quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Rosa do Jardim...São Luiz/SP: Marcante presença nas feiras livres do bairro

Raízes memoráveis 

Rosa Ferreira Machado, nasceu em Portugal em 27 de agosto de 1928. Era conhecida por Rosa de Paços, uma região localizada nas proximidades do Concelho de Lousada, distrito do Porto[1]


Conheceu o amor aos 15 anos – ou antes disso –, por Agostinho do Souto, e contava em detalhes como era a vida jovem. As irmãs vigiavam para avisar quando a mãe estava chegando, enquanto Rosa e Agostinho ficavam juntos. Nunca tiveram dúvidas de que foram feitos um para o outro.


Agostinho veio para o Brasil em 1951, estruturar uma vida do zero, que fosse digna a sua única amada. Trabalhou duro até que fosse suficientemente digno para Rosa vir ao Brasil.

Em meados de 1952, Rosa viajou para o Brasil de navio, junto ao seu primeiro filho. Até seus últimos dias, em depoimento, contou que não foi uma viagem fácil. Passou os dias na enfermaria. O navio enfrentou problemas durante a viagem, e precisou haver racionamento de água. Ela se lembrava em detalhes de que usavam um algodão para molhar a boca por conta da escassez.

Aqui, seu Agostinho e dona Rosa, fizeram a vida juntos. Tiveram quatro meninos e uma menina. Manuel, Agostinho, Luís, Elena e Francisco.


Engana-se quem pensa que desde que chegaram ao Brasil já tinham as terras da famosa chácara, localizada na atual Avenida Maria Coelho de Aguiar, antiga Rua “A”, em frente ao Colégio São Francisco, no bairro ainda em formação do Jardim São Luiz. Com muito sacrifício e dignidade, trabalharam para conseguir erguer o bairro de gente simples, trabalhadores do dia a dia.


Dona Rosa dizia que as terras do Brasil eram abençoadas. Foi através delas que garantiu o sustento e o trabalho da família. Quem passava pela manhã em frente à chácara, conseguia enxergar o jato d’água regando as verduras que por tanto tempo marcaram o trabalho dela.

Rosa trabalhou no feirão coberto e depois nas feiras da Rua Arraial do Couros, até os 90 anos. Mesmo depois que parou, sua mente e seu coração ainda estavam lá. Não houve um dia sequer, desde que se aposentou da rotina de verdureira, que não falou da sua banca ou de como deveríamos atender seus amigos. Era tudo orgânico, plantado no “cabo da enxada” por seu Agostinho e dona Rosa que colocava literalmente a “mão na massa” da terra. Orgulhava-se de sua licença da prefeitura ser desde 1959! 


Ela se tornou o baluarte principal para a continuação da feira livre na atual Rua Arraial dos Couros quando havia uma corrente que queria deslocar a feira para a Rua Paulo Lemore, antiga Rua dos Porcos, na entrada do Jardim Celeste.

Com a mesma luta, foi a matriarca da família que ajudou a erguer a Paróquia atual de São Luiz Gonzaga. Receberam e acolheram o padre Edmundo, que veio das mesmas terras ibéricas.

Rosa manteve um jarro de barro, ao lado da estante em sua sala, por toda a vida. Lá guardava o sagrado dinheiro que ajudava a manter os gastos necessários da igreja. Seu Agostinho e Dona Rosa, juntamente com padre Edmundo  lideraram a primeira comissão da construção da nova Paróquia São Luiz Gonzaga.

Nas festas, não havia quem não conhecesse o churrasquinho dela. Mas quantos já ousaram pensar no cansaço de uma mãe e feirante que ainda tirava parte das suas noites para temperar a carne e caprichar nos espetos? Tudo o que fazia era em prol de sua devoção:

O dinheiro era para a igreja!

O trabalho era pela santidade!

A construção da igreja consumia muito dinheiro, um dia o casal trouxe um bezerro para rifar, que foi anunciado por um alto falante pelo Dorival Andrade. O bezerro foi a “salvação da lavoura”, quitou os débitos que havia.

Dona Rosa era devota de Nossa Senhora de Fátima, como tantos portugueses, em 13 de Maio, faziam a festa e entoavam a canção para lembrar o aparecimento em Portugal às três crianças pastoras na Cova da Iria.


Dona Rosa foi a coragem em pessoa, nunca esmoreceu com o trabalho. Ao tempo que passava a imagem de uma matriarca forte, era uma avó doce com os netos que a rodeavam. As mãos castigadas pela idade sempre buscavam apertar com afeto. Sorria e dizia coisas sábias que muitos jamais esquecerão.

Brincando, uma vez disse que a beleza estava até em seu nome. Não era mentira, mas a beleza transcendia a alma de Rosa. Do jeito que pode, por toda a vida, foi justa e bondosa aos que mereciam, e no fundo d’alma até aos que não.

Rosa e Agostinho foram um casal de Deus. Foram devotos e dedicaram suas vidas à família e à igreja. Foram dignos da Santidade. O Sagrado Coração de Jesus não os há de abandonar pois são merecedores da Graça Divina de serem acolhidos no lugar dos justos.

Não há como negar que ela sabia que suas verduras abençoaram a mesa de muitas famílias do bairro e adjacências.

Seu passamento ocorreu em 20 de outubro de 2022, combateu o bom combate, manteve a fé, mais do que justo descansar depois de tanto trabalho, exemplo a seguir pelos que a tiveram como referência de vida.


 

O crédito dessa crônica faz parte da memória familiar recolhida da neta de Dona Rosa, Isabella Mattias.

 

Vide:

BAIRRO JARDIM SÃO LUIZ, São Paulo/SP

http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2015/08/bairro-jardim-sao-luiz-sao-paulosp.html

Padre Edmundo da Mata e o Bairro Jardim São Luiz - São Paulo

http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2018/06/padre-edmundo-da-mata-e-o-bairro-jardim.html

Os feirantes mais antigos do Bairro Jardim São Luiz, quiçá de São Paulo, na ativa!

http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2017/04/os-feirantes-mais-antigos-do-bairro.html

 

Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lousada

Brasão da Cidade/Município de Lousada.
http://heraldicacivica.pt/lsd.htm

Lousada  A vila mais jovem de Portugal é rica de história

https://crispelomundo.com.br/lousada-guia-completo-portugal-rota-do-romanico/



[1] Portugal está dividido entre 18 distritos, que são como os Estados no Brasil. Os concelhos são os municípios  e as Câmaras Municipais são os órgãos responsáveis pela administração dos concelhos, que estão divididos em freguesias, que são como as subprefeituras da cidade de São Paulo. Lousada recebeu o título de Vila.

 

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