Uma Viagem de Incertezas
Esse “bote no pote do dinheiro” por alguém acontecido nestes dias na Universidade de São Paulo, retornou-me ao ocorrido em 2006, quando dois alunos da USP, (que nada tem a ver com o caso) José Werley Torres e Cláudia Santos, namorados à época, promoveram uma viagem por toda a América Latina, para participar de Fórum Social Mundial.
O Sr Werley, fechou contrato com a empresa de ônibus da Arca Turismo da seguinte maneira: pegou um Mapa Mundi, uma régua e um lápis, traçou linhas em escala de São Paulo até Caracas, na Venezuela, passando por países da América Latina, contratando a empresa de ônibus Arca Turismo para uma viagem de ida e volta de 12 mil km. O fretamento da Arca Turismo foi feito para sair da USP, da Praça do Relógio, até Caracas para o Fórum Social Mundial e depois retornarem ao Brasil. A empresa cumpriu todos os requisitos do contratante, ou melhor, tratante Werley, que planificou a viagem numa escala em linha reta em um mapa da América do Sul, sem acrescentar o relevo do Andes, com montanhas por vezes de mais de 5 mil metros de altitude, chegando ao resultado já citado de 12 mil Km.
A aventura do grupo ficou conhecida e divulgada pelos jornais na época, pela irresponsabilidade do responsável pelo planejamento da viagem, o estudante de filosofia José Werley Torres, que exigiu da empresa que o ônibus cruzasse Bolívia, Peru, Equador e Colômbia antes de chegar à Venezuela. Ele acreditava que fazendo esse trajeto o grupo chegaria a Caracas cinco dias de partida de São Paulo, mas chegamos dez dias depois do embarque.
O grupo participou das atividades do Fórum, embora, tivéssemos chegados com atraso para o início do evento, cada um interessando-se por seu campo de conhecimento, Tinha aproximadamente 40 pessoas, de várias localidades: de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo, mas a maioria era de São Paulo, inclusive este missivista.
Depois de finalizado o evento houve uma reunião com o mentor da excursão, Werley, onde todos queriam saber como iria ser feito o retorno, porque a empresa fretada Arca Turismo, na pessoa de seu Miguel Serrano queria receber o restante para a volta, pois só tinham sido contratados para uma viagem de 12 mil quilômetros e só de ida tinham percorrido mais de 10 mil.
O comportamento desse rapaz era digno de pena, não se misturava com os demais, não participava de nada que o grupo fazia, um ou outro o conhecia, mas a maioria não. Foi feito o depósito via bancária e nos encontramos no dia da viagem. As referências dele eram boas até aquele episódio. Ele se apoderou de parte do montante financeiro, pois isso foi jogado na cara dele em Caracas, para ele usar o que ele se apoderou, pois ficamos sabendo quanto ele tinha pago pelo fretamento e quanto ele tinha arrecadado das 40 pessoas que foram na viagem. A ocasião fez o ladrão! Quem mais nos ajudou foi uma freira que era do grupo e só ficamos sabendo de sua posição religiosa, quando em Quito, Equador, ela providenciou nosso alojamento num convento senão íamos dormir no ônibus, pois nesse país as coisas já estavam azedando. Ela foi a porta voz do grupo com mais alguns, entre membros da embaixada e o grupo.
Esse escroque Werley queria ratear a volta e cobrar por isso, claro que a revolta foi geral, pois o contrato da viagem não rezava um pagamento extra. Já era noite, todos estavam exaustos e ficou decidido que o Werley iria resolver. Ele “resolveu” e fugiu com sua noiva, de Caracas e ficamos com o prejuízo. Ficamos alojados em um hipódromo, em beliches fornecidos pelo exército e a comida foi fornecida por entidades locais.
Por causa do desgaste dos passageiros com a estafante viagem de ida e o fim do dinheiro da maioria, uma operação foi montada pela embaixada brasileira para repatriar o grupo. Apesar de se tratar de uma aeronave de carga, o Hércules C-130 enviado pela Força Aérea Brasileira, foi preparado com assentos improvisados para repatriar-nos por um grupo de oficiais do maior gabarito profissional e muito prestativo, depois de uns 10 dias de negociações entre embaixadas, onde o Brasil foi representado pelo diplomata João Carlos de Souza Gomes.
Depois desses dias à espera da resposta do governo brasileiro ao pedido de repatriação, o ônibus Arca Turismo com seus 3 motoristas, aliás bem prestativos, iniciaram a viagem de volta, conduzindo um ônibus vazio entrando pelo norte do Brasil via Manaus cortando todo o território até São Paulo e a Arca arcando com um grande prejuízo.
Abaixo fotos de alguns momentos na América Latina:
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