sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O "Código de Posturas" e o "Plano Diretor Estratégico" da Cidade de São Paulo

Haussmanização[1] de Cidade de São Paulo

Muito se fala hoje de plano diretor da cidade de São Paulo, plano de bairros, enfim uma gama de pré-soluções para providências mínimas de sustentabilidade e bem estar para a população paulistana. O que se há de requerer para uma finalidade de um aglomerado onde a cidade esta em constante transformação. O que se busca é adequar o espaço físico ao crescimento expandido da cidade.

O que era a solução anterior onde se tinha bairros formados por residências baixas, numa verticalização por todo o território, modela-se atualmente um novo modelo que é sem dúvida a verticalização da cidade de São Paulo. Hoje ainda se discute o território e o tributo daquilo que representa o que seja o núcleo central expandido com sua valorização imobiliária e seus tentáculos financeiros que valorizaram áreas antes consideradas de referência rural.

No hodierno requer-se mais valor agregado no imposto predial, em locais que excedem valores financeiros ao que antes pouco valia como área física em valor venal de imposto. Forçam uma valorização de bairros anteriormente considerados periferia da cidade, querendo impor aos proprietários o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) elevado, alegando valorização urbana, sem levar em consideração todo o contexto do crescimento de determinada localidade.  

Código de Postura (século 19)

Voltemos um pouco ao tempo neste mesmo espaço citado:

Os arruamentos de vilas, bairros, figuram na planta de 1897 onde a preocupação é a formação das vias públicas, na extensão dos arruamentos que tiveram origem ainda na transição da política do regime imperial para o republicano. Pelo “Código de Postura” de 1886, eram definido a “Carta de Datas”, onde data representava a denominação para os terrenos em função de sua localização em cada local da Cidade de São Paulo.  Nesta ótica de então, com o prolongamento de ruas existentes que não afluíam tanto movimento de veículos e onde circulavam apenas veículos leves como aranhas, carroças, charretes e tilburis, e, estavam prevalecendo nas ruas largas e travessas próxima ao povoamento mais adensado os terrenos(datas)  amplos de no mínimo 15 metros de frente, com 35 metros de fundo. Em áreas situadas fora deste eixo das povoações prevaleciam os terrenos (datas)  com 15 metros ou mais e com, sendo que o comprimento (fundos) atingiam a dimensões 80 metros.

A Constituição Federativa de 1891 transferiu para os estados a regulamentação e organização do serviço de terras, usando a disposição dos princípios estabelecidos pela Lei da Terra de 1850, e pelo seu regulamento de 1854, onde se organizou o plano geral da cidade. Assim a Constituição do Estado de São Paulo com a lei nº 16 de 1891, toma com base na legislação de terra do século 19 adotando o plano básico para a ocupação de terras do município, originalmente “Terras Reservadas” destinadas à colonização.

Comissão Técnica de Melhoramentos

Surge então o projeto de lei de Mendes Gonçalves, aprovado em 20 de agosto de 1896, sob o nº 264, criando a Comissão Técnica de Melhoramentos, subordinada à “Intendência de Obras”, que estaria encarregada de elaborar o “Plano Geral da Cidade”, fazendo o levantamento topográfico e o cadastro, além de aprovar novos alinhamentos de ruas e assumindo o tombamento de terrenos municipais que consistia do registro dos requerimentos de concessão (das datas), onde a decisão dependia da Intendência de Obras e da Intendência de Finanças. Em 23 de novembro de 1896, foi nomeado para a Comissão Técnica de Melhoramentos o engenheiro João Pereira Ferraz, que havia sido docente da Escola Politécnica e presidente da Comissão de Saneamento do Estado de São Paulo, entre os anos de 1892 a 1896.

