Raízes memoráveis
Rosa
Ferreira Machado, nasceu em Portugal em 27 de agosto de 1928. Era conhecida por
Rosa de Paços, uma região localizada nas proximidades do Concelho
de Lousada, distrito do Porto[1].
Conheceu o amor aos 15 anos – ou antes disso –, por Agostinho do Souto, e contava em detalhes como era a vida jovem. As irmãs vigiavam para avisar quando a mãe estava chegando, enquanto Rosa e Agostinho ficavam juntos. Nunca tiveram dúvidas de que foram feitos um para o outro.
Agostinho veio para o Brasil em 1951, estruturar uma vida do zero, que fosse digna a sua única amada. Trabalhou duro até que fosse suficientemente digno para Rosa vir ao Brasil.
Em meados de 1952, Rosa viajou
para o Brasil de navio, junto ao seu primeiro filho. Até seus últimos dias, em
depoimento, contou que não foi uma viagem fácil. Passou os dias na enfermaria.
O navio enfrentou problemas durante a viagem, e precisou haver racionamento de
água. Ela se lembrava em detalhes de que usavam um algodão para molhar a boca
por conta da escassez.
Aqui, seu Agostinho e
dona Rosa, fizeram a vida juntos. Tiveram quatro meninos e uma menina. Manuel,
Agostinho, Luís, Elena e Francisco.
Engana-se quem pensa que desde que chegaram ao Brasil já tinham as terras da famosa chácara, localizada na atual Avenida Maria Coelho de Aguiar, antiga Rua “A”, em frente ao Colégio São Francisco, no bairro ainda em formação do Jardim São Luiz. Com muito sacrifício e dignidade, trabalharam para conseguir erguer o bairro de gente simples, trabalhadores do dia a dia.
Dona Rosa dizia que as terras do Brasil eram abençoadas. Foi através delas que garantiu o sustento e o trabalho da família. Quem passava pela manhã em frente à chácara, conseguia enxergar o jato d’água regando as verduras que por tanto tempo marcaram o trabalho dela.
Rosa trabalhou no feirão coberto e depois nas feiras da Rua Arraial do Couros, até os 90 anos. Mesmo depois que parou, sua mente e seu coração ainda estavam lá. Não houve um dia sequer, desde que se aposentou da rotina de verdureira, que não falou da sua banca ou de como deveríamos atender seus amigos. Era tudo orgânico, plantado no “cabo da enxada” por seu Agostinho e dona Rosa que colocava literalmente a “mão na massa” da terra. Orgulhava-se de sua licença da prefeitura ser desde 1959!
Ela se tornou o baluarte principal para a continuação da feira livre na atual Rua Arraial dos Couros quando havia uma corrente que queria deslocar a feira para a Rua Paulo Lemore, antiga Rua dos Porcos, na entrada do Jardim Celeste.
Com a mesma luta, foi a
matriarca da família que ajudou a erguer a Paróquia atual de São Luiz Gonzaga.
Receberam e acolheram o padre Edmundo, que veio das mesmas terras ibéricas.
Rosa manteve um jarro de
barro, ao lado da estante em sua sala, por toda a vida. Lá guardava o sagrado
dinheiro que ajudava a manter os gastos necessários da igreja. Seu Agostinho e
Dona Rosa, juntamente com padre Edmundo lideraram a primeira comissão da construção da
nova Paróquia São Luiz Gonzaga.
O dinheiro era para a igreja!
O trabalho era pela
santidade!
A construção da igreja consumia
muito dinheiro, um dia o casal trouxe um bezerro para rifar, que foi anunciado por
um alto falante pelo Dorival Andrade. O bezerro foi a “salvação da lavoura”,
quitou os débitos que havia.
Dona Rosa era devota de
Nossa Senhora de Fátima, como tantos portugueses, em 13 de Maio, faziam a festa
e entoavam a canção para lembrar o aparecimento em Portugal às três crianças pastoras
na Cova da Iria.
Dona Rosa foi a coragem em pessoa, nunca esmoreceu com o trabalho. Ao tempo que passava a imagem de uma matriarca forte, era uma avó doce com os netos que a rodeavam. As mãos castigadas pela idade sempre buscavam apertar com afeto. Sorria e dizia coisas sábias que muitos jamais esquecerão.
Brincando, uma vez disse
que a beleza estava até em seu nome. Não era mentira, mas a beleza transcendia
a alma de Rosa. Do jeito que pode, por toda a vida, foi justa e bondosa aos que
mereciam, e no fundo d’alma até aos que não.
Não há como negar que ela
sabia que suas verduras abençoaram a mesa de muitas famílias do bairro e adjacências.
Seu passamento ocorreu em
20 de outubro de 2022, combateu o bom combate, manteve a fé, mais do que justo
descansar depois de tanto trabalho, exemplo a seguir pelos que a tiveram como referência
de vida.
O crédito dessa crônica faz parte da memória
familiar recolhida da neta de Dona Rosa, Isabella Mattias.
Vide:
BAIRRO JARDIM SÃO
LUIZ, São Paulo/SP
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2015/08/bairro-jardim-sao-luiz-sao-paulosp.html
Padre Edmundo da
Mata e o Bairro Jardim São Luiz - São Paulo
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2018/06/padre-edmundo-da-mata-e-o-bairro-jardim.html
Os feirantes mais
antigos do Bairro Jardim São Luiz, quiçá de São Paulo, na ativa!
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2017/04/os-feirantes-mais-antigos-do-bairro.html
Referências:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lousada
Brasão da
Cidade/Município de Lousada.
http://heraldicacivica.pt/lsd.htm
Lousada A vila mais jovem de
Portugal é rica de história
https://crispelomundo.com.br/lousada-guia-completo-portugal-rota-do-romanico/
[1] Portugal está dividido entre 18 distritos, que
são como os Estados no Brasil. Os concelhos são os municípios e as Câmaras Municipais são os órgãos
responsáveis pela administração dos concelhos, que estão divididos
em freguesias, que são como as subprefeituras da cidade de São Paulo. Lousada
recebeu o título de Vila.
Sem comentários:
Enviar um comentário