sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

A CASA DA ÓPERA, O PRIMEIRO TEATRO DE SÃO PAULO E PAULO EIRÓ

O trajeto de vida do poeta de Santo Amaro



Nome: Paulo Francisco Emílio de Salles
Pseudônimo: Paulo Eiró
Nascimento 15 de abril de 1836
Escola Normal de São Paulo: 1852 a 1855
Em 1854 assume a escola de Francisco Antonio das Chagas, seu pai, na Rua Direita, hoje Capitão Tiago Luz, Santo Amaro.
29 de junho de 1854 encena 3 peças: Traficante de Escravos,Chegamos tarde..., e Terça Feira de Entrudo.
Faculdade de Direito do Largo São Francisco em 1859
Seminário episcopal, Bairro da Luz (1859)
Seminário de Mariana, Minas Gerais (dizem que nunca chegou lá!)
Volta a Chácara paterna em 1860
Passamento: 27 de junho de 1871
Local Hospício dos Alienados de maio de 1866 A 1871
Peça Sangue Limpo escrito em 1861: obra teatral encenada no teatro Casa da Ópera que chegou até nossos dias (de 8 supostamente existentes)




O teatro Casa da Ópera da encenação da peça Sangue Limpo, situava-se à Rua da Casa de Fundição atual Rua Floriano Peixoto, no centro de São Paulo.

Largo da Sé, 1860, à esq. Rua da Fundição, atual Rua Floriano Peixoto, com parte do Solar da Marquesa de Santos; no centro, a Igreja de São Pedro
Rua Floriano Peixoto, ex Fundição, 1910. À direita, parte igreja São Pedro da Pedra, demolida neste ano. Ao fundo, o Solar da Marquesa antiga Rua do Carmo, hoje Roberto Simonsen.

Rua Floriano Peixoto, ao fundo, na atualidade

No século XVIII, quando dom Luís Antonio de Sousa Botelho e Mourão, o Morgado de Mateus, era governador general da Capitania de São Paulo (1765 a 1775), surgiria aquele que é considerado o primeiro teatro oficial de São Paulo.

Bernardo José Maria Lorena e Silveira, em 1793 mandou reformar a antiga Casa de Fundição, onde se cunhava o ouro para registrar o pagamento do “quinto real” e o espaço foi transformado na Casa da Ópera, com capacidade para 350 pessoas. Não pense, porém em espetáculos líricos. A palavra ópera era usada genericamente para apresentações teatrais e os teatros eram comumente chamados de Casa da Ópera.

A Casa da Ópera do Pátio do Colégio (local aproximado de onde estava instalada a Caixa Econômica Estadual) tinha uma construção rudimentar para uma casa de espetáculos, com três portas no rés do chão e três janelas no primeiro andar. Trazia no interior, à altura do saguão, duas escadas, que davam uma para o camarim governamental e outra aos 28 camarotes, divididos em três ordens. Na platéia havia bancos simples. A iluminação era feita por velas de cera e candeeiros de azeite doce.

Foi na Casa da Ópera, do Largo do Colégio, que Dom Pedro I, ao proclamar a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, foi aclamado pelo povo, rei do Brasil. Com a inauguração do Teatro São José, em 1864, e outras casas de diversão em São Paulo, a Casa da Ópera entrou em decadência, sendo decretado por volta de 1870, que seria demolido o seu prédio. No seu lugar, em 1881, foi lançada a pedra fundamental do prédio da Tesouraria da Fazenda.

Auguste de Saint-Hilaire, que visitou São Paulo em 1819, assistiu a uma apresentação naquele teatro e o descreveu como uma casa pequena, de um único andar, baixa, estreita, sem nenhum ornamento arquitetônico, pintada de vermelho, com três largas janelas de postigos negros. Entrava-se num vestíbulo estreito por aonde se vai aos camarotes e à plateia. A sala, muito bonita e com três ordens de camarotes, era iluminada por um lustre central e velas colocadas entre os camarotes.
Quando Saint-Hilaire chegou, a plateia já estava ocupada. Somente homens sentados em bancos. No começo do século XIX as mulheres só saiam de casa para ir à igreja ou visitar parentes, e mesmo assim acompanhadas da família. O francês reparou que os atores eram todos operários mulatos e as atrizes eram mulheres públicas, cujo talento era proporcional à sua moralidade. Pareciam fantoches.