Assumia a tarefa de organizar “o plano ou projeto geral da cidade de São Paulo, fazendo para esse fim os serviços necessários e confeccionando os planos técnicos gerais, parciais e detalhes para o conjunto de obras e edificações a executar para retificações, melhoramentos, embelezamentos e tudo que seja necessário para que a cidade seja colocada em condições estéticas e confortáveis”. (FERRAZ, p.269)

No ano de 1898 a Planta Geral era publicada como e desprende da afirmação feita pelo presidente da Câmara, o coronel Antonio Proust Rodovalho, em discurso de janeiro de 1899:

“Que a recente publicação da planta da capital pela Intendência de Obras foi um passo dado para chegar-se a perfeita averiguação a área ocupada Poe esta cidade, bem com dos terrenos de propriedade da Câmara, os quais, em zonas inteiras são mal conhecidos, conforme disse, em seu relatório de 1897 a Comissão Técnica de Melhoramentos”.


PLANTA GERAL DA CAPITAL DE SÃO PAULO Organisada sob a direcção do Dr Pedro Augusto Gomes Cardim – 1897 –Escala de 1:20.000.


Em 1897 foi elaborada a “PLANTA GERAL DA CIDADE”, pelo Intendente de Obras, Pedro Augusto Gomes Cardim[2], contendo o sistema viário existente com propostas entre as quais a realização de uma avenida circular, visando integrar os bairros mais distantes como Campos Elíseos, Avenida Paulista, às estações ferroviárias, sem necessidade de passar pelo centro, onde o percurso previsto seria: Avenida Angélica, Avenida Paulista, Rua do Paraíso e Estrada do Vergueiro, locais à época distantes da Sé.

Plano Diretor Estratégico (ano de 2013)

Entre as primeiras interferências na Cidade de São Paulo, e as novas tendências de ocupação do solo, há uma distancia de acomodação significativa ao longo de mais de um século.
O projeto de lei para o Novo Plano Diretor Estratégico (2013) da cidade de São Paulo prevê construções de edifícios mais altos do que regia anteriormente em vias servidas por corredores de ônibus e linhas de metrô e trem, aumentando a concentração de residências nos eixos servidos por esses tipos de transporte. Deste modo incentiva-se a construção por parte das incorporadoras de imóveis a construir prédios que sejam quatro vezes a área física do terreno desde que as mesmas assumam o compromisso de investir mais na infra-estrutura urbana.

Nova realidade, velhos problemas para um novo olhar da Cidade de São Paulo!




Vide:
A “Cracolândia” e a Implosão “Moinhos Matarazzo”

A INTENDÊNCIA, A RETIFICAÇÃO DO TAMANDUATEÍ E A ILHA DOS AMORES


Bibliografia:

ALMEIDA JR, João Mendes de. Monographia do Município da Cidade de São Paulo. Estudo administrativo de São Paulo. Typografia de Jorge Secker, 1882
FERRAZ, João Pereira. Comissão Técnica de Melhoramentos, 20 de outubro de 1897. Relatório apresentado à Câmara Municipal de São Paulo pelos intendentes de Obra Doutor Pedro Augusto Gomes Cardim, 1897. Escola Typográfica Salciana, p.269
REIS FILHO, Nestor Goulart. Algumas Experiências Urbanísticas no Início da República: 1890-1920. São Paulo: FAUUSP, 1994.
FICHER, Sylvia. Os Arquitetos da Poli. Ensino e Profissão em São Paulo. São Paulo: FAPESP, EDUSP, 2005
O ESTADO DE SÃO PAULO, Especial, p.H 18. 25 de outubro de 2013




