quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Autonomia de Santo Amaro/SP: Quais as vantagens hoje?

Os interesses políticos e suas nuances

A emancipação política de Santo Amaro pode-se dar por Decreto Lei através do governo de São Paulo, revogando o decreto nº 6983, de 22/02/1935 da perda da autonomia ou pela convocação de plebiscito, ou seja, pelo voto popular de eleitores que participam da região.

De tempos em tempos há burburinho sobre a autonomia de Santo Amaro e sua emancipação política, administrativa e econômica, havendo anteprojeto tramitando novamente em parlamento abrindo espaço para mais aproximadamente duas centenas de novos municípios. Há de se ter como primeira prerrogativa a possibilidade de um novo município tenha que ser autônomo primeiramente por ter capacidade em gerar riquezas para a sua auto-sustentação!

Santo Amaro já teve seu período de administração autônoma de 1832 a 1935. Em 22 de fevereiro de 1935, já havia um decreto 6983, à porta do subprefeito de Santo Amaro, onde o doutor Brenha Ribeiro, foi destituído do cargo através do interventor do Estado de São Paulo, Armando de Salles Oliveira, cumprindo ordem expressa do governo federal Getúlio Dornelles Vargas. Coube ao engenheiro Américo de Carvalho Ramos ser nomeado pelo interventor de São Paulo para o Departamento das Municipalidades, e em 1936, designado pelo prefeito paulista, Fábio da Silva Prado, subprefeito de Santo Amaro, que contava à época com aproximadamente cinqüenta mil habitantes. O novo prefeito recebeu na época o montante 2,38 bilhões de réis, pára serem administrados e orçamento de 600 milhões de réis do ano de seu exercício.

Santo Amaro possuía então 522 casas comerciais, 10 padarias, 6 carvoarias de médio porte que inclusive por longa data abastecia a cidade de São Paulo, somado a isto mais 7 carpintarias e uma unidade de ladrilhos, outra de tamancos, calçados comum na lavoura, feitos em madeira, indústria moveleira, enfim uma gama de empreendimentos em expansão. Nisso ainda se somava uma estação de rádio, jardins arborizados, 45 automóveis de aluguel, 250 autos particulares, 3 carros oficiais, 12 caminhões, 127 bicicletas, 65 barcos e 200 charretes, modelo aranha.

As fronteiras de Santo Amaro compreendiam um território de 640 quilômetros quadrados inserido dentro desta área física o Aeroporto de Congonhas, que delimitava com o município de São Paulo à região pelo Córrego da Traição, um ribeirãozinho afluente do Rio Pinheiros, que hoje está canalizado e por onde passa a Avenida Bandeirantes. O atual Palácio do governo paulista, no Bairro do Morumbi, também está em área do antigo município de Santo Amaro, assim como outros equipamentos particulares como o Estádio do Morumbi, e mais para o extremo sul o Autódromo de Interlagos, que antes era ligado pela Auto Estrada S.A., hoje a Avenida Washington Luís idealizada por Louis Romero Sanson. Além disso, corria em “suas veias” mananciais de abastecimento hídrico da cidade de São Paulo e a Represa Velha, depois denominada de Guarapiranga, e que dá (ainda) suporte em 30 % de água potável da cidade de São Paulo, onde a Nova foi idealizada com o nome de Represa Billings, constituindo entre ambas o Bairro Interlagos.  Além disso, possuía Santo Amaro seu próprio Mercado Municipal, nas proximidades da atual Avenida João Dias, onde afluíam produtos produzidos na lavoura e mantinha também o Matadouro Municipal, nas proximidades da Rua Carlos Gomes, que era regido pelo concessionário Olyntho Simonini. Muitos bairros que hoje ganharam “status” de distrito foram parte integrante da cidade de Santo Amaro, que atualmente como distrito representa apenas 15,6 quilômetros quadrados, um arremedo de sua potencialidade, ou seja, quase quarenta vezes menor do que seu território inicial.

