segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A EPOPEIA DOS IMIGRANTES ALEMÃES AO BRASIL (05): UMA NOVA RELIGIÃO E UMA NOVA LINGUAGEM

 Costumes em choque

A maioria dos colonos alemães do grupo de Kusel[1] eram protestantes. Como eram emigrantes ilegais, não trouxeram consigo um ministro religioso. É por isso que eles não podiam ter cultos em sua própria língua e religião e também nenhuma escola para seus filhos. No início, houve até confrontos hostis entre os colonos e os brasileiros, porque os católicos brasileiros não permitiam enterrar protestante falecido em seu cemitério. Por causa da falta de uma igreja protestante, casamentos alemães foram concluídos pelo Juiz de Paz no início, mas logo os protestantes alemães foram para a igreja católica para o serviço, e já em 1829 batizados de protestantes alemães podiam ser encontrados no cadastro da Matriz de Santo Amaro. Os registros eram redigidos por quem faziam os assentamentos de nascimentos e casamentos. A comunicação verbal era um grande problema, e o padre católico escrevia os nomes alemães conforme sua interpretação.

Para a família de Johannes GILCHER, por exemplo, as seguintes variantes de grafia podem ser encontradas lá: Gil, Guilhe, Guilher, Gillgir, Gilger, Gulcher, Kincher, Kincha, Kuinquer, Guilger, dos quais o último mencionado finalmente permaneceu para sempre.

RHEINBERGER tornou-se Reimberger, Reimper, Remper, Rempar e Reimberg.

HELFENSTEIN foi escrito como Helfsten, Helfstem, Elfestem, Olfingstén, Helfstein.

HAESEL como Hesse, Esse, Eser, Essel, Hessel.

ROCKENBACH como Rocumbac, Rocumback, Rocumbá, mesmo Hocumba.

HEIN tornou-se Hên, Hem.

KLEIN: Clên, Cleim, Clêm.

GOTTFRIED: Gutfrid, Godfrit, Godfrits, Gotsfrits.

WEINMANN tornou-se Weihman, Vaiman, Vaimar.

BACKES tornou-se Packs,

BAUERMANN Paulman e Palman.

Os casamentos entre primos não eram incomuns, mantendo laços entre famílias e das tradições alemãs. As gerações vindouras (netos e bisnetos dos primeiros colonos) foi assimilando tanto a língua e a cultura brasileiras criando laços teuto-brasileiros, perdendo-se o contato com o uso fluente da língua alemã.

 

PANORAMA DA COLÔNIA ALEMÃ DE SANTO AMARO

 

A Colônia Paulista de Santo Amaro não prosperou por muito tempo. Em 1837 Santo Amaro era o único local da província onde se produzia batata e era considerada a “despensa da capital”. Mas já em 1847, o governo da província obtém a informação de que não mais de 9 famílias viviam nesta colônia. Em 1850 as colônias existentes no Estado de São Paulo são oficialmente contadas e descritas. Para Santo Amaro, o relatório diz que existe uma colônia alemã, “a cerca de 4 milhas[2] da vila, (aprox. 6,5 quilometros) praticamente desistida”, onde vivem apenas 4 ou 5 famílias. Talvez fosse um pouco longe da aldeia, os alemães muito entre si, isolados, sem nenhuma igreja ou escola, a qualidade do solo talvez não fosse tão boa quanto o esperado, ou tão ruim quanto os colonos palatinos reivindicavam.

 De qualquer forma, muitas famílias mudaram-se para outros “ranchos” ou fazendas, ou da colônia distante para o centro da Vila de Santo Amaro, que em 1839 compreendia 5400 habitantes ou mudavam-se para locais mais proximos da cidade de São Pauloque à época possuía apenas cerca de 25.000 habitantes, quando chegaram os imigrantes alemães.

 

O antigo Cemitério da Colônia Paulista, criado em 1840 com as grandes lápides com cruzes de ferro feitas na fundição Ipanema, Sorocaba, resistem ao tempo na Colônia, hoje um bairro da região de  Santo Amaro onde se encontra sobrenomes alemães da forma original, trazidos pelos colonos alemães, entre os quais havia muitos palatinos, especialmente da região de Kusel.




[1] Kusel é um distrito da Alemanha localizado no estado da Renânia-Palatinado

[2] A origem da milha terrestre, sistema de medida ainda em uso na Inglaterra e nos Estados Unidos – está no “mille passus”, unidade de comprimento utilizada pelo exército romano que correspondia a 1 000 passos dados por um centurião, o comandante das suas milícias. Os passos do centurião tomados como base eram duplos, mais largos que o normal, e a medida encontrada foi o equivalente a 63,36 polegadas, ou 1.609,34 metros.   (O valor resultante da milha marítima é de 1.853,25 metros. Por convenção internacional, esse valor foi arredondado para 1.852 metros.) - https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-a-milha-nautica-e-diferente-da-milha-terrestre/

 

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