[1] O barão Haussmann foi prefeito de Paris entre 1853-1870. Ele empreendeu uma profunda e polêmica reforma urbana que inspirou intervenções em várias outras cidades do mundo. O objetivo principal era modernizar Paris que em pleno século XIX mantinha muito de sua estrutura medieval, cujo centro era composto de muitos quarteirões insalubres. Seu projeto consistia em redesenhar o traçado urbano compondo uma “nova cidade” mais racional, organizada e harmônica. Para realizar esta tarefa foram necessárias várias demolições. Isso fez com que muitos estudiosos criticassem duramente essa haussmanização. As críticas não eram contrárias à reforma em si, mas sim na maneira como ela foi realizada.
[2] Pedro Augusto Gomes Cardim foi diretor do Correio Paulistano e era Intendente de Obras de São Paulo quando da realização da Planta Geral da Capital de 1897 sendo responsável pela regulamentação do loteamento de Higienópolis. Foi um dos fundadores do Conservatório Dramático e Musical e o principal idealizado, em 1925, da Academia de Belas Artes de São Paulo, tendo sido seu primeiro diretor.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Autonomia de Santo Amaro/SP: Quais as vantagens hoje?

Os interesses políticos e suas nuances

A emancipação política de Santo Amaro pode-se dar por Decreto Lei através do governo de São Paulo, revogando o decreto nº 6983, de 22/02/1935 da perda da autonomia ou pela convocação de plebiscito, ou seja, pelo voto popular de eleitores que participam da região.

De tempos em tempos há burburinho sobre a autonomia de Santo Amaro e sua emancipação política, administrativa e econômica, havendo anteprojeto tramitando novamente em parlamento abrindo espaço para mais aproximadamente duas centenas de novos municípios. Há de se ter como primeira prerrogativa a possibilidade de um novo município tenha que ser autônomo primeiramente por ter capacidade em gerar riquezas para a sua auto-sustentação!

Santo Amaro já teve seu período de administração autônoma de 1832 a 1935. Em 22 de fevereiro de 1935, já havia um decreto 6983, à porta do subprefeito de Santo Amaro, onde o doutor Brenha Ribeiro, foi destituído do cargo através do interventor do Estado de São Paulo, Armando de Salles Oliveira, cumprindo ordem expressa do governo federal Getúlio Dornelles Vargas. Coube ao engenheiro Américo de Carvalho Ramos ser nomeado pelo interventor de São Paulo para o Departamento das Municipalidades, e em 1936, designado pelo prefeito paulista, Fábio da Silva Prado, subprefeito de Santo Amaro, que contava à época com aproximadamente cinqüenta mil habitantes. O novo prefeito recebeu na época o montante 2,38 bilhões de réis, pára serem administrados e orçamento de 600 milhões de réis do ano de seu exercício.

Santo Amaro possuía então 522 casas comerciais, 10 padarias, 6 carvoarias de médio porte que inclusive por longa data abastecia a cidade de São Paulo, somado a isto mais 7 carpintarias e uma unidade de ladrilhos, outra de tamancos, calçados comum na lavoura, feitos em madeira, indústria moveleira, enfim uma gama de empreendimentos em expansão. Nisso ainda se somava uma estação de rádio, jardins arborizados, 45 automóveis de aluguel, 250 autos particulares, 3 carros oficiais, 12 caminhões, 127 bicicletas, 65 barcos e 200 charretes, modelo aranha.

As fronteiras de Santo Amaro compreendiam um território de 640 quilômetros quadrados inserido dentro desta área física o Aeroporto de Congonhas, que delimitava com o município de São Paulo à região pelo Córrego da Traição, um ribeirãozinho afluente do Rio Pinheiros, que hoje está canalizado e por onde passa a Avenida Bandeirantes. O atual Palácio do governo paulista, no Bairro do Morumbi, também está em área do antigo município de Santo Amaro, assim como outros equipamentos particulares como o Estádio do Morumbi, e mais para o extremo sul o Autódromo de Interlagos, que antes era ligado pela Auto Estrada S.A., hoje a Avenida Washington Luís idealizada por Louis Romero Sanson. Além disso, corria em “suas veias” mananciais de abastecimento hídrico da cidade de São Paulo e a Represa Velha, depois denominada de Guarapiranga, e que dá (ainda) suporte em 30 % de água potável da cidade de São Paulo, onde a Nova foi idealizada com o nome de Represa Billings, constituindo entre ambas o Bairro Interlagos.  Além disso, possuía Santo Amaro seu próprio Mercado Municipal, nas proximidades da atual Avenida João Dias, onde afluíam produtos produzidos na lavoura e mantinha também o Matadouro Municipal, nas proximidades da Rua Carlos Gomes, que era regido pelo concessionário Olyntho Simonini. Muitos bairros que hoje ganharam “status” de distrito foram parte integrante da cidade de Santo Amaro, que atualmente como distrito representa apenas 15,6 quilômetros quadrados, um arremedo de sua potencialidade, ou seja, quase quarenta vezes menor do que seu território inicial.

