sexta-feira, 15 de abril de 2022

A Indústria Farmacêutica Squibb em Santo Amaro/SP e a Penicilina

Introdução

Com o surgimento dos antibióticos, na década de 1940 os laboratórios nacionais passaram a representar os fabricantes de penicilina[1] e outros antibióticos, sendo que essa associação entre empresas nacionais e estrangeiras marcaram o início da fabricação desses medicamentos no Brasil. Os laboratórios nacionais queriam o domínio dessa nova tecnologia das fermentações, hoje denominada biotecnologia, e por sua vez os grupos internacionais queriam uma parcela de 50 milhões de consumidores. Em 1946 foi publicado o Decreto nº 20.397/46 para regulamentação da indústria farmacêutica. Na década de 1950 havia no Brasil 525 indústrias farmacêuticas, sendo 31 grandes, 92 médias e 402 pequenas, localizadas principalmente nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Nessa época o governo brasileiro procurava criar indústrias atraindo o capital estrangeiro com incentivos fiscais. O Brasil se situava entre países que estavam em recente industrialização que não competiam com as potências industriais europeias ou estadunidenses. O Brasil carecia de investimentos para desenvolver medicamentos, por isso importava insumos (matéria-prima, equipamentos, capital etc.)  adquirindo o direito de reproduzir fórmulas representado os laboratórios estrangeiros com o processamento dos compostos e a comercialização dos produtos. Houve o incentivo para atrair empresas estrangeiras do setor com a isenção de direitos e taxas aduaneiras para importação da maquinaria necessária ao fabrico de antibióticos, pela Lei 1964, de 28 de agosto de 1953. Deste modo, embora com industrialização tardia, iniciava-se a expansão dos laboratórios farmacêuticos de empresas estrangeiras no Brasil.

 Squibb e seu criador


Edward Robinson Squibb (imagem do site da empresa)

O laboratório Squibb foi criado pelo médico e farmacêutico Edward Robinson Squibb nos Estados Unidos, Nova York, Brooklin, em setembro de 1858. O Dr. Squibb era conhecido pelas campanhas contra medicamentos adulterados e contribuiu decisivamente para a criação da Lei de Drogas e Alimentos Puros, que, mais tarde, deu originando o órgão que controla a qualidade de produtos alimentícios e farmacêuticos no país. (Food and Drug Administration-FDA).Deste modo nascia a Squibb & Sons.


Squibb e sua indústria em Santo Amaro/SP

Os produtos do laboratório Squibb já eram importados na década de 1930 pela empresa M. Barbosa Netto & Cia.

REVISTA DA SEMANA 11 DE JUNHO DE 1938
Gazeta da Farmácia - setembro de 1953

O laboratório iniciou sua atividade no Brasil em 1944, na Rua Tupi, 330, Perdizes, em razão de um programa de expansão decorrente da pesquisa e da fabricação da penicilina, trazendo primeiramente matéria beneficiada de sua matriz.

São Paulo, na antiga “Chácara dos Padres”, no bairro Chácara Japonesa, na Avenida João Dias, 1084, em Santo Amaro, recebia em 1950 a pedra fundamental e no ano de 1954, uma fábrica moderna era implantada, para produção imediata de penicilina, tendo à frente do empreendimento como gerente geral, Joseph William Schaller.


A demanda inicial de produção da penicilina era de 1 trilhão e 800 bilhões por mês, que na época era a metade da demanda no Brasil. Para fermentação da cultura a empresa dispunha de  4 tanques de 280 mil litros de caldo para a penicilina.


A chaminé de aço possuía uma altura aproximada de 45 metros e pesava 14 toneladas.

A torre de água, que se tornou referência e marco de localização na Avenida João Dias, ocupava área aproximada de 45 metros quadrados em seu diâmetro de base e tinha uma capacidade de armazenagem de 350 mil litros.

Os equipamentos de alta potência elétrica consome 800 HP para os agitadores do preparo para a fermentação do caldo da penicilina, sendo que a casa de máquinas possuía 4 compressores de 400 HP cada unidade.

O edifício de três andares da administração ocupa uma área de 1270 metros quadrados. 


Os dois andares  do  edifício do laboratório estavam equipados com a casa do ar-condicionado e torre de resfriamento, perfazendo uma área de quase 4 mil metros quadrados. 



O edifício do armazém, no térreo era uma área aproximada de 4 mil em quinhentos metros quadrados sendo que externamente era completada com plataforma de 42 metros quadrados. A casa de máquinas ocupava área aproximada de 1 mil e duzentos metros quadrados. A casa das caldeiras ocupava área aproximada de 150 metros quadrados. A casa de filtros e fermentação no andar térreo, ocupava área aproximada de 430 metros quadrados. As demais dependências, estavam localizadas em áreas menores, como cabine de medições, a casa de guardas, cabine elétrica, tudo isso perfazendo com as áreas livres, 50 mil metros quadrados.


