quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

A Colônia Brasil da cachaça, aguardente, pinga, caninha!!!

*Coisas iguais e com diferenças

No conceito popular, cachaça é sinônimo de aguardente e cachaceiro, não se trata do produtor da bebida, mas sim do viciado na bebida. Antes porem cachaça era a escuma da garapa fermentada. O caldo de cana era colocado para ferver e tirar as impurezas das moendas. Esse produto advindo da primeira escuma era denominado cachaça, que era colocado em um cocho e se tornava bebida de mulas, cavalos, cabras, bois, porcos e outros animais. 

Numa segunda caldeira há ainda parte da escuma ainda advinda das impurezas das moendas que eram guardadas em potes até se azedar e que eram ingeridas como bebida, podendo se embriagar com ela e disto chamou-se também cachaça, um produto natural da fermentação do açúcar proveniente da cana triturada nas moendas dos engenhos introduzidos na colônia com o alvará de Dom João III, rei de Portugal, em 29 de março de 1549. 

Se serviam da bebida abundante na colônia que fornecia açúcar por várias partes do Mundo, através de Portugal, Holanda e Inglaterra, que assumiam o controle marítimo e o cartel da mercadoria apreciada do açúcar, grosseiro da rapadura, um tipo mascavo. A colônia ainda sem muitos recursos se fartava com a bebida, embora para se entreterem do marasmo da Colônia usavam o caulim, bebida fermentada pelos índios de raízes do mato e milho por eles cultivados resultando o caulim, preparado pelas mulheres indígenas.

A de se destacar parte de uma crônica de Frei Vicente do Salvador onde diz em uma parte: “ Vinho? De açúcar se faz mui suave e, para quem o quer rijo, com o deixar ferver dois dias, embebeda como o de uvas.”

A cana de açúcar, gramínea proveniente da Ilha da Madeira, foi introduzida por Martim Afonso de Souza, em sua Capitania de São Vicente, como relatado por Frei Gaspar de Madre de Deus, em Memórias para a História da Capitania de S. Vicente, editado em Lisboa, em 1797:

“Mandando vir da Ilha da Madeira a planta das canas doces. Para que os lavradores as pudessem moer, fabricou quase no meio da sobredita ilha (S. Vicente), um engenho d’água, com capela dedicada a S. Jorge, qual foi o primeiro que houve no Brasil; dele saíram canas para as outras capitanias brasileiras”. Foi daí que se espalhou para o Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Itamaracá e Paraíba.

Embora com toda essa expansão os engenhos não produziam, à época aguardente, sendo que a mesma se popularizou na segunda metade do século 17, pois faltava o alambique para a bebida destilada, sendo mencionado em 1648 em inventário “um alambique de cobre que pesou uma arroba” avaliado em 15$600, e pertencia a Rafael de Oliveira, e funcionava no sítio do Jaraguá. (Arquivo do Estado de São Paulo, Inventários Processados de 1578 a 1700, 27 volumes).

Assim, no começo a cachaça era uma bebida fermentada, passando para a aguardente, bebida destilada a partir de 1650 a 1700. Em 1699 uma Carta Régia “concede faculdade para lançarem as câmaras desta Capitânia um leve imposto nas bebidas, cujo imposto das Tavernas é o que se chama Avença”. (Documentos interessantes para a História e costumes de S. Paulo, de A. de Toledo Piza, publicado pelo Arquivo do Estado de São Paulo.)

Começa então a espalharem engenhos e engenhocas pelo sertão afora a revelia do fisco que interessa taxar o açúcar, o melado e a aguardente e não quer prejuízo aos direitos reais.

Em 1661 a regente Luísa de Gusmão liberou a produção da cachaça no Brasil para intensificar o consumo fora da Colônia, mas ao comércio local, era vedado, embora a repressão fosse nula, contando até com a participação das autoridades que eram os principais contrabandistas. Não conseguindo conter o contrabando a proibição foi revogada, em 1695. Deste modo a cachaça, à época também chamada de aguardente da terra e jeritiba, subiu a produção e em uma década, passou a ter quase 700 pipas ao ano(1)!

Hoje é um produto de exportação da República do Brasil!


Nota:

1) No tempo do descobrimento do Brasil, Portugal era governado por Dom Manuel I, sendo estabelecido que um “almude”, de origem árabe, medida usada para líquidos, especialmente vinho, equivalia a 16,8 litros. A pipa por sua vez era uma medida européia equivalente a meio tonel, que equivalia a 840 litros. Sendo uma pipa equivalente a 420 litros (25 almudes)

*Breviário de como foi o consumo da bebida, sem se ater ao modelo de produção, onde há catedráticos de renome com todo esse levantamento historiográfico!


Referência:


Revista do Arquivo Histórico, volume 71. Out 1944

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