Na década de 1950 com a interferência de Carlos Sgarbi juntamente com o advogado Geraldo Valiengo e mais alguns adeptos criou-se o “Movimento Autonomista de Santo Amaro”. Buscaram-se informações a respeito da viabilidade de reverter e rever a perda de autonomia. Vicente Rao, que fora Ministro da Justiça do governo Vargas, orientou os autonomistas de então a requerer o pedido de revogação do decreto de cassação de autonomia de Santo Amaro. Buscou-se apoio do então governo Jânio da Silva Quadros, indicando o apoio do Secretário de Justiça, Queiróz Filho. Neste ínterim o deputado estadual Scalamandré Sobrinho propunha a restauração da autonomia pelo projeto lei nº1923 no ano de 1957. Montou-se plebiscito à época, mas a causa não foi vencedora.

Em 1963, há outra tentativa junto a assembléia onde alguns representantes fazem representar-se por Santo Amaro, na pessoa do senhor Rubens de Azevedo Marques, recebendo no ato o documento os deputados Cyro de Albuquerque e Farabulini Junior. Nova tentativa quando Santo Amaro possuía estrutura forte de produção industrial.

Em 01 de março de 1973, Santo Amaro passa de subprefeitura a administração regional pelo artigo 32 da lei 7858, e a extinção do cargo de subprefeito pelo artigo 29, publicada no Diário Oficial do dia seguinte.

Em 15 de setembro de 1985 há outro plebiscito, pela autonomia de Santo Amaro liderado pelo então deputado estadual Paulo Sogayar, sendo seu maior argumento pela arrecadação Imposto de Circulação de Mercadorias que naquele ano atingia cifras de 120 milhões de cruzeiros (moeda vigente iniciada em 1942, findada com o plano da nova moeda “real”) que dava a Santo Amaro capacidade de gerir receita própria. Mesmo assim não houve convencimento e mais uma vez a autonomia não foi aceita. Ao mesmo tempo houve um desmantelamento do parque industrial de Santo Amaro, muitas indústrias optaram por isenções ou por tributos menores de outros municípios.


Outras tentativas políticas foram apregoadas ao longo do tempo pela autonomia de Santo Amaro. Hoje Santo Amaro é apenas um resquício de todo seu pólo industrial, totalmente desmontado nas últimas décadas, e que já representou a maior concentração de indústrias químico-farmacêuticas da America Latina, resta quase nada deste segmento.

Santo Amaro sofre com o crescimento e o saneamento básico não acompanha essa expansão desenfreada, onde o plano diretor é mero documento de formalidades. O esgoto é descartado nas águas dos mananciais “in natura”, a concessionária responsável não acompanha nos investimentos de crescimento, tudo corre por desmandos e a revelia, além de falta de políticas públicas sérias. Obras imobiliárias vultosas afloram por todo Santo Amaro, prédios de primeira grandeza, mas que escondem suas sujeiras nas galerias sub dimensionadas, não houve antes preparação para receber tão alta demanda populacional que ainda se amplia mais com o sistema metroviário da linha 5, Lilás. Outros são os interesses ainda maiores de grandes empresários em manter um aeroporto para aeronaves executivas e helicópteros, que teriam demandas exclusivas de um grupo seleto e sem usufruir o beneficio de uma rota alternativa de tráfego aéreo.