As cadeiras eram um problema à parte, pois ao terminar a sessão, saíam todos ao mesmo tempo carregando suas cadeiras e era um tumulto. Os mais apressados, normalmente estudantes, que estavam na plateia chegavam a escalar os camarotes em vez de sair normalmente pelos corredores. Em 1854 a companhia dramática chegou a publicar uma nota no jornal Correio Paulistano dizendo que nos dias posteriores aos de espetáculo “achar-se-ha aberto o theatro das 11 horas da manhã ás 3 da tarde, a fim de quem quizer mandar procurar suas cadeiras.” Pois era assim, quem quisesse sentar-se que trouxesse sua cadeira de casa.

A pequena casa da Ópera, que já era conhecido como Teatro da Ópera, teve seus momentos de glória. Na histórica noite de sete de setembro de 1822, D. Pedro I, então Príncipe Regente do Brasil foi aclamado com gritos de “Viva o rei do Brasil” e o espetáculo daquela noite teve declamação de poemas e até a execução do Hino da Independência, composição de D. Pedro e por ele mesmo executado. É claro que Domitila de Castro Canto e Melo, futura marquesa de Santos, estava presente. Seu romance com D. Pedro estava apenas começando.

No período de 1830 a 1835 os estudantes da Academia de Direito alugaram o teatro, através da Sociedade Acadêmica, constituída para este fim.
Após o encerramento do contrato com os estudantes, o teatro passou por várias administrações e até mudou de nome, passando a ser conhecido por Teatro São Paulo.
No final da década de 1860 o casarão estava em péssimas condições e em 27 de junho de 1870 o presidente da Província aprova o contrato para demolição do velho teatro.


Pátio da Sé delimitava-se o Pátio da Sé, de um lado pela atual Rua Floriano Peixoto, de outro, pela Rua Venceslau Brás. A Rua Floriano Peixoto teve o nome primitivo de Rua da Fundição, pois abrigava os fundos da Casa da Fundição dos Reais Quintos de São Paulo, que tinha entrada pelo Pátio do Colégio. A instituição começou a funcionar no local em 1730. Fechada e reerguida em 1751, manteve-se em atividade até 1762, foi abolida e, depois reaberta, para ser desativada definitivamente em 1818. A troca de nome da rua, homenagem ao presidente da República Floriano Peixoto, deu-se a 1º de agosto de 1907.
Rua Tabatinguera, em 1862,à direita o Quartel do 2º Batalhão de Guardas, sendo antes o Hospício dos Alienados nele faleceu o poeta Paulo Eiró, no ano de 1871 aos 35 anos de idade.
Antigo Hospício dos Alienados e depois quartel da Guarda Cívica. 1904

Hospício dos Alienados na atualidade

O dia 2 de dezembro de 1861 começou com paradas militares, missa na Igreja da Sé e à noite no teatro São Paulo, localizado no Pátio do Colégio, foi encenado a peça Sangue Limpo com a presença dos figurões do Governo, estudantes, e quase todos os moradores de São Paulo. Apesar da emoção presente em Paulo Eiró as críticas dos jornais não foram favoráveis e ao lê-las com decepção, novamente retornaram suas crises que por fim o levou ao Hospital dos Alienados em 1871.


Em Santo Amaro, São Paulo, sua memória continua presente em nome de rua e no teatro!


Vide complemento:
O Poeta Paulo Eiró e a cidade de Tatuí, São Paulo.

Cartas de Datas (terrenos) em Santo Amaro e outras providências:

 “Teatro Municipal de Santo Amaro Paulo Eiró”: Reinauguração 2015

Bibliografia:
Schmidt, Afonso. O Romance de Paulo Eiró. São Paulo: Editora Clube do Livro, 1959.
Consalves, José. Paulo Eiró - notícia bibliográfica, IN: Sangue Limpo, 1949.
Paes, José Paulo. Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, 1968. 

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