Posteriormente o local abrigou atividades da empresa Prodotti Laboratório Farmacêutico Ltda. Depois a construção civil foi totalmente demolida para futuramente serem implantados neste local conjuntos imobiliários, aguardando a descontaminação química total do terreno.

O terreno onde se localizava Squibb em Santo Amaro foi adquirido pela companhia americana de investimentos, que atua para descontaminar o solo da antiga Squibb para construir um conjunto residencial. 









A fusão dos laboratórios Bristol e Squibb

O laboratório Squibb foi instalado no Brasil em 1944 em razão de um programa de expansão decorrente da pesquisa e da fabricação da penicilina. Já o Bristol-Myers chegou ao País em 1949, com a distribuição de produtos feita por meio da Laborterápica.  



A Bristol-Myers Squibb surgiu da fusão de dois laboratórios americanos em outubro de 1989, tornando-se Bristol-Myers Squibb Company.

 

Blochman, Lawrence Goldtree, Doctor Squibb: The Life and Times of a Rugged Idealist, Simon and Schuster, 1958.Bibliografia:

Blochman, Lawrence Goldtree, Doutor Squibb: A Life and Times Robusto de um idealista, Simon e Schuster, 1958.

Squibb, Edward Robinson, The Journal of Edward Robinson Squibb, George E. Crosby Co., 1930. Squibb, Edward Robinson, The Journal of Edward Robinson Squibb, George E. Crosby Co., 1930.

"History of Bristol-Myers Squibb," http://www.bms.com/aboutbms/ourhis/data/ahisto.html (January 4, 2001).História da Bristol-Myers Squibb:
http://www.bms.com/aboutbms/ourhis/data/ahisto.html

http://www.bioanalytical.com/calendar/99/02squibb.html 

http://www.britannica.com/soe/e/edward-robinson-squibb

https://sindusfarma.org.br/images/1212_livro_sindusfarma.pdf 

https://www.scielo.br/j/jbpml/a/jY6NfbwqjkMQTbCdFBRbp4M

https://pt.khanacademy.org/science/4-ano/vida-e-evoluo-microorganismos/fungos/a/a-descoberta-da-penicilina

Código da Propriedade Industrial: Decreto-Lei Nº 7.903 De 27 de agosto de 1945

HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos. Tradução de Marcos Santarrita. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Revista Acrópole, 1954

https://www.nossasaopaulo.org.br/2018/01/05/latifundios-urbanos-de-sao-paulo-devem-um-novo-hospital-em-iptu/

https://jurishand.com/lei-1964-de-28-agosto-1953

 

 

Vide também:

OS “FRICHES” de Santo Amaro/SP: Áreas contaminadas cobiçadas por empreiteiras imobiliárias

http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2020/05/os-friches-de-santo-amarosp-areas.html


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[1] A penicilina foi descoberta pelo médico oficial inglês Alexander Fleming (1881-1955). Seus estudos foram impulsionados pela vontade de descobrir maneiras de curar as feridas infectadas de soldados após atuar na Primeira Guerra Mundial.

Em 1928, em St. Mary´s Hospital, em Londres, dedicou se a estudar a bactéria Staphylococcus aureus, responsável pelos abscessos em feridas abertas provocadas por armas de fogo.

Estudou tão intensamente que, um dia, exausto, resolveu se dar de presente alguns dias de férias. Saiu, deixando os recipientes de vidro do laboratório, com as culturas da bactéria, sem supervisão. Esse desleixo fez com que, ao retornar, encontrasse um dos vidros sem tampa e com a cultura exposta e contaminada com o mofo da própria atmosfera.

Após as descobertas de Fleming, as pesquisas continuaram e, em 1938, a penicilina foi isolada por Howard Florey e Ernst Chain na Inglaterra. Os avanços continuaram até que, em 1940, o primeiro paciente humano recebeu antibiótico para curar uma grave infecção no sangue. Na época da Segunda Guerra Mundial, esta substância foi produzida em larga escala, por fermentação, salvando milhares de vidas. A penicilina tornou-se disponível para a população civil na década de 40, medicação capaz de impedir a morte e complicações de doenças como pneumonia, sífilis, difteria, meningite, bronquite, dentre outras.

Fleming, Florey e Chain receberam o Prêmio Nobel de Medicina em 1945 por seus trabalhos com a penicilina.

 










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