Fica a indagação que sempre vem à baila nestes momentos onde arregimentam o povo apregoando seu direito de opinar pelo gerenciamento administrativo do Município de Santo Amaro. Então ficam os questionamentos ao povo paulistano e sant'amarense:

Na atualidade seria viável Santo Amaro tornar-se autônomo?

Quais seriam os benefícios advindos de ser contra ou a favor da emancipação política?

Quem mais se beneficiaria com a emancipação política?

Santo Amaro possuiria receita de sustentabilidade econômica para arcar com custos da emancipação política?

Acrescente também suas dúvidas!

Bibliografia:

Cidade Satélite de Interlagos, Avenida Washington Luís e o Aeroporto de Congonhas.

EXTREMO SUL DA CIDADE DE SANTO AMARO: SOCORRO!


A TRIBUNA DE 09 de novembro de 1957

Gazeta de Santo Amaro de 3 de maio de 1963


Jornal da Tarde: de 14 de março de 1985, de 02 de fevereiro de 1985

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Antonio Bocchiglieri, “O Plantador de Vilas” na região de Santo Amaro

Um "Oriundi" do desenvolvimento

Santo Amaro era um local que atraia pequenos empresários da cidade de São Paulo e até do interior paulista no início do século vinte.

Em 1909 o casal Afonso e Rosa Bocchiglieri, de origem italiana, partiu de Sorocaba, onde residiram por um período até se fixarem na capital de São Paulo, na Aclimação, em 1909. Seu Afonso tinha o oficio a arte de mestre cortador de calçados e sapateiro. Os filhos estavam enumerados na grande família, a saber: Luisa, Maria Gracia, Antonio, José, Carmela, Lucinda, Judith e Paulino. Em companhia do filho Antonio o patriarca tomou os rumos de Santo Amaro, um local aprazível, que em suas virtudes estava o seu bom clima e local de vegetação exuberante. Santo Amaro já possuía certa produção agrícola que abastecia parte dos mercados locais e ainda fornecia parte de seu excedente para São Paulo sendo que já mantinha uma linha férrea dos trens a vapor modelo alemão Krauss que ligava o matadouro próximo a Rua São Joaquim onde fazia seu ponto final na Liberdade, completando um trajeto de dezenove quilômetros até a cidade de Santo Amaro.

Deste modo o senhor Afonso Bocchiglieri em 1914 vende suas propriedades e segue em direção a Cidade de Santo Amaro, e fixa residência e oficina própria na Alameda Santo Amaro, nº 10.

O filho Antonio, nascido em Sorocaba em 26 de dezembro de 1895, chega à Santo Amaro muito jovem e aos poucos participa da vida social da “cidade” e se torna sócio do pai em 1920 no empreendimento da família denominada “Manufatura de Calçados Progresso” que fornecia calçados nas redondezas e para operários da construção da Usina Piratininga e da Estrada de Ferro Sorocabana. Manteve contatos alternados com seus passeios costumeiros nos arredores de Santo Amaro que levam o aguçado interesse em criar loteamentos com “vilas” providas de arruamentos e com planejamento básico para prover condições nestas “novas” terras.

Antonio Bocchiglieri teve efetiva participação na vida social santamarense, tendo como parte de seus feitos juntamente como outros amigos a formação do Esporte Clube Progresso, agremiação esportiva local e ainda atuou como ator advindo do “sangue italiano” no teatro amador nos salões do Cine Rio Branco, São Francisco e Sociedade do Circulo Italiano.
CINEMA RIO BRANCO: AVENIDA ADOLFO PINHEIRO 
(construído na administração de Thiago Luz)

Deste modo aproximou-se da pessoa do Dr. Afonso de Oliveira Santos, que já tinha vasta experiência como loteador de terrenos, sendo responsável pela implantação do loteamento da Vila São Pedro, área esta que pelo decreto nº 1634, de 5 de março de 1952, teve que ceder área para instalação do cemitério da City Campo Grande, via carroçável na Estrada da Pedreira, a atual Avenida Nossa Senhora do Sabará. O agenciador para a vila supracitada coube ao jovem Antonio Bocchiglieri, começava assim uma história vencedora no ramo de “criação de vilas”.

