segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"CIDADE, O GRANDE MONUMENTO BURGUÊS"-(01)

(ou) "MASSA DE ZUMBIS"

Na primeira fase do processo de produção ao longo da história, houve necessidade de controlar a mão de obra disponível, havendo uma massa dos “sem trabalho”. Muito antes da revolução industrial na Inglaterra, já em 1740, elaborou-se o controle sobre a massa miserável em Londres, criando o auxílio à pobreza, fornecendo aos pobres uma pensão, onde cada pessoa sem recursos era marcada com um “P” vermelho costurado à roupa, que quando morriam era trambém estampado no documento de óbito o mesmo famigerado “P”, de “pauper” com referência não a sua pobreza, mas, muito mais degradante, seu estado de indigente!

O processo de transformação da Inglaterra rural para o industrial era firmemente controlado pela classe sempre presente e comercialmente ativa, dos proprietários de terra . O modelo “eficaz” era empurrar as massas aos focos industriais insipientes mas em ascensão, criando os guetos, dando origem as cidades industriais ávidas de mão de obra barata. Esta massa, constantemente difamada é acusada de fomentar a prostituição e o alcoolismo e degradá-la competia à classe dominante burguesa dando um estereotipo que se tornou rótulo do proletário para melhor controlá-lo: bêbados.
Londres em 1820 possuía 1.250.000 habitante, crescendo vertiginosamente com a centralização do poder industrial, considerada suja, fedorenta e ruidosa, onde os detritos, por falta de saneamento, eram despejados no Tamisa. (Paralelo faz-se necessário ao rio Pinheiros afluente do Tietê onde os dejetos são despejados a 50 m3/segundo,sendo tratados apenas 13 m3/segundo, verdadeira fossa a céu aberto, em nome do progresso).
Em 1851 a burguesia inglesa vendo a necessidade de ampliar sua produção elabora “The Condition of England Question” que define a concepção de progresso dando inicio a Great Exhibition, inaugurando a propaganda da indústria e o falso progresso material de todos habitantes do grande centro londrino[1].
AS COLMEIAS AGITADAS, (Vitor Hugo) uma massa disforme estavam amontoadas em torno das fábricas para delas tirarem seu sustento e alienar sua força de trabalho. Esta massa era engrossada, sendo rotuladas de homens vadios e mendigos, vivendo do auxílio público das Workhouses,( repartições semelhante as controladas por sistemas sindicais no Brasil, que à época foram apelidadas pelo povo de Bastilhas, pelo rigor do controle).

Adaptar o homem aos meios de produção, em nome da nova ordem econômica e de participação na sociedade inglesa (e francesa também), eram feitos com os albergados , resíduos de uma mão de obra sem mérito. Os pobres sem residência vagueavam pelas cidades industriais da Inglaterra e França como verdadeiros miseráveis. Esta massa podia a qualquer momento conturbar a ordem vigente, pois não tinham o que perder que não fosse sua própria vida, contribuir e constituir as condições ideais para proporcionar a revolução podendo irromper a qualquer instante um processo de descontentamento social, assim era necessário haver controle sobre o seu movimento na cidade.
A cidade sendo maior símbolo do vício, arranca(va) do homem a lógica da natureza, sendo depositória de gente faminta, que se alimenta do paternalismo do Estado.
A riqueza produzida pelas industrias proporcionava o afluxo de uma estrutura financeira e imobiliária dos quais surgem os “rentier”, homens que vivem de rendas. Enfim a cidade abarca toda uma gama de interesses: o pólo industrial, o comercial, portos, armazéns, o centro religioso, o capital. A CIDADE É O GRANDE MONUMENTO BURGUÊS!

“A multidão inabarcável onde ninguém se desvenda todo para o outro e onde ninguém é para o outro inteiramente impenetrável” Walter Benjamin

Uma "massa isolada da nação" em movimento a cogitar uma invasão. “A que preços compramos as vantagens da vida social; a quantos milhares de indivíduos o mais simples de nossos deleites custa cotidianamente a vida?”.Esta é uma pergunta do médico Lachaise que se vê na obrigação de analisar as condições do operariado e o saneamento que prolifera a imundice que resultara em doenças crônicas.[2] O estereótipo constituído para a massa que participa com a sua vida que lhe é de direito fornece a prole necessária do continuísmo, fornecendo a mão de obra futura que para sustentar o "progresso" com elevado custo humano com o exercito de reserva. Deste modo ira proporcionar medidas de controle e instituir modelos de produção e métodos de estudos econômicos e de produção de Fayol, Ricardo, Adam Smith e outros, que sempre idealizaram a melhoria de produção. A melhoria de condições do operário, aquele que opera determinada estrutura ,uma máquina que sustentará o sistema de bens de produção: fábricas de tecidos, fundições, usinas de açúcar, é relegado a um plano inferior sem participação nos rendimentos, pois adaptar o homem a máquina torna-se necessário e dela fazendo parte para efeito produtivo.
Assim há o continuismo daa metodologia de produção e seus efeitos, produzindo sempre uma “massa de zumbis” a perambular pelas cidades, em crise de valores.


[1]Foi instituído em "Pindorama" um projeto que incentiva o crescimento denominado Programa de Aceleração do Crescimento, que parece não existir um capitulo de inserção da classe operária.

[2] O mesmo pode observar nas periferias de são Paulo onde a rede pública são depósitos de um contingente doentio sem direito a uma consulta digna que possa tratar-se de modo a reverter seu quadro clinico.O "rémedios"são placebos inócuos às doenças tendo uma padronização em todo o município. Deste modo o médico finge curar e o paciente, que por sua vez, aceita sua condição de “doente”e finge ser curado na unidade básica de saúde onde o "Programa de Saúde da Família" é um rótulo disponibilizado em consultas resumidas a controle de pressão e um estetoscópio, além de ser um simples dado estatístico para preenchimento de planilhas!

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