quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"CIDADE, O GRANDE MONUMENTO BURGUÊS"-(03)

Haussmannização[1] da Cidade de São Paulo

De repente a região do extremo sul vem sofrendo uma descaracterização, causando descontentamento geral na população que foi responsável pelo início de ocupação em Santo Amaro, Brooklin, Campo Belo, Moema, ultrapassando divisas do distrito. Numa primeira etapa a ação é realizar a expropriação dos domicílios que estão no caminho da renovação da cidade, além de demolirem edifícios através de “apoderamento da cidade” como um todo, por parte do poder público, desvalorizando as moradias que devem ser pagas com preços definidos pelo valor venal do imóvel. Na carta de desapropriação há um lacônico “senhores ocupantes” sem o mínimo respeito a todos que foram responsáveis pelo crescimento da cidade. O comunicado da empresa é direcionado para as famílias com cartas de aviso semelhantes às usadas na segunda guerra mundial quando das perdas irreparáveis de vidas humanas, pois não há volta.
Estas mudanças repentinas por parte do poder definidas como direito de ocupação do solo em detrimento de moradores antigos, possuidores de um “pertencimento local” é o modelo mais agressivo aplicado para a modernização da Cidade de São Paulo, desrespeitando uma cultura existente adquirida por um corpo social de pessoas que não possuem condições de exigir outra moradia semelhante àquela que a lei faculta como interesse público, aonde, a mesma lei, não fornece amparo do questionamento por parte do proprietário. A expansão do sistema ferroviário local, que se denomina metrô, está sendo realizado no mesmo traçado onde já houve no final do século dezenove uma ferrovia idealizada por santamarenses com dezenove quilômetros de linha férrea ligando o bairro da Liberdade à Cidade de Santo Amaro, hoje bairro, ou seja, um atraso do plano diretor de no mínimo um século! Neste contexto vemos também o setor imobiliário ávido em apoderar-se da cidade dirigindo intenções expansionistas nestas áreas, atingindo o que antes foi o periférico da mesma. Moradias de alto padrão serão ofertadas a um número seleto de alto poder econômico. Há interesse nos planos de expansão destes edifícios, não em moradias populares, que possui um déficit alto, por deficiência administrativa dos três poderes, sem exceção. O ônus disto é banir a população local, pois o esquema do planejamento urbanístico da cidade já vem sendo articulado a muito tempo para o bairro de Santo Amaro ficar "bonito" para as elites do poder, o cartão de visitas!
A tríade de artérias radiais, “obras de saneamento”, “parques” e “edifícios públicos” produz um modelo de segregação espacial criando a barreira entre centro e periferia. A reconstrução urbana representa o domínio sobre o entorno, com interesse puramente econômico favorecendo corretores imobiliários e financeiras.
Os (ir)responsáveis são todos aqueles governantes, do passado e atuais, que não são tão atuais assim pois “governam”seus interesses a décadas, nunca idealizaram um plano para dirigir o crescimento da capital paulista, uma das maiores cidades do mundo, com o atual domínio do neoliberalismo da globalização interferindo no modelo das cidades para receberem várias modalidades de Jogos Mundiais!


[1] Barão Georges-Eugène Haussmann (1809-1891), foi nomeado prefeito Ministro de obras públicas e planejador chefe por Napoleão III. Remodelou Paris, cuidando do planejamento de uma nova cidade, com parques parisienses e vários edifícios públicos. Remodelou o sistema de distribuição de água e criou a grande rede de esgotos, quando em 1861 iniciou a instalação dos esgotos entre La Villette e Les Halles, supervisionada pelo engenheiro Belgrand. O Barão de Haussmann demoliu a cidade medieval e criou uma capital geométrica de avenidas e bulevares. O plano criado para o centro da cidade previa a reformulação da área em um dos extremos dos Campos Elíseos. Haussmann criou uma estrela de 12 avenidas amplas em volta do Arco do Triunfo, onde grandes mansões foram erguidas entre 1860 e 1868. Haussmann foi subprefeito em Nérac em 1830, prefeito do Sena de 1853 a 1870, senador em 1870, deputado em 1877. As despesas decorrentes de todas as suas obras provocaram sua demissão em 1870, devido aos protestos pelo alto custo da empreitada de modernização, acima do previsto em orçamento pelo governo francês.

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