Tinha como suas relações mais constantes na atividade de corretagem a outros como Alexandre Bechara, Honório Prado, Mimi Prado, Benedito Borba de Araujo e outros.

Associando-se a Ricardo Nascimento e Izidoro Maretto criam o loteamento denominado “Vila Luciola” que foi vendido com facilidade. Estava selada a sorte misturada com muito trabalho aquele que se tornou “O Plantador de Vilas” nome este merecido quando planeja, faz o arruamento e cria as condições básicas para expandir os seguintes loteamentos:  
                                                                        
1)      Vila Luciola,
2)      Vila Andaluzia,
3)      Vila Constancia,
4)   Vila Santa Terezinha, em parceria com Moacyr Monteiro, criou o loteamento do lado esquerdo oposto a Estrada de Itapecerica, próximo ao bairro do Jardim São Luiz.
5)      Vila Arriete, fundada em 1947 em homenagem a sua filha primogênita Arriete Bocchiglieri Castro e Silva. 

     O marco de referência da Vila Arriete é a Igreja Verde, pois possuía o telhado em cor verde, mas oficialmente é denominada Paróquia Nossa Senhora do Sabará, sito à Avenida Nossa Senhora de Sabará, 3.212, que nos registros consta que o terreno fora doado por Nilo Souza de Carvalho, o empresário das Lojas “A Exposição Cliper. Um dos grandes incentivadores na sociedade amigos foi Benedito Vicente Prado, que colaborou para a infra-estrutura básica ocorresse com presteza por parte das concessionárias da época.
6)    Vila Santa Margarida, adquirido por Rafael Parise, dando origem e impulsionando os Bairros da Vila Remo e Jardim Ângela
7)      Vila Bocchiglieri,
8)      Parque Sabará, em parceria com Antonio Coutinho de Carvalho, Arnaldo e Francisco Camacho
9)      Vila Ester, em parceria com Alexandre Bechara,
10)  Jardim Rosalina, loteamento com penetração mais ao extremo sul em direção a antiga Estrada do  Parelheiros.
11)  Vila Romano.

Contando com a primeiro gleba da “Vila Luciola” somado até ao último loteamento da “Vila Romano” foram implantados onze loteamentos que muito contribuiu para a valorização das terras do antigo município de Santo Amaro. As grandes realizações de suas iniciativas e com grande espírito pioneirismo inovador de ser um visionário forjou este homem que teve vida libada e de feitos idôneos, somados a tantas virtudes tinha a solidariedade participativa sempre presente de sua esposa Constância Romano Bocchiglieri.
Há de ser somada aos esforços de implantação de novos aglomerados urbanos a Sociedade Amigos da Estrada da Pedreira, fundada em 1955 que muito contribuiu para a expansão e implantação de infra-estrutura básica destes loteamentos sempre com a presença de Antonio Bocchiglieri que colaborava sempre para o desenvolvimento local. 

Sua filha Norma Bocchiglieri relatou em reportagem jornalística certa feita:

“Lembro-me que em vários natais, papai fazia com que todos nós – mamãe e os sete filhos – passássemos o dia de Natal distribuindo brinquedos e doces nas vilas que construía. Dias antes do Natal, ele passava com um caminhãozinho recolhendo doações dos comerciantes locais.”
Residência da família Bocchiglieri em Santo Amaro: Rua São Benedito

Antonio Bocchiglieri foi um pioneiro da expansão dessas regiões, deu opção de crescimento e ampliando horizontes maiores aos operários que vieram para trabalharem no grande aglomerado industrial que se desenvolvia em Santo Amaro. Tentou uma última cartada juntamente com seu irmão Paulino Bocchiglieri e seu genro Romeu Toledo, que cedeu sua participação ao casal Antonio de Arruda Sampaio e Odete de Arruda Sampaio, para implantação de um novo loteamento, o Parque Paiolzinho, mas a frágil saúde o afastou de sua maior atividade vindo a ter o passamento em 13 de maio de 1986.