Na década de 1950 com a interferência de Carlos Sgarbi juntamente com o advogado Geraldo Valiengo e mais alguns adeptos criou-se o “Movimento Autonomista de Santo Amaro”. Buscaram-se informações a respeito da viabilidade de reverter e rever a perda de autonomia. Vicente Rao, que fora Ministro da Justiça do governo Vargas, orientou os autonomistas de então a requerer o pedido de revogação do decreto de cassação de autonomia de Santo Amaro. Buscou-se apoio do então governo Jânio da Silva Quadros, indicando o apoio do Secretário de Justiça, Queiróz Filho. Neste ínterim o deputado estadual Scalamandré Sobrinho propunha a restauração da autonomia pelo projeto lei nº1923 no ano de 1957. Montou-se plebiscito à época, mas a causa não foi vencedora.

Em 1963, há outra tentativa junto a assembléia onde alguns representantes fazem representar-se por Santo Amaro, na pessoa do senhor Rubens de Azevedo Marques, recebendo no ato o documento os deputados Cyro de Albuquerque e Farabulini Junior. Nova tentativa quando Santo Amaro possuía estrutura forte de produção industrial.

Em 01 de março de 1973, Santo Amaro passa de subprefeitura a administração regional pelo artigo 32 da lei 7858, e a extinção do cargo de subprefeito pelo artigo 29, publicada no Diário Oficial do dia seguinte.

Em 15 de setembro de 1985 há outro plebiscito, pela autonomia de Santo Amaro liderado pelo então deputado estadual Paulo Sogayar, sendo seu maior argumento pela arrecadação Imposto de Circulação de Mercadorias que naquele ano atingia cifras de 120 milhões de cruzeiros (moeda vigente iniciada em 1942, findada com o plano da nova moeda “real”) que dava a Santo Amaro capacidade de gerir receita própria. Mesmo assim não houve convencimento e mais uma vez a autonomia não foi aceita. Ao mesmo tempo houve um desmantelamento do parque industrial de Santo Amaro, muitas indústrias optaram por isenções ou por tributos menores de outros municípios.


Outras tentativas políticas foram apregoadas ao longo do tempo pela autonomia de Santo Amaro. Hoje Santo Amaro é apenas um resquício de todo seu pólo industrial, totalmente desmontado nas últimas décadas, e que já representou a maior concentração de indústrias químico-farmacêuticas da America Latina, resta quase nada deste segmento.

Santo Amaro sofre com o crescimento e o saneamento básico não acompanha essa expansão desenfreada, onde o plano diretor é mero documento de formalidades. O esgoto é descartado nas águas dos mananciais “in natura”, a concessionária responsável não acompanha nos investimentos de crescimento, tudo corre por desmandos e a revelia, além de falta de políticas públicas sérias. Obras imobiliárias vultosas afloram por todo Santo Amaro, prédios de primeira grandeza, mas que escondem suas sujeiras nas galerias sub dimensionadas, não houve antes preparação para receber tão alta demanda populacional que ainda se amplia mais com o sistema metroviário da linha 5, Lilás. Outros são os interesses ainda maiores de grandes empresários em manter um aeroporto para aeronaves executivas e helicópteros, que teriam demandas exclusivas de um grupo seleto e sem usufruir o beneficio de uma rota alternativa de tráfego aéreo.

Fica a indagação que sempre vem à baila nestes momentos onde arregimentam o povo apregoando seu direito de opinar pelo gerenciamento administrativo do Município de Santo Amaro. Então ficam os questionamentos ao povo paulistano e sant'amarense:

Na atualidade seria viável Santo Amaro tornar-se autônomo?

Quais seriam os benefícios advindos de ser contra ou a favor da emancipação política?

Quem mais se beneficiaria com a emancipação política?

Santo Amaro possuiria receita de sustentabilidade econômica para arcar com custos da emancipação política?

Acrescente também suas dúvidas!

Bibliografia:

Cidade Satélite de Interlagos, Avenida Washington Luís e o Aeroporto de Congonhas.

EXTREMO SUL DA CIDADE DE SANTO AMARO: SOCORRO!


A TRIBUNA DE 09 de novembro de 1957

Gazeta de Santo Amaro de 3 de maio de 1963


Jornal da Tarde: de 14 de março de 1985, de 02 de fevereiro de 1985

Sem comentários: