de real importância para o município desde 1910, sem sombras de dúvidas era o “Grupo Escolar de Santo Amaro”, que comportava a frequência de 750 estudantes onde a direção esta sobre a responsabilidade do professor Rodrigues Rosa de Abreu.
Por iniciativa de abnegados da sociedade santamarense foi também fundada em 15 de agosto de 1931 a Assistência Social de Santo Amaro, na Rua Herculano de Freitas, nº 24, "phone" 208, destinada a prestar assistência médica cirúrgica, dentária e hospitalar aos menos favorecidos da região assumindo a diretoria o senhor Waldemar Teixeira Pinto.
Completando este imobiliário encontra-se nas imediações da mesma Praça, nº 216, "phone" 96, o moderno Cine Teatro São Francisco do ilustre empreendedor Francisco José Salles, que buscava entreter através da cultura da arte cinematográfica os seus cidadãos com espaço reservado para três mil lugares.
RESQUÍCIO DO "FRIGORÍFICO SANTO AMARO"
Todo este empreendedorismo era completado por 1128 estabelecimentos devidamente registrados que fornecem uma gama de produtos de diversos ramos de ação. As indústrias estão distribuídas em vários segmentos e voltadas para a produção fabril de banha, arreios, fitas de seda, móveis, serraria, carpintaria, tapetes, capachos, oleados, sendo localizadas no perimetral da cidade, e ainda há uma lavoura em franco desenvolvimento na área rural.
Santo Amaro estava sendo ampliada seu desenvolvimento, pois a cidadezinha de zona rural vastíssima, via chegar a seus arrabaldes à prosperidade. Em 10 de julho ocorreria o Primeiro Centenário da Cidade de Santo Amaro sendo que havia sido liberado um auxilio cinquenta contos de réis para os festejos. Seria realizado imponentes realizações onde seria oficializada abertura de grande exposição feira que seria organizada por contrato com Pedro Paulo Lanza e que seria apresentada no “Grupo Escolar Santo Amaro”, que também receberia o nome de Paulo Eiró este requerido através de petição municipal ao governo estadual em 2 de julho.
MATÉRIA: Folha de São Paulo, 27 de junho de 1932
ESTOURA A BOMBA: SÃO PAULO EM GUERRA
Enquanto Santo Amaro preparava-se para comemorar seu primeiro centenário em 10 de julho de 1932, São Paulo levantava-se contra o arbítrio federal de governar ao seu bel prazer, sem restrições. Já haviam tombados os jovens na Praça da República, a 23 de maio de 1932, em nome da liberdade . Os sucedâneos foram inflamados até 9 de julho deste ano, quando São Paulo declara guerra contra a ingovernabilidade do país. Alguns acreditam que as elites foram os que idealizaram esse movimento, mas pelas proporções alcançadas tinha iniciado uma guerra civil. Os acontecimentos levaram o governo federal a bombardear São Paulo constantemente com os WACO ( Weather Aircraft Company of Ohio), os temíveis Vermelhinhos, onde os heróis combatiam no intento de conseguir que fossem reconhecidos direitos contrários a quaisquer ditaduras implantadas. São Paulo não se rende e combate em todas as frentes de norte a sul.
Santo Amaro em festa reinava o entusiasmo e a alegria. De repente cessa esse encantamento, sabendo que São Paulo requer o regime da legalidade pela Constituição regente dos destinos da Nação, assume seu compromisso de juntarem-se nas trincheiras, e ninguém mais pensou na festa programada há muito. A Comissão resolve a adesão ao movimento e contata o Governo de Pedro Manuel de Toledo que os encaminha ao coronel Euclydes de Figueiredo, inquirindo o que desejavam. A resposta imediata: “Armas e Munição”.
Neste momento estava formada a “Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro” sobre o comando do Tenente Moupir Monteiro e do tenente Luís Martins de Araújo, onde o smoking de festa foi substituído pela farda de combatente, de 300 homens em efetivo, reportando-se ao comandante da Praça de Santos, o coronel Melo Matos. Os soldados de Santo Amaro foram responsáveis pelo litoral de Cananéia a Xiririca, local onde tombou Delmiro Sampaio, única baixa santamarense, adentrando depois pelo Paraná. Após o armistício retornaram as suas bases, em 12 de outubro de 1932.
As retaliações foram imediatas em pelo decreto nº 6983, Getúlio Vargas insere um interventor em 1935, Armando de Salles Oliveira, para melhor governar, sendo logo em seguida promulgada a mais efêmera constituição, de 1934 a 1937, pela qual São Paulo tanto se batera e Santo Amaro perde, deste modo, sua autonomia.
NOTAS:
1-Em 1937 cria-se a Lei de cargos de censores teatrais, na Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública. “Artigo 1º: Fica, na Secretaria da Segurança Pública, instituído o serviço de censura teatral. Artigo 2º: Será o serviço desempenhado por onze censores, efetivando-se, para este fim, os que atualmente exercem tais funções como contratados. Muito embora o Decreto Federal (...) que nacionalizou o serviço de censura cinematográfica tenha transferido ao Ministério de Educação e Saúde Pública grande parte dessa atribuição, cumpre esclarecer que funções não menos trabalhosas, tanto pelo seu volume como pela diversidade, ainda ficaram a cargo da Polícia do Estado, por intermédio da Delegacia Especializada de Costumes (...), que teve de organizar o seu corpo de censores a fim de desobrigar-se da árdua tarefa de censura às peças teatrais, censura de divertimentos públicos (cabarés, dancings, bailes, etc...), censura da radiodifusão, fiscalização dos laboratórios cinematográficos...”
2-A Batalha da Praça da República : 23 de maio de 1932 (http://tudoporsaopaulo1932.blogspot.com/2010/05/23-de-maio-de-1932-batalha-da-praca-da.html)
No início da noite a massa indomável se dirige pela Rua Barão de Itapetininga e finalmente alcança a esquina da Praça da República. Ali funciona a sede do Partido Popular Paulista, braço político da Legião Revolucionária.
No seu interior, legionários frustrados com a deposição de seu chefe, armados e dispostos a tudo pretendem defender a sede do partido custe o que custar.
A massa se divide entre as esquinas da Rua Dom José de Barros e a Praça da República. Quem entrasse pela Barão de Itapetininga virava alvo dos legionários entocados. No primeiro ataque tombam Euclides Miragaia, estudante de direito e Antonio de Camargo Andrade, além de inúmeros feridos.
Os que estão embaixo na rua e na praça contam com poucas armas. A massa apesar de decidida é contida pelos defensores na sede do PPP. Mais tiros e muita gritaria.
Um bonde é tomado pelos manifestantes e ao apontar na esquina é crivado de balas vindas de cima. A rajada atinge o estudante Mário Martins de Almeida que virá a falecer no pronto socorro da Polícia Central.
São mais de quatro horas de tiroteio, quando no início da madrugada um destacamento da Força Pública negocia a rendição de oito atiradores enquanto a massa é mantida afastada. No chão jaz o garoto de quatorze anos Dráusio Marcondes de Souza. Ferido gravemente está Orlando de Oliveira Alvarenga - que falecerá no dia 12 de agosto. Os ocupantes do PPP são retirados em um caminhão e levados dali.
No dia 24 de maio, as iniciais dos nomes dos mortos formarão a sigla da sociedade secreta que traçará o destino da Revolução Constitucionalista: MMDC. Anos depois a história faria justiça a Alvarenga, e a sigla seria complementada formando MMDCA.
3-VIDE ATOS DE RIGOLETTO: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rigoletto
BIBLIOGRAFIA:
1-CALDEIRA, João Netto. Álbum de Santo Amaro (1935) São Paulo: Organização Cruzeiro do Sul-Bentivegna & Netto/
2-GUERRA, Juvencio; GUERRA, Jurandyr. ALMANACK COMEMORATIVO DO 1º CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO. São Paulo: Graphico Rossolillo/
3-SAMMARTINO, Paulo (redator). RECORDAÇÃO DO CENTENÁRIO DE SANTO AMARO. Typographia Selecta/
4-SANSON, Louis Romero. SANTO AMARO 1832-1932. São Paulo: Empresa América de Publicidade Ltda/
1 comentário:
Parabéns pela iniciativa de promover a história do belo e eternamente livre município de Santo Amaro.
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