sexta-feira, 20 de abril de 2012

O Belo Antonio de Santo Amaro

NEM TUDO É PROGRESSO!
Em 24 de maio de 1961, foi inaugurado no canteiro central do Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, um abrigo para paradas de transporte coletivo. A cidade como um todo estava se transformando, afinal estávamos em uma época expansionista do mercado automobilístico, havia interesse de modernidade dos grandes centros urbanos, abolindo os bondes pelos ônibus automotores movidos a combustível líquido. Vínhamos de um governo com ideais de modernidade idealizando o slogan “50 anos em 5”, de JK,  misturado à turbulência dos quartéis atentos as atitudes governistas, preparando o modelo que ainda se reflete com atitudes repressivas do Estado atual. O momento parecia delicado, mas Santo Amaro estava também remodelando sua mais importante referência: O Largo 13 de Maio.

Á época era o subprefeito em exercício, em Santo Amaro, o engenheiro Silvio Cariani que era assessorado por Joviano Dias Pinto, que fiscalizou o empreendimento projetado e idealizado pelo engenheiro José Victor Oliva. (há homônimo de empresário do ramo da comunicação e haras)

Em matéria do jornal Gazeta de Santo Amaro, de 05 de janeiro de 1961, no seu número 37, era estampada o titulo: “OBRA ARROJADA NO LARGO 13 DE MAIO”, onde no subtítulo “ABRIGO DE BONDES” descrevia:

“A localização do abrigo de bondes foi determinada para o centro do Largo 13 de Maio, por ser este seu ponto, e, ao mesmo tempo, para deixar livres duas vias de trânsito. O projeto deste abrigo é dos mais arrojados e não tem notícia de que, ao menos no Brasil, tenha sido construído outro nos mesmos moldes. As colunas centrais, em forma de Y, servirão de sustentação às duas lajes que abrigarão os passageiros e, ao mesmo tempo, tornarão desnecessárias colunas laterais. Os bondes passarão ao lado das colunas centrais. Como se vê, a fisionomia de nossa praça principal será radicalmente modificada.”

Na mesma matéria dava-se ênfase também na implantação dos coletivos urbanos com o subtítulo: “ABRIGO DE ÔNIBUS”, descrevia:

“O abrigo de ônibus, que esta quase concluído, foi localizado junto À Igreja Matriz, por ser este o outro ponto morto do largo. O estacionamento de veículos para o recebimento de passageiros, não prejudicará o livre tráfego naquele local. As obras do Largo 13 de Maio estarão prontas até março. Assim a Sub-Prefeitura oferece uma útil contribuição às comemorações do IV Centenário de Santo Amaro”.

Todo este arrojo parecia que não resolvia a locomoção, havia um obstáculo no centro de Santo Amaro, que obstruía o livre trânsito, congestionava o local mais ainda. Remanejaram os taxis, os trilhos das linhas dos bondes permaneciam as mesmas, onde saindo do Largo São Sebastião (atualmente Bonneville) tinha seu maior fluxo de passageiros na parada oposta ao novo empreendimento “arrojado em forma de Y” e todos começaram a desviar do local exceto os coletivos obrigados a confluírem para a parte central do Largo 13 de Maio.

Nesta época foi lançado o filme “O Belo Antonio” [1] com o artista italiano Marcelo Mastroianni que interpretava um homem esbelto chamado Antonio. Mesmo amado por todas as mulheres, casado com Bárbara, (Claudia Cardinale) jovem rica, seduzida pelos seus dotes fisionômicos, mas que “não funcionava” nas suas funções orgânicas. Na década de 1960, virou moda chamarem o que era grande, imponente, bonito, de Belo Antonio, porque apesar de todos os adjetivos positivos, não funcionava para a finalidade a que foi determinado. O Simca Chambord, carro lançado em 1958, no Brasil, recebeu a alcunha de Belo Antônio, por ser bonito, mas que não funcionava a contento. Não demorou muito para um novo batismo acontecer, fazendo parte do folclore santamarense, pela sapiência do povo; incluiu-se na lista das coisas sem função mais um Belo Antonio: a parada central de coletivos do Largo 13 de Maio, em Santo Amaro.

Durou pouco, demoliram sem muita pompa política e sem dizer adeus. Agora embargaram a obra do metrô linha cinco Lilás, de Santo Amaro à Chácara Klabin. Aguardemos os fatos, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém e gato escaldado tem medo d’água fria, por causa de um superfaturamento, esperamos não receber um “novo” Belo Antonio.





[1] O Belo Antônio (Il Bell'Antonio). Produção italo-francesa de 1960. Direção de Mauro Bolognini, adaptado ao cinema do romance de mesmo nome de Vitaliano Brancati.

1 comentário:

Ivette Gomes Moreuira disse...

Muito legal, Carlos, você ter um Blog para contar sobre Santo Amaro.
Dei aulas, por vários anos, no Alberto Conte e transitei um pouco por vários lugares do bairro.
Abração, Ivette