Espera-se a crítica salutar para acréscimos e correções que possam completar a crônica!

Referências:

Gazeta de Santo Amaro, 15 de Janeiro de 1983
Revista Interlagos, dec. 50

Revista do Arquivo Municipal, CXLIX, 1952, p. 79,80

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Rua do Jogo da Bola: O porquê deste nome

Jogo da Ferradura, Malha, Bocha e Ludopédio

O Homem é um ser social e com uma necessidade constante de sentido de pertença. Há muitas formas de socializar, mas uma das mais antigas são os jogos populares. Jogos antigos, cheios de tradição, que espelham momentos passados em épocas presentes. Baseados muitas vezes em situações de vida real ou representando cenários bélicos, permitem juntar pessoas diferentes proporcionando momentos de convivência com representação de saberes antigos.O jogo popular elege a diferença, afirmando a identidade, insensível à igualização massificante, atrai as pessoas como pessoas (...) o prazer da relação interpessoal, em que o adversário é o companheiro de jogo; o culto da amizade duradoura, o riso saudável ante o insucesso, a tolerância, o gosto das coisas simples, a ligação florida ao passado, a sua evocação lendária (António Cabral, in A Teoria do Jogo).

A primeira referência sobre à Rua do Jogo da Bola, que se tem notícia da cidade de São Paulo, data dos meados do século 18. Sabe-se que a Rua do Ferrador, assim denominada porque ali se ferrava cavalos, e de onde havia uma quantidade considerável de ferraduras usadas e que mais tarde serviram para ser o objeto da prática do esporte (originando através das ferraduras, originando o jogo de malhas) e que no hodierno é a atual Rua Benjamin Constant, próxima a Largo São Francisco, em São Paulo, e que foi primitivamente denominada de Rua Jogo da Bola, por causa do esporte nela praticado. Em escritura de 1766, o referido jogo está situado no Campo da Forca, no atual bairro da Liberdade, de fronte do Palácio em construção dos senhores bispos.

“Não quero, evidentemente, aludir ao Campo da Forca, o qual sofreu, como é sabido, uma estranha metamorfose para converter-se, ao cabo na Praça da Liberdade atual, mas  à Rua do Jogo da Bola, ou melhor, não à rua que assim se chamou, e que se chamou também de Ferrador, e recebeu depois  o nome de Benjamin Constant, que ainda conserva, e sim ao mesmo jogo da bola, tão importante, aparentemente, que conseguiu até ser nome de rua e não apenas em São Paulo, mas também em outras cidade brasileiras”[1].(citação de Sérgio Buarque de Holanda)
Largo Treze de Maio, denominação a partir de 1888 em Santo Amaro/SÃO PAULO. Na DÉCADA de 1940  era conhecido como Largo do Jogo da Bola. Em 1885, o nome foi mudado para “Largo Tenente Adolfo” porque ali ficava a loja do administrador Adolfo Pinheiro.

O que aconteceu com a rua, assim por ter sido objeto desse tipo de brincadeira, herdada dos portugueses e que deveriam ser comum à cidade, já que, no Campo da Forca, conforme diz o Auto da Posse transcrito, também se praticava o mesmo jogo. Quanto à característica popular do nome - não do jogo em si, pois segundo Sérgio Buarque, era mais próprio de fidalgos, na Idade Média - ou a sua vinculação a um fato comum, não se pode pôr em dúvida, o que não impedia, entretanto de ser reconhecida com topônimo pela Câmara, conforme se desprende de Ata de 25 de novembro de 1815:

