As "chancelas documentais" por registros fotográficos
Perguntam-me por que não escrevo um livro sobre a história local. A resposta não é simples, mas expomos que é porque muitas pessoas já o fizeram, até antes de nascermos, numa reprodução constante, tipo “VELHAS HISTÓRIAS, CONTADAS DE NOVO”. Seria necessário criar uma produção histórica sem o velho mote repetitivo dos "nascidos da gema", do ovo inicial da história, aliás pretensão que não alcançaremos!
Outra coisa é que quem se interessa em saber sobre o assunto, e isso já elimina uma percentagem considerável de adeptos, tem que disponibilizar de um capital, e adquirir o livro. Por esse motivo há uns 15 anos disponibilizamos um blog para quem quiser acessar a história local sem pagar...mas tem que pagar a internet, né!!!
Outro fato é que não seria nunca um “livro best-seller”, um campeão de vendas, iria ter uma edição e não daria grandes lucros a um possível editor que se interessaria em correr riscos e ademais, enfeitaria alguma estante de biblioteca, ou alguma residência, apenas isso.
Escuto desde criança a mesma história do Brasil, e perguntava-me se havia outra história escondida atrás daquela toda florida que eu escutava. Eu queria entender como homens que se destacavam nos livros, sendo importantes, aparecendo sempre na macro-história, a de grandes acontecimentos, como semideuses. Isso não é exclusividade apenas nossa de enaltecer um herói, é da história mundial!
Deveria haver uma trajetória, uma história anterior ao grande acontecimento gravado na historiografia, que começaria dentro de uma casa, sairia às ruas de uma vila pequena, expandiria para um município, depois ganharia projeção num estado, depois um país e por fim teria notoriedade mundial. Sem aquele começo não haveria o objetivo transformador que impacta um grande momento de um povo.
Nada é estático nesta vida, e aos poucos cresci, e buscava o conhecimento, pois educação ganhei em casa. Minha mãe sempre que me “aprumava” para ir à escola dizia:
“ Vai estudar, pra ser gente”, pois com aquela idade, para ela, eu ainda não era!!!
Achava que para isso eu tinha que ter livros, e meus pais fizeram o esforço para adquirir uma “Barsa” de segunda mão. Essa coleção era a minha “internet” daquela época. Tenho-a até hoje como um troféu, que meus pais pagaram em “prestações” para uma família que iria mudar-se.
Admirava em ver toda aquela trama histórica contada pelos vencedores, e até me perguntava o que tinham feito com os vencidos, se tinham sidos incorporados aos vencedores ou trucidado todos ou somente as lideranças. Interessante observar que as guerras, apesar os sofrimentos que causam, são momentos de grandes transformações, tanto pessoais quanto de impactos no meio em que se vive, dando origem a novas tecnologias de uso humano. Dizendo isso não quero dizer que sou favorável a conflito algum, apenas faz parte de análise histórica.
Depois me perguntava quem tinha feito a comida de toda aquela gente, quem tinha lavado as roupas, quem tinha selado os cavalos, ou feito as armas das batalhas. Por essas dúvidas sempre faço buscas, mas nunca as encontrei.
Perguntei-me em pensamentos longínquos quem iria escrever sobre o pequeno espaço que resido e o que foi toda a trajetória das pessoas pioneiras ao longo do tempo nesse bairro.
Por essa indagações comecei eu mesmo em passos lentos, sem me engrandecer disso pois “LOUVAR A SI PRÓPRIO, DEMONSTRA SOBERBA” fui cavando uma arqueologia histórica que nos cercava, escondida em “caixas de sapato” onde existiam precioso material histórico: FOTOGRAFIAS.
Foi nesse momento que me interessei em procurar relatos, o que nas academias de hoje chamam de “micro-história” e parece que isso é o que mais fazem na atualidade nas academias, denominando esse estudo de “oralidade”.
Encontrar os agentes da história local é um árduo trabalho, poucas pessoas querem expor sua situação, o seu íntimo, e temos que respeitar isso, afinal essa identidade e pertencimento faz parte de uma resistência desconhecida por muitos. Essas pesquisas nos levaram a sermos imparciais nas análises investigativas, e não os donos da história.
Muita gente ajudou-nos, a quem devemos gratidão imensa, embora também houvesse alguma resistência, pois éramos estranhos a procura de coisas pessoais dos moradores. Uma passagem ficou gravada em uma residência que ao procurar saber algo, fomos recepcionados por um senhor, rodeado por uma matilha de cães bravios, que nos perguntou:
“Por que vocês fazem isso”? Respondemos: “Porque somos loucos”!!!
Assim nasceu um projeto que demos o título de “A FOTOGRAFIA COMO CONCEPÇÃO HISTÓRICA” e descrevemos parte disso relatando e mostrando as provas desse momento glorioso de cada um de nós, sujeitos da história!
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