A ponte antiga e a moderna:
Gentrificação local!
Aquele espaço bucólico que existia nas
vilas e aonde cada pessoa se conhecia pelo nome está sendo esquecido com a
verticalização da cidade. Não haverá, em curto espaço de tempo, aquelas casas
de varandas e ajardinadas de antes, onde todos possuíam relações de amizade eternizadas
que aproximavam todos num bem comum, que poderia ser uma associação de bairro
para reivindicar melhorias perante as autoridades representativas municipais e
por vezes até estaduais, ou por intermédio da religião tornavam-se ligados por
matrimônio ou compadres de conhecimento por longa data.
Participavam de datas festivas, aniversários,
festas juninas, natividade, jogando um futebol, tricotando, além de manterem
comércio variado, com relações comerciais diariamente, sem as grandes
estruturas dos supermercados mantendo ativa a relação de compra e venda, do
haver e o dever.
Enfim tudo tinha um sentido para estarem
juntos, ou por simplesmente “jogar conversa fora”. As pessoas uniam-se e
reuniam-se na sua própria localidade e assim tinham forte ligação e possuíam identidade
e pertencimento.
As
cidades crescem e o tempo passa e muitos que deram origem ao bairro já não
fazem parte de uma história em transformação, pois a vida é finita e muitos
tiveram seu passamento e seus filhos ainda tentam manter alguma tradição, mas a
expansão imobiliária faz o “apoderamento” do espaço. Toda estrutura anterior é transformada
em outra que nada tem haver com a embrionária que fundou as bases da
localidade.
Cada espaço tem seu cuidado, mas se assemelham no tempo, e os bairros de operários das décadas anteriores vão aos poucos desaparecendo ganhando ares de “gentrificação” através de grandes edifícios urbanos que transformam a paisagem, edificando em pouca área física de terreno, um adensando com número muito grande de pessoas.
O “anjo da história” olha sempre para frente em nome de um progresso sem fim e os locais das inter-relações desaparecem dando lugar a uma relação unicamente de interesses financeiros. Esta é a moeda de troca e o preço que se paga de estar em local que expandirá com o tempo e terá o valor monetário como poder daquilo que se tem como um bem de consumo, expande-se sem controle e a cidade está a venda todo tipo de imóvel, em nome do mercado imobiliário.
As vilas que antes foram consideradas longínquas e periféricas da cidade de São Paulo agora fazem parte de cidade e precisam ser
transformadas em outra realidade que não aquela de nossos antepassados.
Momento houve em que se lutava por
melhorias básicas como energia elétrica, asfalto, ônibus, esgoto, uma ponte
para cruzar um rio, e outras necessidades. Por esses motivos reuniam-se todos
para requerer melhorias locais, e, deste modo nasceram a “Sociedade Amigos de Bairros”,
que através de abaixo assinados procuram egrégios representantes políticos para
juntos ao prefeito atingir os objetivos das reivindicações coletivas com
petições como esta encontrada nos Anais da Câmara Municipal de São Paulo, onde
a população da Vila Anastácio, na Lapa, requeria urgência de uma nova ponte
sobre o Rio Tietê.
Em 1948, pelo estado precário da ponte que ligava a Lapa, na Vila Anastácio, com Pirituba, houve mobilização popular para requerer ao executivo prioridade de construção de "uma nova ponte" no local. Depois de mais de seis décadas parece que a reivindicação será atendida pelo poder público! (Vejam documento abaixo)
2ª SESSÃO ORDINÁRIA EM 12 DE
JANEIRO DE 1948 (escrito conforme documento da época)
Presidência do dr. Marrey Júnior
Secretários Anis Aidar e Angelo
Bôrtolo
Indicação nº 18-48
Considerando que a ponte sobre o
Rio Tietê entre a Lapa e Vila Anastácio, na Armour, é de pequena largura, dando
passagem a apenas um veículo;
Considerando que, em virtude do
grande movimento que aí se escoa para a Via Anhanguera, intenso é o trânsito de
caminhões e ônibus;
Considerando que estes veículos,
por suas maiores dimensões, ocupam toda a largura da mencionada ponte;
Considerando, ainda, que por
tratar-se de zona densamente povoada e industrializada, o movimento de
pedestres aí é intensíssimo;
Considerando que, pelas razões
acima apontadas, são quase diários os atropelamentos de pedestres sobre a
citada ponte;
Considerando finalmente, que pela
estrutura dessa ponte, fácil se torna a construção de uma passagem para
pedestres pelo lado extremo da atual grade de proteção ficando, assim o atual
estrado inteiramente livre para os veículos;
INDICO ao Sr Prefeito Municipal a
urgente necessidade da construção, na mencionada ponte, de uma passagem para
pedestres. Sala das Sessões, 12 de janeiro de 1948 – Roberto Grassi – “À
Prefeitura”.
A reivindicação
conforme citada acima não possui mais espaço na cidade de São Paulo, conforme
acontecia anteriormente em décadas passadas, não há mais essa aproximação entre
o cidadão e a representação política da cidade, e tudo esta atrelado a grandes
projetos com grandes investimentos financeiros onde os empresários ditam as
normas de reajustes no andamento da obra e aos contribuintes resta apenas
aceitar as condições impostas. Tudo esta atrelado entre grandes empreiteiras e
o poder administrativo da cidade e nem em pequenas obras de manutenção há
locução entre as partes envolvidas do projeto e os munícipes, que se resigna a aceitara as condições
impostas.
Segue a afirmação deste
ponto de vista das pontes que já existem cruzando o Tietê próximo a Vila Anastácio,
onde a primeira existente, finalizada em 1955, houve alguma participação da
população. O Complexo Viário Rodovia dos Bandeirantes, inaugurada em 1995, pouco ou nenhuma participação existiu. A novo complexo que está prestes a cruzar novamente o rio Tietê entre a Vila Anastácio e
Pirituba, para adensar a região com uma população flutuante, pouco há de
explicação como será feito a nova estrutura viária, e há a falta de informação de
projetos em andamento em toda a cidade!
Somente existe uma
aproximação entre o poder político do executivo e o capital financeiro das grandes
incorporadoras imobiliárias em detrimento da população que se fixou na região
antes da mesma ter valor financeiro. Como romper essa resistência dessa quebra de paradigma dos que
residem na vila e não abrem mão de seu espaço conquistado ao longo do tempo?
Os mandatários aumentam os impostos prediais, essa é a fórmula de expulsar e destruir e reconstruir uma nova estrutura urbana!
Os mandatários aumentam os impostos prediais, essa é a fórmula de expulsar e destruir e reconstruir uma nova estrutura urbana!
Cada momento tem seu histórico.
Pontes existentes que ligam na Vila Anastácio, Lapa a complexos
em rodovias:
A Ponte Atílio Fontana foi inaugurada em 1955, a Rodovia Anhanguera, no bairro da Lapa. A Ponte
Ulysses Guimarães (Complexo Viário Rodovia dos Bandeirantes) foi inaugurada
em 1994.
Uma nova ponte foi orçada em 70 milhões de reais e será construída partindo da Avenida
Raimundo Pereira de Magalhães, que ligará A Vila Anastácio, na Lapa, com
Pirituba, projeto e obra a cargo da Secretaria Municipal de Infraestrutura
Urbana e Obras. Será um complexo viário com orçamento total "inicial" de 300 milhões de
reais, recursos esses advindos da Operação Urbana Água Branca.
Avenida
Raimundo Pereira de Magalhães, Vila Anastácio, na Lapa
Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, em Pirituba
Biografia de Raimundo Pereira de Magalhães
Raimundo
Pereira de Magalhães nasceu em 1871, na pequena povoação de Vila Meã, Conselho
de Amarante - Portugal. Veio para a Bahia em 1884, onde logo em 1891, se
estabeleceu no local em que hoje em grande e belo edifício, está instalado a
Sociedade Anônima Magalhães. Casou-se com Elisa Magalhães, com
quem teve 8 filhos, fundador da firma Sá Ferreira & Magalhães, em sociedade
com Sr. Domingos de Sá Ferreira, passando a denominar-se depois de Magalhães
& Cia, a maior empresa do
norte e nordeste Brasileiro, e a maior do Brasil na produção e comercialização
do açúcar em todo território nacional. A
Magalhães & Cia, terminou suas atividades comerciais, em 1978, já com a
razão social de Sociedade Anônima Magalhães Comércio e Indústria, sob a gestão
da quarta geração dos Magalhães na Bahia.
Passou a
atuar também na indústria do açúcar, abrindo filiais no Rio de Janeiro e em
Recife, que se ligaram as suas Refinações e usinas de açúcar em cuja atividade
manteve preponderância em todo o Brasil.
Em 1924
fundou na Lapa, a Cia. Industrial Suburbana, depois denominada Companhia Suburbana
Imobiliária. Custeou o saneamento desse local, aterrando-o, inclusive uma
longa extensão do braço morto do rio Tietê, utilizando cerca de 3 milhões de
metros cúbicos de terra. Imaginou, então, aproveitar essa grande área, para
instalação de industriais e armazéns, dada a vizinhança com as duas estradas de
ferro, Sorocabana e Santos - Jundiaí, as quais ligou os terrenos por ramais e
sub-ramais, abrindo largas ruas de servidão, mandando construir os viadutos
necessários, transformando aqueles terrenos em grande parque industrial, onde
estão instaladas, entre outras, Anderson Clayton & Cia Ltda, Sociedade
Técnica de Fundições Gerais (Sofunge), Armazéns Gerais do Estado de São Paulo,
Moinho da Lapa Socil e Serrarias Lameirão. Para facilitar a vinda aos operários
dessa indústria, localizadas na Vila Anastácio, a Companhia Suburbana. Doou uma
gleba de terreno à Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, no Km. 88, entre as
estações da Lapa e Pirituba, para ser construída uma estação de trens de
subúrbios. Raimundo Pereira de Magalhães faleceu em 1934 em Portugal.
Petição popular para denominação da Avenida Raimundo Pereira de Magalhães em 1959
Crédito dos documentos: facebook.com/vilaanastácio
561ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal em 23 de dezembro de 1959 e a Avenida Raimundo Pereira de Magalhães. Projeto de Lei 558/59 na íntegra
NOTA: Crônica sujeita a revisões para
aprimoramento das informações e complemento da historiografia.
Referências:
Vila
Anastácio Fotos e Fatos: https://www.facebook.com/vilaanastacio/photos_stream
Sem comentários:
Enviar um comentário