...com determinação a mim escrivão fosse à casa do Brigadeiro José Arouche de Toledo e lhe participasse da parte desta Câmara mandasse tirar um formigueiro que se acha em seu quintal que fica na Rua do Jogo da Bola. (Ata, XXII, 45) (Holanda, Sergio Buarque de. Prefácio ao Livro do Tombo do Mosteiro de São Bento. p.28;29)

Jogo do Fito

Os portugueses possuíam o jogo popular, praticado assiduamente em todas as aldeias de Portugal em que se atirava bola ou malhas a um pino que se denominava “fito” (latim fictus) que tem o sentido de fixar, mirar, ou seja, colocado em um ponto determinado para ser alvejado em um campo de terra batida por bola ou malha, que pode ser geralmente de madeira, ou por um disco feito de aço que faz o sentido do jogo. Este jogo antigo não decorre de maneira alguma ao ludopédio, o futebol praticado por todo globo terrestre, pois é anterior a essa prática[2].

(Ref. Editora Abril-Florença Medieval)

O jogo de Malha teve origem no trabalho de ferrar os cavalos do exército romano, quando as legiões paravam nas cidades indo às estrebarias cuidarem dos animais, sendo que as antigas ferraduras eram substituídas por novos cravos e novas ferragens forjadas. Nos acampamentos os soldados estacionados em suas centúrias ocupavam as horas nos acampamentos atirando as ferraduras antigas em um marco, estaca fixa, colocada a certa distância no campo do alojamento.

Em Portugal, este tipo de esporte ganhou as ruas se popularizando como arremesso de ferraduras ou malhas, ganhando o nome de chinquilho ou jogo do fito.
O jogo da malha, ou de ferraduras, foi trazido por imigrantes portugueses para o Brasil como passatempo na Colônia. Destaca-se que em São Paulo, desde 1890, faltando lazer mais apropriado para a massa trabalhadora houve a disseminação do jogo de malha como divertimento no termino da jornada. Usavam peças rudimentares como pedras, ferraduras, pedaços de chapas de ferro ou aço, sem um padrão determinado, tanto na dimensão do campo quanto ao pino, pois evidentemente não havia regulamentação para a prática do jogo[3]. Tudo era válido para conseguir o intento de acertar o pino colocado a certa distância, sendo permissível certa tolerância para o divertimento coletivo.




Referência:
DICK, Maria Vicentina de Paula do Amaral. A Dinâmica dos Nomes na Cidade de São Paulo(1554-1897). São Paulo: Annablume Editora, 1997.




[1] Em Santo Amaro, consta que a mesma referência “Rua do Jogo da Bola”  foi determinada como o ponto central da antiga cidade, ao lado da Igreja Matriz, sendo que possuía administração independente da cidade de São Paulo de 1832 a 1935, e que foi a primeira denominação do atual “Largo 13 de Maio”, referência ocorrida com a homologação da Lei Áurea de 1888.  
[2] Parece não haver dúvidas que o jogo de bocha surgiu na Península Italiana durante o Império Romano, quando era praticado com o nome de "boccie", sendo levado pelos exércitos para a França,(onde há o registro da prática em documento de 1644) Espanha, Portugal, com transformações várias transformações ao longo do tempo. O padre Raphael Bluteau, pregador da Rainha de Inglaterra, define o jogo do Fito no seu livro Vocabulário Português e Latino,  datado de 1713: Fito – um pauzinho fincado no chão (…) coisas que atiravam os antigos em diferentes jogos. Fito também se chama o jogo em que se põe um tijolo em pé, a que se atira para o derrubar ou para ficar mais perto dele. Parece-me que se pode usar destes termos por ter este jogo alguma semelhança com o dos antigos atletas romanos.
[3] Forma-se equipes de dois elementos com o objetivo de derrubar o pino (fito) ou colocar as malhas o mais perto possível do pino, somando pontos ao longo do jogo em lançamentos alternados.