sexta-feira, 15 de junho de 2018

A "Cidade" de Santo Amaro/SP e seu Jornalismo Historiográfico

História publicada em 29/06/2011 link:


O bairro Capela do Socorro, que se incorporava ao distrito de Santo Amaro, realidade anterior à oficialização de 1938, tem seu nome ligado ao marco importante para a aviação mundial relacionado à Primeira Travessia do Atlântico sem suporte marítimo pelo oceano.

Este épico ocorrido em 1927 foi realizado pelos aviadores, Francesco De Pinedo, comandante da Força Aérea Italiana e João Ribeiro de Barros, comandante brasileiro, natural da cidade paulista de Jaú, que amerissaram com seus hidroaviões Santa Maria e Jahú na Represa de Guarapiranga, reservatório de água da Região Metropolitana de São Paulo e fornecedora de energia elétrica da empresa The São Paulo Tramway, Light and Power Company Ltd.

O fato teve relevância à época, promovendo a vinda do maior industrial de São Paulo, Francesco Matarazzo a Santo Amaro conversar sobre a construção do "Monumento aos Aviadores da Travessia do Atlântico" para memória deste momento histórico. O empresário fez o pedido ao então prefeito em exercício de Santo Amaro, Isaías Branco de Araujo, convencendo-o da importância histórica do Monumento que foi idealizado pelo artista italiano Ottone Zorlini em 1929.

Isaías Branco de Araujo já havia decretado cumprimento dos nomes dos aviadores às ruas nas margens da represa de Guarapiranga, além da referência de Avenida Atlântica ao que era ainda uma estrada de terra que se ligava à obra da "AESA - Auto Estradas S.A.", uma estrada que depois recebeu o nome de Avenida Washington Luís, homenagem ao presidente deposto pelo golpe de 1930. Era uma construção arrojada e moderna para a época, ligando a "Cidade de São Paulo" à "Cidade de Santo Amaro" e que se completava ao Largo 13 de Maio, centro de Santo Amaro, através da Avenida Victor Manzini, outra homenagem justa ao idealizador do jornal A Tribuna, fundado em 1936, que cruzava pelo Rio Pinheiros passando pela Capela do Socorro dirigindo-se largo da Cidade Dutra.

Em depoimento ao jornal da região, "Gazeta de Santo Amaro", em novembro de 1960, Isaías Branco de Araujo, prefeito de Santo Amaro de 1917 a 1928, na época município do Estado de São Paulo declarava no subtítulo "De Pinedo e Conde Matarazzo": "Recepcionei João Ribeiro de Barros quando desceu com o Jahú na Represa. Em homenagem ao grande aviador, dei o nome à Avenida do Bairro do Socorro, este já existente antes das formalidades de fundação indicada como o ano de 1938. Quando o Conde Matarazzo, em nome da colônia italiana, veio a esta cidade tratar do monumento na represa em honra ao aviador, foi por mim recebido".

No início da década de 60, houve necessidade de ampliar a "picada" cortada na mata original que saía do Largo do Socorro, indo ao encontro do empreendimento da Auto-Estrada unida a Interlagos, sendo, mais tarde, a referida Avenida ampliada durante a gestão do prefeito de São Paulo, Francisco Prestes Maia, quando era o subprefeito de Santo Amaro Fernando Scalamandré Junior. Nesta época também houve a alteração do nome da Avenida Atlântica para Robert Kennedy, o Bobby, irmão do presidente americano John Fitzgerald Kennedy, que visitava o Brasil oficialmente, fruto da "Aliança para o Progresso" entre os países da América da década de 60 e que foram responsáveis de liberação de fundos financiadores de empreendimentos brasileiros.

Hoje estes homens são parte da historiografia, os Kennedy não são mais nome de rua e a biblioteca ex-Kennedy recebe as honrarias de seu idealizador Prestes Maia, sinal dos tempos transformadores do espaço santamarense.

Uma nova resolução atual, Lei nº 14.454, de 27 de junho 2007, define não ser mais possível colocação de nomes estrangeiros em ruas, avenidas, praças e logradouros públicos voltando deste modo o nome original de Avenida Atlântica, realizado por ato público em 19 de dezembro de 2010, que recebeu de volta também o "Monumento aos Aviadores da Travessia do Atlântico", no Parque da Barragem, na Represa de Guarapiranga.

Santo Amaro possui uma historiografia respeitável, como tantos outros bairros paulistanos, e que através de sua importância há a incumbência da preservação da historiografia e a hemeroteca de suas duas representações jornalísticas de imparcialidade, através do "A Tribuna", do inesquecível jornalista Victor Manzini e a "Gazeta de Santo Amaro", de inestimáveis préstimos de seu diretor Armando da Silva Prado Netto.

Santo Amaro sempre ofertou a melhor política, mesmo recebendo pouco em troca das benesses ofertadas, e atualmente é de grande interesse imobiliário e recebe investimentos, transformando o local de residências de comerciantes e operários em local de construções verticalizadas, mas que deve preservar em seu interior as características de um urbanismo, devendo manter a preservação ambiental, evitando os desmandos do passado. 

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